100 colunas e 100 meses juntos

Marcos Fava Neves POR: Marcos Fava Neves

Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com e veja os vídeos no canal do Youtube (Marcos Fava Neves)

Reflexões dos fatos e números do agro em julho

Começo esta coluna de forma bastante emocionada e saudosa, emoção agravada por estes tempos difíceis de pandemia que passamos. Este artigo é o de número 100 na Revista Canavieiros. Todos registrados, boa parte deles já virou capítulos de livros e teve também outros destinos em versões mais simples. O leitor mais antigo deve lembrar que a coluna se chamava “Caipirinha” e que depois passou a se chamar coluna de mercados “Manoel Ortolan”. Foram quase 8 anos e meio para completar 100 artigos.

Ainda lembro bem o café tomado na FEARP/USP com o Maneco, quando ele gentilmente foi até lá para convidar-me  a  escrever na revista um artigo por mês. Maneco, na gentileza contagiante que o caracteriza, pois está sempre entre nós, ainda me disse que tinha poucos recursos para remunerar os textos e eu de imediato disse a ele que não teria custo algum. E aí estamos, uma bonita história foi escrita e ao longo desses mais de oito anos passamos por bons e maus momentos em nosso país, em nosso setor, em nossos preços. Aqui foram relatados e a coluna acaba sendo um resumo da história recente da cana. Foi um privilégio tê-los aqui comigo nestes 100 textos. A partir do artigo 101 ganharei a companhia de dois jovens analistas do setor, afinal temos que criar oportunidades às pessoas e buscar a continuidade.

Na economia mundial e brasileira

O mundo segue acompanhando diariamente os impactos das políticas de isolamento, números de infecções e fatalidades e a consequente queda da confiança na economia mundial. O PIB dos EUA sofreu a maior redução da história em um trimestre, segundo o Departamento de Comércio, com queda de 32,9% entre abril e junho de 2020. Mas em alguns países emergentes um clima de maior otimismo começa a prevalecer com o não aparecimento de segundas ondas de infecções e a retomada gradual das atividades econômicas.

Na economia brasileira, o mercado melhorou suas expectativas para o PIB de 2020, mas ainda com retração de 5,77%, e recuperação em 2021 de 3,5%. Segundo o boletim Focus do Bacen (24 de julho), o IPCA deve fechar 2020 em 1,67% e 2021 em 3,0%, já a meta Selic, para os respectivos anos, deve encerrar em 2,0% e 3,0%. A projeção do câmbio é de R$ 5,20 no fechamento deste ano e R$ 5,00 no próximo. No momento do fechamento desta coluna, a taxa cambial estava em 1 US$ = R$ 5,18. É interessante que cada projeção melhora um pouco a perspectiva, aparentemente há mais ânimo que no mês passado.

Entre estudos internacionais deste mês, destaca-se um realizado pelo Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde da Universidade de Washington (IHME), que revela redução na população global a partir de 2050, além de mudanças representativas na pirâmide etária em 2100. Com a redução de população ativa, alguns países como China e Índia devem apresentar menores taxas de crescimento econômico. No Brasil, o pico populacional deve acontecer em 2043, com 245 milhões de habitantes, fechando 2100 com 164 milhões. Interessante observar isto, pois a onda de expansão quantitativa do agro brasileiro não será eterna.

Ainda nos temas do mês, uma área que deve crescer brutalmente é a dos fundos verdes, ligados a projetos que tragam ganhos ambientais, com grandes grupos financeiros ampliando o direcionamento de recursos para negociação de fundos verdes no país. Atualmente, o Brasil possui R$ 30 bilhões em fundos desse tipo, valor muito menor que o mercado global, que é de U$ 1 trilhão. Investidores estrangeiros e organizações brasileiras iniciaram a estruturação das primeiras emissões de Certificados Recebíveis do Agronegócio (CRA) em dólar (possibilitada pela MP do Agro) para financiamento do setor produtivo, o que deve aportar investimentos de US$ 550 milhões em títulos envolvendo uma cerealista e uma usina de biocombustíveis. As emissões de títulos de CRA em 2019 tiveram um aumento de 78,5% e, em 2020, já movimentaram mais de 8,3 bilhões. No primeiro semestre de 2020, as emissões foram 11,5% maiores que o mesmo período de 2019.

