'Inovação é a questão central para a competitividade de qualquer país'

23/07/2012 Geral POR: Unica
Uma das principais instituições de pesquisa dedicada à cana-de-açúcar do mundo, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), sediado em Piracicaba (SP), vem passando por alterações importantes em sua composição e estratégia desde outubro de 2011, quando ganhou um novo presidente. Gustavo Leite assumiu o cargo depois de passagens por empresas como Phillip Morris e Michelin, além de ter sido vice-presidente da Monsanto no Canadá e presidente da empresa no Brasil.

Para ele, inovações tecnológicas como o desenvolvimento de novas variedades de cana e a consolidação do etanol de segunda geração representam o caminho mais seguro para se aumentar a produtividade no setor sucroenergético, pressionado por uma crescente demanda que deve continuar nos próximos anos.

O executivo tem a missão de comandar uma entidade que deixou de ter um caráter setorial. Antes mantido por unidades associadas produtoras de açúcar, etanol e energia, no ano passado o CTC foi transformado em sociedade anônima (S.A.). Atualmente, as cerca de 130 empresas acionistas respondem por 60% da moagem de cana no Brasil. O CTC também atende 12 mil fornecedores de cana e mantém unidades regionais no Nordeste, Sul e Centro-Oeste.

UNICA: Hoje, um dos principais desafios do setor sucroenergético é retomar o crescimento, para atender à demanda crescente por etanol. Como avalia este cenário?

Gustavo Leite: Inovação é a questão central para a competitividade de qualquer país. Em um mundo cada vez mais tecnológico, ela é o principal fator de diferenciação entre líderes e seguidores, sem a qual não há verdadeira prosperidade econômica. Precisamos, com urgência, proporcionar um salto de produtividade à indústria da cana, algo que não se viu nas duas últimas décadas. Com o nível adequado de investimento em tecnologia, podemos extrair todo o potencial produtivo da cana-de-açúcar, que é substancialmente maior que o das culturas alternativas usadas em outros países, como o milho nos Estados Unidos e a beterraba na União Europeia.

UNICA: Em dezembro, o CTC pretende apresentar novas variedades de cana. Qual a sua expectativa para esse trabalho?

Leite: No Canashow 2012 apresentaremos novas variedades, com desempenho superior e significativos aumentos de produtividade. A ênfase será para as áreas dos Cerrados, com aspectos diferenciados de clima e solo. Como parte da nova fronteira agrícola, esta região ainda não tem variedades especialmente desenhadas para ela, o que faz com que haja importantes perdas para os grupos que se expandirem naquela direção.

UNICA: Quando o etanol de segunda geração e a cana transgênica estarão disponíveis em escala comercial?

Leite: As duas tecnologias são críticas e proporcionarão um salto na produtividade. No caso do etanol celulósico, ou de segunda geração, estamos preparando uma planta de demonstração, que é a última fase que precede o lançamento comercial da tecnologia, que prevemos para 2015/16. Em sua fase inicial, esperamos aumento de cerca de 30% na produção de etanol, com a mesma área plantada. Com a evolução da tecnologia, esses ganhos podem mais que dobrar. Já no caso da biotecnologia, trata-se da maior revolução tecnológica acontecida na agricultura. Desenvolvemos parcerias com grandes empresas globais da área e triplicamos nossos investimentos em marcadores moleculares e transgenia, de tal maneira que possamos antecipar o lançamento de variedades transgênicas já a partir de 2018.

UNICA: Qual sua avaliação sobre os bioplásticos e o uso de matéria-prima derivada de cana, por exemplo, na produção de pneus e querosene de aviação entre outros?

Leite: A obtenção de produtos a partir de plantas vem se tornando um tema cada vez mais discutido em função das necessidades de se produzir de maneira ambientalmente sustentável, de questões de estratégia energética e geopolítica. Novas tecnologias vêm sendo desenvolvidas para permitir que se faça de modo economicamente viável aquilo que já é tecnicamente possível. Nesse cenário, a cana, por causa de sua alta produção de matéria por hectare, se torna uma escolha lógica.

UNICA: Qual será a marca de sua gestão à frente do CTC?

Leite: A missão do CTC é elevar substancialmente os ganhos de produtividade incorporados à indústria sucroenergética do Brasil. Para atingir este objetivo, o CTC, que sempre foi referência para a indústria canavieira, foi convertido de uma fundação sem fins lucrativos para uma S.A. E como tal, a entidade poderá fazer alianças que tragam mais recursos tecnológicos e financeiros, possibilitando acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias que agreguem valor aos derivados da cana.

UNICA: Sendo uma S.A., o que muda para os associados e a gestão?

Leite: Os associados passaram a ser acionistas do CTC. Como em qualquer outra empresa, seus ganhos serão gerados pela valorização direta de inovações que gerem os ganhos de produtividade de que eles necessitam. Como 60% da indústria nacional esta ligada ao CTC, as usinas tendem a se beneficiar duplamente, recebendo novas tecnologias e ganhos de capital.

UNICA: Como fortalecer a parceria UNICA-CTC em prol do setor?

Leite: A UNICA desempenha um papel fundamental na representação do setor junto à sociedade, traduzindo suas necessidades, defendendo seus interesses e esclarecendo o público sobre os inúmeros aspectos benéficos que a indústria sucroenergética traz para o País. Com isso em mente, o CTC continuará estreitando seus elos com a UNICA, apoiando-a onde necessário, em especial nos temas relacionados à tecnologia aplicada ao setor e à expansão de nossos mercados.

UNICA: Como sua experiência em empresas como Monsanto e Michelin pode ajudar na gestão do CTC?

Leite: O CTC existe há 42 anos e tem excelentes profissionais com enorme conhecimento técnico. É nossa meta cultivar e desenvolver nossos profissionais, além de trazer um número significativo de cientistas de áreas promissoras para a indústria, como a biotecnologia. Adicionalmente, precisamos também atrair pessoas com experiência em gestão de negócios, comercialização de tecnologias, governança corporativa e gestão de projetos, entre outras áreas.