Live mostra a evolução do setor bioenergético

14/03/2024 Noticias POR: Fernanda Clariano

Testemunhos vivos do dinamismo e da importância do setor bioenergético brasileiro, refletindo um legado de comprometimento, inovação e visão de futuro

O setor bioenergético foi agraciado no dia 7 de fevereiro com a live “Cana de Tudo do Açúcar ao Infinito – a evolução do setor bioenergético”. Moderada pela editora da Canaonline, a jornalista Luciana Paiva, o evento reuniu gigantes do setor, verdadeiras lendas, cujas trajetórias de vida se entrelaçam com a história da bioenergia.

Entre os participantes Antonio Eduardo Tonielo (presidente dos conselhos do Grupo Viralcool e da Copercana); Antonio Cesar Salibe (presidente-executivo da UDOP); Luiz Carlos Corrêa Carvalho “Caio Carvalho” (diretor da consultoria Canaplan e presidente da ABAG); Maurílio Biagi Filho (presidente da Maubisa); Plínio Nastari (presidente da consultoria Datagro) e Eduardo de Queiroz Monteiro (presidente do Grupo EQM). Na ocasião, eles retrataram momentos históricos do setor e personagens responsáveis pela evolução bioenergética.

Durante a live foram abordadas diversas questões cruciais, incluindo a importância de iniciativas em andamento, como o programa Mover, idealizado pelo governo federal. Este programa visa conceder três benefícios principais: a redução da incidência do IPI para veículos sustentáveis, o incentivo à pesquisa, desenvolvimento e produção tecnológica, além do estímulo à produção de autopeças não fabricadas localmente.

Outros temas relevantes foram discutidos, como a viabilidade da mistura de 30% de etanol na gasolina, a crescente demanda por fontes de energia renovável, o potencial do hidrogênio derivado do etanol e o aumento do investimento do setor em tecnologias de ponta.

Antonio Eduardo Tonielo: um legado na indústria bioenergética

Respeitado no cenário da produção de etanol e açúcar, Tonielo compartilhou sua jornada desde os primórdios da cachaça até o sucesso atual do Grupo Viralcool e relembrou os desafios e conquistas que moldaram sua carreira e o setor bioenergético como um todo.

Tonielo remeteu ao início de sua jornada, quando o Proálcool surgiu em 1980, marcando a transição da produção de cachaça para a fabricação de etanol. Essa mudança foi um marco para a indústria, impulsionando a Viralcool a expandir suas operações e estabelecer-se como uma das principais produtoras de etanol da região.

No entanto, obstáculos burocráticos levaram a Viralcool a voltar temporariamente para a produção de cachaça, até que finalmente obtiveram autorização para produzir etanol. Esse foi o início de uma nova era, com a destilaria transformando a sobra da cachaça em etanol, um avanço significativo para o setor de produtores de cachaça.

A visão empreendedora de Tonielo não se limitou apenas à produção de etanol. Com a fundação da Copacesp, uma cooperativa para negociação com compradores, e a expansão para a produção de açúcar, a Viralcool consolidou-se na indústria bioenergética. Hoje, suas três indústrias, instaladas nas cidades de Sertãozinho-SP, Pitangueiras-SP e Castilho-SP, operam com tecnologia de ponta, produzindo açúcar branco para exportação e energia elétrica em larga escala.

Ao refletir sobre a evolução do setor, Tonielo destacou a importância da mecanização das lavouras, especialmente a introdução das colheitadeiras de cana. Essa tecnologia revolucionária trouxe estabilidade ao setor, mitigando os desafios enfrentados pela escassez de mão de obra.

No entanto, ressaltou os desafios enfrentados devido à volatilidade dos preços do etanol, influenciados por políticas governamentais e pela flutuação dos preços da gasolina.

Tonielo reconhece os desafios do mercado de etanol, mas acredita que a diversificação para o açúcar pode ser uma estratégia para mitigar esses obstáculos.

Porém, apesar das dificuldades, Tonielo mantém um otimismo cauteloso quanto ao futuro do setor. Ele enfatizou a importância da conscientização sobre os benefícios do etanol como combustível renovável e destacou a necessidade de uma campanha de marketing mais forte para promover seu uso.