O gigante varejista chinês Alibaba pretende desenvolver na cidade chinesa de Zibo, em Shandong, toda uma infraestrutura agrícola digital para otimizar a distribuição de alimentos frescos por todo o país. O projeto envolve centros de processamento e distribuição. Temos que observar, pois tive a chance de visitá-los em 2019 e fiquei impressionado.

Mas antes de pular ao agro, aparentemente na economia estamos melhorando. Resta observar os movimentos principalmente nos EUA, com a eleição presidencial e as trombadas com a China. Mas continuo acreditando em mais confiança e na valorização do real e da Bolsa.

No agro mundial e brasileiro

No Brasil, o 10º boletim da safra publicado pela Conab reforça a expectativa de recorde de produção de grãos, com volume estimado em 251,4 milhões de toneladas, 3,9% a mais que no ciclo anterior. Já a área plantada deve chegar a 65,8 milhões de hectares, 4% a mais que na safra passada. Estima-se aumento da produção de algodão de 4%, atingindo 2,89 milhões de toneladas com a colheita já em pleno andamento. O milho 2ª safra também está em fase de colheita, com expectativa de produção de 73,5 milhões de toneladas, o que, somado a 1ª e 3ª safra, garantirá o recorde de 100,6 milhões de toneladas. A soja teve a colheita encerrada, produzindo 120,9 milhões de toneladas, 5,1% a mais que em 2018/19. As culturas de inverno estão em plena semeadura, com destaque para o trigo que aumentou 13,7% sua área. Esta safra é um alento ao Brasil em momento tão difícil do país.

De acordo com o Mapa, novo recorde foi atingido para as exportações de junho, somando US$ 10,17 bilhões, quase 25% superior ao mesmo período do ano passado e representando 56,8% das exportações totais do Brasil. Cada vez mais um agropaís. Destaque novamente para o complexo soja, exportando US$ 5,42 bilhões (+53,4%), com grãos representando US$ 4,67 bilhões (+61,9%), farelo US$ 563,1 (+2%) e óleo US$ 186,6 milhões (+92,8%). As vendas de carnes atingiram US$ 1,41 bilhão (+4,5%), valor recorde para o mês, com participação da carne bovina de US$ 742,6 milhões, suína US$ 196,9 milhões e de frango US$ 438,2 milhões (-32,1%). Os produtos florestais exportaram US$ 962,6 milhões (-13,8%) sofrendo com a queda de preços, apesar do volume ter aumentado; já o café vendeu US$ 324,6 milhões (-13,1%). Por outro lado, as importações do agro reduziram 16,1%, chegando a US$ 984,6 milhões, o que é refletido em um saldo positivo da balança comercial do setor de US$ 9,34 bilhões.

No acumulado do 1º semestre de 2020, o agro vendeu US$ 51,6 bilhões, maior valor registrado pela série histórica, com saldo positivo na balança, de US$ 45,4 bilhões. Impressionante, pois se mantivemos esta performance no segundo semestre, o agro pode deixar algo entre US$ 85 a 90 bilhões de saldo na balança comercial.

Projeção do Mapa revela que o Valor Bruto da Produção (VBP) deve atingir o recorde R$ 716,7 bilhões em 2020, superior em 8,8% ao do ano passado. O grande protagonismo fica a cargo da soja, com faturamento estimado de 173,5 bilhões, 3,5% superior ao de 2019. Já o VBP da pecuária deve alcançar R$ 236,6 bilhões, com alta de 3,4%.

E as perspectivas de futuro continuam boas. O estudo “Perspectivas Agrícolas 2020-29”, realizado pela OCDE e FAO, aponta a consolidação da América Latina como fornecedor mundial de produtos agrícolas nos próximos dez anos, com a produção aumentando em 14%, enquanto que as exportações devem crescer 1,7% por ano. Em 2029, a região deverá responder por 60% das exportações globais de soja, 40% do milho, 39% do açúcar e 35% de carnes (bovina e frango). O Brasil, China, EUA e União Europeia devem representar 60% da produção mundial de carnes até 2029.

Nos próximos dez anos, deve acontecer um aumento no consumo médio de carnes por habitante de 0,24% por ano, em países desenvolvidos, e de 0,8% nos países em desenvolvimento. Segundo a OCDE e FAO, a China deve representar 29% das importações mundiais, tendo o Brasil, Canadá, EUA e União Europeia como principais países exportadores. O Brasil deverá exportar 105 milhões de toneladas de soja para a China em 2029, com a produção atingindo 140 milhões de toneladas, frente a 120 milhões dos EUA.

