A constatação é do professor doutor José Vicente Caixeta Filho, titular do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ/USP (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", da Universidade de São Paulo), sobre o setor considerado um dos principais gargalos ao desenvolvimento do Brasil: o de transporte e logística. A infraestrutura ineficiente do país impacta a competitividade dos produtos nacionais, dificultando a concorrência global.
Prova disto, é que os custos logísticos estão se tornando cada vez mais expressivos dentro do PIB (Produto Interno Bruto) do país.
Para mudar este cenário e deslanchar a infraestrutura nacional é preciso um esforço conjunto e regras claras, entre outras soluções, pontua Caixeta. “Há necessidade de uma transformação cultural, onde a educação é imprescindível para a formação de profissionais bem qualificados e preparados para tomarem decisões importantes e adequadas na área logística”, elucida, comentando que o crescimento da produção agropecuária brasileira também é prejudicado, já que, a precariedade do segmento impede o seu escoamento. No que tange ao setor sucroenergético, o gargalo está no CCT (corte, carregamento e transporte) da matéria-prima no campo, mas a cadeia canavieira vem conseguindo transpor alguns problemas, servindo de exemplos com algumas iniciativas.
Nesta entrevista exclusiva dada a Revista Canavieiros, o profissional aborda outros desafios para melhorar a infraestrutura nacional, como também fala sobre a importância de ter sido o vencedor na categoria “Vida e Obra”, da 61ª edição do Prêmio Fundação Bunge, um dos mais importantes e respeitados prêmios da área acadêmica brasileira. A premiação reconhece profissionais e especialistas que desenvolvem obras e trabalhos relevantes nas áreas das Ciências Agrárias e das Ciências Exatas e Tecnológicas, dentro da qual o professor foi selecionado por suas pesquisas e produções ligadas ao tema "Infraestrutura de transportes".
“O Prêmio é muito importante porque reconhece o trabalho pioneiro que tem sido feito na ESALQ/USP, relacionado à logística agroindustrial e à infraestrutura de transporte, dentro do ambiente acadêmico da agricultura.
Também é um reconhecimento externo importante ao trabalho realizado pelo Grupo ESALQ-LOG (Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial), o qual coordeno e que atua fortemente no desenvolvimento de projetos e soluções relacionadas à logística agroindustrial”, afirma o professor, que em sua trajetória, se destaca pelo pioneirismo da pesquisa na área de Logística Agroindustrial, sendo o maior impulsionador da implantação e desenvolvimento do ESALQ-LOG. O Grupo possui mais de uma década de estudos sobre Logística, Transportes, Infraestrutura Modal e Mercado de Fretes.
Caixeta, que foi diretor da ESALQ/USP, entre 2011 e 2015, e é formado em engenharia civil pela EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) e mestre em economia pela Universidade de New England, Austrália, se junta a um seleto grupo de pouco mais de 180 vencedores, indicados nos 61 anos do prêmio, entre eles, Jorge Amado, Oscar Niemeyer, Ruth Rocha, Carlos Chagas Filho, Eurípedes Malavolta, Guto Indio da Costa, Adriana Lisboa e Fernando Abrucio.
O resultado dos vencedores em 2016 foi revelado no dia 22 de julho e a cerimônia oficial da premiação acontece no dia 23 de novembro, no Palácio dos Bandeirantes, na capital paulista.
Confira a entrevista:
Revista Canavieiros: Em sua opinião, atualmente quais são os principais desafios da logística agroindustrial?
Caixeta Filho: Os principais desafios envolvem os custos de transporte, armazenamento e expedição de cargas. Especificamente na logística agroindustrial existe uma predominância na movimentação de matérias-primas que, no caso agrícola, têm baixo valor agregado. Isso impacta diretamente o valor do transporte e da armazenagem e, por consequência, acaba elevando o valor final do produto. Esse é um desafio complicado. Um segmento como o agroindustrial, que é muito representativo na movimentação de cargas, superando 1 bilhão de toneladas/ano, precisa ser mais ouvido pelos agentes públicos e privados para que os gargalos existentes sejam mitigados. É importante ter tecnologia e infraestrutura mais adequada ao transporte e à armazenagem, pois os custos são elevados em função das estruturas defasadas em termos de tecnologia e de manutenção.
