"Florescimento e maturação da cana-de-açúcar" foi o tema da primeira reunião de 2016 do Grupo Fitotécnico

05/04/2016 Cana-de-Açúcar POR: Andréia Vital – Revista Canavieiros – Edição 117
Com a casa cheia, o diretor do Centro de Cana do IAC (Instituto Agronômico), Marcos Landell, deu as boas-vindas em tom otimista aos participantes da primeira reunião do ano do Grupo Fitotécnico, realizada no dia 8 de março. “Apesar de um cenário não muito favorável no país, há expectativa positiva para o setor sucroenergético. Além da melhora no preço dos produtos fabricados pela cana, nós temos alguns novos caminhos fitotécnicos validados nos últimos anos, que começam a ser adotados de uma maneira mais sistemática por importantes produtores e que têm se provado revolucionários em termos de referenciais produtivos”, alegou.
Segundo o pesquisador, diante desse novo horizonte, é necessário deletar os antigos referenciais e criar uma nova visão da canavicultura buscando níveis mais altos de produtividade. “Não dá para permanecer do jeito que está, tem que haver um crescimento vertical, pois os custos são elevadíssimos, então temos que nos tornar mais eficientes justamente aonde é mais caro, ou seja, na parte agrícola, que representa 70% ou mais dos custos do sistema agroindustrial”, afirmou.
Com a verticalização, o sistema de produção passa a ser mais viável, sendo o principal ator neste processo, o fornecedor, assegura Landell. “O produtor de cana-de-açúcar tem que assumir um novo papel, de protagonista deste processo de produção. O sistema MPB (Mudas Pré-brotadas) tem trazido para as mãos do produtor essa possibilidade, como outras informações que o IAC e outros grupos de pesquisa têm gerado, também auxiliam neste sentido”, afirmou.
Landell apresentou na reunião a expectativa do uso do inibidor e maturador, na região de Goianésia (GO) até o Paraná, apontada por uma pesquisa feita pelo IAC. Os dados foram levantados em uma mostra de 1,6 milhão de hectares e identificados por latitude, sendo que 25% dos entrevistados usam maturadores e em torno de 12% usam inibidores de florescimento. “Quanto mais se distancia do Equador, mais se usa maturador porque as condições são menos propicias para a maturação. Já o inibidor de florescimento é mais usado em regiões mais próximas ao Equador, pois há uma condição de indução floral tão grande que passa ser a prática o uso de inibidor de florescimento. Há empresas em Goiás, por exemplo, que usam inibidor em 30% da área”, contou.
A pesquisa mostrou também a previsão de início de safra. “De um modo geral, foi apontado que a safra deve ser iniciada na última semana de março, o que confirma a tendência seguida nos últimos anos”, finalizou.
Fisiologia do florescimento e maturação da cana
O engenheiro agrônomo e prof. dr. Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo, da FCAT/UNESP/Dracena, abordou na ocasião, a questão da fisiologia do florescimento e maturação da cana.
Segundo ele, o florescimento é um processo natural das plantas, ao passarem da fase vegetativa para reprodutiva. No caso da cana-de-açúcar, o florescimento é influenciado por questões como latitude, fotoperíodo, temperatura, umidade, maturidade da planta, espaçamento, variedades, entre outros. A combinação desses fatores pode levar ao florescimento ou a uma maior ou menor taxa desse fenômeno.
"Na época da indução do florescimento o estresse hídrico pode evitar ou reduzir o pendoamento e florescimento da cana. Por isso, é mais seguro e vantajoso prevenir o florescimento com aplicação de um inibidor do que correr riscos por contar com a possibilidade de ocorrência de estresse hídrico no período indutivo", disse.
Já no caso da cana bisada, a maior possibilidade de florescimento é decorrente do suporte fisiológico que apresenta por ocasião do período indutivo. Figueiredo explicou ainda que o florescimento e a isoporização são independentes, podendo ocorrer associados ou não.
Ao falar sobre as causas que provocam a isoporização, o profissional disse que em função da desidratação dos tecidos do colmo, que, ao perderem água, adquirem de forma progressiva a coloração branca. “A perda natural de água no processo de maturação provoca a drenagem das reservas para a emissão da flor, formando espaços vazios entre as células”, ensinou, afirmando que o uso da irrigação leva a menor taxa de isoporização.
