Açúcar alcança maior preço em seis anos. O que vem por aí?

07/03/2023 Marcos Fava Neves POR: Marcos Fava Neves* Vítor Nardini Marques** Vinícius Cambaúva***

Reflexões dos fatos e números do agro em janeiro/fevereiro e o que acompanhar em março

Na economia mundial e brasileira

• No primeiro mês de 2023, a inflação oficial do Brasil, mensurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou alta de 0,53%, o que reflete uma ligeira desaceleração do indicador frente a dezembro de 2022 (0,62%). O maior impacto foi causado pelo segmento de alimentos e bebidas, o qual apresentou crescimento de 0,59%, acarretando um impacto proporcional de 0,13 ponto percentual. Alguns alimentos, como a batata-inglesa e a cenoura pesaram no bolso dos brasileiros em janeiro, devido a respectivos incrementos de 15,4% e 17,55%, acarretados pelo grande volume de chuvas incidentes nas regiões produtoras. Já no lado dos transportes, a gasolina teve aumento de 0,83% e o etanol de 0,72%.

• Na esfera econômica, o boletim Focus/Bacen do Banco Central do Brasil, de 13 de fevereiro de 2023 indicou um IPCA em 5,79% em 2023 (alta) e em 4,00% para 2024 (alta). Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), a perspectiva é de crescimento de 0,76% em 2023 (baixa) e 1,50 em 2024 (alta). Já o câmbio deve encerrar este ano em torno de R$ 5,25 (baixa) e o próximo em R$ 5,30 (manutenção). Por fim, em relação a Taxa Selic, a perspectiva é de que fique em 12,75% em 2023 (alta) e em 10,00 no próximo ano (alta). No agro mundial e brasileiro

• Na esfera global, os preços dos alimentos seguem em curva decrescente, se aproximando da normalidade. O Índice de Preços de Alimentos da FAO (Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) sofreu sua 10ª queda consecutiva em janeiro, atingindo 131,2 pontos, configurando valor 0,8% inferior ao do mês anterior e 17,9% menor que o de março de 2022 (quando alcançou seu máximo histórico). Enquanto que os índices de cereais e carnes se mantiveram praticamente estáveis frente ao mês anterior (+0,1% e -0,1%, respectivamente), os valores para açúcar, óleos vegetais e laticínios justificam a queda global do indicador. No adoçante, houve queda de 1,1% no comparativo com o mês de dezembro graças à oferta favorável, com boa performance nas colheitas de cana-de-açúcar no Brasil e na Tailândia, compensando os baixos rendimentos da safra indiana. Já o indicador de óleos vegetais caiu 2,9% no mês de janeiro, devido a maior oferta do produto advindo do girassol e da colza, enquanto que para soja e palma houve uma desaceleração do consumo, acarretando em menor taxa de importação. Por fim, os laticínios apresentaram retração de 1,4%, em consequência da redução das importações e aumento da oferta principalmente na Nova Zelândia.

• Em sua atualização sobre a safra global de commodities agrícolas 2022/23, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) voltou a derrubar os indicadores do milho. Com isso, a produção global foi reestimada em 1.151,36 bilhão de t frente à 1.155,93 bilhão de t do mês anterior (variação de 4,5 milhões de t). Os volumes produzidos por EUA e Brasil se mantiveram inalterados frente ao relatório do mês anterior, respectivamente, 348,76 e 125 milhões de t. Por sua vez, a Argentina perdeu 5 milhões de t entre os relatórios, estando sua produção avaliada agora em 47 milhões de t. Na Ucrânia também não houve alteração na oferta, manteve-se a expectativa de produção em 27 milhões de t, mas o órgão americano revisou para cima as exportações do país do Leste Europeu para 22,5 milhões de t (frente à 20,5 milhões de t de janeiro). Com isso, os estoques globais passaram de 296,42 milhões de t (janeiro) para 295,28 milhões (fevereiro).

• A cultura da soja apresentou um reflexo similar, com variação negativa para a safra global: de 388,01 milhões de t (janeiro) para 383,01 milhões de t (fevereiro). Novamente, a redução foi impactada pela Argentina, a qual teve sua produção revisada de 45,5 milhões de t (janeiro) para 41 milhões de t (fevereiro). Para a produção brasileira e norteamericana, o USDA não projetou alterações, mantendo-se em 153 milhões de t para o primeiro país e 116,37 milhões de t para o segundo. Dessa forma, os estoques devem fechar 2022/23 em 383,01 milhões de t, configurando uma queda de 5 milhões de t frente à expectativa de janeiro.

