A oportunidade que surge para o etanol – Por Tarcisio Angelo Mascarim

19/08/2015 Etanol POR: Brasilagro
O Brasil pode ser o protagonista da solução para diminuir sensivelmente o aquecimento global, caso atinja a meta do Ministério de Minas e Energia (MME), que prevê, para 2023, a demanda de 82 bilhões de litros de combustíveis líquidos. Considerando que a oferta projetada para o atendimento desta demanda seria de 29 bilhões de litros de gasolina A, 20 bilhões de litros de etanol anidro e 7 bilhões de litros de etanol hidratado, temos, então, um deficit de oferta de 26 bilhões de litros de gasolina equivalente. A quem caberia ocupar a oferta projetada?
Temos três alternativas: 1) Gasolina Nacional: o governo projeta incremento zero na produção de gasolina, uma vez que não projetou e nem tem projetado nenhuma refinaria para o País. Portanto, não há possibilidade de ocupar esta oferta; 2) Gasolina Importada: hoje, a importação de gasolina prevista é de 4 bilhões de litros e já temos problemas de logística grave. Imaginar importar mais seis vezes esse total é um absurdo, pois não teríamos portos, tampouco dutos, ferrovias ou rodovias necessários para fazer chegar aos centros de distribuição. Portanto, sem chance de ocupar esta oferta; 3) Etanol Anidro ou Hidratado, nacional ou importado: importado é o mesmo problema da gasolina importada (logística). Também sem chance de ocupar esta oferta. Só resta o etanol anidro ou hidratado de produção nacional para ocupar totalmente esta oferta de 26 bilhões de litros de gasolina equivalente para 2023. Para substituir 26 bilhões de litros de gasolina, há necessidade de 34 bilhões de litros de etanol.
Para isso, tenho insistido sempre na implantação de um projeto que se encontra arquivado no BNDES, elaborado em 2011, por especialistas da área de energia. Este projeto tem os seguintes dados: Bioenergia - BNDES Setorial 36, p. 119 – 178 - Bens de capital para o setor sucroenergético, a indústria está preparada para atender adequadamente a novo ciclo de investimentos em usinas de cana-de-açúcar? Foi escrito por Marcelo Soares Valente, Diego Niko, Bruno Luis Siqueira Ferreira Soares dos Reis e Artur Yabe Milanez, respectivamente engenheiro, economista, estagiário e gerente do Departamento de Biocombustíveis da Área Industrial do BNDES.
Para que você possa entender melhor, tomo a liberdade de transcrever a conclusão deste projeto. Segue:
"O setor sucroenergético empreendeu um grande esforço de investimento ao longo do período de 2005 a 2009, o que resultou na inauguração de mais de cem novas unidades industriais. A partir de 2009, contudo, o setor passou a enfrentar período de estagnação dos investimentos e, com isso, experimentou redução significativa das encomendas de bens de capital sucroenergéticos. A continuidade desse cenário tem gerado ambiente econômico adverso para os fabricantes, em especial para aqueles mais dependentes das encomendas do setor sucroenergético.
Por outro lado, dadas as projeções de demanda de açúcar e etanol brasileiros, estima-se que 134 novas usinas, com capacidade de moagem de quatro milhões de toneladas de cana cada, sejam necessárias para atender à demanda projetada para os próximos anos. Isso equivale à instalação de cerca de 17 unidades por safra a partir de 2013/2014.
É dentro desse contexto que, com base na pesquisa de campo com os principais fornecedores de bens de capital sucroenergéticos e grandes grupos de usinas, este artigo procurou identificar se o atual parque fabril de máquinas e equipamentos para açúcar e etanol, mesmo enfrentando um período duradouro de baixo volume de encomendas, estaria em condições de atender a novo ciclo vigoroso de investimentos em novas usinas sucroenergéticas.
Em primeiro lugar, verificou-se que diversos segmentos da indústria de bens de capital que atendem ao setor sucroenergético estão trabalhando atualmente com ociosidade em torno de 50%. Dessa forma, é notória sua percepção de que não teriam maiores problemas para atender a novo ciclo de investimentos em usinas sucroenergéticas tão ou mais intenso do que o observado na década passada.
