A retomada do setor sucroenergético

18/06/2013 Geral POR: Assessoria Carlos Araujo
O Brasil foi o maior produtor de borracha, café, cacau e laranja do mundo e perdeu esta posição ao longo dos anos por administrações equivocadas e falta de eficiência e eficácia. Hoje, somos o maior produtor de açúcar do mundo, porém corremos sérios riscos de perder esta posição como resultado de uma série de problemas políticos, econômicos e técnicos.
A capacidade dessa cadeia produtiva, nas últimas décadas, tem sido uma enorme fonte de renda, emprego e impostos, além de gerar um avanço tecnológico reconhecido internacionalmente. No artigo “A crise de gestão – A volta às origens”, publicado pela revista Agro em Foco, em abril de 2012, identificamos os principais “gargalos” do setor bioenergético.
Sintetizando e atualizando os dados da conclusão desse artigo, identificamos três questões básicas:
• Elevado endividamento das empresas do setor: conforme a Única, na safra 2013/2014, a dívida do setor bioenergético poderá crescer 7,7% (ou R$ 4 bilhões) em relação à safra 2012/2013, atingindo um volume previsto de R$ 56 bilhões. O impacto no fluxo de caixa deverá ser devastador, impossibilitando investimentos em novas plantas produtivas e na renovação do canavial. 
• A produtividade teve uma redução significativa de 86,6 toneladas por hectare, em 2006, para 72,7 toneladas por hectare em 2012. Esse impacto deveu-se aos motivos apresentados acima.
• A gestão empresarial dessas empresas, quer nacionais, quer internacionais, ficou muito a desejar, principalmente no que se refere à alocação de recursos com baixo índice de retorno de capital e à não gestão dos custos operacionais porque os executivos não sabiam e muitos ainda não sabem o quanto custa produzir cana-de-açúcar.
O objetivo é apresentar uma visão de longo prazo e determinar diretrizes que possibilitem à cadeia produtiva da cana de açúcar, etanol, açúcar e bioeletricidade tornar-se autossustentável e rentável.
O foco será basicamente técnico, contudo farei considerações sobre a condução macroeconômica das políticas adotadas pelo governo referentes ao setor e seus impactos na microeconomia principalmente em relação ao produtor agrícola.
A isenção do PIS e COFINS na produção de etanol, sem dúvida, possibilitará uma redução nos custos, entretanto, terá impactos negativos nas contas do Tesouro Nacional. Para o fechamento da conta, ou o governo, através do Tesouro Nacional, irá emitir moeda, provocando uma expansão monetária, gerando condições para alimentar ainda mais a inflação, ou emitir títulos com taxas de juros atraentes, provocando uma expectativa no mercado quanto ao aumento de juros futuros.
A Petrobras será a grande beneficiária dessa política porque o etanol é remunerado em reais e a empresa deixará de importar gasolina e pagamentos em dólar. Além de ganhar da redução do produto final aumentando suas margens, haverá uma redução de risco em relação ao câmbio na compra de gasolina no exterior.
A eficiência dos motores flex há anos permanece igual: o rendimento do etanol nos carros flex é, em média, 32% mais baixo que o da gasolina, quer na cidade, quer na estrada. Consequentemente, só compensa abastecer com etanol se o preço for, no máximo, 68% do preço da gasolina.
Desde o lançamento do Proálcool, em 1974, essa relação permanece constante.
O que está fazendo a indústria automotiva para o desenvolvimento de motores com melhoria significativa do desempenho operacional dos motores flex?
Minha visão é que atuamos em um mercado capitalista e cabe aos empresários e executivos conduzirem suas empresas sem depender de uma política nacional para o setor. Nosso objetivo é o lucro da empresa, consequentemente devemos produzir o produto que mais remunera o capital. Assim sendo, devemos estabelecer qual a melhor estratégia para crescimento da empresa e do setor.
A retomada do crescimento sustentável deverá seguir dois caminhos:
Fazer as coisas certas e fazer certo as coisas.
A base para a recuperação do crescimento do setor passa prioritariamente por um time de gestão de primeira linha e conhecimento do setor. Hoje, encontramos tomadores de decisão que não dominam os processos agrícola e industrial da cana-de-açúcar. Um exemplo foi a não renovação dos canaviais e tratos culturais nas safras 2008/2009 e 2009/2010. Agora estão pagando caro por essa decisão equivocada.
O planejamento de curto e longo prazo é essencial para a produção de alta qualidade e elevada produtividade a partir de novas tecnologias e alterações significativas no manejo agrícola, do plantel varietal com variedades compatíveis com seus respectivos ambientes de produção e adaptadas ao plantio e colheita mecanizada.
