Por: Fernanda Clariano
A afirmação acima é de Adriana Brondani, diretora-executiva do CIB (Conselho de Informações sobre Biotecnologia). Bióloga, graduada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde também fez mestrado e doutorado. Tem um histórico de atividades acadêmicas como professora de graduação e mestrado em bioquímica e biologia molecular na Universidade Luterana do Brasil (RS) e de pós-graduação na UFRGS e na PUCRS. Trabalhou no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e na Fundação SOAD (Fundação de Pesquisas contra o Câncer), com linhas de investigação em câncer. A Revista Canavieiros conversou com a profissional para saber um pouco mais sobre a adoção da biotecnologia, o que acontece no Brasil e no mundo e o que tem por vir. Confira:
Por: Fernanda Clariano
Revista Canavieiros: O que é a biotecnologia?
Adriana Brondani: A biotecnologia é o conjunto de técnicas que envolvem a manipulação de organismos vivos para modificação de produtos com fins específicos. A palavra tem origem grega: “bio” significa vida, “techné” remete a técnica e “logos” quer dizer “conhecimento”. A biotecnologia é usada desde a Antiguidade, em um processo bastante artesanal para produção de pães e bebidas fermentadas. Hoje, ela utiliza materiais e técnicas de última geração, como a do DNA recombinante. O desenvolvimento dessa área ocorreu com o avanço nas pesquisas sobre genomas, microbiologia, biologia molecular, bioquímica, bioinformática e engenharia genética.
A biotecnologia moderna é empregada tanto nas áreas da saúde e agricultura quanto nas indústrias de alimentos, têxtil, química, ambiental, papel e mineração, entre outras. No sabão em pó, por exemplo, enzimas resistentes às condições do processo de lavagem produzidas por bactérias geneticamente modificadas são usadas para degradar gorduras, carboidratos e proteínas nos tecidos sujos. Essas enzimas também podem ser usadas para tornar as fibras dos jeans mais macias e obter o efeito “desbotado”, sem poluir o meio ambiente como fazia o processo de “stonewashing”, que utilizava pedras e ácido. A biotecnologia é usada também para desenvolver óleos vegetais quimicamente semelhantes ao petróleo cru, o que serve de matéria-prima para tintas de parede, revestimentos e plásticos.
Já a biotecnologia agrícola tem contribuído para melhorar as plantas geneticamente, desenvolvendo vegetais que, entre outras características, são mais protegidos contra pragas e, consequentemente, reduzem as perdas na lavoura. Isso é feito de forma sustentável e está alinhado com outros esforços de conservação ambiental. Dessa forma, a biotecnologia agrícola vem ajudando a produzir espécies mais adaptadas a condições adversas de clima e solo, além de mais resistentes a pragas, doenças e pesticidas. Com a biotecnologia, também tem sido possível reduzir custos e perdas pós-colheitas, pela produção de variedades que amadurecem mais lentamente que as convencionais. Permite, ainda, um uso mais eficiente do solo – como o plantio direto, que evita a erosão – e oferece novas possibilidades para os cultivos tradicionais, como a produção, por meio de plantas, de plásticos biodegradáveis, tecidos com amido e compostos farmacêuticos.
Revista Canavieiros? Quais os benefícios socioeconômicos e ambientais da biotecnologia?
Adriana Brondani: A transgenia tem permitido ganhos de produtividade e aumento de renda para os agricultores que adotam essa tecnologia. Segundo a consultoria britânica PG Economics, se as sementes transgênicas não fossem adotadas, seriam necessários 19,5 milhões de hectares a mais para obter a mesma produção de soja, milho, algodão e canola plantadas em todo o mundo em 2015.
De acordo com o relatório do ISAAA (Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia) de 2017, a adoção de OGM (Organismos Geneticamente Modificados) globalmente gerou uma redução das emissões de dióxido de carbono (CO²) equivalente à retirada de cerca de 12 milhões de carros das ruas em um ano. Esses dados mostram que a biotecnologia agrícola é uma das ferramentas que contribuem para que os países cumpram a recomendação da ONU (Organização das Nações Unidas) de reduzir significativamente a emissão de gases do efeito estufa até 2030.
