Desbravadoras do campo: mulheres no controle de máquinas agrícolas

24/04/2024 Noticias POR: Fernanda Clariano

As mulheres estão quebrando estereótipos, rompendo barreiras e assumindo o volante das máquinas agrícolas no campo

Nos últimos anos houve um aumento significativo no número de mulheres que escolheram uma carreira na agricultura. Não mais relegadas às atividades consideradas femininas nos campos, como colheita manual ou cultivo de hortas, essas mulheres estão se aventurando em território anteriormente considerado exclusivamente masculino, como o dirigir máquinas agrícolas. Tradicionalmente dominado por homens, o setor de maquinário agrícola tem visto um aumento notável na presença e influência das mulheres.

Habilidade e competência

As mulheres que dirigem máquinas agrícolas não estão apenas quebrando barreiras de gênero, elas também estão demonstrando uma aptidão excepcional para o trabalho e desempenhando um papel crucial na modernização e sustentabilidade do setor agrícola. Suas habilidades e determinação estão ajudando a impulsionar a produtividade e a eficiência, ao mesmo tempo em que desafiam estereótipos de gênero e promovem a igualdade no campo. À medida que a indústria agrícola continua a evoluir, é fundamental reconhecer e valorizar a contribuição significativa das mulheres em todas as áreas.

Vânia Aparecida Silva Carnicel, motorista de compostagem da Usina Lins

A jornada marcada pela resiliência e determinação da motorista de compostagem da Usina Lins, Vânia Aparecida Silva Carnicel, revela não apenas a conquista pessoal, mas também a quebra de barreiras em um setor historicamente dominado por homens.

Vânia, que anteriormente trabalhava como motorista de van escolar, viu sua vida mudar com a chegada da pandemia. Com o setor de transporte escolar paralisado, ela precisou buscar novas oportunidades. Foi então que soube que a Usina Lins, situada na cidade de Lins, no interior do estado de São Paulo, estava recrutando mulheres para integrarem sua equipe. Sem hesitar, enviou seu currículo e passou por um teste, sendo selecionada para o cargo que hoje desempenha com maestria.

“O bom é que o pessoal ensina muito, todo mundo ajuda”, comenta Vânia sobre sua experiência na empresa. Com quase dois anos de dedicação, ela opera um caminhão basculante, contribuindo para o transporte de torta de filtro na indústria. Dentro de seu setor, ela faz parte de um grupo de oito mulheres, desafiando estereótipos e provando que não há limites para suas habilidades.

No entanto, seu trabalho vai além das habilidades técnicas. Vânia é um exemplo de respeito e profissionalismo, valorizando sua imagem e representando orgulhosamente as mulheres. “Todos os dias eu faço questão de lustrar o sapato que eu trabalho, piso todos os dias no barro, mas entro com o sapato lustrado e roupa em dia”, afirma ela, enfatizando a importância de sua vaidade.

Para as mulheres que aspiram seguir seus passos, Vânia oferece conselhos sábios: “Tenham foco, fé e nunca desistam”. Sua história inspiradora é um lembrete poderoso de que o gênero não determina o sucesso, e que cada obstáculo pode ser superado com determinação e perseverança.

Com os olhos voltados para o futuro, Vânia planeja continuar sua jornada na Usina Lins, sonhando em se aposentar dentro do ramo que tanto a acolheu. Seu entusiasmo reflete não apenas sua paixão pelo trabalho, mas também sua confiança no potencial das mulheres em qualquer campo de atuação.

Enquanto aguarda ansiosamente pela próxima etapa de sua carreira, visto que recentemente ela fez uma prova na empresa para dirigir um rodotrem e passou em primeiro lugar, Vânia permanece como um farol de inspiração, iluminando o caminho para outras mulheres que buscam alcançar seus sonhos. E com cada reviravolta da estrada, ela prova que não há limites para aqueles que se atrevem a sonhar grande e trabalhar ainda mais duro. “Se Deus quiser vou puxar cana, só estou aguardando”.

Desafios e oportunidades

Apesar dos progressos, as mulheres que dirigem máquinas agrícolas ainda enfrentam desafios. No entanto, à medida que a conscientização sobre a importância da igualdade de gênero cresce, estão surgindo mais programas e iniciativas para apoiar e capacitar mulheres na agricultura.

Adriana Maria Alves de Lira, tratorista no Grupo Viralcool de Sertãozinho

No Grupo Viralcool em Sertãozinho-SP, onde mulheres têm ganhado destaque em profissões antes consideradas exclusivamente masculinas, como a de tratorista, uma das protagonistas é Adriana Maria Alves de Lira, que é um exemplo vivo de quem sabe agarrar as oportunidades e executá-las com maestria.

Trabalhando como tratorista no Grupo Viralcool há dois anos e meio, Adriana compartilha sua jornada de superação e aprendizado. “Nunca subi em um trator, mas tive a oportunidade de fazer um teste e passei”, conta ela. Para Adriana, cada dia é um novo desafio e uma oportunidade de aprendizado. Ela já participou de diversos cursos oferecidos pela empresa, buscando aprimorar suas habilidades e conhecimentos.