De outro lado, na visão dos principais grupos processadores de cana, a oferta do segmento de bens de capital não foi completamente satisfatória na última onda de investimentos. Segundo as usinas, diversos equipamentos foram entregues fora das especificações desejadas ou mesmo depois dos prazos previamente contratados.
Como resultado, ficou evidenciada a posição dos fornecedores de que, para a grande maioria dos equipamentos, não haveria problemas de atendimento caso se recuperassem os investimentos do setor. Para eles, apenas um grupo de equipamentos foi considerado de alto risco de oferta. Ao passo que, na visão das usinas, seriam nove equipamentos com maiores dificuldades de atendimento.
Quando se analisa o indicador combinado, três equipamentos aparecem na faixa de alto risco: moenda/difusores, caldeiras e destilarias. Esses equipamentos, além de exigirem longo prazo de fabricação, necessitam de significativa base industrial instalada para sua produção e montagem, mão de obra treinada e especializada e, em muitos casos, engenharia e projetos próprios. Além disso, são equipamentos de grande porte e representam parte significativa do investimento em novas usinas (cerca de 40% do total), o que torna o resultado encontrado foco da maior preocupação.
A atual situação da indústria de bens de capital sucroenergéticos exige atenção. Numa eventual retomada de investimentos nos níveis observados no último ciclo de crescimento do setor, a pesquisa realizada neste artigo sugere dificuldade de atendimento de equipamentos cruciais para a instalação de novas usinas.
A mitigação desse risco de oferta, contudo, depende necessariamente da retomada planejada e sustentada dos investimentos no setor canavieiro, que, a permanecer estagnado, só agravará a situação atual. Dessa forma, quanto mais tempo durar esse cenário de retração de investimentos e, portanto, de baixa demanda por bens de capital sucroenergéticos, maiores serão os riscos associados à oferta de equipamentos essenciais para a construção de novas usinas de cana-de-açúcar.
A implantação dessas 134 usinas com capacidade de 4 bilhões de toneladas de cana cada uma dará o seguinte desenvolvimento ao setor sucroenergético e ao meio ambiente: área necessária: 7.169.000 hectares (admitindo não haver ganho de produtividade); investimento industrial: R$ 134 bilhões; investimento agrícola (sem terra): R$ 144,720 bi; investimento total: R$ 278,720 bi; energia exportada: 26.264.000 MW/h/safra; produção de biodiesel: 931.270 m³/safra; produção de etanol: 42.880.000 m³/safra; empregos efeito renda: 2.033.316 pessoas; litros de gasolina substituídos: 30.016.000 m³; emissões evitadas: 60.632.320 tCO2/safra; faturamento – energia R$ 3.939.000,00/safra; faturamento – biodiesel R$ 1.802.007.136,00/safra; faturamento – etanol R$ 55.100.800.000,00/safra; total faturamento: R$ 60.842.407.136,00/safra (estes dados foram fornecidos e elaborados pelo Dr. Paulo Soares, da empresa Dedini S/A Indústrias de Base (valores potenciais aproximados).
Alem disso, há possibilidade da Petrobras reduzir a meta de produção de uma média de 4 milhões para 2,8 milhões de barris de petróleo por dia entre os anos de 2020 e 2030, conforme nota publicada pela estatal na Bovespa do dia 07.08.15, com o título “Petrobras admite revisar plano para os próximos 15 anos”.
Aí está a solução para a retomada do desenvolvimento econômico do setor sucroenergético, gerando empregos à nossa gente, renda ao nosso país e melhorando, sensivelmente, o meio ambiente com as emissões evitadas para a atmosfera.
Mas, num governo que gasta milhões de reais em propaganda falando bem da gasolina, que é uma das principais poluidoras da atmosfera, e usa tarjetas apenas em cigarros dizendo do malefício à saúde, será preciso lutar - e muito - para virar este jogo (Tarcisio Angelo Mascarim é secretário do Desenvolvimento Econômico de Piracicaba e diretor do SIMESPI).
