'Governo vai pagar pelos pecados', diz FHC sobre corte no Orçamento

25/05/2015 Geral POR: Estadão Conteudo
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criticou o corte de despesas federais anunciado pelo governo Dilma Rousseff. Para ele, o bloqueio de R$ 69,9 bilhões em gastos públicos, incluindo investimentos, demonstra que o País é mal governado.
"A situação fiscal é de tal maneira difícil, e foi consequência de erros dos governos, que agora, com esse corte, o governo está pagando seus próprios pecados e vai ter que tomar medidas de contenção, como está tomando", disse o ex-presidente, após participar de seminário em universidade particular de Brasília, no sábado (23).
O líder tucano fez questão de destacar que o corte do orçamento foi uma medida necessária, porém ingrata, para resolver a grave situação fiscal do País.
"Qual é a critica que eu posso fazer? Não é à contenção. É que há uma espécie de operação sem anestesia. Quando você faz uma contenção fiscal você tem que explicar ao País o que vem depois, para quê você faz, qual a esperança, qual o horizonte. E agora nós só estamos vendo nuvem negra. Aí as pessoas ficam irritadas e não aceitam."
O corte de despesas aplicado por Dilma foi o maior realizado em orçamentos federais desde que o PT chegou ao poder, em 2003. Foram cortados R$ 25,7 bilhões em investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), onde estão incluídos quase R$ 7 bilhões em cortes no programa Minha Casa, Minha Vida.
A retenção de despesas faz parte do duro ajuste fiscal conduzido pelo governo Dilma para recuperar a credibilidade fiscal. Em janeiro, o governo já tinha elevado impostos sobre combustíveis e sobre o crédito ao consumidor. Além disso, há duas medidas provisórias no Congresso Nacional que restringem a concessão de benefícios previdenciários e trabalhistas.
"A situação é muito grave no Brasil, o problema é que a responsabilidade é dos governos. Não era necessário que tivesse sido feito tanto gasto. O Brasil começou a gastar como se os gastos fossem ilimitados. Agora estão pagando a conta. E como foi esse próprio governo que mais errou é bom que seja ele também que tenha que tomar as medidas mais duras", criticou FHC, após proferir uma palestra de quase duas horas a uma plateia de 200 estudantes.
Pedaladas
De acordo com FHC, a ação penal que seu partido, o PSDB, vai perpetrar na Procuradoria Geral da República (PGR) na próxima terça-feira contra o governo Dilma por conta das "pedaladas fiscais", pode ter um encaminhamento positivo. "O que houve de pedalada fiscal é contra a lei de responsabilidade fiscal. Não tenha dúvida que é. E houve abundantemente e isso pode ser crime", afirmou FHC.
No entanto, um processo de impeachment necessita de "provas cabais", indicando, portanto, que elas ainda não surgiram. "Eu nunca vi que o PSDB como tal tivesse dito: 'eu sou pró-impeachment da presidente Dilma'. Houve tendência aqui, tendência ali", disse FHC.
O ex-presidente foi aplaudido pelos alunos após pedir a união em torno de um projeto que permita ao País superar a crise política e econômica. Mas em seguida fez questão de ressaltar que não estava pedindo apoio ou adesão ao governo Dilma Rousseff. "Não vou aderir ao governo Dilma, cada um no seu canto", disse o ex-presidente, que governou o Brasil de 1995 a 2002.
"Não está claro se vamos pegar um caminho certo. Estou sentindo a falta de liderança, a falta de determinação para fazer alguma convergência. Quando falo disso, sou criticado porque estou querendo aderir ao governo da Dilma. Estou falando de convergência nacional. Pode ficar cada um no seu canto", disse FHC.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou neste sábado (23), ao ser questionado por jornalistas sobre o corte no Orçamento para 2015, que o governo “vai pagar pelos pecados” e terá que tomar medidas de contenção.
O corte, de R$ 69,9 bilhões, foi anunciado nesta sexta-feira (22) pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Em termos nominais, este é o maior contingenciamento registrado no país. A medida faz parte da tentativa do governo de promover o ajuste fiscal e reequilibras as contas públicas.
 
“Esse próprio governo vai pagar pelos pecados, vai ter que tomar medidas de contenção", afirmou FHC após participar de uma palestra em um centro universitário de Brasília.
 
Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto disse que a Presidência não vai comentar as declarações de FHC.
Logo em seguida à crítica, o ex-presidente cobrou que o governo explique à população que medidas pretende tomar após promover o contingenciamento de recursos. 
 
"Quando você faz uma contenção fiscal, você tem que explicar ao país o que vem depois. Qual é a esperança, qual é o horizonte?”, questionou.
 
Na coletiva de imprensa em que anunciou o contingenciamento na sexta-feira, o ministro Nelson Barbosa disse que trata-se do "primeiro passo necessário" para a recuperação do crescimento de modo sustentável.
 
Liderança
Neste sábado, FHC também fez uma crítica indireta à presidente Dilma Rousseff ao afirmar que, no regime presidencialista, se o presidente não lidera, essa função é feita pelo Congresso.
 
“Para fazer qualquer coisa precisa de liderança. E ninguém faz nada sem liderança [...]. Quando o presidente não lidera no sistema presidencialista, o Congresso lidera”, afirmou. O tucano disse que sente "falta de liderança no país" e que tem dúvidas se o Brasil trilha o "caminho certo".
 
“Não está claro pra mim se vamos realmente pegar o caminho certo [...]. Estou sentindo falta de liderança, falta determinação e tem que fazer alguma convergência [...] Estou falando de convergência nacional, pode ficar cada um do seu lado”, completou.
 
Economia
Durante a palestra, Fernando Henrique Cardoso afirmou que as medidas anticíclicas tomadas durante o governo Lula como forma de combater a crise econômica internacional que começou em 2007 eram necessárias, mas que era preciso “dosar” para evitar que provocassem a atual crise.
 
“Em política econômica não adianta só ter o rumo, tem que ter o rumo e aprender a dosar. Há momentos que não dá para continuar: freia, espera, vai retomar mais adiante”, declarou.
 
“Temos uma visível crise econômica, que está apenas começando [...]. A responsabilidade nesse caso não é só do governo, os empresários entraram de corpo e alma. Alguns estavam vendo que a canoa ia bater no iceberg”, completou. Para FHC, houve incentivo em excesso à concessão de crédito e ao consumo. “Isso foi se acentuando não no governo do presidente Lula, mas no da presidente Dilma”, declarou.