Em julho, aconteceu a 4ª Reunião do Grupo Fitotécnico IAC, em Ribeirão Preto. O evento reuniu especialistas e produtores de cana-de-açúcar para discutir as novidades e os desafios do setor.
Nos painéis fitotécnicos, o primeiro a falar foi o dr. Rubens Braga Junior, da RBJ Consultoria/Programa Cana IAC. Ele abordou as variedades mais plantadas em MPB (Muda Pré-Brotada) e o plantio comercial mecanizado em 2023.
Para apresentar os dados, o especialista dividiu a palestra em três partes. A primeira mostrou a metodologia utilizada na pesquisa; a segunda, os dados do MPB; e a terceira, os números do plantio comercial.
Pesquisa com as unidades produtoras
"Essa pesquisa nós fazemos sempre no início do ano e tentamos coletar o máximo de informação em todas as unidades produtoras, principalmente levantando informações sobre mecanização, adubação, irrigação, canavieiros e MPB, meiosi e outras características que nós já consideramos importantes no plantio comercial.
Essa pesquisa vai se adaptando conforme os assuntos vão ganhando mais interesse", explicou Braga Junior. Segundo ele, nessa safra de 2023 foram levantados dados de 199 unidades produtoras, numa área de plantio de reforma de 987 mil hectares. "Vocês veem que cada vez mais as empresas estão respondendo à pesquisa, nós temos crescido ano após ano em relação a essa pesquisa, porque realmente são informações de muito interesse", afirmou.
O pesquisador destacou que os relatórios mensais são feitos com análises da equipe e que nunca são divulgadas informações individuais das empresas. "Isso aqui é um assunto estratégico, então o usineiro não quer que o vizinho dele use a mesma metodologia nova que ele está fazendo", disse.
MPB - Muda Pré-Brotada
Na segunda parte da palestra, Braga Junior falou sobre o MPB, uma tecnologia que permite multiplicar rapidamente as variedades de cana-de-açúcar. "Das 159 unidades, 150 disseram que vão utilizar o MPB, vocês veem que é uma metodologia que está sendo muito utilizada no setor. Então eu tenho 75%, ou seja, três quartos das empresas disseram que vão utilizar o MPB nesse ano e isso dá uma estimativa de pelo menos 172 milhões de mudas de MPB que serão plantadas ao longo do ano", informou.
Ele também apresentou as variedades mais citadas para o plantio em MPB em 2023. A RB075322 foi a mais citada (59 citações), seguida da CTC2994 (55 citações); CTC1007 (50 citações); RB127825 (48 citações); IACSP01-5503 (43 citações); RB975033 (38 citações); CTC9006 (37 citações) e IACCTC07-8008 (28 citações).
"A RB075322 é um clone muito novo, não foi nem lançado ainda e essa é a principal característica do MPB: essa rapidez de multiplicação. Então vocês vão ver muitas variedades muito novas aqui, com certeza nessa listagem. Isso mostra o que vai ser o futuro. Se eles estão escolhendo esses clones ou variedades, é porque eles devem crescer rapidamente no futuro", comentou.
Em termos de número de MPB plantados, a IACSP01- 5503 foi a primeira colocada pelo segundo ano consecutivo. "Isso nos causa uma satisfação imensa para o nosso programa, porque isso tem tudo a ver com o que a gente faz, que é MPB, é uma tecnologia que nasceu aqui, a gente divulga muito, então mostrar que a nossa principal variedade é pelo segundo ano consecutivo a mais plantada no MPB. Ou seja, deve ter um futuro muito promissor essa variedade", disse.
Braga Junior também deu uma dica para o pessoal que trabalha com viveiros de mudas MPB."Quais são as variedades que eles precisam ter nos viveiros deles para poder fornecer para o mercado no ano que vem? Das 393 citações, a RB075322 foi a mais citada (48 citações); seguida da RB127825 (43 citações); CTC9008 (36 citações); IACSP01-5503 (27 citações); IACCTC07-7207 (24 citações) e CTC3445 (22 citações)", revelou.
Plantio Comercial Mecanizado
Na terceira parte da palestra, Braga Junior mostrou os dados sobre o plantio comercial mecanizado no Brasil. Segundo ele, das 199 unidades produtoras que responderam à pesquisa, 16,6% fazem só o plantio manual; 19,6% fazem só o plantio mecanizado e 62,8% fazem os dois tipos de plantio.