A transição de uma vida como funcionária doméstica para tratorista não foi fácil para ela, mas encontrou apoio e incentivo entre seus colegas de trabalho. “Os tratoristas mais velhos, os operadores de colhedeira mais antigos, não medem esforços para ajudar”, diz ela. Adriana destaca também a importância de quebrar estereótipos de gênero no mercado de trabalho. “Nunca pintam a imagem da mulher exercendo a mesma função de um homem, mas nós mulheres estamos mostrando que podemos sim”, ressalta.

Além de sua dedicação ao trabalho, Adriana também valoriza sua vaidade e feminilidade. “Quando entro para trabalhar, sou eu e meu trator. Tenho cuidado com ele e também comigo mesma, procuro sempre estar arrumada”.

Com planos futuros de se especializar e trabalhar com rodotrem, Adriana demonstra determinação e confiança em suas capacidades.

Cláudia Tonielo, diretora de Recursos Humanos do Grupo Viralcool e diretora do CeiseBr

Cláudia Tonielo, diretora de Recursos Humanos do Grupo Viralcool e também diretora do CeiseBr, está liderando uma mudança significativa no cenário do mercado de trabalho agrícola em Sertãozinho. Em uma região onde a demanda por motoristas de máquinas agrícolas supera a oferta, Cláudia está promovendo iniciativas para capacitar mulheres e preencher essas vagas escassas.

“No Grupo Viralcool buscamos oferecer treinamento para mulheres neste mercado de trabalho, que atualmente enfrenta uma carência alarmante de profissionais qualificados. Neste contexto, também estudamos as demandas e na medida do possível através do plano de cargos e salários procuramos proporcionar facilidades para que possam investir nos seus sonhos profissionais como, por exemplo, a mudança de categoria da carteira de motorista”.

A iniciativa tem sido um sucesso, com um número crescente de mulheres se juntando à equipe da Viralcool. Cláudia enfatiza que a igualdade de gênero é uma prioridade, destacando que as mulheres têm o potencial de desempenhar qualquer função, desde que tenham interesse e estejam devidamente treinadas.

Com a abertura de oportunidades e o apoio de iniciativas como a de Cláudia Tonielo no Grupo Viralcool, mulheres como Adriana Maria Alves de Lira estão conquistando seu espaço e redefinindo padrões no mercado de trabalho. A jornada rumo à igualdade de gênero e à valorização do potencial feminino continua, e exemplos como esse inspiram e motivam.

Determinação e coragem

Em Sertãozinho-SP, mais precisamente na Unidade de Grãos 3 da Copercana,  uma figura se destaca não apenas pela habilidade ao volante, mas pelo que representa em um cenário ainda predominantemente masculino. Dayane Priscila Carniel dos Santos, uma motorista que traz consigo não apenas a destreza na direção, mas uma história de determinação.

Dayane Priscila Carniel dos Santos, motorista de ônibus e caminhão-bombeiro na Unidade de Grãos 3 da Copercana, em Sertãozinho

Dayane não chegou onde está por acaso. Desde cedo, alimentava o sonho de se tornar uma motorista, inspirada pela visão das caminhoneiras que admirava. Após tirar a carteira de motorista e realizar cursos necessários, agarrou com firmeza a oportunidade de ingressar na Unidade de Grãos 3 da Copercana, onde conduz não apenas um ônibus  que transporta 40 colaboradores, mas também assume o volante do caminhão-bombeiro, essencial no combate a incêndios da unidade e  também no suporte para a manutenção como a rega do calcário, da plantação e para auxiliar na aplicação de insumos agrícolas.

Seu primeiro dia como motorista foi um turbilhão de emoções, misturando alegria, satisfação e um toque de apreensão. Contudo, Dayane enfrentou o desafio com coragem, demonstrando habilidades tanto no transporte de passageiros como no manejo do caminhão-bombeiro.

Antes de assumir o volante na Copercana, Dayane trabalhava como cozinheira num supermercado da Copercana e, ao tomar conhecimento da vaga de motorista na cooperativa, não hesitou em buscar a oportunidade. Seu teste foi bem-sucedido, e desde então completa quase um ano de trabalho na profissão dos seus sonhos.

“Apesar dos meus medos iniciais, nunca enfrentei discriminação, ao contrário, sempre recebi apoio dos meus superiores e dos colegas de trabalho, o que contribuiu muito para que eu pudesse ir adquirindo confiança e me desenvolvendo profissionalmente. Estar nessa posição é gratificante, me sinto muito útil e orgulhosa no que faço. Que outras mulheres também possam persistir nos seus sonhos e busquem seus espaços, pois são tão capazes quanto os homens e juntos podem fazer muito”.

A história da Dayane na Copercana não é apenas sobre dirigir veículos, e sim sobre quebrar estereótipos, superar desafios e inspirar outras mulheres a perseguirem seus sonhos, independentemente das barreiras de gênero.