O evento reforçou a necessidade de um manejo integrado e conhecimento aprofundado para enfrentar as plantas daninhas cada vez mais resistentes e agressivas
O 23º Herbishow, seminário sobre controle de plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar, trouxe discussões cruciais sobre a evolução do setor e as mudanças significativas na área de controle de plantas daninhas. O evento, realizado pelo Grupo IDEA, nos dias 22 e 23 de maio, em Ribeirão Preto, reuniu especialistas, pesquisadores e produtores para discutirem e apresentarem as últimas novidades e evoluções no setor, fortalecendo a troca de conhecimento e a implementação de práticas mais eficazes no campo.
Uma das principais mudanças observadas foi a alteração na população de plantas daninhas, em grande parte devido à presença da palha nos canaviais. Atualmente, a palha está presente em aproximadamente 90% dos canaviais brasileiros, sendo que no Centro-Sul esse índice é ainda maior. Esta cobertura vegetal, embora benéfica em diversos aspectos, acabou selecionando plantas daninhas mais agressivas e o desafio de controlar as plantas daninhas só aumentou.
Elas se tornaram mais agressivas e adaptadas às condições impostas pela palha. Algumas espécies conseguem se desenvolver na sombra e sob a palha, emergindo com vigor quando o solo é movimentado, muitas vezes mais adaptadas que a própria cana-de-açúcar.
A necessidade de ser assertivo no controle dessas plantas é crucial para evitar surpresas desagradáveis, especialmente durante períodos de chuva. Um breve descuido de cerca de 20 dias pode resultar em uma concorrência significativa entre a cana e as ervas daninhas, tornando o controle muito mais difícil.
Dib: “Os trabalhos de pós-emergência têm ganhado importância crescente no manejo de plantas daninhas. A realidade é que os desafios são grandes”
“Para enfrentar essas plantas daninhas resistentes, os agricultores têm recorrido a uma combinação de novos produtos, técnicas, equipamentos e métodos de gestão. O combate às plantas daninhas depende de um profundo conhecimento e uma gestão eficiente. O setor canavieiro dispõe de mais de 40 moléculas registradas, cada uma com características específicas para diferentes situações, como umidade, tamanho das ervas daninhas e condições do solo, sempre considerando parâmetros como o KW e o KOC”, disse o presidente do Grupo IDEA, Dib Nunes.
Evolução e desafios no uso de herbicidas no solo
O professor Dr. Pedro Christoffoleti, consultor da Herbtech, apresentou uma palestra sobre “Aspectos importantes do comportamento dos herbicidas no solo e sua relação com a prática”. Durante a apresentação, destacou a evolução contínua das plantas daninhas e a necessidade constante de atualização das tecnologias de herbicidas.
Christoffoleti: “Todos os herbicidas são eficientes, é uma tecnologia espetacular no controle de ervas daninhas, desde que sejam usados no momento e na dose correta”
Segundo Christoffoleti, “as plantas daninhas são seres biológicos que evoluem. Toda tecnologia desenvolvida é, com o tempo, superada por elas. As tecnologias do primeiro Herbishow comparadas às atuais refletem essa evolução, mostrando a adaptabilidade das plantas daninhas”. Esse contexto sublinha a importância de se compreender profundamente as características dos herbicidas e suas aplicações corretas.
Carreyover e Plant Back: conceitos e importância
Um dos pontos centrais da palestra foi o fenômeno do Carreyover, que é o efeito fitotóxico de um herbicida aplicado na cultura anterior afetando a cultura seguinte. “O herbicida permanece ativo no solo até o próximo cultivo. Na cultura da cana-de-açúcar, é crucial entender esse fenômeno durante a rotação de culturas na reforma do canavial”, explicou Christoffoleti.
Para investigar esses fatores, uma série de 27 experimentos foi conduzida, incluindo herbicidas como Tebuthiuron, Indaziflam, Amicarbazone, Picloram e Sulfentrazone em culturas de milho e soja. As características do solo, condições ambientais, pluviosidade, dosagem e sensibilidade das culturas foram os principais fatores analisados.