Ele também apontou que a área total com mecanização tem crescido nos dois últimos anos, passando de 57,2% em 2022 para 65,9% em 2023, enquanto o plantio manual caiu de 42,8% em 2022 para 34,1% em 2023. "Esse é o retrato que temos visto, isso está voltando a acontecer principalmente em função da mão de obra. Com a mão de obra ficando cada vez mais cara e mais difícil isso está fazendo com que a mecanização volte a atuar", explicou.
Ele também mostrou as diferenças regionais no plantio mecanizado. Na região Nordeste, o processo ainda é lento e enfrenta desafios como a adaptação às condições locais. Na região Centro-Sul, os números são superiores e os estados de Goiás e Tocantins lideram o ranking com 86,8%. No estado de São Paulo, as regiões que mais fazem o plantio mecanizado são Ribeirão Preto (67,8%), Araçatuba (67,4%), Jaú (61,9%), São José do Rio Preto (59,5%), Piracicaba (56,9%) e Assis (34,9%).
Para finalizar a palestra, Braga Junior trouxe números da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) com os dados de área de plantio no Brasil. De acordo com os números, que foram incrementados com uma estimativa de queda do plantio manual ao longo dos anos realizada pelo próprio pesquisador, no país, de 2022 para 2023 houve uma redução de 0,3 milhão de hectares na área de plantio manual, ao mesmo tempo em que houve um aumento de 0,7 milhão de hectares na área de plantio mecanizado. "Analisando os dados com relação ao plantio mecanizado, é possível dizer que o mercado está crescendo e já passa a ter 1,7 milhão de hectares em termos de plantio mecanizado. Então, é uma boa expectativa para as empresas que têm esses equipamentos", concluiu.
E para o pequeno e médio produtor quais seriam as variedades mais indicadas para o plantio em MPB?
De acordo com Rubens Braga Júnior, a primeira dica é adquirir a muda certa para o ambiente certo. Adquirir uma muda somente porque ela é a mais plantada do ranking não garante que ela possa render uma boa produção na lavoura desse produtor. "Em um ambiente mais favorável, a IACSP95-5094 está indo muito bem. Algumas empresas que trabalham fornecendo MPB estão tendo resultados excepcionais tudo acima de 150 toneladas. Realmente está tendo muitos bons resultados. Já para o produtor que tem uma condição mais restritiva de ambiente, a campeã do IAC com toda certeza é a IACSP01-5503. Essa variedade está crescendo muito rapidamente. Nos dois últimos anos ela foi a variedade mais plantada em MPB no Brasil. Então eu acho que é uma variedade que deve chegar muito rapidamente entre as 10 mais cultivadas no país".
Experiências das unidades industriais
No encontro também foram expostos os trabalhos de duas unidades industriais que atualmente fazem o uso do plantio MPB. Os representantes do Grupo São Martinho e da Raízen compartilharam suas experiências e os resultados obtidos com essa tecnologia.
São Martinho: pioneira e inovadora
O Grupo São Martinho é um dos maiores produtores de açúcar, etanol e energia elétrica do Brasil, com quatro unidades industriais e mais de 300 mil hectares de área cultivada. A empresa se destaca pela sua trajetória pioneira e inovadora no plantio mecanizado, iniciada na década de 80.
Estevão Pacheco de Andrade Landell, que faz parte do time agrícola corporativo do grupo, apresentou os dados e os resultados do plantio mecanizado realizado pela unidade São Martinho, localizada em Pradópolis (SP). Ele ressaltou que a empresa investe na capacitação das pessoas, na conectividade, no sensoriamento e na gestão orientada a dados.
"A tecnologia para nós é um catalisador poderoso de resultados que nos direciona para uma performance de excelência e também excelência operacional", afirmou. Landell explicou que o foco da empresa não é em uma tecnologia específica, como MPB ou Meiosi, mas sim no resultado. Ele disse que a empresa optou pelo MPB/Meiosi por trazer benefícios como a multiplicação acelerada de novas e superiores variedades, a qualidade do plantio, o menor consumo de muda e o custo mais baixo dessa modalidade de plantio.
"Mas ao mesmo tempo nós continuamos também mantendo o plantio mecanizado de altíssima performance. Não só mantivemos, mas aprimoramos", acrescentou. Para alcançar um plantio de excelência, Landell disse que a empresa entende que isso é um processo multidisciplinar, que envolve diversos aspectos como manutenção, experimentação, planejamento, utilização de tecnologia, cuidado fitossanitário, preparo de solo, conservação do solo e da água, manejo varietal, sistematização e pessoas.
"Um plantio de excelência tem que nos garantir uma boa produtividade de cana planta; boa longevidade do nosso canavial e também um baixo custo. Então isso para nós é o que entendemos como plantio de excelência", afirmou.
