Papel, Celulose e Embalagem

19/02/2018 Agronegócio POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra


Muitos profetas do caos, aqueles personagens geralmente encontrados em botecos e sem conhecimento nenhum sobre aquilo que estão dizendo, não cansam de aclamar o fim de produtos agroindustriais. Talvez as duas principais vítimas desses falastrões sejam o etanol e o papel.

Em palestra ministrada na Sociedade Rural Brasileira, o CEO da Klabin, Cristiano Teixeira, maior empresa brasileira no setor de papel e celulose, mostra como eles estão se preparando, assim como o setor sucroenergético, para as rápidas mudanças de comportamento que acontecerão de maneira ainda mais intensa nos próximos anos e décadas, nas quais o principal mercado de sua agroindústria já tem um alvo muito bem definido, o de embalagens.

Fundada em 1899, a Klabin é a maior produtora e exportadora de papéis do Brasil. A empresa também se destaca no mercado de celulose como a única companhia do país capaz de fornecer simultaneamente celulose de fibra curta (eucalipto; utilizada para produzir principalmente papéis higiênicos, guardanapos e destinados a impressão, com resistência e maciez menores), fibra longa (pinus; faz os mesmos tipos de papéis que os originários do eucalipto, porém com qualidade e maciez superiores) e fluff (feita a partir das fibras longas, é usada na aplicação em fraldas e absorventes de alta qualidade, isso devido a sua rápida capacidade de absorção).

Toda essa estrutura permite a empresa atuarem diversos segmentos. Em seu negócio principal, o de embalagens, ela divide sua participação em duas grandes áreas: papelão ondulado (com um portfólio com nove tipos diferentes, que vai desde a bag in box, as já populares caixas para embalar leite, sucos e outros líquidos; passando pelo papelão micro-ondulado, encontrado em caixas de display em supermercados; até as caixas onduladas normais) e sacos industriais (muito utilizados na embalagem de cimentos, ração, entre outros).

No entanto, o executivo demonstra que o apetite para esse segmento é muito maior, ou seja, fazer do papel um substituto do plástico, principalmente considerando a questão do produto cuja a matéria-prima é a celulose, ser biodegradável, ao contrário do que tem o petróleo como base.

Como maior passo nesse sentido, ele mostra a importância que a companhia dá dentro do seu setor de pesquisa e desenvolvimento em um projeto de nanotecnologia, o qual busca a criação de uma fórmula onde a celulose poderá substituir o polietileno (plástico) em diversas funções, mais ou menos como o produto que usa o etanol como basedesenvolvido e já aplicado em escala industrial pela Braskem.

É preciso alertar que a intenção da Klabin não é produzir etanol a partir do eucalipto, forma sonhada no país desde a década de 70, mas que nunca provou sua eficiência em escala industrial, para depois produzir o plástico, mas é criar um papel cada vez mais resistente capaz de substituir não somente o polietileno, mas também o isopor, principalmente no mundo dos descartáveis.

Embora o seu foco principal sejam as embalagens, a Klabin também é forte em vários segmentos na grande maioria dos produtos envolvidos em sua cadeia agroindustrial. Como somente a casca das árvores são utilizadas para a produção de celulose, o primeiro produto gerado na operação da empresa são as toras de madeira, é a maior fornecedora no mercado interno do produto certificado, as quais são usadas pela indústria moveleira, construção civil e serrarias.

Dentro do mercado de celulose, a fibra extraída da casca das árvores a qual é a principal matéria-prima para a produção do papel, a Klabin é a única no Brasil em fornecer a fibra longa, curta e o fluff (a única).

No segmento de papéis, a empresa atua com três tipos de produtos diferentes: O papel cartão, onde é a detentora do mercado nacional e exterior, essa categoria estão os materiais utilizados em gráficas, os quais possuem categorias que podem ser usadas na embalagem de alimentos. O Kraft, papel mais rústico, utilizado em embalagens que demandam maior resistência e até mesmo como base de lixas abrasivas. Os reciclados são a última linha de produtos no segmento, o qual a sua produção é destinada na composição de embalagens de papelão ondulado.