O Brasil também deve se firmar como segundo maior exportador mundial de algodão em 2029, com crescimento de 94% no período. Em relação ao milho, o Brasil deve participar de 20% da parcela mundial, enquanto que os EUA participam de 31% do mercado.

Em relação aos preços no mercado de soja e milho, pouca variação neste mês. O USDA aponta que os contratos futuros de milho para setembro foram negociados em US$ 3,25/bushel, enquanto que os futuros da nova safra de dezembro fecharam a US$ 3,33. O USDA manteve suas classificações de 69% do milho na condição de bom para excelente. Na soja, os preços futuros para agosto caíram para US$ 8,9/bushel, e para novembro estão em US$ 8,94. Os índices para soja voltaram a 69% de bom para excelentes, após quedas recentes. Aqui no Brasil os preços ao fechar esta coluna estavam em R$ 110 para a saca da soja e R$ 45 para o milho, entregue em cooperativa de São Paulo. Muita gente vendendo produções futuras, e eu faria isto.

Fecho a análise do agro deste mês com os avanços impressionantes da digitalização, pois a pandemia intensificou a busca por soluções digitais de monitoramento de propriedades a distância e sistemas de informação.

Os cinco fatos do agro que deveriam acontecer em agosto foram:

- O avanço da flexibilização do isolamento social em cada país e se teremos retomada mais rápida da economia mundial;

- Da mesma forma, acompanhar a flexibilização no Brasil e seus impactos na economia brasileira e no câmbio;

- As ações do governo na questão do desmatamento ilegal, seus resultados e impactos nas pressões contra o Brasil na questão ambiental;

- O comportamento do clima na safra dos EUA que vem até o momento sem problemas,

- China: seguir as notícias das relações com os EUA e importações de produtos do Brasil.

Reflexões dos fatos e números da cadeia da cana

Na cana

Em relação ao processamento, de acordo com a Unica, no acumulado da safra 2020/21 até 15 de julho estamos com uma moagem 6,5% maior, atingindo quase 276 milhões de toneladas e provavelmente neste momento já passou de 50% o total moído desta safra.

O mix para açúcar saltou de 34,9% para 46,7%, quase 12% a mais. Isto fez com que a produção acumulada de açúcar esteja 50% maior que na safra anterior, saltando de 10,9 para 16,3 milhões de toneladas. Com isto a produção de etanol caiu quase 5,9%, vindo de 12,9 para 12,1 bilhões de litros.

A produtividade apurada pelo CTC é de quase 86 toneladas por hectare, 1,6% acima da safra anterior. A concentração de ATR está em 132,91 kg, contra 126,35 kg na safra 2019/2020 (5,2% acima).

Na cana, o ponto de atenção para o segundo semestre deve ser os investimentos para manejo e plantio da cultura que será colhida na safra 2021/22, principalmente por conta da alta do dólar. Um levantamento do Pecege com 88 usinas do Centro-Sul estima o custo com formação de canavial da safra atual de R$ 3,039 mil por hectare – valor 5% maior que na anterior. No manejo da cana soca, os custos devem aumentar 4,8%, chegando ao valor por hectare de R$ 1,258 mil. A análise do valor real entre as safras 2018/19 e 2019/20 mostrou quedas de 3,5% e 6,6% para os custos de formação do canavial e tratos de cana soca, respectivamente. Embora o aumento do dólar entre a safra atual e anterior tenha sido de 35%, com média de R$ 5,44, o Pecege estima que parte do efeito cambial foi neutralizado pela queda no preço dos insumos. Fertilizantes como MAP, KCl e ureia tiveram queda de 22,6% em dólar.

Ainda segundo o Pecege, na safra 2019/20 os fertilizantes representaram 49,5% dos custos com insumos para cana, seguidos de herbicidas, com 26,1% e inseticidas com 13,4%. Apesar da crise causada pela Covid-19, o orçamento das usinas para compra de defensivos aumentou 5,8% no acumulado até maio deste ano, e a demanda por fertilizantes cresceu 2,1%.

As metas do RenovaBio passaram por reavaliação, sendo reduzidas pela metade (14,53 milhões de Cbios) pelo governo federal. No entanto, a Frente Parlamentar vem relutando para que a redução seja de 30%. O total de usinas certificadas no RenovaBio soma cerca de 220 unidades. A Copersucar finalizou o processo de certificação de suas 34 unidades no programa RenovaBio, estando habilitadas a emitir 6 milhões de Créditos de Descarbonização (CBios) por ano. É o Brasil ambiental avançando!