• No Brasil, a estimativa da safra brasileira de grãos para ciclo 2022/23 foi revisada para baixo no mês de fevereiro, em aproximadamente 350 mil t, devendo alcançar agora 310,6 milhões de t, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mesmo com a queda, justificada pelo atraso na colheita da soja e interferências na janela ideal de plantio do milho safrinha, o volume esperado é 14,0% superior àquele alcançado na safra 2021/22, o que deve representar novo recorde na série histórica.

• O órgão governamental espera que, ao todo, 76,7 milhões ha serão cultivados nesta safra, um acréscimo de 2,2 milhões de ha ou 3,0% a mais frente ao período anterior. Para as principais culturas, a expectativa é de uma produção de soja de 152,9 milhões de t, o equivalente um incremento de 21,8% no comparativo com o ciclo anterior, totalizando uma área semeada de 43,3 milhões de ha (+4,4%).

• No cultivo do milho é onde houve a principal variação entre os relatórios deste mês e do passado, uma vez que era esperado um volume de 96,3 milhões t para a segunda safra, mas que foi reavaliado para 95,0 milhões de t (-1,4%), dadas as condições climáticas na colheita da oleaginosa, gerando interferências na safrinha de milho plantada em rotação. Mesmo assim, a colheita da segunda safra deve ser 10,6% superior e para o volume total de milho (considerando as três safras), espera-se um incremento de 9,4%, atingindo 123,7 milhões de t, em uma área de 22 milhões de ha (+2,1%).

• Já no algodão, a produção de pluma está estimada em 3,0 milhões de t (+16,7%) e a área em 1,6 milhão de ha (+4,6%). Para fechar as análises deste relatório, as culturas de inverno devem produzir o equivalente ao volume do ciclo passado, 12,4 milhões de t, com destaque para o trigo que deve representar 85% desse volume; a área também permanecerá estável frente a 2021/22, atingindo 3,8 milhões de ha.

• No campo, a Conab aponta que a colheita da soja alcançou 15,4% de progresso até o último dia 11 de fevereiro, bem abaixo dos 25,0% registrados na mesma data de 2022. No Mato Grosso, principal estado produtor, o progresso é de 40,1% contra 60,1% há um ano. Como consequência dos atrasos na colheita da oleaginosa, o plantio de milho 2ª safra alcançou 20,4% de progresso versus 35,1% há um ano. No MT, 35,9% das áreas estimadas para o cereal já foram plantadas contra 58,1% em 2022. Por fim, no algodão, o plantio alcançou 92,3% de progresso, partindo para a finalização (era de 97,4% há um ano).

• Sobre a fenologia das lavouras, na soja, 34,4% das áreas estão em maturação; 32,2% em enchimento de grãos; 11,8% em floração; e apenas 6,2% em desenvolvimento vegetativo. No milho 2ª safra, metade das lavouras estão em emergência e a outra metade já em desenvolvimento vegetativo. Já no algodão, 62,8% dos campos seguem em desenvolvimento vegetativo; 30,8% estão em emergência; 5,6% em floração; e 0,9% em formação de maçãs.

• Entre os dias 13 a 20 de fevereiro, a Conab indica que as condições hídricas (pluviosidade) para a cultura da soja seguirão favoráveis em boa parte do Brasil, com poucas limitações no norte e sul de Minas Gerais e parte do Rio Grande do Sul. Já no milho 1ª safra, há previsão de condições críticas no estado da Bahia, norte/sul de Minas Gerais e quase a totalidade do estado de Rio Grande do Sul; demais estados terão condições favoráveis.

• Voltando a falar sobre o Mato Grosso, principal produtor de soja, milho e algodão, o Instituto Mato-grossense de Economia aplicada reviu seus números para a cultura da soja no estado: a produção está estimada agora em 42,82 milhões de t, alta de 3,3% frente ao relatório anterior e de 4,8% no comparativo com a safra passada. Apesar dos relativos atrasos na colheita, ocasionados pelas chuvas, espera-se mais uma safra recorde para a oleaginosa. Com isso, os estoques finais no estado devem ficar em 1,09 milhão de t (+1,96%).

• Ainda sobre a soja, o Imea indicou que a colheita alcançou 44,1% da área cultivada no estado em 2022/23, um avanço de 20 pontos em uma semana (corrida dos agricultores nos intervalos sem chuva), o que permitiu que Mato Grosso encostasse novamente na média histórica para o período (44,5%). Ainda assim, o progresso segue atrasado na comparação com 2022; há um ano, os avanços eram de 60,5%.