O Brasil pode ser o protagonista da solução para diminuir sensivelmente o aquecimento global, caso atinja a meta do Ministério de Minas e Energia (MME), que prevê, para 2023, a demanda de 82 bilhões de litros de combustíveis líquidos. Considerando que a oferta projetada para o atendimento desta demanda seria de 29 bilhões de litros de gasolina A, 20 bilhões de litros de etanol anidro e 7 bilhões de litros de etanol hidratado, temos, então, um deficit de oferta de 26 bilhões de litros de gasolina equivalente. A quem caberia ocupar a oferta projetada?
Temos três alternativas: 1) Gasolina Nacional: o governo projeta incremento zero na produção de gasolina, uma vez que não projetou e nem tem projetado nenhuma refinaria para o País. Portanto, não há possibilidade de ocupar esta oferta; 2) Gasolina Importada: hoje, a importação de gasolina prevista é de 4 bilhões de litros e já temos problemas de logística grave. Imaginar importar mais seis vezes esse total é um absurdo, pois não teríamos portos, tampouco dutos, ferrovias ou rodovias necessários para fazer chegar aos centros de distribuição. Portanto, sem chance de ocupar esta oferta; 3) Etanol Anidro ou Hidratado, nacional ou importado: importado é o mesmo problema da gasolina importada (logística). Também sem chance de ocupar esta oferta. Só resta o etanol anidro ou hidratado de produção nacional para ocupar totalmente esta oferta de 26 bilhões de litros de gasolina equivalente para 2023. Para substituir 26 bilhões de litros de gasolina, há necessidade de 34 bilhões de litros de etanol.
Para isso, tenho insistido sempre na implantação de um projeto que se encontra arquivado no BNDES, elaborado em 2011, por especialistas da área de energia. Este projeto tem os seguintes dados: Bioenergia - BNDES Setorial 36, p. 119 – 178 - Bens de capital para o setor sucroenergético, a indústria está preparada para atender adequadamente a novo ciclo de investimentos em usinas de cana-de-açúcar? Foi escrito por Marcelo Soares Valente, Diego Niko, Bruno Luis Siqueira Ferreira Soares dos Reis e Artur Yabe Milanez, respectivamente engenheiro, economista, estagiário e gerente do Departamento de Biocombustíveis da Área Industrial do BNDES.
Para que você possa entender melhor, tomo a liberdade de transcrever a conclusão deste projeto. Segue:
"O setor sucroenergético empreendeu um grande esforço de investimento ao longo do período de 2005 a 2009, o que resultou na inauguração de mais de cem novas unidades industriais. A partir de 2009, contudo, o setor passou a enfrentar período de estagnação dos investimentos e, com isso, experimentou redução significativa das encomendas de bens de capital sucroenergéticos. A continuidade desse cenário tem gerado ambiente econômico adverso para os fabricantes, em especial para aqueles mais dependentes das encomendas do setor sucroenergético.
Por outro lado, dadas as projeções de demanda de açúcar e etanol brasileiros, estima-se que 134 novas usinas, com capacidade de moagem de quatro milhões de toneladas de cana cada, sejam necessárias para atender à demanda projetada para os próximos anos. Isso equivale à instalação de cerca de 17 unidades por safra a partir de 2013/2014.
É dentro desse contexto que, com base na pesquisa de campo com os principais fornecedores de bens de capital sucroenergéticos e grandes grupos de usinas, este artigo procurou identificar se o atual parque fabril de máquinas e equipamentos para açúcar e etanol, mesmo enfrentando um período duradouro de baixo volume de encomendas, estaria em condições de atender a novo ciclo vigoroso de investimentos em novas usinas sucroenergéticas.
Em primeiro lugar, verificou-se que diversos segmentos da indústria de bens de capital que atendem ao setor sucroenergético estão trabalhando atualmente com ociosidade em torno de 50%. Dessa forma, é notória sua percepção de que não teriam maiores problemas para atender a novo ciclo de investimentos em usinas sucroenergéticas tão ou mais intenso do que o observado na década passada.