Revista Canavieiros: Uma pesquisa recente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) apontou que o transporte é o maior entrave à exportação. Como se resolve este problema?
Caixeta Filho: Os problemas citados anteriormente confirmam o que a pesquisa aponta. Na exportação das matérias-primas agrícolas existem inúmeras dificuldades, que já são históricas, como a dependência do transporte rodoviário, onde os agentes até se esforçam para atender à demanda, mas não conseguem oferecer a qualidade esperada. O custo rodoviário é elevado em comparação com os custos ferroviários e hidroviários e, infelizmente, isso deve perdurar por um bom tempo, principalmente se observado o cronograma previsto para as obras que venham envolver outras modalidades de transporte.
Na exportação de cargas agrícolas o porto tem papel fundamental, mas as dificuldades de desembaraço de carga nos portos contribuem para o entrave. Mesmo com alternativas de gestão ou tecnológicas, as filas portuárias são elevadas e existem custos adicionais. A logística pressupõe a integração e otimização e isso atualmente não é observado durante o transporte de cargas.
Revista Canavieiros: O senhor declarou uma vez que a estrutura atual em logística e infraestrutura brasileira possui um desenho partidário e não de política pública e que falta uma visão integrada de logística no país. Como mudar este cenário? Há perspectivas para que isso ocorra em um futuro próximo?
Caixeta Filho: Existe um costume de tempos no país onde o político está disposto a investir em algo que incremente sua visibilidade, mas limitado ao período do seu mandato. Então, nos 4 anos, o político prefere inaugurar 300 km de rodovia do que 50 km de ferrovia.
O ponto é: a visão política fica condicionada à oportunidade de quais obras podem ser realizadas dentro daquele mandato. Independentemente do partido no governo, deveria haver um compromisso com uma agenda estratégica.
A construção de uma ferrovia é uma obra que implica um tempo de maturação mais longo. Se não é possível fazer no mesmo ritmo das rodovias, que sejam feitos 20 ou 30 km e que os sucessores continuem. Isso é pensar a médio-longo prazo, com visão estratégica para o país. Deveria haver um compromisso com uma agenda mínima estratégica para obras e soluções de logística, sem apelo partidário, mas como obrigação para quem está no poder.
Revista Canavieiros: Uma logística mais eficiente é o ideal para atender às demandas do agronegócio, segmento que cresce a cada ano. Neste contexto, quais são as soluções de curto, médio e longo prazo para o setor de transporte e logística nacional?
Caixeta Filho: Vamos começar pelo longo prazo: as soluções implicam uma transformação cultural, onde a educação é imprescindível para a formação de profissionais bem qualificados e preparados para tomarem decisões importantes e adequadas na área logística; entretanto, o processo de formação de pessoas normalmente consome longos períodos de tempo.
A médio prazo é importante que exista a integração entre os diversos agentes envolvidos com a logística, como federações e instituições representativas diversas, que atuando de forma organizada, associem forças para embasar solicitações das autoridades públicas e/ou privadas. Sozinho ninguém resolverá nada.
E a curto prazo é preciso definir um inventário detalhado, um mapeamento claro das cadeias logísticas, para que seja possível planejar ações de manutenção corretiva e preventiva pelos agentes envolvidos. Com isso, ficaria muito mais fácil detectar onde estão os problemas emergenciais.
Revista Canavieiros: O que deve ser feito para incrementar a eficiência das atividades logísticas para o setor sucroenergético, na sua visão?
Caixeta Filho: O setor sucroenergético é um segmento que tem dado bons exemplos no que diz respeito a implementos rodoviários robustos e sofisticados. Isso vale para atividades relacionadas à movimentação do produto acabado - seja açúcar ou etanol - e armazenagem intermediária e portuária. Hoje o gargalo está no CCT (corte, carregamento e transporte) da matéria-prima no campo. É fundamental ter um planejamento adequado dos talhões canavieiros para que exista de fato uma certa lógica de maturação da cana e para que não exista movimentação desnecessária de equipamentos.