• No milho, o Imea estima que a produção deve ficar em torno de 43,9 milhões de t, 34,6% superior ao registrado na safra passada (2021/22). Um aspecto de destaque é a expectativa de crescimento de 62,7% nas exportações do cereal, o que deve totalizar 26,9 milhões de t. Essa alta se explica, principalmente, pela entrada da China na pauta exportadora brasileira. Ao final de 2022/23, o estoque mato-grossense está estimado em 240 mil t.

• Para o algodão, a área do Mato Grosso foi revista para 1,11 milhão de hectares, 5,4% inferior a 2021/22. Os atrasos no plantio e as recentes desvalorizações nos preços da fibra são os dois fatores apontados pelo Imea como motivadores da redução (menor interesse dos agricultores). Com isso, a produção ficou estimada em 4,65 milhões de t de algodão em caroço, 5,4% menor do que o último relatório, mas ainda 6,2% maior do que a safra passada, comportamento que se justifica pela melhora na produtividade esperada para este ciclo (deve ficar em 278,3@/ha, 12,3% maior).

• Falando em algodão, os tristes terremotos na Turquia e Síria ocasionaram o fechamento do Porto de Iskenderun, principal rota de entrada do algodão brasileiro no país. Segundo autoridades locais, estima-se até 6 meses para que as atividades sejam retomadas, o que preocupa os agentes da cadeia de algodão no Brasil, já que a Turquia é o quinto maior comprador de nosso algodão (13% dos embarques ou 221 mil t da pluma em 2022).

• E o agronegócio brasileiro já começa 2023 com boas notícias em relação ao comércio externo de produtos. Em janeiro, as receitas com exportações do setor somaram US$ 10,2 bilhões, alta de 15,9% no comparativo com janeiro passado. Entre os produtos mais exportados em termos de volume, o milho em grão se destacou, de longe: foram 6,2 milhões de t embarcadas no mês, alta de 125,9% e com preços em US$ 287,4/t (+ 17,9%). O açúcar bruto apareceu na sequência como produto mais exportado, com 1,8 milhão de t no mês (+ 63,1%) e preços médios em US$ 424,0/t (+12,2%). De celulose, exportamos 1,7 milhão de t (+4,3%), o terceiro produto no ranking de volumes, e que registrou preço da t embarcada em US$ 426,20 (+ 13,0%). Nas exportações da soja em grão, os embarques somaram 840 mil t em janeiro (- 65,8%) a preços de US$ 596/t. Por fim, nas carnes, o cenário foi o seguinte: na bovina, vendemos 160 mil t (+16,0%) por US$ 4.842,90/t; na de frango, foram 400 mil t embarcadas (+21,2%) a preços de US$ 2.016,60 (+15,7%); e na suína, 80 mil t foram vendidas (+ 18,0%) a US$ 2.475,20 (+11,7%). Os dados foram divulgados pelo Itaú BBA com base na Secex/Ministério da Economia.

• Um destaque importante relacionado à pauta exportadora é que, em janeiro, a China assumiu o posto de principal destino das exportações brasileiras de milho; 983,7 mil t do cereal foram enviados ao país asiático no último mês. As receitas somaram US$ 271,5 milhões, o que representa 15% do total exportado no mês (US$ 1,77 bilhão). Os dados foram compilados pela agência Reuters e pela consultoria Safras & Mercado. Apenas recordando que a China permitiu as exportações brasileiras de milho a partir de 2023 e estes resultados já mostram a tendência de crescimento nas relações com o grão.

• De acordo com os relatórios do USDA, o Brasil irá liderar pela primeira vez na história as exportações globais de soja e de milho! Na oleaginosa, exportaremos cerca de 92 milhões de t em 2022/23, 54,9% de todo o volume global (em 21/22 era de 51,4%). Já no milho, serão 50 milhões de t, 27,6% de participação (era de 23,5% em 21/22). O protagonismo tem relação direta com o resultado positivo esperado para esta safra, bem como pelas baixas na oferta nos Estados Unidos (soja: - 4,2%; milho: - 9,0%), na Argentina e outros países; e pelo conflito entre Rússia e Ucrânia que infelizmente ainda se estende.

• Em sua atualização de fevereiro, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) estimou o Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária de 2023 em R$ 1,265 trilhão, o que deve representar um avanço de 6,1% em comparação ao registrado em 2022 (R$ 1,190 trilhão), além do melhor resultado para o indicador nos últimos 34 anos. A estimativa da pasta é que a atividade agrícola fature R$ 900,8 bilhões (+10,5%), enquanto que os demais R$ 364,4 bilhões serão advindos da pecuária (-2,7%). Entre os top três cultivos em faturamento estimado temos: soja (R$ 401,2 bilhões | +10,5%), milho (R$ 164,1 bilhões | +10,4%) e cana-deaçúcar (R$ 103,0 bilhões | +3,7%). Por sua vez, nas cadeias pecuária temos: bovinos (R$ 142,9 bilhões | -5,5%), frangos (R$ 107,6 bilhões | -4,1%) e leite (R$ 60,7 bilhões | +2,9%).