De outro lado, na visão dos principais grupos processadores de cana, a oferta do segmento de bens de capital não foi completamente satisfatória na última onda de investimentos. Segundo as usinas, diversos equipamentos foram entregues fora das especificações desejadas ou mesmo depois dos prazos previamente contratados.
Como resultado, ficou evidenciada a posição dos fornecedores de que, para a grande maioria dos equipamentos, não haveria problemas de atendimento caso se recuperassem os investimentos do setor. Para eles, apenas um grupo de equipamentos foi considerado de alto risco de oferta. Ao passo que, na visão das usinas, seriam nove equipamentos com maiores dificuldades de atendimento.
Quando se analisa o indicador combinado, três equipamentos aparecem na faixa de alto risco: moenda/difusores, caldeiras e destilarias. Esses equipamentos, além de exigirem longo prazo de fabricação, necessitam de significativa base industrial instalada para sua produção e montagem, mão de obra treinada e especializada e, em muitos casos, engenharia e projetos próprios. Além disso, são equipamentos de grande porte e representam parte significativa do investimento em novas usinas (cerca de 40% do total), o que torna o resultado encontrado foco da maior preocupação.
A atual situação da indústria de bens de capital sucroenergéticos exige atenção. Numa eventual retomada de investimentos nos níveis observados no último ciclo de crescimento do setor, a pesquisa realizada neste artigo sugere dificuldade de atendimento de equipamentos cruciais para a instalação de novas usinas.
A mitigação desse risco de oferta, contudo, depende necessariamente da retomada planejada e sustentada dos investimentos no setor canavieiro, que, a permanecer estagnado, só agravará a situação atual. Dessa forma, quanto mais tempo durar esse cenário de retração de investimentos e, portanto, de baixa demanda por bens de capital sucroenergéticos, maiores serão os riscos associados à oferta de equipamentos essenciais para a construção de novas usinas de cana-de-açúcar.
A implantação dessas 134 usinas com capacidade de 4 bilhões de toneladas de cana cada uma dará o seguinte desenvolvimento ao setor sucroenergético e ao meio ambiente: área necessária: 7.169.000 hectares (admitindo não haver ganho de produtividade); investimento industrial: R$ 134 bilhões; investimento agrícola (sem terra): R$ 144,720 bi; investimento total: R$ 278,720 bi; energia exportada: 26.264.000 MW/h/safra; produção de biodiesel: 931.270 m³/safra; produção de etanol: 42.880.000 m³/safra; empregos efeito renda: 2.033.316 pessoas; litros de gasolina substituídos: 30.016.000 m³; emissões evitadas: 60.632.320 tCO2/safra; faturamento – energia R$ 3.939.000,00/safra; faturamento – biodiesel R$ 1.802.007.136,00/safra; faturamento – etanol R$ 55.100.800.000,00/safra; total faturamento: R$ 60.842.407.136,00/safra (estes dados foram fornecidos e elaborados pelo Dr. Paulo Soares, da empresa Dedini S/A Indústrias de Base (valores potenciais aproximados).
Alem disso, há possibilidade da Petrobras reduzir a meta de produção de uma média de 4 milhões para 2,8 milhões de barris de petróleo por dia entre os anos de 2020 e 2030, conforme nota publicada pela estatal na Bovespa do dia 07.08.15, com o título “Petrobras admite revisar plano para os próximos 15 anos”.
Aí está a solução para a retomada do desenvolvimento econômico do setor sucroenergético, gerando empregos à nossa gente, renda ao nosso país e melhorando, sensivelmente, o meio ambiente com as emissões evitadas para a atmosfera.
Mas, num governo que gasta milhões de reais em propaganda falando bem da gasolina, que é uma das principais poluidoras da atmosfera, e usa tarjetas apenas em cigarros dizendo do malefício à saúde, será preciso lutar - e muito - para virar este jogo (Tarcisio Angelo Mascarim é secretário do Desenvolvimento Econômico de Piracicaba e diretor do SIMESPI).