Outro conceito abordado foi o Plant Back, que se refere ao efeito fitotóxico de herbicidas aplicados no pré-plantio sobre a cultura subsequente. “Isso é vital no processo de desinfestação do banco de sementes, especialmente de gramíneas e folhas largas, além de plantas daninhas perenes, como a grama-seda. O Plant Back é problemático quando o herbicida aplicado afeta a cana plantada no mesmo ano”, disse Christoffoleti. Herbicidas como Imazapir, Imazapic, Amicarbazone e Isoxaflutole foram destacados como tendo esse efeito.
Christoffoleti enfatizou a importância de escolher a dose correta de herbicida. “A dose é o segredo do sucesso do herbicida pré-emergente. Errar na dose no momento da recomendação e na aplicação é um ponto crítico”, alertou. A escolha da dose deve considerar a textura do solo, a época do ano, a modalidade de cultivo, a espécie de plantas daninhas e a tecnologia de aplicação.
Os desafios no controle de gramíneas de cana-de-açúcar
Os desafios no controle de gramíneas de cana-de-açúcar em áreas de produtores de cana-de-açúcar foram abordados pelo coordenador técnico da Unidade de Grãos 1 da Copercana, Gustavo Nogueira, que enfatizou a complexidade no uso de herbicidas. “Não tem uma receita de bolo para herbicida. É preciso ter conhecimento, conhecer o cliente e as áreas para entregar as melhores soluções”, afirmou Nogueira. Ele destacou que, para um controle eficiente das gramíneas na cana-de-açúcar, as soluções devem ser aplicadas no momento correto. Além disso, é fundamental entender a realidade dos produtores rurais para adotar as melhores tecnologias de manejo.
Nogueira: “O desafio do manejo de plantas daninhas é o conhecimento"
Nogueira ressaltou ainda a importância do conhecimento aprofundado em vários aspectos do cultivo para o sucesso no controle de plantas daninhas. “O desafio do manejo de plantas daninhas é o conhecimento. É importante conhecer o ambiente de produção em que vai trabalhar, clima, planta e solo, para poder ter sucesso na recomendação, controle e manejo junto aos produtores. Esse é o diferencial da Copercana que é estar junto com o produtor de cana no seu dia a dia”.
Uma visão futurista do controle de plantas daninhas em cana
Já Edivaldo Domingues Velini, da Unesp de Botucatu, apresentou uma visão futurista do controle de plantas daninhas, destacando a água como o maior desafio para a agricultura. “Trabalhar para reduzir o consumo de água é o principal ponto”, disse Velini, destacando a importância de tecnologias que melhorem a eficiência hídrica. Ele também abordou o uso da inteligência artificial e sistemas sensores para dar significado biológico e prático às informações, alertando para o cuidado com contaminações em produtos agrícolas.
Edivaldo Domingues Velini, Unesp de Botucatu
Velini mencionou também a dificuldade em obter agentes de controle biológico específicos para plantas daninhas, destacando a necessidade de integração de biológicos e convencionais. Também enfatizou a importância da qualidade na compra de insumos agrícolas, observando que o agronegócio brasileiro, apesar de vender qualidade, ainda enfrenta desafios para aprender a comprar produtos de alta qualidade.
Durante o evento, as empresas apresentaram novos produtos, novas tecnologias e novos ativos e também abordaram aspectos práticos e cuidados essenciais na aplicação de herbicidas. Bem como escolher corretamente os herbicidas, doses e épocas de aplicação, minimizar a deriva e a variação da dose, e considerar a qualidade dos produtos e serviços são passos cruciais para o sucesso no controle de plantas daninhas.
Os profissioonias da Copercana e Canaoeste prestigiaram o evento. Da esquerda para a direita João Fontanari (Canaoeste), Gustavo Nogueira (Copercana) e Victor Gilbert (Canaoeste)