Do ponto de vista socioeconômico, nos países em desenvolvimento, as sementes GM (Geneticamente Modificadas) contribuíram para o aumento de renda de aproximadamente 18 milhões de agricultores.
Revista Canavieiros: Quais os entraves na área da biotecnologia?
Adriana Brondani: O fomento à pesquisa tem forte impacto no desenvolvimento científico de maneira geral. No que diz respeito à biotecnologia, o marco legal brasileiro é um fator que nos favorece. O Brasil conta com uma legislação de biossegurança desde 1995, com a entrada em vigor da Lei 8.974/95, que estabeleceu normas de biossegurança para regular a manipulação e o uso de OGM no país. Dez anos depois, essa lei foi substituída por uma nova, a Lei de Biossegurança 11.105/05, que atualizou os termos da regulação de OGM no Brasil, incluindo pesquisa em contenção, experimentação em campo, transporte, importação, produção, armazenamento e comercialização. O processo regulatório brasileiro é reconhecido internacionalmente como um dos mais rígidos e completos do mundo.
Por outro lado, o desconhecimento de parte da população sobre os benefícios e segurança dos OGM impacta negativamente no desenvolvimento de produtos a partir desse conhecimento científico, principalmente na área de alimentos. Isso acontece apesar dos rigorosos testes de biossegurança realizados em todo o mundo, que atestam não haver problemas de saúde relacionados com a ingestão de alimentos transgênicos ou seus derivados.
Revista Canavieiros: Qual a área plantada de transgênicos no mundo? E qual a área do Brasil?
Adriana Brondani: Em todo o mundo, 26 países plantaram 185,1 milhões de ha com variedades GM em 2016, um crescimento de 3% se comparado com os 179,7 cultivados em 2015. O Brasil cultivou 49,1 milhões de ha com culturas transgênicas em 2016, um crescimento de 11% em relação a 2015 ou o equivalente a 4,9 milhões de ha. Nenhum outro país do mundo apresentou um crescimento tão expressivo. Com essa área, a agricultura brasileira está atrás apenas dos Estados Unidos (72,9 milhões de ha) no ranking global de adoção de biotecnologia agrícola. Além de Estados Unidos e Brasil, cabe destacar as áreas plantadas com OGM na Argentina (23,8 mi/ha), no Canadá (11,6 mi/ha) e na Índia (10,8 mi/ha). Esses dados estão no mais recente relatório do ISAAA.
Revista Canavieiros: Quais as espécies transgênicas cultivadas comercialmente?
Adriana Brondani: No Brasil, estão aprovadas comercialmente hoje variedades transgênicas de soja, milho, algodão, feijão, eucalipto e cana. Dessas seis variedades, apenas soja, milho e algodão já estão sendo cultivados para consumo. Além de plantas, o Governo já autorizou o uso de componentes geneticamente modificados em vacinas, microrganismos (como leveduras e microalgas) e no mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue, zika vírus e febre chikungunya.
No site do CIB, é possível consultar todos os OGM aprovados no Brasil:
http://cib.org.br/produtos-aprovados/
http://cib.org.br/produtos-aprovados/outros-ogm-aprovados-no-brasil/
Revista Canavieiros: Recentemente a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) aprovou a primeira cana transgênica do mundo. Qual foi sua área de teste e, após essa aprovação, quanto tempo ela demora a estar disponível no mercado?
Adriana Brondani: Os testes com a cana Bt aprovada pela CTNBio foram realizados em áreas das regiões para as quais a variedade é destinada. Todos os testes seguiram as normas de biossegurança vigentes. Neste momento, a cana Bt está em processo de produção de mudas e os plantios deverão ter início nos próximos meses. O cultivo da cana tem características específicas, independentemente de ser GM ou convencional. Os primeiros plantios de uma nova variedade são feitos em áreas de viveiros para serem multiplicados três vezes antes de um plantio comercial. Desta forma, as primeiras áreas comerciais da nova cana Bt devem ser industrializadas em três anos.
Revista Canavieiros: Cerca de 40 países tiveram 3.768 produtos transgênicos aprovados. Como está o Brasil neste contexto e qual a destinação dessas aprovações?
Adriana Brondani: O número de aprovações no Brasil é de 116 (até agosto de 2017). Essas aprovações são inovações na área de agrícola (soja, milho, algodão, feijão, eucalipto e cana-de-açúcar, dos quais apenas os três primeiros já estão no mercado), na área da saúde (vacinas para uso humano e veterinário) e na área industrial (microrganismos). Os produtos se destinam ao mercado interno e para exportar para os países também aprovaram os mesmos eventos transgênicos.
Revista Canavieiros: Qual é o objetivo das aprovações?
Adriana Brondani: O trabalho criterioso da CTNBio tem como objetivo garantir que os produtos aprovados no Brasil sejam seguros para a saúde animal e humana e também para o meio ambiente. Os desenvolvedores de tecnologias transgênicas buscam, por meio de abordagens genéticas e de biologia molecular, entregar produtos que, de alguma maneira, contribuam para resolver um problema ou para melhorar um processo produtivo.
Revista Canavieiros: Quais as características das plantas transgênicas?
Adriana Brondani: As principais características das plantas transgênicas aprovadas comercialmente hoje no Brasil e no mundo são agronômicas: resistência a insetos, tolerância a herbicidas e a combinação dessas duas. Essas soluções tecnológicas facilitam o manejo do produtor no campo e, por meio da redução de perdas, trazem ganhos e produtividade.
Revista Canavieiros: Quais os benefícios das lavouras transgênicas?
Adriana Brondani: Sabemos que a prática da agricultura em climas tropicais ou subtropicais (como os do Brasil) enfrenta grande pressão de plantas daninhas e de insetos. Boa parte dos transgênicos disponíveis hoje têm benefícios agronômicos, ou seja, características que ajudam as culturas transgênicas a produzirem melhor nesse ambiente em que outras plantas competem pelos nutrientes e em que insetos atacam as lavouras. Para manter os atuais níveis de produtividade sem as sementes transgênicas, os produtores teriam que lançar mão de outras estratégias de controle, o que poderia provocar aumento do uso de defensivos agrícolas, combustível (para maquinário) e água. Isso significa que os OGM contribuem para que a agricultura seja uma atividade mais sustentável.
Revista Canavieiros: O que seria a edição gênica e o que diferencia a inovação da biotecnologia, da edição gênica?
Adriana Brondani: Até recentemente, as ferramentas disponíveis de engenharia genética permitiam alterações dos blocos maiores de sequências de DNA inseridos no genoma da espécie-alvo. Avanços na área, agora, permitem a obtenção de novas variações, com modificações dirigidas a uma determinada região do genoma-alvo, como mutações específicas, inserções e substituições de genes e/ou blocos de genes. Essas técnicas são alternativas poderosas para o desenvolvimento de plantas com alto valor agregado para a agricultura, indústria ou a medicina. A edição genética faz parte dessas novas abordagens e é utilizada para melhorar diversas plantas, com o diferencial de poder criar um indivíduo com nova variação genética sem possuir um gene de outra espécie.
Revista Canavieiros: Biotecnologia x melhoramento. Por favor, fale sobre essa dobradinha.
Adriana Brondani: Melhoramento genético é o processo de selecionar ou modificar intencionalmente o material genético de um ser vivo para obterem-se indivíduos com características de interesse. As técnicas utilizadas antes do desenvolvimento da engenharia genética são chamadas de clássicas e constituem o melhoramento genético convencional, que está na base do desenvolvimento da civilização, baseada na agricultura e na domesticação animal. O melhoramento feito pelo cruzamento de espécies iguais ou similares é um processo lento e de difícil controle. Com o avanço da engenharia genética e da biotecnologia, o desenvolvimento de novos cultivares com diferentes atributos genéticos ficou mais preciso e eficiente e, eventualmente, mais rápido. O pesquisador interfere de forma controlada e intencional no DNA, troca genes e alcança a meta esperada para determinada variedade, sem que ela perca as características que se pretende conservar.
Revista Canavieiros: Ao longo das últimas décadas, a produção agrícola brasileira de grãos cresceu 350% enquanto a área aumentou 50%. O que se pode esperar daqui para frente?
Adriana Brondani: As inovações agrícolas podem fazer com que a agricultura seja uma atividade ainda mais sustentável. Em conjunto com outras tecnologias, a biotecnologia aumentou a produtividade das culturas para as quais está disponível e há potencial de continuar entregando esses benefícios.
Por: Fernanda Clariano
Revista Canavieiros: O que é a biotecnologia?
Adriana Brondani: A biotecnologia é o conjunto de técnicas que envolvem a manipulação de organismos vivos para modificação de produtos com fins específicos. A palavra tem origem grega: “bio” significa vida, “techné” remete a técnica e “logos” quer dizer “conhecimento”. A biotecnologia é usada desde a Antiguidade, em um processo bastante artesanal para produção de pães e bebidas fermentadas. Hoje, ela utiliza materiais e técnicas de última geração, como a do DNA recombinante. O desenvolvimento dessa área ocorreu com o avanço nas pesquisas sobre genomas, microbiologia, biologia molecular, bioquímica, bioinformática e engenharia genética.
A biotecnologia moderna é empregada tanto nas áreas da saúde e agricultura quanto nas indústrias de alimentos, têxtil, química, ambiental, papel e mineração, entre outras. No sabão em pó, por exemplo, enzimas resistentes às condições do processo de lavagem produzidas por bactérias geneticamente modificadas são usadas para degradar gorduras, carboidratos e proteínas nos tecidos sujos. Essas enzimas também podem ser usadas para tornar as fibras dos jeans mais macias e obter o efeito “desbotado”, sem poluir o meio ambiente como fazia o processo de “stonewashing”, que utilizava pedras e ácido. A biotecnologia é usada também para desenvolver óleos vegetais quimicamente semelhantes ao petróleo cru, o que serve de matéria-prima para tintas de parede, revestimentos e plásticos.
Já a biotecnologia agrícola tem contribuído para melhorar as plantas geneticamente, desenvolvendo vegetais que, entre outras características, são mais protegidos contra pragas e, consequentemente, reduzem as perdas na lavoura. Isso é feito de forma sustentável e está alinhado com outros esforços de conservação ambiental. Dessa forma, a biotecnologia agrícola vem ajudando a produzir espécies mais adaptadas a condições adversas de clima e solo, além de mais resistentes a pragas, doenças e pesticidas. Com a biotecnologia, também tem sido possível reduzir custos e perdas pós-colheitas, pela produção de variedades que amadurecem mais lentamente que as convencionais. Permite, ainda, um uso mais eficiente do solo – como o plantio direto, que evita a erosão – e oferece novas possibilidades para os cultivos tradicionais, como a produção, por meio de plantas, de plásticos biodegradáveis, tecidos com amido e compostos farmacêuticos.
Revista Canavieiros? Quais os benefícios socioeconômicos e ambientais da biotecnologia?
Adriana Brondani: A transgenia tem permitido ganhos de produtividade e aumento de renda para os agricultores que adotam essa tecnologia. Segundo a consultoria britânica PG Economics, se as sementes transgênicas não fossem adotadas, seriam necessários 19,5 milhões de hectares a mais para obter a mesma produção de soja, milho, algodão e canola plantadas em todo o mundo em 2015.
De acordo com o relatório do ISAAA (Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia) de 2017, a adoção de OGM (Organismos Geneticamente Modificados) globalmente gerou uma redução das emissões de dióxido de carbono (CO²) equivalente à retirada de cerca de 12 milhões de carros das ruas em um ano. Esses dados mostram que a biotecnologia agrícola é uma das ferramentas que contribuem para que os países cumpram a recomendação da ONU (Organização das Nações Unidas) de reduzir significativamente a emissão de gases do efeito estufa até 2030.
Do ponto de vista socioeconômico, nos países em desenvolvimento, as sementes GM (Geneticamente Modificadas) contribuíram para o aumento de renda de aproximadamente 18 milhões de agricultores.
Revista Canavieiros: Quais os entraves na área da biotecnologia?
Adriana Brondani: O fomento à pesquisa tem forte impacto no desenvolvimento científico de maneira geral. No que diz respeito à biotecnologia, o marco legal brasileiro é um fator que nos favorece. O Brasil conta com uma legislação de biossegurança desde 1995, com a entrada em vigor da Lei 8.974/95, que estabeleceu normas de biossegurança para regular a manipulação e o uso de OGM no país. Dez anos depois, essa lei foi substituída por uma nova, a Lei de Biossegurança 11.105/05, que atualizou os termos da regulação de OGM no Brasil, incluindo pesquisa em contenção, experimentação em campo, transporte, importação, produção, armazenamento e comercialização. O processo regulatório brasileiro é reconhecido internacionalmente como um dos mais rígidos e completos do mundo.
Por outro lado, o desconhecimento de parte da população sobre os benefícios e segurança dos OGM impacta negativamente no desenvolvimento de produtos a partir desse conhecimento científico, principalmente na área de alimentos. Isso acontece apesar dos rigorosos testes de biossegurança realizados em todo o mundo, que atestam não haver problemas de saúde relacionados com a ingestão de alimentos transgênicos ou seus derivados.
Revista Canavieiros: Qual a área plantada de transgênicos no mundo? E qual a área do Brasil?
Adriana Brondani: Em todo o mundo, 26 países plantaram 185,1 milhões de ha com variedades GM em 2016, um crescimento de 3% se comparado com os 179,7 cultivados em 2015. O Brasil cultivou 49,1 milhões de ha com culturas transgênicas em 2016, um crescimento de 11% em relação a 2015 ou o equivalente a 4,9 milhões de ha. Nenhum outro país do mundo apresentou um crescimento tão expressivo. Com essa área, a agricultura brasileira está atrás apenas dos Estados Unidos (72,9 milhões de ha) no ranking global de adoção de biotecnologia agrícola. Além de Estados Unidos e Brasil, cabe destacar as áreas plantadas com OGM na Argentina (23,8 mi/ha), no Canadá (11,6 mi/ha) e na Índia (10,8 mi/ha). Esses dados estão no mais recente relatório do ISAAA.
Revista Canavieiros: Quais as espécies transgênicas cultivadas comercialmente?
Adriana Brondani: No Brasil, estão aprovadas comercialmente hoje variedades transgênicas de soja, milho, algodão, feijão, eucalipto e cana. Dessas seis variedades, apenas soja, milho e algodão já estão sendo cultivados para consumo. Além de plantas, o Governo já autorizou o uso de componentes geneticamente modificados em vacinas, microrganismos (como leveduras e microalgas) e no mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue, zika vírus e febre chikungunya.
No site do CIB, é possível consultar todos os OGM aprovados no Brasil:
http://cib.org.br/produtos-aprovados/
http://cib.org.br/produtos-aprovados/outros-ogm-aprovados-no-brasil/
Revista Canavieiros: Recentemente a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) aprovou a primeira cana transgênica do mundo. Qual foi sua área de teste e, após essa aprovação, quanto tempo ela demora a estar disponível no mercado?
Adriana Brondani: Os testes com a cana Bt aprovada pela CTNBio foram realizados em áreas das regiões para as quais a variedade é destinada. Todos os testes seguiram as normas de biossegurança vigentes. Neste momento, a cana Bt está em processo de produção de mudas e os plantios deverão ter início nos próximos meses. O cultivo da cana tem características específicas, independentemente de ser GM ou convencional. Os primeiros plantios de uma nova variedade são feitos em áreas de viveiros para serem multiplicados três vezes antes de um plantio comercial. Desta forma, as primeiras áreas comerciais da nova cana Bt devem ser industrializadas em três anos.
Revista Canavieiros: Cerca de 40 países tiveram 3.768 produtos transgênicos aprovados. Como está o Brasil neste contexto e qual a destinação dessas aprovações?
Adriana Brondani: O número de aprovações no Brasil é de 116 (até agosto de 2017). Essas aprovações são inovações na área de agrícola (soja, milho, algodão, feijão, eucalipto e cana-de-açúcar, dos quais apenas os três primeiros já estão no mercado), na área da saúde (vacinas para uso humano e veterinário) e na área industrial (microrganismos). Os produtos se destinam ao mercado interno e para exportar para os países também aprovaram os mesmos eventos transgênicos.
Revista Canavieiros: Qual é o objetivo das aprovações?
Adriana Brondani: O trabalho criterioso da CTNBio tem como objetivo garantir que os produtos aprovados no Brasil sejam seguros para a saúde animal e humana e também para o meio ambiente. Os desenvolvedores de tecnologias transgênicas buscam, por meio de abordagens genéticas e de biologia molecular, entregar produtos que, de alguma maneira, contribuam para resolver um problema ou para melhorar um processo produtivo.
Revista Canavieiros? Quais as características das plantas transgênicas?
Adriana Brondani: As principais características das plantas transgênicas aprovadas comercialmente hoje no Brasil e no mundo são agronômicas: resistência a insetos, tolerância a herbicidas e a combinação dessas duas. Essas soluções tecnológicas facilitam o manejo do produtor no campo e, por meio da redução de perdas, trazem ganhos e produtividade.
Revista Canavieiros: Quais os benefícios das lavouras transgênicas?
Adriana Brondani: Sabemos que a prática da agricultura em climas tropicais ou subtropicais (como os do Brasil) enfrenta grande pressão de plantas daninhas e de insetos. Boa parte dos transgênicos disponíveis hoje têm benefícios agronômicos, ou seja, características que ajudam as culturas transgênicas a produzirem melhor nesse ambiente em que outras plantas competem pelos nutrientes e em que insetos atacam as lavouras. Para manter os atuais níveis de produtividade sem as sementes transgênicas, os produtores teriam que lançar mão de outras estratégias de controle, o que poderia provocar aumento do uso de defensivos agrícolas, combustível (para maquinário) e água. Isso significa que os OGM contribuem para que a agricultura seja uma atividade mais sustentável.
Revista Canavieiros: O que seria a edição gênica e o que diferencia a inovação da biotecnologia, da edição gênica?
Adriana Brondani: Até recentemente, as ferramentas disponíveis de engenharia genética permitiam alterações dos blocos maiores de sequências de DNA inseridos no genoma da espécie-alvo. Avanços na área, agora, permitem a obtenção de novas variações, com modificações dirigidas a uma determinada região do genoma-alvo, como mutações específicas, inserções e substituições de genes e/ou blocos de genes. Essas técnicas são alternativas poderosas para o desenvolvimento de plantas com alto valor agregado para a agricultura, indústria ou a medicina. A edição genética faz parte dessas novas abordagens e é utilizada para melhorar diversas plantas, com o diferencial de poder criar um indivíduo com nova variação genética sem possuir um gene de outra espécie.
Revista Canavieiros: Biotecnologia x melhoramento. Por favor, fale sobre essa dobradinha.
Adriana Brondani: Melhoramento genético é o processo de selecionar ou modificar intencionalmente o material genético de um ser vivo para obterem-se indivíduos com características de interesse. As técnicas utilizadas antes do desenvolvimento da engenharia genética são chamadas de clássicas e constituem o melhoramento genético convencional, que está na base do desenvolvimento da civilização, baseada na agricultura e na domesticação animal. O melhoramento feito pelo cruzamento de espécies iguais ou similares é um processo lento e de difícil controle. Com o avanço da engenharia genética e da biotecnologia, o desenvolvimento de novos cultivares com diferentes atributos genéticos ficou mais preciso e eficiente e, eventualmente, mais rápido. O pesquisador interfere de forma controlada e intencional no DNA, troca genes e alcança a meta esperada para determinada variedade, sem que ela perca as características que se pretende conservar.
Revista Canavieiros: Ao longo das últimas décadas, a produção agrícola brasileira de grãos cresceu 350% enquanto a área aumentou 50%. O que se pode esperar daqui para frente?
Adriana Brondani: As inovações agrícolas podem fazer com que a agricultura seja uma atividade ainda mais sustentável. Em conjunto com outras tecnologias, a biotecnologia aumentou a produtividade das culturas para as quais está disponível e há potencial de continuar entregando esses benefícios.