Citando a maturação induzida da cana, o professor ensinou que em situação em que os colmos estejam vegetativos, por condições regionais ou por uso de irrigação, a aplicação de produtos maturadores pode ser adotada na safra toda, com ganhos de qualidade tecnológica da cana, mesmo que o período mais indicado para uso de maturação induzida seja o terço inicial da safra.
Condições climáticas e suas interferências
Durante sua apresentação, o dr. Maximiliano S. Scarpari, pesquisador do
IAC, frisou que as condições de clima em 2015 foram boas para o desenvolvimento da cana, principalmente as que serão colhidas no início e meio desta safra. Já os canaviais a serem retirados no final do ciclo 16/17 enfrentaram chuvas intensas e baixa insolação devido ao fenômeno do El Niño, no começo deste ano, o que poderá afetar sua produtividade, “pois as canas cortadas no final de safra dependem muito das condições climáticas dos meses de novembro a março para o desenvolvimento e qualquer anomalia climática afeta o desenvolvimento desse canavial”.
Com a maior concentração de água nesse início de safra, a cana não tem condições adequadas de maturação, sendo indicada a aplicação de maturador. 
“O produto provoca a redução do estágio vegetativo com a indução artificial do início da maturação e pode auxiliar no controle de florescimento, reduzir o chochamento e aumentar a qualidade da matéria-prima”, explicou.
A ação do maturador tem melhores respostas se o produto for aplicado no terço inicial da safra e fatores como variedades, tipos de solo, qualidade de luz solar e disponibilização de água interferem diretamente nos resultados. “Maturadores requerem a produção normal da fotossíntese para maximização da função e chuvas logo após a aplicação também reduzem a absorção do produto”, elucidou.
Scarpari disse ainda que pretendem usar a modelagem do PREVCLIMACANA, um projeto do IAC, que desde 2006 faz o monitoramento da estimativa de produtividade em função dos fatores climáticos, também para a indicação do uso de maturadores. “A proposta é usar a modelagem e acompanhar a evolução da biomassa das canas plantas e de início de safra, que é alvo dos maturadores, considerando as condições do clima no tripé: disponibilidade hídrica, temperatura e insolação. Após janeiro de cada ano, fazemos a previsão climática, sendo que para cada fator será arbitrado um valor mensal e da somatória terá a decisão de aplicação ou não do maturador”, explicou.
Previsões de temperaturas e chuvas
O “Monitoramento climático no fotoperíodo indutivo para a floração da cana de açúcar” foi tema da palestra do consultor da Canaoeste, Oswaldo Alonso, que mostrou através de "slides" as condições climáticas que ocorreram até então e previsões de temperaturas e chuvas até o final do período indutível - 20 de março- para várias regiões canavieiras.
Complementando ainda sobre clima, Alonso citou que o El Niño está gradativamente perdendo força, tendendo à neutralidade ao final do outono.
“Há previsões de que, neste ano, outono e inverno venham a ser mais frio que em 2015. Inclusive já com entrada de forte massa polar na semana final de maio”, esclareceu.
Observações efetuadas mostraram que solo coberto com a palha (durante a colheita de cana crua) chega a apresentar diferença de 10°C inferior a solo descoberto. Esta condição, aliada à umidade do solo (mais persistente pela própria cobertura com a palha) tem acentuado o dano do frio intenso, chegando mesmo a matar soqueiras. “Logo, as alternativas de cultivo, retirando pelo menos a palha sobre as linhas de cana, tem sito atenuante ao efeito do frio”, sugeriu o consultor.
Fez parte ainda da programação a apresentação das tecnologias da BASF para o setor sucroenergético feita pelo representante da multinacional, Daniel Medeiros. A próxima reunião do Grupo Fitotécnico será no dia 12 de abril.
Com a casa cheia, o diretor do Centro de Cana do IAC (Instituto Agronômico), Marcos Landell, deu as boas-vindas em tom otimista aos participantes da primeira reunião do ano do Grupo Fitotécnico, realizada no dia 8 de março. “Apesar de um cenário não muito favorável no país, há expectativa positiva para o setor sucroenergético. Além da melhora no preço dos produtos fabricados pela cana, nós temos alguns novos caminhos fitotécnicos validados nos últimos anos, que começam a ser adotados de uma maneira mais sistemática por importantes produtores e que têm se provado revolucionários em termos de referenciais produtivos”, alegou.
 