Na ocasião também reconheceu figuras-chave que contribuíram para o desenvolvimento do setor, como Lamartine Navarro Júnior, Ernesto Geisel e ShigeakiUeki, e expressou seu respeito pelo trabalho do presidente da Unica, EvandoGussi.

Presidente-executivo da UDOP, Antonio Cesar Salibe, relembrou sua trajetória no mundo da cana

Salibe mergulhou no universo da cana-de-açúcar em meados da década de 1970. Durante a live ele compartilhou os detalhes de sua jornada desde os primeiros passos até sua posição de destaque no setor.

O presidente-executivo da UDOP começou sua carreira no Banco do Estado de São Paulo (Banespa) em 1971, porém logo percebeu que sua paixão não estava no crédito rural. Foi então que em 1973, ao tomar conhecimento do concurso para agrônomos na Copersucar, deu um novo rumo à sua vida profissional. Após ser aprovado, ingressou na Copersucar, onde trabalhou na área de extensão até 1975, marcando o início de sua jornada no mundo da cana.

Desejoso por mais experiências, Salibe buscou oportunidades em usinas, incentivado por seu chefe na época, Jacques Mioki. Assim, em 1975, iniciou sua atuação como agrônomo na Usina Cupim, onde permaneceu por três anos antes de ingressar no Planalsucar, em 1979.

Em 1980, uma nova guinada aconteceu em sua carreira quando foi recrutado por Caio Carvalho para integrar um projeto visionário no Oeste do Estado de São Paulo. Esse momento foi crucial para sua trajetória, já que o projeto visava expandir os canaviais em meio ao contexto do Proálcool. Graças a essa oportunidade, Salibe se estabeleceu em Araçatuba, onde permanece até hoje, dedicando mais de 44 anos ao setor.

Após sua aposentadoria em 2012, Salibe assumiu a presidência executiva da UDOP, onde lidera esforços para promover avanços tecnológicos e de gestão no setor bioenergético. Atualmente, a UDOP conta com 75 associados em 12 estados, demonstrando o alcance e a relevância do trabalho desenvolvido sob sua liderança.

Ao longo dos anos, Salibe testemunhou e contribuiu para a evolução do setor bioenergético. Desde os desafios iniciais de capacitação técnica até a consolidação de iniciativas como a Feicana, que impulsionou o crescimento da UDOP, ele esteve na linha de frente desse progresso.

Olhando para o futuro, Salibe reconhece os desafios atuais, especialmente os baixos preços do etanol e a necessidade de enfrentar interferências políticas. No entanto, mantém a esperança em um horizonte promissor, destacando a importância da sustentabilidade e do apoio governamental para garantir o crescimento contínuo do setor.

Na oportunidade, Salibe fez questão de homenagear figuras influentes do setor bioenergético, como Sizuo Matsuoka, José Paulo Stupielo e Bezaliel Monteiro, cujas contribuições foram fundamentais para o avanço tecnológico e para a consolidação do setor no Brasil.

Caio Carvalho: um visionário do setor sucroenergético

Com uma trajetória marcada pela dedicação e visão estratégica, Luiz Carlos Corrêa Carvalho compartilhou sua jornada desde os primórdios do setor até as mais recentes inovações tecnológicas e desafios enfrentados.

Nascido em meio a uma família de agrônomos, Carvalho teve a sorte de contar com influências significativas desde cedo. Lembrou com carinho de seu padrinho, Antonio José Rodrigues Filho, cuja ligação com os canaviais moldou seu interesse pelo setor. Sua entrada decisiva ocorreu em 1975, durante os primeiros passos do Proálcool, integrando o programa do IAA e dedicando-se ao desenvolvimento de projetos voltados para o etanol.

Sua atuação durante esses anos turbulentos foi fundamental, especialmente ao coordenar o programa e apresentar os avanços brasileiros nos Estados Unidos, onde despertaram admiração e inspiração. Carvalho destacou o papel crucial de figuras como Plínio Nastari e Maurílio Biagi, além da colaboração com empresas como Dedini e Zanini, na transformação do modelo setorial.

A criação da Canaplan em 1983 marcou uma nova fase em sua carreira, permitindo-lhe uma abordagem mais independente e focada. Sob sua liderança, a consultoria desempenhou um papel crucial no aprimoramento do sistema de pagamento por qualidade da cana-de-açúcar, contribuindo para a posterior implementação do Consecana.