A rotação de cultura também é relevante para a otimização dos fatores de produção, principalmente no caso do custo da terra, por exemplo, adotando esta prática com soja é possível reduzir em 15,3% o custo da cana na esteira.
Com a significativa queda de produtividade nas duas últimas safras ( 69 t/ha e 72 t/ha) conforme dados do mercado, somente alcançaremos 84 t/ha após 2 ciclos completos, adotando uma taxa de renovação de 20% do canavial e aplicando uma política direcionada ao aumento de produtividade tais como: viveiros de mudas tratadas termicamente (90% das usinas não utilizam essa prática, comprovadamente eficiente), um plantel varietal de alta produtividade adaptada aos seus respectivos ambientes de produção, ao plantio e colheita mecanizada.
Com uma produtividade de 84 t/ha, o custo de produção é de R$ 71,00 t/ha; com uma produtividade média de 70 t/ha o custo será 20% maior. Seguindo este raciocínio, somente após 2 ciclos, ou seja, 10 anos, vamos retomar o patamar de 84t/ha. Com os aumentos de preços da safra 2012/2013 para a safra 2013/2014 ,nos fatores de produção, tais como, mão de obra +8%, adubo 9,63%, herbicida 12,62%, o ponto de equilíbrio da produção de cana-de-açúcar será próximo a 99 t/ha. Nesse cenário, necessitaremos de mais 2 ciclos. Assim, a retomada do setor levará 20 anos. Como dizia Keynes, “no longo prazo todos estaremos mortos”.
Com o cenário acima, a mudança de gestão do setor bioenergético somente se concretizará quando houver uma conscientização dos nossos administradores do século XXI, que estão conduzindo empresas enraizadas nos séculos passados, isto é nos antigos engenhos de açúcar.
Cabe aos gestores atuais soltarem as amarras do governo e administrarem suas empresas com uma visão capitalista, produzindo o que efetivamente gera maiores lucros, remunerando o capital investido e garantindo a sobrevivência da empresa 
Carlos Araujo é economista com experiência em gestão de empresas nacionais e multinacionais nas áreas: gestão empresarial, finanças e controladoria. MBA em Finanças - IBMEC / São Paulo, pós-graduado em Economia de Empresas e cursos de especialização na New York University e Harvard Business School. Atua no setor sucroenergético na gestão de custos, planejamento operacional e financeiro e custo-padrão. Consultor sênior da PRX unidade do agronegócio da TOTVS.
O Brasil foi o maior produtor de borracha, café, cacau e laranja do mundo e perdeu esta posição ao longo dos anos por administrações equivocadas e falta de eficiência e eficácia. Hoje, somos o maior produtor de açúcar do mundo, porém corremos sérios riscos de perder esta posição como resultado de uma série de problemas políticos, econômicos e técnicos.
A capacidade dessa cadeia produtiva, nas últimas décadas, tem sido uma enorme fonte de renda, emprego e impostos, além de gerar um avanço tecnológico reconhecido internacionalmente. No artigo “A crise de gestão – A volta às origens”, publicado pela revista Agro em Foco, em abril de 2012, identificamos os principais “gargalos” do setor bioenergético.
Sintetizando e atualizando os dados da conclusão desse artigo, identificamos três questões básicas:
• Elevado endividamento das empresas do setor: conforme a Única, na safra 2013/2014, a dívida do setor bioenergético poderá crescer 7,7% (ou R$ 4 bilhões) em relação à safra 2012/2013, atingindo um volume previsto de R$ 56 bilhões. O impacto no fluxo de caixa deverá ser devastador, impossibilitando investimentos em novas plantas produtivas e na renovação do canavial. 
• A produtividade teve uma redução significativa de 86,6 toneladas por hectare, em 2006, para 72,7 toneladas por hectare em 2012. Esse impacto deveu-se aos motivos apresentados acima.
• A gestão empresarial dessas empresas, quer nacionais, quer internacionais, ficou muito a desejar, principalmente no que se refere à alocação de recursos com baixo índice de retorno de capital e à não gestão dos custos operacionais porque os executivos não sabiam e muitos ainda não sabem o quanto custa produzir cana-de-açúcar.
O objetivo é apresentar uma visão de longo prazo e determinar diretrizes que possibilitem à cadeia produtiva da cana de açúcar, etanol, açúcar e bioeletricidade tornar-se autossustentável e rentável.
O foco será basicamente técnico, contudo farei considerações sobre a condução macroeconômica das políticas adotadas pelo governo referentes ao setor e seus impactos na microeconomia principalmente em relação ao produtor agrícola.
