O senhor Adamo Meloni, foi um dos fundadores da Copercana, no dia 19 de maio de 1963. Será que passava por sua cabeça que seu neto, Marcio Fernando, com dois anos na época, viria a ser um dos principais nomes no processo de desenvolvimento e crescimento nas cinco primeiras décadas de vida da Cocred (Será que o cooperativismo de crédito também passava pela cabeça dele?) e depois ainda encararia o desafio de trazer as operações de varejo da Copercana para os trilhos da evolução não apenas física, mas principalmente tecnológica e sustentável?
Contratado pela Cocred como office boy aos quatorze anos de idade em 1976, a carteira de trabalho de Marcio Meloni foi a quarta registrada pela cooperativa de crédito que ainda era muito pequena, instalada dentro da Copercana, ele lembra que ela funcionava praticamente como um departamento, numa única sala.
“Fui crescendo junto com a cooperativa, iniciei meus estudos de faculdade trabalhando na Cocred, me formei trabalhando na Cocred, casei trabalhando na Cocred, tive meus filhos trabalhando na Cocred, meus filhos casaram e eu estava na Cocred, tudo isso ao longo de 42 anos. Depois vim para a Copercana e neste ano tive a felicidade de me tornar avô, toda a minha vida foi dedicada ao cooperativismo e devo a ele o que sou e a família que tenho”, disse o diretor comercial varejo da Copercana, Marcio Meloni.

Formado em ciências contábeis, mas com um forte perfil de liderança e empreendedorismo, ele foi crescendo e ganhando experiência direcionando sua carreira para o lado da gestão, o que o levou à gerência administrativa e mais tarde à diretoria: “Ainda nos tempos de Cocred eu contribui para que ela atingisse a marca de segunda maior cooperativa de crédito do Brasil e tenho certeza que em breve ocupará o primeiro lugar, dá muito orgulho de ver de onde começamos, com quatro funcionários dentro de uma sala, e ver o tamanho de sua estrutura”.
Sua carreira não faz dele apenas uma testemunha da evolução da Cocred, mas do cooperativismo de crédito brasileiro, isso porque as maiores cooperativas ligadas à atividade rural de hoje iniciaram seus trabalhos mais ou menos na mesma época e a falta de estruturação trazia desafios que hoje fatalmente inviabilizariam os empreendimentos.
Meloni cita por exemplo uma simples compensação de cheque: “os bancos aonde eles eram depositados precisavam leva-los até a Cocred para realizar a troca pelo dinheiro. Era uma compensação totalmente manual, caseira. No começo não tínhamos um banco por trás para dar sustentação, não havia um sistema integrado, cada cooperativa trabalhava de maneira isolada”.
Diante de tal cenário, ele atribui a credibilidade da Copercana e sua diretoria como o fator determinante para a sobrevivência da empreitada: “Quem coloca dinheiro num negócio sem uma estrutura para dar alguma garantia, o impulso foi na credibilidade do Toninho Tonielo, do Fernandes dos Reis, da equipe que começava a ser formada, nossa carteira inicial era constituída apenas por pessoas que acreditavam em nós”.
Ele conta ainda que a primeira central de cooperativas surgiu a partir da segunda metade da década de 90, ou seja, foram quase vinte anos de caminhada solitária, desenvolvendo sistemas de maneira interna, adquirindo equipamentos individualmente, enfim, potencializando dificuldades pelo fato de estar sozinho, contudo para quem as supera, consegue sair muito mais fortalecido quando se une a outros sobreviventes destemidos.
“Acredito que esse período, embora muito desafiador, foi fundamental para o fortalecimento do cooperativismo de crédito, tanto que se pegar as maiores e mais consolidadas hoje, nasceram nesta época, deixamos toda organização preparada para crescer quando elas passassem a desenvolver uma estrutura em rede e sistematizada como é o Sicoob hoje”.

Uma visão macro do cooperativismo
Segue na íntegra uma das definições mais fantásticas sobre o cooperativismo que poderia ser feita somente por alguém com tanta experiência na área como Marcio Meloni tem:
“O cooperativismo é um rio o qual em uma das margens você tem o capitalismo e na outra o socialismo. Ele consegue absorver as virtudes das duas correntes de pensamento, ou seja, reduz a desigualdade social, pois faz uma distribuição de renda mais justa e igualitária, além de focar no desenvolvimento econômico regional, em decorrência do lucro ou ficar na cooperativa ou voltar para os cooperados, não há fuga de capital para outras localidades ou até mesmo países.
Do lado do capitalismo, ele potencializa a capacidade de cada um gerar riqueza, se pegar como exemplo o cooperativismo de crédito, através dele conseguimos tornar possível que a renda de um pequeno sitiante rendesse os juros que o mercado financeiro entrega, que ele conseguisse ter resultados igual a de um grande investidor.
Então o cooperativismo é a geração de riqueza regional e setorial distribuída perante a cooperação de cada um num universo que não é restrito somente ao grupo de cooperados, mas a toda a sociedade, pois gera empregos e demanda por uma infinidade de produtos e serviços, o que movimenta a indústria. Sem conflitos de classes, sem ideologias, sem milagres, sem concentração desproporcional de renda, é simplesmente o trabalho sendo remunerado pelo esforço”.
Ser gestor
“Na Sicoob Cocred se pensarmos em produto, fazíamos a venda de apenas um, que é o dinheiro. Quando você chega a uma operação de varejo e se depara com uma loja de supermercado que tem algo em torno dos 15 mil produtos, isso sem contar ferragens e postos, o susto é grande. Porém sempre acreditei que não importa o segmento de atuação, a principal virtude de um gestor é conseguir encaixar talentos nas funções corretas”, com este depoimento, Meloni resumiu sua forma de conduta deste que trocou o cooperativismo de crédito para o varejo, postura que já surtiu efeito, como é o caso da Distribuidora de Combustíveis.
Até 2019 havia problemas para expandir as vendas que dificilmente ultrapassavam a casa dos cinco milhões de litros por mês, o que levou a uma pressão muito grande até mesmo para a Copercana deixar de atuar no negócio, contudo através do remanejamento de funções e a contratação de novos profissionais, especialmente líderes com muita experiência na área, o jogo se inverteu e em apenas quatro anos ela já ultrapassou a marca dos 40 milhões de litros de vendas mensais.

Ainda sobre o sucesso profissional, ele carrega uma diretriz baseada em três fatores: humildade, conhecimento e atitude: “A humildade é fundamental para estar sempre se cobrando em adquirir de maneira constante mais conhecimento, pois se você achar que sabe tudo, o seu declínio profissional já começou. E a atitude, pois se não correr atrás, não lutar para modificar as coisas, não pensar em como pode contribuir para o negócio evoluir, de nada adianta ser humilde para aprender”.
O líder fala que muitas vezes é preciso deixar as coisas que ama, como a família, para se dedicar ao trabalho, que se for importante para a cooperativa, é preciso perder até mesmo uma amizade de longa data para ter que desligar uma pessoa.
Sicoob Cred Copercana
Um dos trabalhos que Meloni mais se orgulha foi a fundação da Sicoob Cred Copercana, uma cooperativa de crédito criada a princípio pelos colaboradores da Copercana, Sicoob Cocred e Canaoeste, mas que com seus quase 35 anos de fundação (que serão completados em 2024), expandiu sua atuação para familiares e também prestadores de serviços.
“Na época todos os funcionários recebiam por um banco tradicional, então se necessitavam de empréstimos eles tinham que ir até a agência, conversar com o gerente e cumprir com uma infinidade de trâmites burocráticos. Perante este cenário, muitos acabavam solicitando para a Copercana um adiantamento do salário que era descontado no pagamento e muitas vezes parcelado em diversas vezes.
"Como já havíamos percorrido um bom trecho no processo de criação da Cocred, eu e a equipe propusemos para a diretoria a criação de uma cooperativa de crédito para os funcionários para evitar os transtornos que era ir até uma agência bancária naquela época, muitos perdiam o dia de serviço em virtude das grandes filas, e por outro lado a Copercana não precisaria mais prestar o serviço de empréstimos, pois ele ficaria centralizado na Cred Copercana".
Então montamos uma turma que rodou a Copercana inteira explicando como iria funcionar e colhendo assinaturas de adesão que até hoje cumpre cada vez de maneira mais eficiente os seus dois objetivos principais e ainda vem em constante crescimento, permitindo que mais pessoas possam conhecer os benefícios do cooperativismo de crédito.
A importância do varejo para a Copercana
Diversos fatores justificam a presença das operações de varejo dentro do leque de atividades da Copercana sendo a mais lógica a diversificação de negócios e também conseguir atender as necessidades não somente do produtor cooperado, bem como da população em geral com uma infinidade de produtos, que vão desde combustíveis, linha automotiva, ferramentas, veterinários, itens de lazer e jardinagem, magazine, selaria, até os milhares de produtos presentes nas gôndolas e balcões dos supermercados.
Porém ao navegar por este universo, Meloni apresenta uma lista extensa que justificam a atuação da Copercana no varejo como por exemplo o fortalecimento da imagem institucional da cooperativa, como ele é um segmento que atende ao público, seu nome propaga muito mais.
A questão das vendas diárias também é importante para a cooperativa manter o seu caixa sempre oxigenado, bem como a grande quantidade de empregos diretos e indiretos que, principalmente os supermercados, geram.
Por fim, o executivo comenta sobre a necessidade de crescimento que o varejo tem e que acaba movimentando toda a organização, “certa vez ouvi que uma empresa é igual a andar de bicicleta, se parar de pedalar o tombo é certo, no varejo é igual andar de bicicleta numa subida, onde é preciso pedalar e ter muita força, pois se parar vai para trás. Por isso que nos mantemos fortes, somos uma das poucas cooperativas agropecuárias do estado de São Paulo que se manteve com as operações de postos e supermercados e não paramos com os investimentos em novas lojas, num processo acelerado de reforma, implantação de um novo Centro de Distribuição e, o que considero o mais importante, capacitando nossos colaboradores com treinamentos e trazendo processos consagrados através do investimento em tecnologia e consultorias”.
O cooperativismo e a família
“Eu considero uma instituição cooperativista muito parecida com uma família, pois para funcionar um precisa ajudar o outro e principalmente é preciso haver harmonia e convívio. Na educação de meus filhos, eu e minha esposa fizemos questão de levar esse conceito de coletividade, tanto que em casa ninguém decide nada sozinho, tudo é discutido e acordado entre todos”.
Na frase acima Meloni deixa transparecer que os mais de 40 anos que ele vive diariamente o cooperativismo moldou o seu caráter e foi o cimento na construção de grande parte de sua vida.
“Quando comecei era um moleque, lógico que sou muito grato a minha família que me deu amor e educação, que me passou valores, mas eu me considero com muita sorte na vida, pois além do cooperativismo, sempre tive ao meu redor gente decente, da melhor qualidade”, finalizou o cooperativista Marcio Meloni.