• Em relação aos preços de produtos agrícolas, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) divulgou relatório onde aponta que o Índice de Preços ao Produtor de Grupos de Produtos Agropecuários (IPPA/Cepea) teve alta nominal de 10,1% no ano passado, em linha com os preços internacionais (o FAO Food Index cresceu 14,3% no último ano). Na análise dos principais segmentos, tivemos o seguinte: O IPPA-Hortifrutis cresceu 36,7%, sendo que as maiores altas foram a da batata (+51,3%) e do tomate (+23,2%); na sequência, esteve o IPPA-Cana/Café com crescimento nominal de 20,7%, altas de 18,8% na canade- açúcar e 31,2% no estimulante; em terceiro, aparece o IPPA-Pecuária, com elevação de 8,0%, sendo que o leite (+23,7%) e os ovos (+19,2%) foram os dois produtos de destaque; e, por fim, no IPPA-Grãos, a alta foi de 7,1%, com crescimento de preços do algodão em 23,5%, da soja em 11,3% e do trigo em 20,1%.

• Nas cadeias da pecuária, o USDA divulgou em janeiro a nova estimativa semestral de oferta e demanda de carnes e outros em 2023. Na bovina, a estimativa para produção é de 59,20 milhões de t (-0,3%), sendo que Estados Unidos devem produzir 12,05 milhões de t (-6,5%), Brasil outros 10,56 milhões de t (+2,0%) e China em torno de 7,35 milhões de t (+3,2%). Nas exportações, o volume total global deve ser de 12,19 milhões de t (+0,2%), tendo como principais players o Brasil (1°; 24,6%) com embarques previstos em 3 milhões de t (+2,1%); Austrália aparece na sequência com 1,52 milhão de t (+3,5%); e Estados Unidos fecham o top 3 com 1,4 milhão de t (-12,8%). Nas importações, a China seguirá como principal comprador global da carne bovina (34,2%) com 3,52 milhões de t (+2,2%).

• Nos suínos, o USDA estima uma produção global de 114,08 milhões de t em 2023 (+ 0,3%), liderada por China que irá entregar 55,0 milhões de t (o mesmo de 2022), seguida de União Europeia com 22,6 milhões de t (-0,4%) e Estados Unidos com 12,47 milhões de t (+1,8%). União Europeia, Estados Unidos e Canadá formam o top 3 exportadores, com 3,95 (-5,0%), 2,88 (+0,3%) e 1,40 (-2,1%) milhão de t, respectivamente. Apesar da recuperação na produção, a China deve ampliar as importações e seguir como principal player neste quesito; de 2,05 (2022) para 2,10 (2023) milhões de t.

• Por fim, na carne de frango, a produção global foi projetada em 102,94 milhões de t em 2023 (+1,8%). Estados Unidos segue na ponta com 21,28 milhões de t (+1,3%), seguido do Brasil que tem 14,75 milhões de t (-3,5%) e da China, que deve produzir o mesmo volume de 2022, segundo o USDA: 14,3 milhões de t. Do lado dos embarques, a expectativa é que sejam comercializadas 13,99 milhões de t de carne de frango este ano (+3,2%). O Brasil, que já é maior exportador global, deve ampliar ainda mais a sua participação, especialmente pelos problemas que alguns países estão passando com os casos de gripe aviária (trataremos na sequência). Nosso país irá exportar 4,56 milhões de t (+2,6%), seguido dos Estados Unidos com 3,33 milhões de t (+0,4%) e da União Europeia com 1,8 milhão de t (+1,1%). Japão é o principal importador, com 1,1 milhão de t, mas responde por apenas 10% do comércio global; mercado muito mais pulverizado para o frango.

• E falando em frangos, um assunto que tem preocupado bastante é a disseminação dos casos de gripe aviária (Influenza) em todo o mundo. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde Animal incluiu mais dois países na lista de contaminados, o Nepal e a Eslováquia. Com casos altamente patogênicos na América do Norte e outros já confirmados em países como Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, os produtores brasileiros têm se mantido em alerta. Visando promover ações de forma preventiva, o governo federal lançou a campanha “Influenza aviária, aqui não”, com diversas informações para informar a sociedade e profissionais do setor. O que tem preocupado as autoridades é o fluxo de aves migratórias que vem de regiões já contaminadas da américa rumo ao Brasil. Sinal de alerta total!