Segundo o pesquisador, diante desse novo horizonte, é necessário deletar os antigos referenciais e criar uma nova visão da canavicultura buscando níveis mais altos de produtividade. “Não dá para permanecer do jeito que está, tem que haver um crescimento vertical, pois os custos são elevadíssimos, então temos que nos tornar mais eficientes justamente aonde é mais caro, ou seja, na parte agrícola, que representa 70% ou mais dos custos do sistema agroindustrial”, afirmou.
 
Com a verticalização, o sistema de produção passa a ser mais viável, sendo o principal ator neste processo, o fornecedor, assegura Landell. “O produtor de cana-de-açúcar tem que assumir um novo papel, de protagonista deste processo de produção. O sistema MPB (Mudas Pré-brotadas) tem trazido para as mãos do produtor essa possibilidade, como outras informações que o IAC e outros grupos de pesquisa têm gerado, também auxiliam neste sentido”, afirmou.
 
Landell apresentou na reunião a expectativa do uso do inibidor e maturador, na região de Goianésia (GO) até o Paraná, apontada por uma pesquisa feita pelo IAC. Os dados foram levantados em uma mostra de 1,6 milhão de hectares e identificados por latitude, sendo que 25% dos entrevistados usam maturadores e em torno de 12% usam inibidores de florescimento. “Quanto mais se distancia do Equador, mais se usa maturador porque as condições são menos propicias para a maturação. Já o inibidor de florescimento é mais usado em regiões mais próximas ao Equador, pois há uma condição de indução floral tão grande que passa ser a prática o uso de inibidor de florescimento. Há empresas em Goiás, por exemplo, que usam inibidor em 30% da área”, contou.
 
A pesquisa mostrou também a previsão de início de safra. “De um modo geral, foi apontado que a safra deve ser iniciada na última semana de março, o que confirma a tendência seguida nos últimos anos”, finalizou.
 
Fisiologia do florescimento e maturação da cana
 
O engenheiro agrônomo e prof. dr. Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo, da FCAT/UNESP/Dracena, abordou na ocasião, a questão da fisiologia do florescimento e maturação da cana.
 
Segundo ele, o florescimento é um processo natural das plantas, ao passarem da fase vegetativa para reprodutiva. No caso da cana-de-açúcar, o florescimento é influenciado por questões como latitude, fotoperíodo, temperatura, umidade, maturidade da planta, espaçamento, variedades, entre outros. A combinação desses fatores pode levar ao florescimento ou a uma maior ou menor taxa desse fenômeno.
 
"Na época da indução do florescimento o estresse hídrico pode evitar ou reduzir o pendoamento e florescimento da cana. Por isso, é mais seguro e vantajoso prevenir o florescimento com aplicação de um inibidor do que correr riscos por contar com a possibilidade de ocorrência de estresse hídrico no período indutivo", disse.
 
Já no caso da cana bisada, a maior possibilidade de florescimento é decorrente do suporte fisiológico que apresenta por ocasião do período indutivo. Figueiredo explicou ainda que o florescimento e a isoporização são independentes, podendo ocorrer associados ou não.
 
Ao falar sobre as causas que provocam a isoporização, o profissional disse que em função da desidratação dos tecidos do colmo, que, ao perderem água, adquirem de forma progressiva a coloração branca. “A perda natural de água no processo de maturação provoca a drenagem das reservas para a emissão da flor, formando espaços vazios entre as células”, ensinou, afirmando que o uso da irrigação leva a menor taxa de isoporização.
 