Ao refletir sobre a evolução tecnológica e de gestão do setor, Carvalho destacou a importância de figuras como Toninho Tonielo e Eduardo Monteiro, cujo conhecimento e visão histórica foram essenciais. Destacou ainda a transição do modelo altamente regulamentado para um ambiente mais flexível, embora desafiador, que permitiu uma diversificação e resiliência sem precedentes.

A análise de Carvalho não se limitou apenas ao passado, mas projetou-se para o futuro promissor do setor bioenergético brasileiro destacando avanços significativos em tecnologia, controle de pragas e doenças, bem como o potencial da inteligência artificial para otimizar processos e reduzir custos.

Carvalho também enfatizou a importância do Brasil como protagonista global no agronegócio, defendendo uma maior presença e influência internacional. Sua visão é clara: o país está destinado a liderar a revolução verde mundial, integrando a cana-de-açúcar com outras culturas e promovendo uma abordagem sustentável e inovadora.

Eduardo de Queiroz Monteiro: um líder no setor sucroenergético

Eduardo traz consigo uma história enraizada no setor sucroenergético. Sua família tem uma longa tradição nesse ramo, com a usina Cucaú, que completou no mês de fevereiro 133 anos. A história da família Monteiro se remete ao avô de Eduardo, Armando, que adquiriu a usina Cucaú em 1944, dando início à sua jornada na área industrial.

Eduardo entrou de forma mais direta no setor nos anos 90, após ser convocado pela família para somar esforços no setor sucroalcooleiro, em meio às dificuldades enfrentadas naquela década. Ele representa a terceira geração de uma família com forte tradição no setor, assumindo um papel de protagonismo nas empresas do grupo.

Em uma época marcada por crises, como nos anos 90 e posteriormente em 2008, o setor sucroenergético passou por uma intensa reestruturação, com muitas usinas enfrentando dificuldades. No entanto, Eduardo e seu grupo conseguiram não apenas sobreviver, mas também se adaptar a essa realidade desafiadora.

Atualmente, o setor conta com 45 usinas no Norte/Nordeste do Brasil, produzindo cerca de 60 milhões de toneladas de cana em um país que totaliza 700 milhões de toneladas. Eduardo destacou na ocasião os desafios enfrentados, especialmente na região Nordeste, onde as encostas representam obstáculos adicionais. No entanto, ele ressaltou as condições competitivas únicas do setor, incluindo a proximidade com os portos e a vocação para exportação.

Além disso, Eduardo analisou a evolução do setor bioenergético, destacando a importância de iniciativas como o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) e a expansão da produção nacional. Ele apontou os desafios atuais, incluindo a necessidade de tornar o etanol mais competitivo em um mercado complexo e volátil.

Um dos principais obstáculos enfrentados pelo setor é a questão da mão de obra, especialmente no corte manual de cana em áreas de encosta. Eduardo ressaltou a busca por soluções mecanizadas e a importância da melhoria genética das plantas.

Eduardo destacou a contribuição de figuras importantes no setor, como Plínio Nastari, Toninho Tonielo, Caio Carvalho, e outros, destacando a importância da comunicação eficaz para promover o etanol e enfrentar os desafios atuais.

Ele também prestou uma homenagem especial ao ex-ministro Alysson Paolinelli, reconhecendo seu papel fundamental na transformação do agronegócio brasileiro e na consolidação do país como uma potência agrícola mundial.

Plínio Nastari: uma trajetória pioneira no mundo da cana

Plínio Nastari é uma figura emblemática no cenário da energia renovável, cuja jornada teve início em 1978, quando decidiu mergulhar nos estudos sobre biocombustíveis. Foi nesse período que direcionou sua carreira para aprofundar-se na economia agrícola, especialmente no contexto da cana-de-açúcar, etanol e açúcar. Seu empenho acadêmico o levou a conquistar mestrado e doutorado na área, marcando sua imersão profunda no setor.

A criação da Datagro surgiu como um desdobramento natural de seu percurso acadêmico, fundada logo após sua conclusão no mestrado, e consolidada durante o doutorado. A consultoria rapidamente se destacou como uma referência nacional e internacional, angariando reconhecimento nos Estados Unidos, Japão e outros países, especialmente no contexto de energia renovável e biocombustíveis.

