A China gera a maior parte de sua energia elétrica por meio da combustão de combustíveis fósseis, exatamente como fizeram todas as potências econômicas em ascensão desde a Revolução Industrial. Mas quem se concentra nesse único fato corre o risco de negligenciar uma tendência notável. O sistema de geração chinês de energia
elétrica está ficando verde muito mais depressa do que qualquer outro sistema do planeta de magnitude comparável.
Essa tendência é visível em três áreas. A primeira é a da geração de energia elétrica. Segundo dados divulgados pelo Conselho de Energia Elétrica da China, a quantidade de energia elétrica gerada pela China a partir de combustíveis fósseis caiu 0,7% em 2014, comparativamente ao ano anterior, o primeiro recuo registrado na memória recente. Por outro lado, a geração de energia elétrica a partir de outras fontes que não os combustíveis fósseis aumentou 19%.
As evidências são claras: a China está aplicando mais dinheiro nas fontes verdes de energia elétrica do que nas baseadas em combustíveis fósseis. Na verdade, os chineses estão gastando mais em energia verde do que qualquer outro país: 59% dos investimentos.
O notável é que a energia nuclear desempenhou apenas um papel pequeno nessa mudança. A energia elétrica gerada por fontes estritamente verdes água, vento e solar aumentou 20%, com o crescimento mais drástico tendo ocorrido na geração de eletricidade a partir da energia solar, que cresceu espantosos 175%.
A energia elétrica de geração solar, além disso, ultrapassou a nuclear em termos de geração nova, ao fornecer um adicional de 17,43 terawattshora (TWh) no ano passado, em relação aos 14,70 TWh gerados por fontes nucleares. E, pelo terceiro ano consecutivo, a China gerou mais energia elétrica a partir do vento do que da energia nuclear. Em vista disso, o argumento de que a China vai ficar dependente de usinas nucleares para a geração de eletricidade, no âmbito das fontes alternativas aos hidrocarbonetos, parece ter pouco mérito.
A segunda área na qual a tendência verde ficou evidente é a capacidade total chinesa de geração de eletricidade. O sistema elétrico do país é atualmente o maior do mundo, com capacidade para produzir 1,36 TW, comparativamente ao 1 TW dos Estados Unidos.
Comparações diretas entre diferentes fontes de energia elétrica são difíceis, porque o uso de usinas eólicas, solares, nucleares e baseadas em combustíveis fósseis varia segundo a hora do dia. Mas um exame dos dados anuais permite captar o grau de mudança de todo o sistema.
O ano passado foi o segundo ano consecutivo no qual a China promoveu o maior aumento de capacidade de geração a partir de fontes não ligadas a combustíveis fósseis do que a partir de fontes dessa origem. A China elevou sua capacidade de gerar energia elétrica a partir de combustíveis fósseis em 45 gigawatts (GW), alcançando um total de 916 GW. Ao mesmo tempo o país aumentou sua capacidade de produção energia elétrica a partir de fontes alternativas a combustíveis fósseis em 56 GW, alcançando um total de 444 GW. As usinas eólicas, de energia solar e hidrelétricas aumentaram sua capacidade de geração em 51 GW.
Em decorrência disso, a energia elétrica gerada pelo vento, pela água e pela energia solar responde por 31% da capacidade total de geração de energia elétrica da China, em relação aos 21% computados em 2007, enquanto a energia nuclear é responsável por mais 2%. Esses resultados superam a meta fixada pelo 12º Plano Quinquenal da
China, que previu que a capacidade de geração de energia elétrica com base em fontes não ligadas a combustíveis fósseis corresponderia a aproximadamente 30% da produção do sistema de energia elétrica do país até 2015.
Finalmente, a tendência em favor da energia verde pode ser observada nas configurações dos investimentos da China. As evidências são claras: o país está aplicando mais dinheiro nas fontes verdes de energia elétrica do que nas baseadas em combustíveis fósseis. Na verdade, a China está gastando mais em energia verde do que qualquer outro país.
Os investimentos em instalações produtoras de energia a partir de combustíveis fósseis caíram sistematicamente, de 167 bilhões de yuans (cerca de US$ 24 bilhões) em 2008 para 95 bilhões de yuans em 2014 (US$ 15,3 bilhões), enquanto os investimentos em fontes não ligadas a combustíveis fósseis aumentaram, de 118 bilhões de yuans em 2008 para pelo menos 252 bilhões de yuans em 2014. A parcela dos investimentos em energia dedicada à geração de energia elétrica renovável aumentou persistentemente, alcançando 50% em 2011, em relação aos 32% computados apenas quatro anos antes. Em 2013, a fatia dos investimentos em renováveis atingiu nada menos que 59%.
A evolução do setor depende, em grande medida, do sucesso das reformas chinesas no campo energético, e, em especial, dos esforços do país em construir o maior sistema de energia renovável do mundo uma ambição muito maior do que qualquer coisa imaginada, menos ainda tentada, no Ocidente. Isso torna ainda mais importante a
divulgação de informações precisas sobre o sistema ao longo de seu desenvolvimento, a fim de apreender a direção geral da mudança.
O sistema chinês de energia elétrica continua solidamente baseado no carvão e um volume muito maior dessa substância ainda será queimado até que o sistema possa ser descrito, com exatidão, como mais verde do que preto. Mas a direção da mudança está clara. Isso tem de ser reconhecido e considerado nas discussões sobre energia mundial e política energética.
(Tradução de Rachel Warszawski)
John A. Mathews é professor de estratégia da Faculdade Macquarie de PósGraduação em
Administração de Sidney Hao Tan é professor titular da Faculdade de Administração de Newcastle, da Universidade de Newcastle, Austrália. Copyright: Project Syndicate, 2015.