Citando a maturação induzida da cana, o professor ensinou que em situação em que os colmos estejam vegetativos, por condições regionais ou por uso de irrigação, a aplicação de produtos maturadores pode ser adotada na safra toda, com ganhos de qualidade tecnológica da cana, mesmo que o período mais indicado para uso de maturação induzida seja o terço inicial da safra.
 
Condições climáticas e suas interferências
 
Durante sua apresentação, o dr. Maximiliano S. Scarpari, pesquisador do IAC, frisou que as condições de clima em 2015 foram boas para o desenvolvimento da cana, principalmente as que serão colhidas no início e meio desta safra. Já os canaviais a serem retirados no final do ciclo 16/17 enfrentaram chuvas intensas e baixa insolação devido ao fenômeno do El Niño, no começo deste ano, o que poderá afetar sua produtividade, “pois as canas cortadas no final de safra dependem muito das condições climáticas dos meses de novembro a março para o desenvolvimento e qualquer anomalia climática afeta o desenvolvimento desse canavial”.
 
Com a maior concentração de água nesse início de safra, a cana não tem condições adequadas de maturação, sendo indicada a aplicação de maturador. 
 
“O produto provoca a redução do estágio vegetativo com a indução artificial do início da maturação e pode auxiliar no controle de florescimento, reduzir o chochamento e aumentar a qualidade da matéria-prima”, explicou.
 
A ação do maturador tem melhores respostas se o produto for aplicado no terço inicial da safra e fatores como variedades, tipos de solo, qualidade de luz solar e disponibilização de água interferem diretamente nos resultados. “Maturadores requerem a produção normal da fotossíntese para maximização da função e chuvas logo após a aplicação também reduzem a absorção do produto”, elucidou.
 
Scarpari disse ainda que pretendem usar a modelagem do PREVCLIMACANA, um projeto do IAC, que desde 2006 faz o monitoramento da estimativa de produtividade em função dos fatores climáticos, também para a indicação do uso de maturadores. “A proposta é usar a modelagem e acompanhar a evolução da biomassa das canas plantas e de início de safra, que é alvo dos maturadores, considerando as condições do clima no tripé: disponibilidade hídrica, temperatura e insolação. Após janeiro de cada ano, fazemos a previsão climática, sendo que para cada fator será arbitrado um valor mensal e da somatória terá a decisão de aplicação ou não do maturador”, explicou.
 
Previsões de temperaturas e chuvas
 
O “Monitoramento climático no fotoperíodo indutivo para a floração da cana de açúcar” foi tema da palestra do consultor da Canaoeste, Oswaldo Alonso, que mostrou através de "slides" as condições climáticas que ocorreram até então e previsões de temperaturas e chuvas até o final do período indutível - 20 de março- para várias regiões canavieiras.
 
Complementando ainda sobre clima, Alonso citou que o El Niño está gradativamente perdendo força, tendendo à neutralidade ao final do outono.
“Há previsões de que, neste ano, outono e inverno venham a ser mais frio que em 2015. Inclusive já com entrada de forte massa polar na semana final de maio”, esclareceu.
 
Observações efetuadas mostraram que solo coberto com a palha (durante a colheita de cana crua) chega a apresentar diferença de 10°C inferior a solo descoberto. Esta condição, aliada à umidade do solo (mais persistente pela própria cobertura com a palha) tem acentuado o dano do frio intenso, chegando mesmo a matar soqueiras. “Logo, as alternativas de cultivo, retirando pelo menos a palha sobre as linhas de cana, tem sito atenuante ao efeito do frio”, sugeriu o consultor.
 
Fez parte ainda da programação a apresentação das tecnologias da BASF para o setor sucroenergético feita pelo representante da multinacional, Daniel Medeiros. A próxima reunião do Grupo Fitotécnico será no dia 12 de abril.