O papel de Nastari e da Datagro na promoção do etanol nos Estados Unidos foi crucial, contribuindo desde o início para o desenvolvimento desse mercado. Uma colaboração significativa ocorreu durante a década de 1980 e início dos anos 90, quando a Datagro forneceu conhecimento e informações essenciais sobre os benefícios ambientais e técnicos do etanol, influenciando diretamente na adoção dessa fonte de energia pelos americanos.

Além disso, em 1985, Nastari liderou uma defesa bem-sucedida contra alegações de dumping de etanol brasileiro nos Estados Unidos, demonstrando que as exportações não causaram danos significativos ao mercado americano. Esse episódio foi fundamental para fortalecer a relação entre as indústrias de etanol do Brasil e dos EUA.

Ao longo dos anos, Plínio Nastari acompanhou de perto a evolução do setor bioenergético, destacando avanços tecnológicos e de gestão que impulsionaram o crescimento da produção de cana-de-açúcar e seus derivados. Durante a live, ele ressaltou a importância da diversificação do setor, o aproveitamento energético da cana e o aumento da produtividade como pilares dessa evolução.

No que diz respeito ao futuro do setor, Nastari enfatizou o potencial do etanol em diversas áreas, desde a produção de hidrogênio até a fabricação de bioplásticos. Ele acredita que o Brasil está bem posicionado para liderar essas inovações, aproveitando sua vasta experiência e infraestrutura já estabelecida.

Ao abordar as personalidades marcantes do setor, Nastari destacou figuras como Ernesto Geisel, Lamartine Navarro Júnior, e outros pioneiros que contribuíram significativamente para o desenvolvimento da indústria sucroenergética.

Quando questionado sobre os desafios futuros, Nastari expressou confiança na capacidade do setor de superá-los, destacando iniciativas como o programa Mover e o aumento da mistura de etanol na gasolina como medidas que impulsionarão o crescimento sustentável.

A visão e liderança de Nastari continuam a moldar o futuro promissor do setor sucroenergético no Brasil e no mundo.

Maurílio Biagi Filho: a evolução do setor sucroenergético brasileiro

Maurílio Biagi Filho compartilhou sua visão sobre a história e a evolução do setor sucroenergético brasileiro. Nascido no mundo da cana-de-açúcar, ele destacou a contribuição significativa de diversos atores ao longo do tempo, incluindo personalidades como Plínio Nastari e Caio Carvalho, que, embora não sejam produtores rurais, desempenharam papéis cruciais na consolidação e expansão do segmento.

O presidente da Maubisa recordou os desafios enfrentados no início do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), ressaltando a importância do etanol como a maior fonte de energia renovável até os dias de hoje. Biagi compartilhou uma experiência marcante, quando a maioria dos carros produzidos no país utilizava álcool como combustível, evidenciando a confiança do povo brasileiro no programa.

Entretanto, Biagi também mencionou momentos críticos, como a transição para veículos movidos à gasolina, uma decisão estratégica que resultou em desafios logísticos e econômicos para os produtores de etanol. Ele enfatizou a necessidade de um melhor controle por parte dos produtores para evitar crises como a escassez de etanol, que afetou o mercado nacional.

Ao abordar a evolução tecnológica e de gestão no setor, Biagi destacou a importância das variedades nacionais de cana-de-açúcar e o papel das empresas brasileiras na adaptação e tropicalização de tecnologias estrangeiras. Ele reconheceu a contribuição de figuras proeminentes como Fernando dos Reis e Toninho Tonielo para o avanço do setor.

Além disso, Biagi ressaltou a necessidade de uma comunicação eficaz para promover o uso do etanol como combustível alternativo. Ele enfatizou que a conscientização ambiental e a compreensão do consumidor são essenciais para impulsionar a demanda por etanol e reduzir a dependência da gasolina.

Biagi ainda prestou homenagem a Roberto Rodrigues e Plínio Nastari, que dedicaram suas vidas ao avanço e à promoção do setor sucroenergético brasileiro e expressou otimismo em relação ao futuro do segmento, especialmente com o potencial emergente do hidrogênio como fonte de energia alternativa.