• Ainda falando em pecuária, o Rabobank indica que os preços de produtos lácteos devem permanecer com tendência de queda no primeiro trimestre de 2023. Segundo o banco, os preços do Global Dairy Trade (GDT) em 17 de janeiro ficaram em US$ 3.393 por t, queda de 0,1% em relação ao leilão anterior realizado pela organização. Para o segundo trimestre, espera-se a renovação do interesse de compra, especialmente da China, que deve ampliar suas importações em 2023.

• No Café, uma pesquisa da Reuters com especialistas de mercado mostrou que os preços do Arábica tendem a cair 13,0% neste ano, fechando em US$ 1,48 por libra-peso. Já os preços do canéfora devem ficar em US$ 1.900 por t ao final de 2023, 6,0% superiores ao ano passado. Segundo o estudo, o principal motivador da queda nos preços do arábica é o suposto aumento na produção brasileira, o que deve gerar um excedente global em 2023/24; além disso, há também chances de redução na demanda.

• Na última estimativa de dezembro do USDA, a produção global de café da safra 2022/23 foi projetada em 172,8 milhões de sacas (60 kg), 2 milhões de sacas a menos do que a estimativa anterior (julho/22), mas 4,0% superior a 2021/22. Nos três principais produtores mundiais, o relatório mostrou o seguinte: na Colômbia, 3° colocado, a produção foi revista de 13,0 para 12,6 milhões de sacas, mas ainda 7,0% maior que 21/22; no Vietnã, segundo principal player, a produção foi revista de 30,9 para 30,2 milhões de sacas (- 4,3%); por fim, no Brasil, a projeção foi revista de 64,3 milhões de sacas na estimativa de julho, para 62,6 nesta (7,8% maior do que a safra passada).

• Já o relatório da Conab, divulgado na metade de janeiro, apontou que a produção brasileira em 2023 deve ficar em 54,9 milhões de sacas (60 kg), cerca de 4 milhões de sacas a mais no comparativo com 2022 (alta de 7,8%), confirmando as expectativas do mercado de maior oferta brasileira.

• O Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) divulgou uma nova reestimativa da safra 2022/23 de laranja no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste de Minas Gerais. No relatório, o órgão indica uma colheita em 316,23 milhões de caixas (40,8 kg), 0,7% maior do que a estimativa anterior e 20,3% superior ao ciclo 2021/22. Os bons volumes de precipitação nos últimos meses é o principal fator que explica a alta, já que tem contribuído com o aumento no peso das laranjas. O USDA divulgou suas previsões para a safra global. Em relação à fruta, a produção mundial está estimada em 47,5 milhões de t (- 5,0%), sendo que o Brasil deverá entregar 16,5 milhões de t (-2,4%), China com 7,5 milhões de t (+0,06%) e União Europeia com 5,85 milhões de t (-12,9%). Já em relação ao suco de laranja (concentrado a 65° Brix), a oferta global em 2022/23 está estimada em 1,55 milhão de t (-6,8%), com oferta brasileira de 1,12 milhão de t (-1,3%), México com 176 mil t (-18,1%) e Estados Unidos com 125 mil t (-21,4%). Apesar da baixa na oferta de suco, os estoques finais foram mantidos no mesmo nível de 2021/22: 223 mil t.

• Nos fertilizantes, as empresas importadoras gastaram US$ 25 bilhões para compras no ano passado. Embora os volumes tenham caído 9,0%, os gastos foram 64,0% maiores do que os de 2021; dados compilados pela Vixtra. Para os próximos meses, espera-se que haja um “canal de queda” nos preços, ou seja, tendência de baixa, mas com possíveis altas no “meio da rota”. Segundo a fintech, a ureia deve ter seus preços em rota crescente nas próximas semanas, oscilando com altas entre 10 a 30% e com pico de preços no mês de maio.

• Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), a potência de energia solar no Brasil cresceu 76% em 2022, saltando de 14,2 para 25 GW. Com isso, a fonte já participa de 11,6% da matriz elétrica brasileira. Segundo a Absolar, desde 2012, R$ 125,3 bilhões já foram investidos com a energia solar e as arrecadações aos cofres públicos giram em torno de R$ 39,4 bilhões. Além disso, o setor gerou 750,2 mil empregos e contribuiu para evitar a emissão de 33,4 milhões de t de CO2.