O mercado em que as florestas de eucaliptos e pinus atuam ao lado da cana-de-açúcar é o de energia elétrica vinda da biomassa. No caso da agroindústria do papel, ao contrário do que todo mundo imagina, a fonte de energia das caldeiras não vem da madeira, mas sim do licor negro, subproduto gerado no momento de cozimento da parte das árvores, que é transformado em pasta de celulose.

Para se ter noção de tamanhona operação da Klabin, somente o que ela gera de energia no Paraná dá para atender toda a sua demanda e com a sobra suprir uma cidade do tamanho de Londrina (485 mil habitantes).A capacidade do setor dentro desse segmento é ínfima se comparado com o sucroenergético, se utilizar todo o seu potencial, toda a indústria de papel e celulose é capaz de abastecer cerca de 3 milhões de residências com sua cogeração, enquanto que somente a Raízen, com suas 13 termoelétricas, gera quase 1/3 dessa eletricidade.

Exemplo de Sustentabilidade
A Klabin é reconhecida como uma das empresas mais sustentáveis do país, além de ser considerada a mais preocupada com o meio ambiente pela Revista Exame em 2016. Ela ocupa, pelo quinto ano consecutivo, a carteira do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da B3 (novo nome da BM&F Bovespa), fora a grande quantidade de prêmios estaduais e regionais que ganha todos os anos. O fato de ser signatária do Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas) e do Pacto Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo, mostra a seriedade do assunto dentro da empresa.

Dentre os projetos que chamam mais atenção com certeza está o de manejo florestal, onde suas florestas são plantadas entremeadas por áreas de matas nativas preservadas, em modelo de mosaico, o que permite obter a proteção de corredores de biodiversidade, desenvolvendo uma rica fauna em seu habitat.

Projeto Puma
Em 2016, entrou em operação aquele que não é somente o projeto mais audacioso da Klabin, mas é o maior investimento privado de toda história do Estado do Paraná, o Projeto Puma, unidade localizada em Ortigueira, próxima a Londrina e Maringá, a qual possui números assombrosos como: quase 110 mil de hectares de floresta plantada a um raio de pouco mais de 70 quilômetros da unidade, produção de 1,5 milhão de toneladas de celulose (1,1 milhão de fibra curta e 400 mil de fibra longa e fluff), geração de 270 MW de energia a partir de biomassa, 1,4 mil empregos (diretos e indiretos) e uma respeitável unidade logística (transporte de parte da produção até o porto de Paranaguá através da construção de um ramal ferroviário de 23,5 km, que se liga à ferrovia Central do Paraná e atravessa todo o estado até ganhar o litoral).

Mesmo depois de um ano que entrou em operação, a unidade não para de receber investimentos, segundo os resultados apresentados aos investidores referentes ao terceiro trimestre de 2017, foram investidos R$ 165 milhões, quase 25% de tudo que a companhia investiu ao longo dos nove meses.

E com isso já começa a colher frutos, pois em julho, agosto e setembro; a unidade foi um dos principais atores para o crescimento de 7% no volume de vendas em relação ao mesmo período do ano passado.

Um exemplo
A grande lição que a Klabin deixa para o setor é sobre agregar valor aos produtos no sentido de esticar a cadeia horizontalmente.No mundo da cana, percebe-se uma pequena movimentação em alguns pontos em relação a isso, como por exemplo, a exportação do açúcar já refinado em containers, mas é pouco diante de um universo de projetos a serem desenvolvidos, onde o principal é encontrar um lugar para o etanol frente a inevitável eletrificação da frota automotiva.

No entanto, tudo que foi relatado sobre a Klabin é só mais uma prova do sucesso do agronegócio brasileiro. Sustentabilidade, pesquisa e desenvolvimento e investimento é um tripé que se encontra não somente no setor florestal, mas também em grandes players sucroenergéticos, grãos, pecuária, algodão, entre outros.

E como é bom constatar que uma empresa dessa magnitude é só mais um exemplo do Brasil eficiente, do Brasil que trabalha, do Brasil fora de Brasília, o Brasil Agro.