Minimizar a movimentação logística no corte e carregamento no campo pode proporcionar muita eficiência e ganhos nesse elo da cadeia, inclusive num cenário onde não existe mais queima de cana e a colheita mecânica já está implementada.
O planejamento de CCT é fundamental para o incremento da eficiência do setor. Por isso, esse será o tema do 14º Seminário Internacional em Logística Agroindustrial, que acontecerá no dia 10 de abril de 2017, na sede do ESALQ-LOG, em Piracicaba.
Revista Canavieiros: É fato que existe uma deficiência histórica em relação à armazenagem. Qual é o caminho para solucionar este gargalo? O Brasil está atrasado em relação à armazenagem e infraestrutura de um modo geral com relação aos outros países?
Caixeta Filho: Entendo que primeiro existe um problema cultural quando pensamos na prática de armazenagem. O produtor de soja, por exemplo, quando colhe já quer movimentar a safra colhida, e esse é um momento onde a demanda pelo transporte está elevada e o preço do frete também acompanha essa elevação. A ineficiência da estrutura de armazenamento acaba impactando inclusive o transporte. A solução passa pela compreensão de que as novas áreas de fronteira têm potencial para receber novas estruturas de armazenamento, e que essas estruturas precisam ser acessadas pelos pequenos e médios produtores, que não conseguem fazer investimentos sozinhos, mas que poderiam participar de uma gestão compartilhada da estrutura de armazéns. Por outro lado, já existe uma série de alternativas baratas e inovadoras, como os silo-bags (originalmente concebidos para o armazenamento de silagem), ajustados a diversos tipos de granéis.
Revista Canavieiros: Pode se dizer que a Lei dos Portos é um impacto positivo no sentido de resolver os gargalos logísticos do país?
Caixeta Filho: Das mudanças estruturais, a Lei da Modernização do Portos é a que podemos considerar, com certeza, a mais permanente. A modernização dos portos é um fato irreversível, visto no sul e sudeste, especialmente em Santos, onde a gestão da mão de obra portuária avulsa já é uma realidade clara. De qualquer forma, se espera mais e maiores investimentos em armazenagem nas áreas retroportuárias.
Revista Canavieiros: O setor ferroviário brasileiro entrou em um novo cenário de ascendência, mas existem muitos desafios a serem superados para elevar a movimentação das cargas pelos trilhos, principalmente em relação ao açúcar e etanol. O que deve ser feito para resolver esta questão?
Caixeta Filho: Quase que invariavelmente existe uma simpatia pelo modal ferroviário, mas os investimentos ainda não são suficientes. As atuais concessionárias não estão motivadas para ampliar e estender a malha ferroviária sob sua responsabilidade. Estamos muito perto do vencimento do prazo da concessão inicial e não se sabe como será a renovação. Nesse período inicial de concessão, vários trechos foram desativados. Para os novos potenciais investidores, o principal gargalo é a falta do marco regulatório, para que as regras do jogo estejam claras.
Existe recurso disponível, mas não há um conjunto de regras que estimule o investidor, sejam os novos ou mesmo as atuais concessionárias, por causa dos altos riscos envolvidos. Revista Canavieiros: O senhor acredita que o PPI (Programa de Parcerias e Investimento), criado recentemente pela MP (Medida Provisória) 727/2016, poderá realmente agilizar as concessões públicas federais? Falando sobre concessões ainda, o modelo atual não é um entrave ao investimento no setor?
Caixeta Filho: O Programa de Parcerias Público-Privadas é uma alternativa interessante tanto para o setor público quanto para o setor privado. Existem inúmeros exemplos de sucesso no exterior, mas no Brasil isso ainda caminha a passos lentos. Há extrema dependência do setor público, para a efetiva realização de obras de infraestrutura, da Lei 8.666/93, que trata de um sistema licitações onde o menor preço vence, o que não significa que haverá garantia de qualidade ou que se chegará à melhor solução.
Revista Canavieiros: O senhor foi o vencedor da categoria “Vida e Obra” da 61ª edição do Prêmio Fundação Bunge, pelo conjunto de obras voltadas ao Transporte e Logística dentro da ESALQ, uma área relativamente recente no escopo da instituição. Qual a importância dessa premiação?
Caixeta Filho: O Prêmio é muito importante porque reconhece o trabalho pioneiro que tem sido feito na ESALQ/USP, relacionado à logística agroindustrial e à infraestrutura de transporte, dentro do ambiente acadêmico da agricultura. Também é um reconhecimento externo importante ao trabalho realizado pelo Grupo ESALQ-LOG, o qual coordeno e que atua fortemente no desenvolvimento de projetos e soluções relacionadas à logística agroindustrial Revista Canavieiros: Como as pesquisas realizadas pelo ESALQ-LOG podem contribuir para combater e evitar o apagão logístico?
Caixeta Filho: O setor agroindustrial, em particular a agricultura, tem batido recordes de produção e isso não tem sido acompanhado por investimentos em infraestrutura. Então, as pesquisas do Grupo ESALQ-LOG têm sinalizado para a caracterização de determinados tipos de investimento com foco em amenizar esse descompasso, promovendo o envolvimento com os mais diversos agentes para contribuir para a melhoria dessa situação.
Revista Canavieiros: O ESALQ-LOG em conjunto com a Abralog (Associação
Brasileira de Logística) realizará o 4º Seminário de Transporte e Logística, no dia 26 de agosto, durante a Fenasucro. Qual a importância de se debater o segmento dentro da principal feira do setor sucroenergético, uma cadeia que tem um custo estimado de R$ 8 bilhões para movimentação e armazenagens, entre outros, nesta safra, valor que deve crescer ainda mais com a expansão da produção?
Caixeta Filho: Trata-se de uma valiosa contribuição técnica para ampliar a qualidade do debate sobre o tema na principal feira do setor sucroenergético do país. As despesas de transporte e armazenagem e os custos ligados as atividades devem crescer com a expansão da fronteira agrícola observada pelo segmento; por isso, esse fórum, com o apoio da Fenasucro, passa a ser uma referência importante para a busca de soluções de otimização do setor, liderada por duas instituições representativas do segmento que são a Abralog e o Grupo ESALQ-LOG.
A constatação é do professor doutor José Vicente Caixeta Filho, titular do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ/USP (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", da Universidade de São Paulo), sobre o setor considerado um dos principais gargalos ao desenvolvimento do Brasil: o de transporte e logística. A infraestrutura ineficiente do país impacta a competitividade dos produtos nacionais, dificultando a concorrência global.
Prova disto, é que os custos logísticos estão se tornando cada vez mais expressivos dentro do PIB (Produto Interno Bruto) do país.
Para mudar este cenário e deslanchar a infraestrutura nacional é preciso um esforço conjunto e regras claras, entre outras soluções, pontua Caixeta. “Há necessidade de uma transformação cultural, onde a educação é imprescindível para a formação de profissionais bem qualificados e preparados para tomarem decisões importantes e adequadas na área logística”, elucida, comentando que o crescimento da produção agropecuária brasileira também é prejudicado, já que, a precariedade do segmento impede o seu escoamento. No que tange ao setor sucroenergético, o gargalo está no CCT (corte, carregamento e transporte) da matéria-prima no campo, mas a cadeia canavieira vem conseguindo transpor alguns problemas, servindo de exemplos com algumas iniciativas.
Nesta entrevista exclusiva dada a Revista Canavieiros, o profissional aborda outros desafios para melhorar a infraestrutura nacional, como também fala sobre a importância de ter sido o vencedor na categoria “Vida e Obra”, da 61ª edição do Prêmio Fundação Bunge, um dos mais importantes e respeitados prêmios da área acadêmica brasileira. A premiação reconhece profissionais e especialistas que desenvolvem obras e trabalhos relevantes nas áreas das Ciências Agrárias e das Ciências Exatas e Tecnológicas, dentro da qual o professor foi selecionado por suas pesquisas e produções ligadas ao tema "Infraestrutura de transportes".
“O Prêmio é muito importante porque reconhece o trabalho pioneiro que tem sido feito na ESALQ/USP, relacionado à logística agroindustrial e à infraestrutura de transporte, dentro do ambiente acadêmico da agricultura.
Também é um reconhecimento externo importante ao trabalho realizado pelo Grupo ESALQ-LOG (Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial), o qual coordeno e que atua fortemente no desenvolvimento de projetos e soluções relacionadas à logística agroindustrial”, afirma o professor, que em sua trajetória, se destaca pelo pioneirismo da pesquisa na área de Logística Agroindustrial, sendo o maior impulsionador da implantação e desenvolvimento do ESALQ-LOG. O Grupo possui mais de uma década de estudos sobre Logística, Transportes, Infraestrutura Modal e Mercado de Fretes.
Caixeta, que foi diretor da ESALQ/USP, entre 2011 e 2015, e é formado em engenharia civil pela EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) e mestre em economia pela Universidade de New England, Austrália, se junta a um seleto grupo de pouco mais de 180 vencedores, indicados nos 61 anos do prêmio, entre eles, Jorge Amado, Oscar Niemeyer, Ruth Rocha, Carlos Chagas Filho, Eurípedes Malavolta, Guto Indio da Costa, Adriana Lisboa e Fernando Abrucio.
O resultado dos vencedores em 2016 foi revelado no dia 22 de julho e a cerimônia oficial da premiação acontece no dia 23 de novembro, no Palácio dos Bandeirantes, na capital paulista.
Confira a entrevista:
Revista Canavieiros: Em sua opinião, atualmente quais são os principais desafios da logística agroindustrial?
Caixeta Filho: Os principais desafios envolvem os custos de transporte, armazenamento e expedição de cargas. Especificamente na logística agroindustrial existe uma predominância na movimentação de matérias-primas que, no caso agrícola, têm baixo valor agregado. Isso impacta diretamente o valor do transporte e da armazenagem e, por consequência, acaba elevando o valor final do produto. Esse é um desafio complicado. Um segmento como o agroindustrial, que é muito representativo na movimentação de cargas, superando 1 bilhão de toneladas/ano, precisa ser mais ouvido pelos agentes públicos e privados para que os gargalos existentes sejam mitigados. É importante ter tecnologia e infraestrutura mais adequada ao transporte e à armazenagem, pois os custos são elevados em função das estruturas defasadas em termos de tecnologia e de manutenção.
Revista Canavieiros: Uma pesquisa recente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) apontou que o transporte é o maior entrave à exportação. Como se resolve este problema?
Caixeta Filho: Os problemas citados anteriormente confirmam o que a pesquisa aponta. Na exportação das matérias-primas agrícolas existem inúmeras dificuldades, que já são históricas, como a dependência do transporte rodoviário, onde os agentes até se esforçam para atender à demanda, mas não conseguem oferecer a qualidade esperada. O custo rodoviário é elevado em comparação com os custos ferroviários e hidroviários e, infelizmente, isso deve perdurar por um bom tempo, principalmente se observado o cronograma previsto para as obras que venham envolver outras modalidades de transporte.
Na exportação de cargas agrícolas o porto tem papel fundamental, mas as dificuldades de desembaraço de carga nos portos contribuem para o entrave. Mesmo com alternativas de gestão ou tecnológicas, as filas portuárias são elevadas e existem custos adicionais. A logística pressupõe a integração e otimização e isso atualmente não é observado durante o transporte de cargas.
Revista Canavieiros: O senhor declarou uma vez que a estrutura atual em logística e infraestrutura brasileira possui um desenho partidário e não de política pública e que falta uma visão integrada de logística no país. Como mudar este cenário? Há perspectivas para que isso ocorra em um futuro próximo?
Caixeta Filho: Existe um costume de tempos no país onde o político está disposto a investir em algo que incremente sua visibilidade, mas limitado ao período do seu mandato. Então, nos 4 anos, o político prefere inaugurar 300 km de rodovia do que 50 km de ferrovia.
O ponto é: a visão política fica condicionada à oportunidade de quais obras podem ser realizadas dentro daquele mandato. Independentemente do partido no governo, deveria haver um compromisso com uma agenda estratégica.
A construção de uma ferrovia é uma obra que implica um tempo de maturação mais longo. Se não é possível fazer no mesmo ritmo das rodovias, que sejam feitos 20 ou 30 km e que os sucessores continuem. Isso é pensar a médio-longo prazo, com visão estratégica para o país. Deveria haver um compromisso com uma agenda mínima estratégica para obras e soluções de logística, sem apelo partidário, mas como obrigação para quem está no poder.
Revista Canavieiros: Uma logística mais eficiente é o ideal para atender às demandas do agronegócio, segmento que cresce a cada ano. Neste contexto, quais são as soluções de curto, médio e longo prazo para o setor de transporte e logística nacional?
Caixeta Filho: Vamos começar pelo longo prazo: as soluções implicam uma transformação cultural, onde a educação é imprescindível para a formação de profissionais bem qualificados e preparados para tomarem decisões importantes e adequadas na área logística; entretanto, o processo de formação de pessoas normalmente consome longos períodos de tempo.
A médio prazo é importante que exista a integração entre os diversos agentes envolvidos com a logística, como federações e instituições representativas diversas, que atuando de forma organizada, associem forças para embasar solicitações das autoridades públicas e/ou privadas. Sozinho ninguém resolverá nada.
E a curto prazo é preciso definir um inventário detalhado, um mapeamento claro das cadeias logísticas, para que seja possível planejar ações de manutenção corretiva e preventiva pelos agentes envolvidos. Com isso, ficaria muito mais fácil detectar onde estão os problemas emergenciais.
Revista Canavieiros: O que deve ser feito para incrementar a eficiência das atividades logísticas para o setor sucroenergético, na sua visão?
Caixeta Filho: O setor sucroenergético é um segmento que tem dado bons exemplos no que diz respeito a implementos rodoviários robustos e sofisticados. Isso vale para atividades relacionadas à movimentação do produto acabado - seja açúcar ou etanol - e armazenagem intermediária e portuária. Hoje o gargalo está no CCT (corte, carregamento e transporte) da matéria-prima no campo. É fundamental ter um planejamento adequado dos talhões canavieiros para que exista de fato uma certa lógica de maturação da cana e para que não exista movimentação desnecessária de equipamentos.
Minimizar a movimentação logística no corte e carregamento no campo pode proporcionar muita eficiência e ganhos nesse elo da cadeia, inclusive num cenário onde não existe mais queima de cana e a colheita mecânica já está implementada.
O planejamento de CCT é fundamental para o incremento da eficiência do setor. Por isso, esse será o tema do 14º Seminário Internacional em Logística Agroindustrial, que acontecerá no dia 10 de abril de 2017, na sede do ESALQ-LOG, em Piracicaba.
Revista Canavieiros: É fato que existe uma deficiência histórica em relação à armazenagem. Qual é o caminho para solucionar este gargalo? O Brasil está atrasado em relação à armazenagem e infraestrutura de um modo geral com relação aos outros países?
Caixeta Filho: Entendo que primeiro existe um problema cultural quando pensamos na prática de armazenagem. O produtor de soja, por exemplo, quando colhe já quer movimentar a safra colhida, e esse é um momento onde a demanda pelo transporte está elevada e o preço do frete também acompanha essa elevação.
A ineficiência da estrutura de armazenamento acaba impactando inclusive o transporte. A solução passa pela compreensão de que as novas áreas de fronteira têm potencial para receber novas estruturas de armazenamento, e que essas estruturas precisam ser acessadas pelos pequenos e médios produtores, que não conseguem fazer investimentos sozinhos, mas que poderiam participar de uma gestão compartilhada da estrutura de armazéns. Por outro lado, já existe uma série de alternativas baratas e inovadoras, como os silo-bags (originalmente concebidos para o armazenamento de silagem), ajustados a diversos tipos de granéis.
Revista Canavieiros: Pode se dizer que a Lei dos Portos é um impacto positivo no sentido de resolver os gargalos logísticos do país?
Caixeta Filho: Das mudanças estruturais, a Lei da Modernização do Portos é a que podemos considerar, com certeza, a mais permanente. A modernização dos portos é um fato irreversível, visto no sul e sudeste, especialmente em Santos, onde a gestão da mão de obra portuária avulsa já é uma realidade clara. De qualquer forma, se espera mais e maiores investimentos em armazenagem nas áreas retroportuárias.
Revista Canavieiros: O setor ferroviário brasileiro entrou em um novo cenário de ascendência, mas existem muitos desafios a serem superados para elevar a movimentação das cargas pelos trilhos, principalmente em relação ao açúcar e etanol. O que deve ser feito para resolver esta questão?
Caixeta Filho: Quase que invariavelmente existe uma simpatia pelo modal ferroviário, mas os investimentos ainda não são suficientes. As atuais concessionárias não estão motivadas para ampliar e estender a malha ferroviária sob sua responsabilidade. Estamos muito perto do vencimento do prazo da concessão inicial e não se sabe como será a renovação. Nesse período inicial de concessão, vários trechos foram desativados. Para os novos potenciais investidores, o principal gargalo é a falta do marco regulatório, para que as regras do jogo estejam claras.
Existe recurso disponível, mas não há um conjunto de regras que estimule o investidor, sejam os novos ou mesmo as atuais concessionárias, por causa dos altos riscos envolvidos.
Revista Canavieiros: O senhor acredita que o PPI (Programa de Parcerias e Investimento), criado recentemente pela MP (Medida Provisória) 727/2016, poderá realmente agilizar as concessões públicas federais? Falando sobre concessões ainda, o modelo atual não é um entrave ao investimento no setor?
Caixeta Filho: O Programa de Parcerias Público-Privadas é uma alternativa interessante tanto para o setor público quanto para o setor privado. Existem inúmeros exemplos de sucesso no exterior, mas no Brasil isso ainda caminha a passos lentos. Há extrema dependência do setor público, para a efetiva realização de obras de infraestrutura, da Lei 8.666/93, que trata de um sistema licitações onde o menor preço vence, o que não significa que haverá garantia de qualidade ou que se chegará à melhor solução.
Revista Canavieiros: O senhor foi o vencedor da categoria “Vida e Obra” da 61ª edição do Prêmio Fundação Bunge, pelo conjunto de obras voltadas ao Transporte e Logística dentro da ESALQ, uma área relativamente recente no escopo da instituição. Qual a importância dessa premiação?
Caixeta Filho: O Prêmio é muito importante porque reconhece o trabalho pioneiro que tem sido feito na ESALQ/USP, relacionado à logística agroindustrial e à infraestrutura de transporte, dentro do ambiente acadêmico da agricultura.
Também é um reconhecimento externo importante ao trabalho realizado pelo Grupo ESALQ-LOG, o qual coordeno e que atua fortemente no desenvolvimento de projetos e soluções relacionadas à logística agroindustrial Revista Canavieiros: Como as pesquisas realizadas pelo ESALQ-LOG podem contribuir para combater e evitar o apagão logístico?
Caixeta Filho: O setor agroindustrial, em particular a agricultura, tem batido recordes de produção e isso não tem sido acompanhado por investimentos em infraestrutura. Então, as pesquisas do Grupo ESALQ-LOG têm sinalizado para a caracterização de determinados tipos de investimento com foco em amenizar esse descompasso, promovendo o envolvimento com os mais diversos agentes para contribuir para a melhoria dessa situação.
Revista Canavieiros: O ESALQ-LOG em conjunto com a Abralog (Associação Brasileira de Logística) realizará o 4º Seminário de Transporte e Logística, no dia 26 de agosto, durante a Fenasucro. Qual a importância de se debater o segmento dentro da principal feira do setor sucroenergético, uma cadeia que tem um custo estimado de R$ 8 bilhões para movimentação e armazenagens, entre outros, nesta safra, valor que deve crescer ainda mais com a expansão da produção?
Caixeta Filho: Trata-se de uma valiosa contribuição técnica para ampliar a qualidade do debate sobre o tema na principal feira do setor sucroenergético do país. As despesas de transporte e armazenagem e os custos ligados as atividades devem crescer com a expansão da fronteira agrícola observada pelo segmento; por isso, esse fórum, com o apoio da Fenasucro, passa a ser uma referência importante para a busca de soluções de otimização do setor, liderada por duas instituições representativas do segmento que são a Abralog e o Grupo ESALQ-LOG.