A China gera a maior parte de sua energia elétrica por meio da combustão de combustíveis fósseis, exatamente como fizeram todas as potências econômicas em ascensão desde a Revolução Industrial. Mas quem se concentra nesse único fato corre o risco de negligenciar uma tendência notável. O sistema de geração chinês de energia elétrica está ficando verde muito mais depressa do que qualquer outro sistema do planeta de magnitude comparável.
Essa tendência é visível em três áreas. A primeira é a da geração de energia elétrica. Segundo dados divulgados pelo Conselho de Energia Elétrica da China, a quantidade de energia elétrica gerada pela China a partir de combustíveis fósseis caiu 0,7% em 2014, comparativamente ao ano anterior, o primeiro recuo registrado na memória recente. Por outro lado, a geração de energia elétrica a partir de outras fontes que não os combustíveis fósseis aumentou 19%.
As evidências são claras: a China está aplicando mais dinheiro nas fontes verdes de energia elétrica do que nas baseadas em combustíveis fósseis. Na verdade, os chineses estão gastando mais em energia verde do que qualquer outro país: 59% dos investimentos.
O notável é que a energia nuclear desempenhou apenas um papel pequeno nessa mudança. A energia elétrica gerada por fontes estritamente verdes água, vento e solar aumentou 20%, com o crescimento mais drástico tendo ocorrido na geração de eletricidade a partir da energia solar, que cresceu espantosos 175%.
A energia elétrica de geração solar, além disso, ultrapassou a nuclear em termos de geração nova, ao fornecer um adicional de 17,43 terawattshora (TWh) no ano passado, em relação aos 14,70 TWh gerados por fontes nucleares. E, pelo terceiro ano consecutivo, a China gerou mais energia elétrica a partir do vento do que da energia nuclear. Em vista disso, o argumento de que a China vai ficar dependente de usinas nucleares para a geração de eletricidade, no âmbito das fontes alternativas aos hidrocarbonetos, parece ter pouco mérito.
A segunda área na qual a tendência verde ficou evidente é a capacidade total chinesa de geração de eletricidade. O sistema elétrico do país é atualmente o maior do mundo, com capacidade para produzir 1,36 TW, comparativamente ao 1 TW dos Estados Unidos.
Comparações diretas entre diferentes fontes de energia elétrica são difíceis, porque o uso de usinas eólicas, solares, nucleares e baseadas em combustíveis fósseis varia segundo a hora do dia. Mas um exame dos dados anuais permite captar o grau de mudança de todo o sistema.
O ano passado foi o segundo ano consecutivo no qual a China promoveu o maior aumento de capacidade de geração a partir de fontes não ligadas a combustíveis fósseis do que a partir de fontes dessa origem. A China elevou sua capacidade de gerar energia elétrica a partir de combustíveis fósseis em 45 gigawatts (GW), alcançando um total de 916 GW. Ao mesmo tempo o país aumentou sua capacidade de produção energia elétrica a partir de fontes alternativas a combustíveis fósseis em 56 GW, alcançando um total de 444 GW. As usinas eólicas, de energia solar e hidrelétricas aumentaram sua capacidade de geração em 51 GW.
Em decorrência disso, a energia elétrica gerada pelo vento, pela água e pela energia solar responde por 31% da capacidade total de geração de energia elétrica da China, em relação aos 21% computados em 2007, enquanto a energia nuclear é responsável por mais 2%. Esses resultados superam a meta fixada pelo 12º Plano Quinquenal da China, que previu que a capacidade de geração de energia elétrica com base em fontes não ligadas a combustíveis fósseis corresponderia a aproximadamente 30% da produção do sistema de energia elétrica do país até 2015.
Finalmente, a tendência em favor da energia verde pode ser observada nas configurações dos investimentos da China. As evidências são claras: o país está aplicando mais dinheiro nas fontes verdes de energia elétrica do que nas baseadas em combustíveis fósseis. Na verdade, a China está gastando mais em energia verde do que qualquer outro país.
Os investimentos em instalações produtoras de energia a partir de combustíveis fósseis caíram sistematicamente, de 167 bilhões de yuans (cerca de US$ 24 bilhões) em 2008 para 95 bilhões de yuans em 2014 (US$ 15,3 bilhões), enquanto os investimentos em fontes não ligadas a combustíveis fósseis aumentaram, de 118 bilhões de yuans em 2008 para pelo menos 252 bilhões de yuans em 2014. A parcela dos investimentos em energia dedicada à geração de energia elétrica renovável aumentou persistentemente, alcançando 50% em 2011, em relação aos 32% computados apenas quatro anos antes. Em 2013, a fatia dos investimentos em renováveis atingiu nada menos que 59%.
A evolução do setor depende, em grande medida, do sucesso das reformas chinesas no campo energético, e, em especial, dos esforços do país em construir o maior sistema de energia renovável do mundo uma ambição muito maior do que qualquer coisa imaginada, menos ainda tentada, no Ocidente. Isso torna ainda mais importante a divulgação de informações precisas sobre o sistema ao longo de seu desenvolvimento, a fim de apreender a direção geral da mudança.
O sistema chinês de energia elétrica continua solidamente baseado no carvão e um volume muito maior dessa substância ainda será queimado até que o sistema possa ser descrito, com exatidão, como mais verde do que preto. Mas a direção da mudança está clara. Isso tem de ser reconhecido e considerado nas discussões sobre energia mundial e política energética.
(Tradução de Rachel Warszawski)
John A. Mathews é professor de estratégia da Faculdade Macquarie de PósGraduação em Administração de Sidney Hao Tan é professor titular da Faculdade de Administração de Newcastle, da Universidade de Newcastle, Austrália. Copyright: Project Syndicate, 2015.