• O Radar Agtech, estudo feito pela Embrapa, HomoLudens e SP Ventures mostrou que 1/3 das startups do agro brasileiro já vende suas soluções para outros países do mundo (exportação de tecnologia). Além deste, outro dado que chama atenção é que 43% das startups já faturam mais de R$ 1 milhão por ano. Na média, pouco mais da metade dos negócios conta com mais de 10 colaboradores no quadro, contribuindo também para a geração de empregos.

• A Cooperativa Aurora divulgou que faturou R$ 22 bilhões em 2022, um crescimento de 13,0% em relação ao ano anterior. Das receitas totais, 65,0% vieram de vendas no mercado interno (R$ 14 bilhões) e o restante de exportações (atualmente a Aurora é uma das maiores exportadoras de carnes no país). No ano passado, a cooperativa abateu 7 milhões de suínos, 300 milhões de frangos e processou 500 milhões de litros de leite. A Aurora emprega 40 mil pessoas e paga anualmente R$ 2,5 bilhões em salários.

• Finalizamos nossa análise do agronegócio com os preços dos principais produtos do setor na data de fechamento da nossa coluna. Para a soja, considerando a entrega em cooperativa do Estado de São Paulo, o preço Spot estava em R$ 168,30/sc (60kg). Já os contratos futuros eram de R$ 167,80/sc para mar/23 e R$ 167,80/sc para abr/23. No milho, a saca na negociação física estava em R$ 85,00/sc e os futuros na B3 em R$ 88,15/sc para mar/23, R$ 87,83/sc para mai/23 e R$ 90,18/sc para nov/23. No algodão, a cotação era de R$ 173,60/@ (base Esalq). Outros produtos do agro estavam com os seguintes preços, segundo o Cepea/ Esalq: boi gordo em R$ 295,00/@; o café arábica em R$ 1.123,17/sc; o trigo (Paraná) em R$ 1.648,72/t; e a laranja indústria em R$ 37,71/cx (40,8kg). Os cinco fatos do agro para acompanhar em março são:

1. Colheita da cultura da soja, especialmente no Estado do Mato Grosso, principal produtor e onde está boa parte da área que será cultivada com 2ª safra de milho. Vale ressaltar que o excesso de chuva pode ainda trazer algum dano às lavouras. Os resultados têm sido positivos e acreditamos que não vai haver grandes impactos, especialmente pela dedicação e agilidade dos agricultores.

2. Semeadura do milho 2ª safra. Este, já nos preocupa um pouco mais. Apesar de até agora estarmos acompanhando previsões climáticas ainda positivas para as próximas semanas, a continuidade no atraso prejudicada, a cada dia, o potencial produtivo do milho. Precisamos aproveitar este momento que o mundo conta com o Brasil para fornecimento global do cereal.

3. Acompanhar diariamente atualizações sobre a questão da gripe aviária (Influenza) nos países vizinhos do Brasil e/ ou até mesmo em nível nacional. Vamos fazer nossa parte também divulgando as informações relativas ao assunto a outros profissionais e produtores. Vale lembrar que as cadeias de grãos/pecuária estão bastante conectadas e podemos sentir impactos mesmo em cadeias agrícolas (não apenas na produção animal), além dos preços de alimentos ao consumidor, inflação e outros.

4. Ainda olhar para o câmbio e os indicadores da economia. Em 09 de fevereiro alcançamos R$ 5,30 no dólar, o maior valor desde a 1ª semana de janeiro. Nos últimos dias temos visto tendência de baixa, mas também há os embates entre o presidente e Banco Central e outros fatores econômicos em jogo.

5. Seguir acompanhando a conjuntura global de fatos como a guerra entre Rússia e Ucrânia, os mistérios envolvendo objetos não identificados (possíveis espionagens) e os primeiros balanços do desempenho da economia neste início de 2023. Reflexões dos fatos e números da cana em janeiro/fevereiro e o que acompanhar em março

Na cana

• A moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul atingiu o valor acumulado de 542,39 milhões de t, considerando o intervalo desde o início do ciclo 2022/23 até 01 de fevereiro, o que representa uma variação positiva de 3,78% no comparativo com o anterior, de acordo com o levamento quinzenal da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). Permanecem em operação 13 unidades, das quais 3 utilizam a cana como matéria-prima e as outras 10, o milho. Enquanto isso, neste mesmo período da safra 2021/22, havia nove unidades em operação.

• Com relação à qualidade da matéria-prima, mensurada em ATR (Açúcar Total Recuperável), o índice acumulado registrou valor de 141,15 kg/t, configurando queda de 1,29% em relação ao ciclo passado (era de 142,99 kg/t). Por sua vez, o mix de produção está em 54,08% para o etanol e 45,92% para o açúcar, com o adoçante ganhando uma pequena participação de quase 1% sobre o biocombustível em relação a 2021/22 (quando tínhamos 54,97% destinado ao etanol e 45,03% ao açúcar).