A Raízen anunciou reforçar o apoio técnico e financeiro para produtores integrados de cana-de-açúcar, os quais são responsáveis atualmente pelo fornecimento de 50% do total de cana processado pelo grupo. O programa intitulado “Cultivar” já suporta 350 grandes produtores, e a meta é de encerrar a safra atual com 400 participantes e um volume de 22,6 milhões de toneladas recebidas por meio destes. A produtividade média dos fornecedores participantes do programa é de 80 toneladas por hectares - superior ao índice da própria Raízen – valor 11% maior em comparação dos fornecedores que não participam do programa. Investir no relacionamento para mim sempre foi primordial.

O grupo Zilor reverteu a situação financeira negativa, com faturamento de R$ 2,2 bilhões e lucro de R$ 184 milhões na última safra. Tal resultado foi alcançado com aumento no volume de moagem de cana (10,8 milhões de toneladas), maiores investimentos no canavial e eficiência industrial, além de ter recebido valor de precatório.

A Biosev registrou prejuízo de R$ 1 bilhão durante janeiro a março deste ano. O valor é resultado da variação cambial que gerou cerca de R$ 1,6 bilhão de impacto contábil negativo. Com isso, o prejuízo na safra 2019/20 foi de R$ 1,5 bilhão, o que fez com que a companhia tivesse resultado de R$ 1 bilhão acima do valor de ativos. Com isso, nas safras 2021/22 e 2022/23, o grupo terá, em cada uma, mais de R$ 3 bilhões em quitações com credores. Entretanto, o grupo aposta na rápida recuperação, principalmente pelo aumento de 47,5% na receita líquida no último trimestre da safra 2019/20. O resultado final para safra foi de R$ 6,8 bilhões, 7,6% maior que na anterior. Operação melhorando sempre.

No açúcar

As exportações de açúcar cresceram 80,4% em junho, atingindo impressionantes US$ 810,80 milhões. Tal montante é explicado pelas quebras de safra de Índia e Tailândia no ciclo 2019/20. O volume exportado desde o início da safra atingiu 6,44 milhões de toneladas, contra 3,85 milhões do mesmo período do ano passado, aumento de 67%. Julho também foi muito forte o volume exportado. O gol de placa da safra 2020/21 é a exportação de açúcar.

Entre os meses de abril a junho, o envio de açúcar brasileiro para os EUA chegou a 176 mil toneladas, valor três vezes maior que o mesmo período do ano passado. Precisamos abrir mais o mercado americano.

Ao fechar este texto o açúcar estava ao redor de 12,65 cents de dólar/libra peso. Segundo a Archer, dá um valor de R$ R$ 1,491 por tonelada para a safra 2021/22, o que pode estimular mais fixações.

As importações de açúcar seguem firmes, e cresce a demanda na China e na Indonésia, entre outros emergentes.

Porém, a janela não deve durar muito tempo mais, pois nesta próxima safra do hemisfério norte (início em outubro deste ano) tudo indica que a Índia deve voltar forte ao mercado exportador. O importante é que a janela foi aproveitada.

No etanol

Segundo a Unica, as vendas de etanol hidratado no primeiro semestre tiveram uma queda de 16,7% em comparação ao mesmo período do ano passado, fechando em 8,96 bilhões de litros. Já a comercialização de etanol desde o início da safra acumula queda de 22,71%, chegando a 6,4 bilhões de litros, com 493,3 milhões sendo destinados ao mercado externo e 5,9 bilhões ao doméstico.

O consumo total de combustíveis para frota de veículos leves recuou 12,7% no primeiro semestre de 2020, com 22,72 bilhões de litros de gasolina equivalente comercializados. No acumulado de 2020, a participação do etanol no ciclo Otto ficou em 47,2%.

Em junho, as vendas domésticas de etanol pelas unidades do Centro-Sul somaram 2,40 bilhões de litros, queda de 11,43% em comparação a 2019, sendo 1,47 bilhões de hidratado (-19,64%) e 663,86 milhões de anidro (-4,70%). É importante pontuar que as quedas nesse mês foram menos acentuadas que as observadas em maio e abril.