A isenção do PIS e COFINS na produção de etanol, sem dúvida, possibilitará uma redução nos custos, entretanto, terá impactos negativos nas contas do Tesouro Nacional. Para o fechamento da conta, ou o governo, através do Tesouro Nacional, irá emitir moeda, provocando uma expansão monetária, gerando condições para alimentar ainda mais a inflação, ou emitir títulos com taxas de juros atraentes, provocando uma expectativa no mercado quanto ao aumento de juros futuros.
A Petrobras será a grande beneficiária dessa política porque o etanol é remunerado em reais e a empresa deixará de importar gasolina e pagamentos em dólar. Além de ganhar da redução do produto final aumentando suas margens, haverá uma redução de risco em relação ao câmbio na compra de gasolina no exterior.
A eficiência dos motores flex há anos permanece igual: o rendimento do etanol nos carros flex é, em média, 32% mais baixo que o da gasolina, quer na cidade, quer na estrada. Consequentemente, só compensa abastecer com etanol se o preço for, no máximo, 68% do preço da gasolina.
Desde o lançamento do Proálcool, em 1974, essa relação permanece constante.
O que está fazendo a indústria automotiva para o desenvolvimento de motores com melhoria significativa do desempenho operacional dos motores flex?
Minha visão é que atuamos em um mercado capitalista e cabe aos empresários e executivos conduzirem suas empresas sem depender de uma política nacional para o setor. Nosso objetivo é o lucro da empresa, consequentemente devemos produzir o produto que mais remunera o capital. Assim sendo, devemos estabelecer qual a melhor estratégia para crescimento da empresa e do setor.
A retomada do crescimento sustentável deverá seguir dois caminhos:
Fazer as coisas certas e fazer certo as coisas.
A base para a recuperação do crescimento do setor passa prioritariamente por um time de gestão de primeira linha e conhecimento do setor. Hoje, encontramos tomadores de decisão que não dominam os processos agrícola e industrial da cana-de-açúcar. Um exemplo foi a não renovação dos canaviais e tratos culturais nas safras 2008/2009 e 2009/2010. Agora estão pagando caro por essa decisão equivocada.
O planejamento de curto e longo prazo é essencial para a produção de alta qualidade e elevada produtividade a partir de novas tecnologias e alterações significativas no manejo agrícola, do plantel varietal com variedades compatíveis com seus respectivos ambientes de produção e adaptadas ao plantio e colheita mecanizada.
A rotação de cultura também é relevante para a otimização dos fatores de produção, principalmente no caso do custo da terra, por exemplo, adotando esta prática com soja é possível reduzir em 15,3% o custo da cana na esteira.
Com a significativa queda de produtividade nas duas últimas safras ( 69 t/ha e 72 t/ha) conforme dados do mercado, somente alcançaremos 84 t/ha após 2 ciclos completos, adotando uma taxa de renovação de 20% do canavial e aplicando uma política direcionada ao aumento de produtividade tais como: viveiros de mudas tratadas termicamente (90% das usinas não utilizam essa prática, comprovadamente eficiente), um plantel varietal de alta produtividade adaptada aos seus respectivos ambientes de produção, ao plantio e colheita mecanizada.
Com uma produtividade de 84 t/ha, o custo de produção é de R$ 71,00 t/ha; com uma produtividade média de 70 t/ha o custo será 20% maior. Seguindo este raciocínio, somente após 2 ciclos, ou seja, 10 anos, vamos retomar o patamar de 84t/ha. Com os aumentos de preços da safra 2012/2013 para a safra 2013/2014 ,nos fatores de produção, tais como, mão de obra +8%, adubo 9,63%, herbicida 12,62%, o ponto de equilíbrio da produção de cana-de-açúcar será próximo a 99 t/ha. Nesse cenário, necessitaremos de mais 2 ciclos. Assim, a retomada do setor levará 20 anos. Como dizia Keynes, “no longo prazo todos estaremos mortos”.
Com o cenário acima, a mudança de gestão do setor bioenergético somente se concretizará quando houver uma conscientização dos nossos administradores do século XXI, que estão conduzindo empresas enraizadas nos séculos passados, isto é nos antigos engenhos de açúcar.
Cabe aos gestores atuais soltarem as amarras do governo e administrarem suas empresas com uma visão capitalista, produzindo o que efetivamente gera maiores lucros, remunerando o capital investido e garantindo a sobrevivência da empresa 
Carlos Araujo é economista com experiência em gestão de empresas nacionais e multinacionais nas áreas: gestão empresarial, finanças e controladoria. MBA em Finanças - IBMEC / São Paulo, pós-graduado em Economia de Empresas e cursos de especialização na New York University e Harvard Business School. Atua no setor sucroenergético na gestão de custos, planejamento operacional e financeiro e custo-padrão. Consultor sênior da PRX unidade do agronegócio da TOTVS.