Landell mostrou exemplos de planejamento e operação de plantio que são feitos pela São Martinho, além de mudanças adotadas pela unidade industrial que resultaram em números expressivos com relação à conservação do solo e da água por meio de manejos adequados.
"Através dos manejos corretos, temos como resultado a conservação do solo e da água, evitando dessa maneira o impacto das gotas de água e, o escoamento superficial facilitando a infiltração de água no solo. Sempre pensamos no manejo que visa trabalhar na causa", disse.
Landell também destacou o trabalho da empresa na experimentação agronômica e no manejo varietal, em parceria com as instituições de pesquisa (IAC - Ridesa - CTC). Ele disse que a empresa busca as variedades mais competitivas e com maior margem de contribuição agrícola.
"Não plantamos uma nova variedade porque ela é nova, mas sim para ver quais resultados ela nos traz. Nós acreditamos no melhoramento genético, mas buscamos dentro de tudo que é apresentado o que é superior", disse.
Raízen: desafios e aprendizados
A Raízen é uma empresa integrada de bioenergia, com solidez financeira, portfólio diversificado e princípio de ESG. A empresa possui 35 parques de bioenergia, 70 bases de distribuição de combustíveis, oito 8 mil postos com a marca Shell, entre outros negócios.
A experiência da Raízen com o plantio mecanizado foi apresentada por Leonardo Mella de Godoi, coordenador de operações agrícolas corporativo, e Wesley Romulo, especialista de qualidade agrícola. Eles dividiram a palestra em duas partes: os desafios operacionais e os desafios com a qualidade.
Godoi disse que o plantio mecanizado é um processo novo para a Raízen, que começou há pouco mais de cinco anos. Ele disse que a empresa enfrentou dificuldades para aprender com alguns erros, pois tem uma grande dimensão e diversidade de áreas, pessoas e equipamentos.
"Quando falamos em Raízen estamos falando em 35 parques. A quantidade de pessoas que está envolvida, a nossa dimensão nos estados, faz a gente pensar em como vamos tratar o nosso plantio, como vou tratar a minha cana. Será que aquilo que eu estabeleci em Piracicaba é o meu modelo ótimo para tudo?
Esse tipo de questionamento fez com que ao longo dessa nossa trajetória, em questões de manejo, tomássemos decisões que prejudicaram. Sendo assim, ao longo de todo o processo a gente vem aprendendo com isso. Temos um aprendizado muito grande nessa questão de evolução de plantio mecanizado", disse.
Godoi mostrou a jornada do plantio mecanizado da Raízen, que começou em 2010 e chegou a 90% em 2015. Ele disse que a empresa investiu em plantadoras semiautomatizadas e depois 100% automatizadas, além de implantar o monitoramento remoto da qualidade.
"Esse é o modelo que atualmente a empresa trabalha hoje. Os outros 10% estão praticamente dentro da meiosi, mas é importante destacar que mesmo com tudo isso temos pessoas envolvidas no processo e não deixamos de ter pessoas em todo o processo", disse.
Godoi disse que os aprendizados com esse processo foram vários, como o monitoramento remoto da qualidade, as POPs operacionais, os projetos digitais, a matriz de preparo e plantio, a qualidade da muda e as variedades.
"Por mais que a gente venha trabalhando a nível de controles, a primeira pessoa que faz o controle da operação é o operador, é ele que deve entender a necessidade de descer da plantadora e fazer a primeira avaliação de qualidade. Se a gente não tiver uma operação muito bem treinada e comprometida, perdemos muito dinheiro", disse.
Romulo falou sobre os desafios com a qualidade do plantio mecanizado na Raízen. Ele disse que a empresa tem como visão agrícola "ter a melhor produtividade e longevidade do canavial com menor custo do setor".
Ele mostrou os indicadores de qualidade do plantio mecanizado na Raízen, como profundidade do sulco, quantidade de gemas por metro linear, distribuição longitudinal das gemas e cobertura do solo. Ele disse que esses indicadores são monitorados por meio de ferramentas digitais e avaliações em campo.
Romulo também mostrou as boas práticas adotadas pela Raízen para garantir a qualidade do plantio mecanizado, como o controle fitossanitário das mudas, o tratamento térmico das mudas matrizes, o manejo integrado de pragas e doenças, o uso racional dos insumos e o treinamento dos colaboradores.
"O nosso objetivo é ter um plantio mecanizado com qualidade e eficiência para garantir um canavial produtivo e rentável", concluiu.