Houve aumento de 43% nas vendas externas de etanol em relação a junho de 2019, chegando à cifra de US$ 122,71 milhões. Já o volume cresceu 44,31%. Nos três primeiros meses da safra, as exportações de etanol saltaram de 305 milhões para quase 540 milhões de litros.

A Petrobras elevou novamente o preço da gasolina nas refinarias em 4%. O valor médio nacional nas bombas de combustível deve ficar em torno de R$ 4,097. Segundo a Petrobras, impostos como o ICMS e Cide correspondem a 46% do preço final da gasolina, enquanto que 28% se referem ao preço de saída da refinaria. Os outros 13% são divididos entre o etanol anidro, o valor da distribuição e a revenda.

A determinação da ANP (resolução 807/2020) que estabelece padrões maiores para a gasolina passa a valer a partir de 3 de agosto. De acordo com a Petrobras, o novo produto deve gerar uma economia entre 4 a 6% no consumo. Além disso, deve acontecer um aumento no preço final, o que pode favorecer o etanol. A Petrobras reforça que apesar do aumento de preço, o novo combustível será mais eficiente e reduzirá as emissões de CO2.

A cota para entrada de etanol importado sem cobrança de tarifa externa comum (TEC) é tema de muitas discussões em Brasília e no setor. Está próxima de expirar, o governo pretende acabar com a cota, que garante a entrada de 750 milhões de litros anuais de etanol com alíquota zero. Enquanto os EUA pressionam para a definição de uma TEC igual ou menor que 2,5% para todo volume importado, bancadas do Nordeste defendem a aplicação da tarifa cheia como medida de proteção ao setor no Brasil.

Segundo a Unica, o Brasil deixou de emitir 515 milhões de toneladas de gases de efeito estufa desde a adoção dos carros flex no Brasil em 2013. Para se ter uma noção, esse valor corresponde à cerca de 100 milhões de elefantes. O RenovaBio deve impulsionar ainda mais os biocombustíveis, com a meta de retirar quase 700 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera em 10 anos. A FS Bioenergia, gigante brasileira de etanol de milho, captou financiamentos atrelados ao alcance de metas “verdes”, tanto via empréstimos quanto CRI. Caso a empresa atinja as metas apontadas, terá um custo de capital mais baixo vinculado aos contratos.

Finalmente, fiz a proposta ao setor para que nos postos seja informado ao consumidor o volume de emissões por litro de cada tipo de combustível, baseado numa tabela da ANP. A proposta foi prontamente aceita e os estados produtores correram com seus líderes e deputados para tentar escrever os projetos de lei e tramitar nas assembleias. Com isso, o consumidor será melhor informado e questões ambientais também pesarão em sua decisão. Ficarei feliz se conseguir isto para o setor. 

Para concluir, os cinco principais fatos que deveriam ter acontecido em agosto na cadeia da cana:

- A política de isolamento e impactos no consumo de combustíveis no Brasil. Principalmente a velocidade de recuperação do consumo de hidratado em agosto. Ao fechar esta coluna, pelos dados da SCA o litro do hidratado estava R$ 2,09 com impostos nas usinas; 

- Acompanhar os impactos do coronavírus no consumo mundial do açúcar e nos preços do petróleo, principalmente. Ao fechar a coluna, o barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 43 e o açúcar em cerca de 12,6 cents/libra peso; 

- O clima e o andamento da safra de cana no Brasil por enquanto vêm muito bem e já passaram da metade. Resta saber se esta seca que estamos vivendo vai afetar o desenvolvimento da safra 2021/22;

- O andamento da safra de açúcar no hemisfério norte e o déficit na produção advindo das quebras na Tailândia e observar as estimativas de produção para a safra 2020/21. O comportamento das exportações de açúcar do Brasil que vêm surpreendendo as melhores apostas agora em agosto,

- Observar o que deve acontecer com as tarifas e cotas para o etanol americano entrar no Brasil e se teremos contrapartidas de acesso às necessidades de açúcar dos EUA, que seria a minha estratégia.

Minha previsão para o fechamento do valor do ATR (valor médio safra 2020/21): RS$ 0,707/kg.

Antes de terminar, agradeço o apoio de Vítor Nardino Marques e Vinícius Cambauva nesta coluna.

Homenageado do mês

Desta vez, nossa singela homenagem vai para o querido Stuart Maron, grande técnico da comercialização dos produtos da cana. Com sua simpatia sempre conquistando amigos no setor.