1° mês de safra tem moagem menor por conta de atrasos

27/05/2022 Marcos Fava Neves POR: Marcos Fava Neves* Vítor Nardini Marques** Vinícius Cambaúva***

Reflexões dos fatos e números do agro em abril/maio e o que acompanhar em junho

Na economia mundial e brasileira

• A volta do lockdown na China começa a criar problemas ao fluxo de importações do país, que caiu 0,1% em março frente ao mesmo mês de 2021. A expectativa era de um aumento de 8,4%, mas a nova onda da Covid-19 tem limitado as atividades industriais e comerciais e operações
nos portos.

• Em abril, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) chegou a 1,06%, valor que é 0,56 ponto percentual menor que o índice de março (1,62%). Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que é quem divulga o dado, foi a maior variação para um mês de abril desde 1996. Com isso, o IPCA acumula alta de 3,3% em 2022, e de 12,1% nos últimos 12 meses. As maiores oscilações vieram de “alimentos e bebidas” e dos “transportes”; juntos, eles contribuíram com 80% do IPCA de abril. No grupo dos alimentos, as variações mais relevantes de preços vieram com a batata-inglesa (+18,3%), o leite longa vida (+10,3%), o óleo de soja (+8,3%), o pão francês (+4,5%) e as carnes (+1,02%).

• Já as perspectivas para a economia brasileira, indicadas pelo Boletim Focus (Bacen) do Banco Central, de 02 de maio (o mais recente divulgado até o momento), indicam: IPCA com variação de 7,9% em 2022 e de 4,1% ao final de 2023; o PIB (Produto Interno Bruto) deve crescer 0,7% até o final de 2022 e 1,0% ao final do próximo ano; o câmbio deve fechar os anos em R$ 5,00 e R$5,00, respectivamente; e, por fim, a Selic deve ficar em torno de 13,25% ao final de 2022 e em 9,25% ao findar 2023. Nossa economia permanecendo com as previsões relativamente estáveis, sem melhorias. Vamos seguir de olho!

No agro mundial e brasileiro

• Segundo a FAO (Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), o índice de preços de alimentos alcançou 158,5 pontos em abril, uma queda de 0,8% em relação a março, que havia sido um registro em nível histórico. Apesar da baixa, que já representa um alívio, o indicador ficou 29,8% acima do que foi registrado em abril de 2021. O comportamento é resultado da queda de 5,7% no índice dos óleos vegetais e de 0,7% nos preços de cereais. Por outro lado, os índices do açúcar, da carne e de laticínios cresceram 3,3%, 2,2% e 0,9%, respectivamente.

• No 8° boletim mensal (maio) com a estimativa da safra brasileira de grãos em 2021/22, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) elevou a expectativa da oferta de grãos neste ciclo: de 269,3 milhões de t em abril para 271,8 milhões de t em maio (2,5 milhões de t a mais em 1 mês). Com isso, a produção brasileira nesta safra deve ser 6,4% maior do que 2020/21. Os principais acréscimos em termos de volume, no comparativo com a estimativa de abril,vieram com a soja (+ 1,4 milhão de t), o milho (+ 592 mil t) e o trigo (+223 mil t). Para a soja, a produção estimada em maio foi de 123,8 milhões de t, 10,4% menor que o ciclo passado. No milho, a oferta total deve ficar em 116,2 milhões de t (+33,4%), sendo que a 1ª safra deve entregar 24,7 milhões de t (-0,2%), a 2ª outros 89,3 milhões de t (+47,0%) e a 3ªsafra em 2,2 milhões de t (+36,3%). O trigo, que também foi destaque este mês, deve produzir 8,13 milhões de t, 6,0% a mais do que no último ciclo; os conflitos entre Rússia e Ucrânia e os altos preços do cereal no mercado internacional têm motivado os produtores brasileiros a cultivarem o grão, tanto que a área deve ser acrescida em 30 mil ha no Brasil. Por fim, para o algodão em pluma, a produção estimada é de 2,82 milhões de t, 19,5% a mais do que as 2,36 milhões de t do ciclo 2020/21. Na torcida para que o clima continue ajudando e estes números se concretizem!

• Ainda sobre o trigo, os estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia e Distrito Federal deverão plantar 280 mil ha do cereal na safra 2022/23, segundo a Embrapa Trigo, uma alta de 11,0% em relação à safra passada, e que foi estimulada especialmente pela alta demanda e preços externos do cereal, resultados da invasão Rússia a Ucrânia.

• No campo, a Conab estima que até 7 de maio, 94,9% da soja havia sido colhida no país contra 97,1% na mesma data do ano passado; Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins já concluíram as operações. No milho, a colheita da 1ª safra encontra-se com progresso de 76,0%; era de 69,7% no mesmo período do último ciclo. Já o plantio da 2ª safra foi concluído em todo país e as lavouras encontram-se nos seguintes estágios (média nacional): 47,5% está em enchimento de grãos; 35,0% sob floração; 11,9% ainda seguem em desenvolvimento vegetativo; e 5,6% já estão em maturação. No algodão, a Conab indica que a colheita foi iniciada nos estados do Mato Grosso do Sul e Bahia, mas o progresso ainda é lento (apenas 0,2%). Por fim, a safra de inverno do trigo está com 9,9% das áreas plantadas frente a 6,2% na mesma data de 2021; o cereal também larga na frente!

• Apesar do aumento nas estimativas da oferta de milho 2ª safra (pela Conab), a Consultoria AgRural reduziu suas projeções em 5 milhões de t na região Centro-Sul entre abril e maio, por conta da falta de umidade em algumas regiões. Segundo a consultoria, a oferta do grão deve ficar em 80,9 milhões de t; há 30 dias, a estimativa era de quase 86 milhões de t. As regiões mais afetadas pela falta de umidade são as áreas de plantio tardio no Mato Grosso e diversas localidades no estado de Goiás. Vamos ficar de olho.

• O IBGE divulgou novas estimativas para a produção de café no Brasil em 2022, indicando uma colheita de 56,1 milhões de scs (60 kg), crescimento de quase 15% em comparação com o ano passado. Desse total, 38,7 milhões de scs (ou 69%) correspondem ao café do tipo arábica; e 17,4 milhões de scs (31%) serão colhidas do tipo canéfora.

• Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais, as exportações de soja devem cair 43% no mês de maio, em comparação com o mesmo mês de 2021. Ao todo, o Brasil deve exportar 8,1 milhões de t do grão. O volume também é menor que as 11,3 milhões de t embarcadas em abril, em 28,3%. Este comportamento é resultado da menor oferta da leguminosa neste ciclo, especialmente em vista dos eventos de seca no Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, o que limitou a venda do grão para o mercado externo.

• Já as exportações de óleo de soja devem alcançar 1,8 milhão de t em 2022, segundo a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), graças a maior demanda internacional pelo produto. O consumo interno do produto, por sua vez, é estimado
pela Abiove para ficar em 7,9 milhões de t. Ainda segundo a associação, os embarques da soja em grão, do farelo e do óleo devem trazer ao Brasil em torno de US$ 58 bilhões neste ano.

• Em âmbito internacional, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em seu relatório de maio, trouxe as perspectivas para a safra 2022/23 de grãos, indicando uma produção de milho em 1.180,71 milhões de t, volume que deve ser 3,0% menor que a safra 2021/22 (ou 35 milhões de t a menos). Os principais reflexos dessa redução estão na estimativa de oferta menor nos Estados Unidos, que foi indicada em 367,3 milhões de t (-4,5%), graças à redução das áreas plantadas com o cereal; e na Ucrânia, que deve entregar 19,5 milhões de t (-54%, ou 22,6 milhões de t a menos), em vista dos conflitos com a Rússia que assolam o país. Para o Brasil, a produção prevista para 22/23 ficou em 126,0 milhões de t, 10 a mais do que a estimativa para o ciclo atual ou crescimento de 8,6%. Já as exportações devem crescer 36,7% no Brasil, alcançando 46,5 milhões de t e, com isto, devemos voltar à posição de 2° maior exportador, entregando quase 26% de todo o milho consumido no mundo.
Por fim, os estoques globais do cereal devem voltar a cair neste próximo ciclo, após uma recuperação no passado: a previsão é de que fique em torno de 305,1 milhões de t, 1,4% menor.

• Na soja, a estimativa do USDA é de uma produção global em 394,7 milhões de t, 13% maior do que 2021/22 ou 45,3 milhões de t maior. Nos principais produtores, o cenário será o seguinte: o Brasil deve produzir 149,0 milhões de t (+19,2% ou +24 milhões de t); nos Estados Unidos, serão 126,3 milhões de t (+4,6% ou +5,6 milhões de t); e na Argentina a oferta está estimada em 51,0 milhões de t (+21,4% ou +9 milhões de t). Nas exportações, o Brasil deve ampliar ainda mais o volume embarcado, das 82,8 milhões de t de 21/22 para 88,5 milhões de t em 22/23 (+6,9%), mantendo sua participação de 52% no mercado global.
Os estoques globais, por sua vez, devem ser maiores, alcançando 99,6 milhões de t, 14,4 a mais do que 21/22 ou crescimento de 16,9%.

• Nos Estados Unidos, o USDA indica que o plantio da safra de grãos segue em atraso: até o último dia 08 de maio, 12% das áreas haviam sido semeadas, enquanto que a média dos últimos cinco ciclos, nesta data, é de 24%. De milho, a expectativa do mercado era de progresso no plantio em 25% e se encontra em 22%. Na soja, o esperado era de 16% e está em 12,0%. Como consequência, as cotações de soja e milho têm sofrido altas em Chicago nos últimos dias. Precisamos seguir acompanhando com atenção este cenário!

• De volta ao cenário nacional, o final de abril e início de maio também foram marcados pelas feiras agropecuárias em diferentes regiões do Brasil, marcando de vez o retorno dos grandes eventos presenciais do setor. Em Ribeirão Preto, São Paulo, a Agrishow reuniu público recorde em seus cinco dias de evento, com mais de 193 mil visitantes, 30% a mais que 2019 (última edição antes da pandemia). Em volume de negócios, o resultado foi impressionante! O faturamento alcançou R$ 11,2 bilhões, 287% a mais que 2019, sendo que a expectativa inicial dos organizadores era de somar até R$ 6 bilhões.

• Na não tão distante Uberaba, em Minas Gerais, a 87ª edição da ExpoZebu movimentou mais de R$ 350 milhões em negócios. Apenas com leilões foram R$ 105 milhões, 70% a mais que em 2021, e foram exibidos 2200 animais 15% maior do que a última edição presencial, em 2019. Já o público foi de cerca de 430 mil pessoas em 10 dias de vento, quase 50% maior que 2019.

• Entre os meses de julho de 2021 e abril de 2022, a adesão ao crédito rural pelos agricultores brasileiros cresceu 22,0%, de acordo com o Mapa. Ao todo, já foram contratados mais de R$ 230 bilhões neste ciclo.

• No setor leiteiro, um relatório da AgriPoint indicou que em março, 77 das 100 maiores fazendas de leite no Brasil não estavam utilizando pastagem para alimentar suas vacas, ou seja, a maior parte da produção depende de rações e outros insumos, o que encarece a produção e os custos ao consumidor final.

• De acordo com apuração do Sindirações, a produção de rações no Brasil cresceu 3,9% no ano de 2021, alcançando 84,9 milhões de t. A demanda aquecida no mercado internacional pela carne suína e de frango foi o principal motivador do incremento. Já para 2022, a expectativa de desaceleração, com crescimento de 3,5%, motivado pela avicultura (corte e postura) que mantém sua relevância mesmo em cenário de menor poder aquisitivo.