• No monitoramento do mercado de Créditos de Descarbonização (CBios), até o dia 08 de fevereiro, as distribuidoras já haviam adquirido 36,67 milhões de títulos, mas vale recordar que, com a prorrogação da meta do ano passado, a parte obrigada do programa deverá adquirir e aposentar 72,17 milhões de créditos no acumulado entre 2022 e 2023 (36,72 milhões referentes a 2022 e 35,45 milhões da meta do ano corrente), de modo que o compromisso de redução nas emissões seja cumprido.

• A boa distribuição de chuvas ao longo dos meses de dezembro e janeiro tem gerado expectativas positivas para a próxima safra, a ser iniciada em abril. Os próximos números da estimativa da safra 2022/23 devem vir maiores. Vamos monitorar e trazê-los nas próximas edições!

No açúcar

• Com maior disponibilidade de matéria-prima a ser processada no comparativo com 2022, a produção acumulada de açúcar cresceu 4,49%, alcançando a marca de 33,5 milhões de t (contra 32,06 milhões), ainda segundo dados da Unica.

• Em janeiro, as exportações de açúcar e melaços totalizaram 2,12 milhões de t, alta de 57,0% na comparação com o mesmo mês de 2021, quando vendemos 1,35 milhão de t. Já em relação as receitas, as altas foram ainda maiores, de 75,5%, totalizando US$ 912,09 milhões. A alta maior nas receitas é justificado pelo preço da t embarcada 11,0% superior, que fechou o mês em US$ 430,30/t. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

• Segundo a Archer Consulting, as usinas brasileiras fixaram 3,34 milhões de t de açúcar entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, com preço médio em torno de R$ 2.399/t (FOB). Segundo a consultoria, a aceleração das fixações no período tem relação com a elevação dos preços em Nova York, que voltaram a ficar na casa dos 20 centavos de dólar por libra-peso.

• No acumulado de 2023/24, as usinas já fixaram 18 milhões de t do adoçante até 31 de janeiro, a um preço médio de 17,57 centavos de dólar por libra-peso (sem prêmio de polarização), volume este que equivale a 75% de todo o volume de exportações estimado para o período. Nos últimos três meses (em ordem: novembro, dezembro e janeiro) foram negociados 2,65, 2,81 e 2,07 milhões de t de açúcar na bolsa de Nova York; análises são da Archer.

• E no último dia 10 de fevereiro, os contatos futuros de açúcar negociados na ICE (Intercontinental Exchange) alcançaram o maior valor em seis anos, informou a Reuters. As negociações para março fecharam em 21,58 centavos de dólar por libra-peso. Já o açúcar branco (vencimento em março) ficou cotado em US$ 570,80/t.

• Na Tailândia, o governo local ampliou as projeções para exportações de açúcar em mais 17,0%, a qual deve alcançar 9 milhões de t totais em 2022/23. Com uma moagem estimada em 106 milhões de t de cana, produção em 11,5 milhões de t de açúcar e consumo interno de apenas 2,5 milhões de t, este volume com certeza trará impactos a dinâmica de oferta/demanda global.

• Na data de fechamento da nossa coluna, os contratos futuros de açúcar eram negociados em 19,66 centavos de dólar por libra-peso (bolsa de Nova York) e em US$ 558,80/t (Londres).

No etanol

• Ainda em consequência do maior nível de oferta de cana no comparativo com 2021/22, a produção acumulado de etanol também obteve crescimento, de 3,45%, alcançando volume acumulado de 27,89 bilhões de litros. Desse total, 11,89 bilhões de litros equivalem ao anidro (+9,29%) e 16,00 bilhões ao hidratado (-0,49%). Os números foram apurados e divulgadas pela Unica.

• A produção de etanol a partir do milho já atingiu 3,64 bilhões de litros no acumulado desta safra, o que representa um incrível avanço de 26,23% na comparação com o mesmo intervalo do ciclo anterior. O biocombustível advindo do cereal já representa mais de 10% do volume total produzido e deve ganhar ainda mais espaço no próximo ciclo.

• Seguindo o comportamento do mês de dezembro, janeiro também foi bastante positivo dentro do contexto de comercialização do biocombustível: foram vendidos 2,17 bilhões de litros, o que representa um incremento de 23,10% em relação ao ciclo 2021/22. Desse volume total, 1,98 bilhões (91,07%) tiveram como destino o mercado doméstico, enquanto que 193,82 milhões (8,93%) foram destinados à exportação.

• Com relação às vendas de janeiro para o mercado interno (1,98 bilhões de litros | +15,5%), 49,54% foram referentes à comercialização do etanol anidro (979,42 milhões de litros | +23,24%) e os demais 50,46% ao do tipo hidratado (997,79 milhões de litros | +8,83%).

• No acumulado da safra 2022/23, as usinas da região Centro-Sul foram responsáveis por vender 24,70 bilhões de litros (+7,23%), dos quais 10,61 bilhões de litros equivalem ao anidro (+17,06%) e 14,06 bilhões ao hidratado (+0,85%). Os tipos representam 43,00% e 57,00%, respectivamente.

• Por fim, fechando a nossa análise do biocombustível com os preços. Segundo o Cepea/Esalq, o etanol hidratado em 10 de fevereiro alcançou R$ 2,6481/l em São Paulo, queda de 2,2% no comparativo semanal. Há um mês, o preço estava em R$ 2,5896/l, ou seja, 2,2% menor. A média de fevereiro até aqui registra o preço de R$ 2,6776/l, 0,6% superior ao mês passado (janeiro), mas 3,5% menor do que dez/22; 5,5% menor do que nov/22; e 0,1% inferior ao preço de out/22. Na comparação com fevereiro passado, os preços estão 15,3% inferiores (foi de R$ 3,1596/l em fev/22). É claro que a maior oferta (produção) de etanol no ciclo 2022/23 e o encerramento tardio da moagem ajudaram a manter os estoques em níveis mais elevados. Para o consumidor, é torcer para que continuem assim; logo, começamos 2023/24.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em março na cadeia da cana:

1. Com o término da moagem na região Centro-Sul, vamos acompanhar agora o clima e as chuvas. Vale lembrar que nem sempre as precipitações elevadas são positivas, já que estimulam o desenvolvimento vegetativo da cultura e podem prejudicar os estoques de açúcares acumulados (ou seja, a qualidade e posterior eficiência produtiva da cana).

2. Reações do mercado futuro para o açúcar. Como vimos, os preços alcançaram altas expressivas nos últimos dias, mas as boas perspectivas para a safra 2023/24 no Brasil, o aumento da oferta na Tailândia e também a chance de redução na demanda global podem impactar as negociações. Vamos ver como esta movimentação trará impactos também a oferta de etanol (mix de produção).

3. Consumo de etanol e os impactos em preços. Em janeiro, as usinas venderam 23,1% a mais do que janeiro passado (2,17 bilhões de litros do biocombustível). Este volume adicional pode ajudar a segurar os preços (oferta x demanda), vejamos como serão as próximas semanas.

4. Olhar também para as negociações de petróleo no mercado global. Desde a nossa última coluna, o preço do barril do WTI Crude oscilou de US$ 81,00 (23/01) para US$ 73,00 (03/02) e está agora em US$ 79,35 (13/02), no fechamento da nossa coluna. Já o Brent estava em US$ 85,83, mas foi a US$ 79,94 no início de fevereiro. As variações têm relação, principalmente, com as medidas adotadas pelos países do G7 em estabelecer um teto para o petróleo Russo, enquanto a Rússia anuncia cortes na produção como resposta. Vamos acompanhar os novos capítulos.

5. Por fim, vale ficar de olho nas estimativas de produção, produtividade, mix de produção e outros relativos ao ciclo 2023/24. O mês de março será o último mês antes do início das moagens, momento em que estes indicadores são ajustados a níveis mais realistas.

Valor do ATR: em janeiro de 2023, o valor do ATR (Açúcar Total Recuperável) alcançou R$ 1,1562/kg, nova queda de 0,2% no comparativo com o mês anterior. Segue, na sequência, o histórico da safra 2022/23, até o momento: abril, R$ 1,2453/kg; maio, R$ 1,2212/kg; junho, R$ 1,1860/kg; julho, R$ 1,2037/ kg; agosto, R$ 1,1387/kg; setembro, R$ 1,0662/kg; outubro com R$ 1,1079/kg; novembro nos R$ 1,1518/kg; dezembro em R$ 1,1588/kg; e agora em janeiro com R$ 1,1562/kg. No acumulado, chegamos a R$ 1,1677. Nossa estimativa é que fique em R$ 1,18 até o final da safra, em março.

*Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP, em Ribeirão Preto, e da FGV, em São Paulo, especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro. com e veja os vídeos no canal do Youtube (Marcos Fava Neves).

**Vitor Nardini Marques é associado na Markestrat Group e mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP.

***Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP