A marcha não vai parar

Agricultura POR: Marino Guerra

Entrevista: Marco Faria, diretor de Cana & Especialidades da FMC

O processo de crescimento da produtividade dos canaviais brasileiros não vai parar em decorrência da crise gerada pelo novo coronavírus. Essa é a mensagem principal da entrevista realizada com Marco Faria, diretor de Cana da FMC, uma das mais importantes marcas de defensivos da cultura.

Para chegar até essa opinião, o executivo argumenta mostrando a reação rápida do setor perante os problemas gerados a partir do início da pandemia, também comenta como a união entre a sustentabilidade e o ganho de eficiência na proteção das plantas é importante dentro desse cenário e, finalmente, aponta para a função fundamental das cooperativas agrícolas como provedoras dessa tecnologia. Confira!

Revista Canavieiros: A crise do coronavírus pegou o setor sucroenergético de surpresa justamente numa safra que era quase ponto pacífico, com chances reais de chegar ao título de “a melhor do atual século” devido ao alinhamento das condições climáticas com as mercadológicas. Como o senhor enxerga este cenário?

Marco Faria: A pandemia de Covid-19 impôs regras de distanciamento sociais necessárias para prevenção à vida. No entanto, essas medidas trouxeram impactos econômicos para diversos setores no Brasil e no mundo. A perspectiva inicial da cadeia sucroenergética era de um forte impacto ao longo do ano, porém, com o passar das semanas, o cenário foi demonstrando constante melhora. Tivemos aumento das exportações de açúcar em relação a 2019, as usinas rapidamente alteraram seu mix de produção, incrementando a produção de açúcar, e com a retomada gradual da quarentena, o consumo de etanol também se recuperou. Hoje, temos patamares de preços de açúcar e etanol semelhantes ao mesmo período do ano passado, o que torna a atividade remuneradora para produtores e industriais.

Revista Canavieiros: Ainda com as atenções voltadas para o cenário atual e considerando o fato da FMC ser uma das mais importantes provedoras de tecnologia de insumos para a cultura, quais são as primeiras impressões da empresa a respeito do comportamento dos produtores?

Faria: Entendemos que o setor sucroenergético deve manter o nível de investimento em tecnologias e insumos. As altas produtividades são condições fundamentais para aumentar a rentabilidade de qualquer atividade agrícola. Situações adversas de mercado podem ser minimizadas otimizando investimentos e produzindo mais na mesma área. A FMC possui uma série de soluções em seu portfólio para auxiliar o produtor na melhoria da produtividade da sua lavoura. A situação atual é momentânea e já está em processo de retomada, é preciso ficar atento, pois a cana-de-açúcar é uma cultura anual que demanda mais tempo para a produção de mudas e ter um canavial estabelecido. Com isso, o produtor deve sempre manter altas produtividades para conseguir aproveitar as oportunidades do mercado.

Revista Canavieiros: Como avalia o nível de maturação da adoção de ferramentas biológicas em cana-de-açúcar?

Faria: Há um mercado crescente e com potencial de expansão. A FMC acredita nessas ferramentas para soluções dos problemas na cana e outras culturas, por isso investe constantemente em pesquisa e desenvolvimento de novas soluções biológicas sustentáveis e de alto desempenho que atendam às demandas do produtor nas mais diferentes frentes. Além disso, vale destacar que cada vez mais o agricultor também tem visto valor nessas novas plataformas.

Somos pioneiros no desenvolvimento de produtos biológicos para cultura da cana-de-açúcar. Recentemente atuamos com o Programa Gennesis, que combina soluções biológicas e químicas de alta performance para o controle de plantas daninhas e todas as pragas que atacam a lavoura de cana em sua fase inicial, possibilitando que o canavial se desenvolva de maneira equilibrada, sadia e vigorosa.

Revista Canavieiros: Qual a área mais complexa (herbicidas, fungicidas, inseticidas, nutrição) para a inserção dessa tecnologia (biológicos)?

Faria: Cada área de desenvolvimento desses produtos possui suas particularidades e necessidades, não há um segmento de produtos que pode ser destacado como mais complexo. Na área de inseticidas, a FMC é pioneira com o produto Quartzo, um nematicida biológico composto de dois diferentes bacillus que conferem proteção para o desenvolvimento das raízes de uma grande variedade de culturas. Além de inseticidas, a FMC também desenvolve outros produtos com foco no segmento de biológicos.

Revista Canavieiros: Quanto ao tamanho do canavial brasileiro no futuro, concorda com a tendência de diminuição de área e crescimento de produtividade? Para a FMC é algo palpável chegar às 100 toneladas por hectare de média pelo menos num recorte do Centro-Sul brasileiro?

Faria: Nós não acreditamos em redução de área de cana-de-açúcar. O setor possui, além da demanda nacional de etanol, a demanda nacional e global de açúcar. Com a proposta de descarbonização da matriz energética brasileira e o suporte do RenovaBio, a demanda de etanol deve aumentar no futuro, necessitando pelo menos da manutenção da área atual com ganhos de produtividade. Além disso, acreditamos que é possível alcançar esses níveis de produtividade não somente em um recorte do Centro-Sul do país. Hoje já possuímos materiais genéticos de alto desempenho, o caminho para expressar o seu máximo potencial produtivo é realizar o investimento adequado nas lavouras, considerando as variedades mais adaptadas ao clima e solo de cada região, além de realizar um controle efetivo de pragas e doenças para o adequado desenvolvimento das lavouras.

Revista Canavieiros: Como o senhor vê a adoção da rotação de cultura nos canaviais?

Faria: A utilização de outras culturas é uma estratégia importante quando falamos das reformas dos canaviais, principalmente em se tratando de soja, amendoim e milho. Hoje, a FMC apoia a estratégia cana-soja-cana, visando, além de incrementar a renda do produtor, incrementar a qualidade do solo devido à rotação de culturas com uma leguminosa (soja ou amendoim). A FMC, inclusive, suporta esse tipo de prática com as soluções de manejo para todas essas culturas.

Revista Canavieiros: Falando na questão do uso dos agroquímicos, o quanto a lentidão no processo de aprovação de novas moléculas atrapalha o avanço tecnológico do agro nacional?

Faria: A FMC entende que defensivos agrícolas são importantes ferramentas da produção brasileira e mundial. O Brasil possui uma das mais rigorosas legislações ambientais, as quais a FMC respeita rigorosamente. Utilizados de maneira correta, os defensivos agrícolas são seguros ao homem e ao meio ambiente. A FMC atua em diversas frentes comunicando e fomentando o uso correto e seguro de defensivos agrícolas.

Além disso, já antecipando as tendências do mercado, a empresa investe no segmento de biológicos e acredita que esses mecanismos de manejo irão revolucionar a agricultura. Queremos levar esse conceito para o setor. O debate é oportuno neste momento em que atuar de forma responsável no campo é cada vez mais importante para o desenvolvimento do agronegócio sustentável.

Revista Canavieiros: Recentemente a FMC lançou uma campanha com o objetivo de mostrar para a população dos grandes centros todos os benefícios da cultura canavieira. Qual é a quantidade de buracos que ainda há no caminho para o país assumir de maneira unitária que é uma nação agro?

Faria: Acreditamos que um dos maiores desafios do agronegócio do Brasil é levar informação de qualidade para todos os setores da sociedade. A atividade rural é fundamental para o dia a dia das cidades e do campo, por isso, a população precisa ter acesso aos dados que mostram a relevância econômica, social e ambiental do agronegócio.

E a FMC colabora com esse propósito. A campanha “Onde tem cana, tem energia”, objetiva evidenciar todos os benefícios do setor sucroenergético para a sociedade, mostrando que a cana-de-açúcar está presente em nossa rotina de diversas formas, seja por meio do açúcar e seus derivados, o etanol, ou qualquer outra variação da produção.

 Revista Canavieiros: Sob o seu olhar, qual é o principal papel das cooperativas, em especial das especializadas na cultura como é o caso da Copercana, hoje e também no futuro?

Faria: As cooperativas têm um papel fundamental na composição da economia agrícola do país, elas desempenham uma função primordial, pois promovem condições para que os cooperados produzam com qualidade para atender às necessidades do mercado.

Nesse sentido, as cooperativas são tanto provedoras de conhecimento técnico, levando para os seus cooperados novas soluções ou implementado soluções já existentes, quanto provedoras de ferramentas financeiras, além de sua atribuição de representatividade e entidade de classe.

Campanha da FMC durante o Agronegócios Copercana de incentivo ao uso de etanol