• Com objetivo de diversificar o fornecimento de fertilizantes ao Brasil, uma comitiva do Mapa, realizou reuniões com representantes do governo e empresas da Jordânia, Egito e Marrocos. Na Jordânia, o foco é o fornecimento de fertilizantes à base de potássio; no Egito, o alvo são os nitrogenados; e em Marrocos, os fosfatados. Vale lembrar que este último país é o segundo maior produtor mundial de fosfatados, responsável por 17% da oferta global e com embarques ao Brasil somando US$ 1,6 bilhão em 2021.

• Ainda em março, o Índice de Produção Agroindustrial Brasileiro (PIMAgro) encerrou o mês com alta de 1,8% em relação a março de 2021, no grupo formado por alimentos e bebidas. É a primeira variação positiva depois de oito interanuais negativas, segundo o Centro de Estudos em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), que é quem realiza a análise. Na área de produtos não alimentícios, houve queda marginal de 0,2%.

• Mais uma boa notícia no segmento de bioenergia! A Raízen anunciou que tem planos de produzir biogás em todas as suas 25 usinas de açúcar e etanol, nos próximos 10 anos. O objetivo é a oferta diária de 3 milhões de m³ de biogás, especialmente do biometano, que será produzido a partir de resíduos da cana, como a vinhaça e a torta de filtro. Os projetos devem ser viabilizados por meio da joint venture Raízen Geo Biogás, formada pelo grupo sucroenergético e Géo Biogás & Tech.

• No mês passado, a Raízen Geo Biogás já havia anunciado a construção da primeira planta dedicada ao biometano, que ficará em Piracicaba – SP, e terá capacidade para produzir 26 milhões de m³ por ano do biogás. Todo este volume deverá ser comercializado com a Volkswagen e com a Yara Fertilizantes, em contratos de longo prazo já estabelecidos.

• Segundo a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), a estimativa é de que o agro brasileiro tenha capacidade de produzir 114 milhões de m³ de biogás por dia, sendo que metade desse valor deve vir do setor sucroenergético. De olho neste potencial, empresas como a New Holand e Scania estão anunciando diversos projetos de veículos movidos a biometano.

• A Usina Cocal, que atualmente produz 9 milhões de m³ de biometano por ano, anunciou que deve substituir por completo o consumo de diesel por biometano na frota do grupo (caminhões, máquinas e tratores), nos próximos anos. Atualmente, o consumo de diesel chega a 30 milhões de litros por safra. Ganha a empresa, com menores gastos e maior eficiência; e o meio ambiente, com um biocombustível mais limpo e renovável. Mais um grande exemplo do nosso agro!

• A Cocamar, cooperativa agroindustrial do Paraná, anunciou que irá construir uma unidade de produção de biodiesel, com capacidade para moagem de 70 mil t de soja por ano. Atualmente, são produzidas 500 mil garrafas de óleo comestível por dia na unidade industrial, consumindo cerca de 930 mil t de soja. Com a unidade de biodiesel, a demanda anual da leguminosa pela Cocamar deve superar 1 milhão de t.

• Por fim, a LDC (Louis Dreyfus Company) informou que realizou um teste bem-sucedido do uso de biocombustível (B30) em um dos navios da empresa, que navegou de Gent, na Bélgica, até o porto de Santos. Com isso, a empresa registrou o primeiro transporte marítimo de suco com emissões de carbonos neutralizadas: isso porque, ela conseguiu reduzir 24% das emissões com o uso da mistura com biocombustível e compensou os outros 76% por meio de créditos de carbono.

• E fechando a análise do agro, como de costume, segue os principais preços de produtos do setor na data de fechamento da nossa coluna: a soja para entrega em cooperativa em São Paulo estava em R$ 184,40/sc na cotação atual, em R$ 188,50/sc para junho de 2022 e em R$ 171,30/sc para março de 2023; o milho ficou cotado em R$ 87,90/sc para entrega em julho e em R$ 90,40/sc para setembro de 2022; já o algodão estava em R$ 260,18/@ e o boi gordo em R$ 311,15/@ (base Cepea/USP).

Os cinco fatos do agro para acompanhar em junho são:

1. O desenvolvimento das lavouras de milho 2ª safra no Brasil e as previsões para o Clima. Já há indícios de quebra na produção em alguns estados do Centro-Sul, como vimos ao longo de nossa coluna, com destaque para GO, SP e MG. Por outro lado, as estimativas ainda seguem boas, com a Conab até ampliando a estimativa de produção do cereal. Vamos continuar acompanhando as condições para saber se teremos alguma alteração no próximo mês.

2. A evolução no plantio da safra americana de grãos que está, em geral, atrasada na comparação com a média das últimas 5 safras. O plantio tardio expõe às áreas a possibilidade de nevoeiro no final do ciclo, dificultando ou até impossibilitando a colheita (impacto na oferta). Mas o ritmo deve ganhar força nos próximos dias, vamos acompanhar!

3. O andamento das exportações brasileiras do agronegócio. Alguns produtos, como a soja e o milho, já estão apresentando volumes embarcados menores, por conta da baixa disponibilidade destes grãos no mercado interno. Nas carnes, o mercado deve seguir aquecido, mas a suína deve enfrentar maiores dificuldades, por conta da redução (pela metade) das compras chinesas.

4. A economia brasileira e mundial e os impactos no câmbio. A taxa Selic (juros) foi elevada para 12,75% ao ano, mas o mercado espera que ela fique ainda maior até o final do ano (em torno de 13,25%). Importante observar as políticas do governo para gestão da economia nestes cenários.
Por fim, continuar olhando para os dois grandes fatos mais relevantes em nível global: o aumento dos casos de covid-19 na China e o comportamento em outros países; e os próximos capítulos do triste conflito entre Rússia e Ucrânia que já dura quase 2 meses.

Reflexões dos fatos e números da cana em abril/maio e o que acompanhar em junho

Na cana

• O primeiro mês da safra 2022/23 de cana-de-açúcar, abril, se encerra com atraso nas operações de processamento da cultura, segundo a Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar). No acumulado dos 30 primeiros dias, a moagem totalizou 29,11 milhões de t, queda de 35,8% na comparação com o mesmo período de 2021/22; era de 45,34 milhões de t. Esse comportamento é resultado do menor número de usinas em operação este ano: são 180 unidades com atividades já iniciadas e eram 207 no mesmo período do ciclo passado. No entanto, espera-se que o setor se recupere destes atrasos, já que outras 57 unidades devem iniciar a moagem no Centro-Sul em maio.

• Já a qualidade da matéria-prima fechou abril 7,3% menor do que o primeiro mês da safra passada, com 108,46 kg de ATR por t de cana; informou também a Unica. No campo, a produtividade foi 1,0% maior, alcançando 81,2 t por ha, de acordo com o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira).

• A StoneX reviu suas previsões para o setor sucroenergético na safra 2022/23, indicando uma moagem de 565,3 milhões de t de cana (+8,3%), produção de etanol em 25,8 bilhões de litros (+7,0%) e de açúcar em 32,1 milhões de t (+8,1%). No segmento dos biocombustíveis, o etanol de milho deve entregar 4,2 bilhões de litros neste ciclo, uma alta de 20,7% na comparação com o passado.

• A Tereos, uma das maiores produtoras de açúcar do Brasil, informou que vai ampliar ainda mais o mix de produção para o adoçante neste ciclo, em comparação com o anterior: serão 65% para o açúcar (era 63% em 21/22) e 35% para o etanol (era de 38%). Segundo a companhia, a decisão foi pautada no bom nível de fixação de preços do açúcar em 2022/23, maiores inclusive do que os efetivados na safra 2021/22.

• A Jalles Machado anunciou a compra da usina Santa  Vitória, na cidade que a intitulou, em Minas Gerais, por R$ 704,9 milhões. Com isso, o grupo chega a sua terceira unidade e alcança capacidade total de moagem de 8,5 milhões de t, 70% a mais que o período anterior ao IPO da empresa, em fevereiro de 2021. A partir de agora, a estratégia do grupo será de investir para ampliar a produtividade de suas lavouras, a fim de garantir a oferta de cana nos níveis de sua capacidade de processamento.

• Também neste mês, a Vibra Energia e a Coopersucar finalizaram o processo de criação da joint venture ECE (Empresa Comercializadora de Etanol). A primeira empresa terá 49,99% do capital social e a Coopersucar os outros 50,01%. A expectativa é de que já no primeiro ano de atuação, a ECE comercialize 9 bilhões de litros de etanol e com faturamento de R$ 30 bilhões, o que a coloca como maior comercializadora do biocombustível no país. Alguns processos societários e operacionais ainda estão em andamento, antes do início efetivo das atividades da empresa.

No açúcar

• Resultado da menor moagem de cana, já citada em nossa coluna, a produção de açúcar fechou o mês de abril totalizando 1,06 milhão de t, volume 50,6% menor que o mesmo período de 2021/22.

• Considerando a estimativa da oferta brasileira de açúcar em 32,1 milhões de t em 22/23, a StoneX indica que haverá um superávit global de 4,1 milhões de t do adoçante esta safra, o maior desde 2018. Como resultado, a relação estoque/consumo de açúcar deve ficar em 79,5 milhões/t.

• Já a Green Pool estimou o superávit global de açúcar em 1,41 milhão de t em 2022/23; em janeiro, a previsão da consultoria era de déficit de 742 mil t. Para o Brasil, a empresa indica produção de 32,8 milhões de t do adoçante, com mix de produção em 43,6%.

• No cenário global, a StoneX prevê a produção de açúcar no seguinte cenário: Índia deverá entregar 36,5 milhões de t (+2,8%); a Tailândia tende a produzir 11,5 milhões de t (+13,9%) e a União Europeia e Reino Unido, outros 16,3 milhões de t (-5,0%). A consultoria estima, ainda, um aumento na demanda global do adoçante em 190,5 milhões de t, 1,1% a maior.

• Já na China, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indica um aumento de 400 mil t na produção de açúcar em 2022/23, com uma oferta total em torno de 10 milhões de t, considerando a safra que vai de outubro a setembro.

• Na primeira semana de maio, a cotação do açúcar em Nova Yorkem contrato futuro com vencimento de julho de 2022 estava em 19,10 centavos de dólar por libra-peso. Segundo a Archer Consulting, a estimativa é de que 17,5% do açúcar a ser exportado na safra 2023/24 (ou 4,2 milhões de t) já foram fixados a preço médio de 17,3 centavos de dólar por libra-peso (sem polarização), o que corresponde a R$ 2,259 por t FOB Santos (com polarização); ou ainda, 95,09 centavos de reais por libra-peso (com prêmio de polarização).

• Ainda segundo a Archer, foram negociados 3,27 milhões de contratos futuros de açúcar na bolsa de Nova York em abril, 33% a mais que os últimos 6 meses e 16% maior que março/22.

No etanol

• Segundo a Unica, foram produzidos 1,49 bilhão de litros de etanol em abril, 26,9% a menos que abril passado; reflexo também do menor volume de cana processado. Do total produzido, 1,24 bilhão de litros corresponde ao hidratado (83,2%) e 242,91 milhões de litros ao anidro (16,8%). 281 milhões de litros – ou 18,9% do total – tiveram o milho como matéria-prima, volume que é 17,9% maior que a safra passada.

• Já as vendas de etanol somaram 2,22 bilhões de litros em abril, alta de 2,6%. Desse total, 107,0 milhões de litros foram exportados (+56,9%). Do total vendido ao mercado interno, 1,37 bilhão de litros foi do tipo hidratado (-5,5%) e 735,63 milhões de litros do anidro, (+15,3%). Vale o destaque também para a comercialização do etanol para outras finalidades (industrial e outros), que totalizaram 81,0 milhões de litros em abril, volume 11,9% maior que o mesmo mês de 2021/22.

• Dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) indicam que a oferta dos Créditos de Descarbonização do etanol foram de 2,04 milhões de CBios em abril, 12,5% maior que no ciclo passado, indicando o comprometimento dos agentes do setor em cumprir com seu papel na mitigação do carbono e alavancar ainda mais o programa no país.

• Nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA), autorizou a venda de gasolina com mistura de 15% de etanol durante nos meses do verão. A medida visa conter as constantes altas nos preços da gasolina nos últimos meses e deve ampliar a demanda pelo biocombustível no país.

• Recentemente, a Tereos também informou a conquista do “CARB”, certificação que permite a exportação do etanol para a Califórnia, o que demonstra seu interesse e o valor que o biocombustível tem para seus negócios. Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em junho na cadeia da cana:

1. Acompanhar os desdobramentos da crise dos preços de combustíveis no Brasil, após a substituição do ministro de Minas e Energia e de outros líderes das áreas públicas de energia. O parecer do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) sobre a Petrobrás pode possibilitar cortes de até 15% nos preços cobrados na bomba, pelo governo federal. Impactos diretos no nosso setor da cana!

2. O progresso das operações de moagem na região Centro-Sul, com o início das atividades nas usinas que ainda estavam paralisadas (57, segundo a Unica). É importante ganharmos tração neste momento para buscarmos os 560/570 milhões de t ao final de 2022/23.

3. Observar como será o rendimento industrial e no campo da cana-de-açúcar no próximo mês. Em abril, a qualidade da matéria-prima (ATR) foi 7% menor que o mesmo mês do ano passado, apesar de a produtividade ter sido um pouco maior (+1%). Com o aumento no ritmo de processamento, será possível obter melhores indicadores de desempenho da safra em questão.

4. As vendas do etanol hidratado para o mercado interno. Em abril, as usinas venderam 5,5% a menos do hidratado e 15,3% a mais do anidro, o que indica uma preferência do consumidor pelo consumo da gasolina, especialmente em função da paridade de preços. Por outro lado, o aumento da oferta do biocombustível, com o início da safra, tende a reduzir os preços do etanol na bomba e estimular o consumo: em 08/04, o indicador do etanol hidratado São Paulo (Cepea/USP) estava em R$ 3,55/litro; já no dia 06/05, a cotação foi de R$ 3,31/litro (-6,7%).

5. No açúcar, avaliar as reações do mercado (principalmente dos preços em NY) após a divulgação dos novos números que ampliaram o superávit global do adoçante nesta safra, bem como a oferta e exportações de importantes players; mais produto no mercado, a tendência é de queda nos preços.

HOMENAGEADO DO MÊS


Neste mês nossa singela homenagem vai para o Sidinei Augusto Colombo, que tristemente nos deixou aos 57 anos, no último dia 06 de maio. Sidinei era um grande amigo e fez um bonito trabalho no agro, principalmente no setor da cana, sendo inspiração por sua liderança e seu compromisso. Nossos sentimentos à linda família que constituiu, aos amigos e ao grupo Colombo. Em nossas lembranças do Sidinei, apenas alegria.

 

*Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP, em Ribeirão Preto, e da FGV, em São Paulo, especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro. com e veja os vídeos no canal do Youtube (Marcos Fava Neves).
**Vítor Nardini Marques é mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP.
***Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group e mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP.