A Canaoeste e o cálculo de custos
07/12/2017
Noticias Copercana
POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra
Todo produtor rural, pequeno ou grande, sabe da importância em desenvolver uma gestão de custos dentro de sua propriedade. Porém também sabe o quanto é complicado iniciar esse tipo de cálculo. Dentre os principais desafios estão a implantação de uma rotina de apontamento e também a mensuração da profundidade dos dados que realmente serão relevantes conforme as características da propriedade.
Se em uma fazenda há outra cultura, ou uma criação, junto com o canavial e também consome recursos, como mão-de-obra ou hora de máquina por exemplo, o agricultor precisa desenvolver uma forma onde o seu funcionário vai informar quanto tempo se dedicou em cada função para, no final de um ano, ou de uma safra, saber qual foi a rentabilidade de cada produção.
Encarar uma empreitada dessas sozinho não é nada fácil. O pequeno produtor, que teoricamente tem o seu cálculo de custo mais simplificado, geralmente não possui recursos (tanto humano como financeiro) para desenvolver um trabalho bem feito. Quanto maior vai ficando, mais complexos vão ficando as planilhas e sistemas e cada vez mais alto vai se tornando o valor da mensuração de custos.
Para o associado Canaoeste, boa parte dos problemas são agilizados, isso porque sua equipe técnica possui profissionais que orientam o produtor qual o caminho correto para conseguir executar um trabalho condizente com a realidade de cada um. Além disso, a associação realiza um estudo onde o participante responde a um questionário sobre diversos custos diferentes de todo o processo produtivo da cultura (preparo do solo, plantio, trato de cana planta e trato de cana soca), que servirá de base para ele conhecer os gargalos de seu trabalho, através do comparativo com a média de sua região e tamanho.
Sem a presença do serviço prestado pela associação, a estrada da implementação de uma gestão e controle de custos eficiente na propriedade pode haver buracos que faça o produtor perder recursos para a promessa de softwares que dizem entregar tudo pronto ou então consultorias que no final das contas estarão nas primeiras colocações no ranking de maior investimento da safra.
A Revista Canavieiros entrevistou o fornecedor de cana e diretor da Canaoeste, Paulo Paulista Leite Silva Júnior, durante a “Oficina sobre Cálculo de Custos” realizada pelo Pecege, em Ribeirão Preto, sobre o tema. Confira os seus pontos de vista.
Revista Canavieiros: Por que o fornecedor de cana precisa se aprofundar mais nos cálculos de custos de sua atividade?
Paulo Paulista: O primeiro ponto é que o fornecedor tem que encarar a propriedade dele como qualquer outra empresa. Partindo desse princípio ele precisa se dedicar em realizar orçamentos e planejamentos e para isso vai ter que buscar conhecimento sobre a área de custos. Com isso ele passará a enxergar a rentabilidade da atividade e conseguirá tomar as medidas necessárias para alavancar a sua performance.
Revista Canavieiros: Tendo em vista a sua experiência como produtor aliado ao conteúdo assimilado nessa oficina sobre custos, o quanto profundo terá que ser o cálculo dos custos para conseguir fazer uma boa leitura do seu negócio?
Paulo Paulista: O passo inicial é conhecer a produção como um todo. Com esse cenário em mãos será possível enxergar onde estão os ralos, os ladrões de recursos. A partir daí, com o ganho de conhecimento e tempo de recolhimento dos dados, os indicadores vão ficando cada vez mais nítidos e exatos. Porém, antes disso é necessário planejar e organizar a estrutura de apontamento dos dados, esse é com certeza o grande gargalo para o fornecedor de cana.
Revista Canavieiros: Fale um pouco mais sobre a realidade em uma propriedade rural sob o foco do apontamento de dados?
Paulo Paulista: Na grande maioria dos casos há uma falha muito grande de apontamento. Geralmente o fornecedor de cana solta a produção e não mede nada, não mede dados básicos como, por exemplo, o quanto uma máquina está consumindo de diesel ou quanto tempo leva para executar determinada atividade. Então falhar nesse quesito primário vai comprometer qualquer tentativa de levantamento de custos, não adianta contratar consultores ou investir em sistemas se não for feito o básico, que é o apontamento, pois sem apontamento não dá para medir custos.
Revista Canavieiros: Se levarmos em consideração que um pequeno ou médio produtor não tem braço suficiente para organizar uma estrutura de apontamento e cálculo de custos devido ao tempo que essa atividade demanda, como você propõe que ele possa se organizar?
Paulo Paulista: Eu enxergo que o tamanho do trabalho de cálculo de custo em uma fazenda está ligado ao seu tamanho (do produtor), então para o pequeno e médio fornecedor basta ter a iniciativa para primeiro buscar o conhecimento básico, depois planejar e executar bem uma metodologia de apontamento e, finalmente, organizar esses dados em uma simples planilha. Quanto maior e mais diversificada é a área aí a demanda por dados mais complexos também passa a crescer.
Revista Canavieiros: Tendo como base a sua experiência como fornecedor, quais são os principais custos da atividade?
Paulo Paulista: Sem dúvida nenhuma os insumos (fertilizantes e agroquímicos) e o CTT (corte, transbordo e transporte) são os que mais assombram um produtor de cana.
Revista Canavieiros: Na safra passada, o valor do ATR refletiu o boom dos preços do açúcar gerando uma boa remuneração para o fornecedor e todos sabem que o que aconteceu foi atípico. Baseado nisso, como você vê o comportamento dos preços na safra atual e também essas oscilações de preço?
Paulo Paulista: Em decorrência dos ótimos preços da safra passada, a tendência é que os números referentes ao valor do ATR sejam menores em 17/18. Acredito que não conseguirá atingir a casa dos R$ 0,60 por kg de ATR na média dos 12 meses, o que seria um cenário considerado ideal para os fornecedores. As oscilações de mercado estão atreladas ao negócio, pois o produto final da nossa matéria-prima são commodities. Quem já está há um tempo no mercado sabe da importância de aproveitar as marés boas, como a do ano passado, e ter a flexibilidade para conseguir operar de maneira mais enxuta nos períodos de ressaca.
Revista Canavieiros: Qual será o impacto para o produtor de cana se o RenovaBio entrar em vigor?
Paulo Paulista: Acredito que ele poderá alavancar a questão da remuneração, é uma grande esperança para toda cadeia produtiva, o problema que ele travou justamente a hora que foram envolvidas as questões políticas e tudo que depende de Brasília hoje é muito imprevisível. Portanto, o setor precisa ter um plano B, toda a cadeia precisa trabalhar de maneira intensa na questão do valor agregado, o ambiental, que o Etanol tem, esse ponto está sendo muito pouco explorado.
Acredito que quando a sociedade brasileira como um todo entender todo o passivo ambiental que o álcool é capaz de reduzir, o consumo vai melhorar independentemente de programas governamentais. Hoje o consumidor só pensa na conta dos 70%, somente no preço, faz a conta e somente se achar mais vantajoso coloca o biocombustível, a preocupação com o meio ambiente é praticamente nula.
Revista Canavieiros: Como você vê o Consecana hoje? Quais aspectos precisam ser alterados ou revistos no sentido de tornar mais justa a remuneração do fornecedor?
Paulo Paulista: O Consecana está defasado há algum tempo, uma revisão passou do tempo para ser feita. O combinado era de que a cada 5 anos ele teria que ser revisto. Alguma coisa foi feita, mas as mudanças foram mais políticas, nada tecnicamente embasado e o ponto principal é a questão da participação da matéria-prima no sistema como um todo. Além disso o cenário mudou, hoje temos outros produtos sendo produzidos, como por exemplo a palha e o bagaço, que não estão sendo contemplados, então a revisão precisa ter esse foco.
Revista Canavieiros: Na sua visão, hoje é melhor o produtor investir em maquinário próprio ou participar de uma frente no caso do CCT ou então focar na qualidade de seu canavial e negociar com a unidade industrial descontos por desempenho de produtividade?
Paulo Paulista: Isso pode variar muito em cada região produtora, por exemplo. Em locais onde existe uma competitividade maior pela cana, compensa investir em qualidade, porque de qualquer forma vai conseguir que a usina vá lá e preste o serviço, e acaba tendo até subsídio em cima desse CCT. No caso onde a concorrência é menor, talvez seja mais viável montar uma frente, mas essa frente depende de várias coisas, a questão principal é sobre a gestão desse maquinário.