A vida como ela é, por Roberto Rodrigues
08/12/2017
Agronegócio
POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra
O que um agricultor pode se assemelhar com um dramaturgo? O que um gênio que retratou os mais nefastos segredos da existência humana tem em comum com a maior liderança do setor agropecuário e cooperativista brasileiro? Roberto e Nelson Rodrigues tem em comum muito mais que o sobrenome, muito mais que a genialidade, no fundo de suas biografias dá para chegar em objetivos praticamente iguais, encontrar o sentido da vida, porém para o escritor a resposta veio através de perdas trágicas e lastimáveis, enquanto que para agricultor, veio através de conquistas imensuráveis.
Roberto tem hoje 75 anos, sua linhagem familiar transcende as porteiras da fazenda, fazendo parte da família com o maior número de formandos pela Esalq (Escola de Agronomia de Piracicaba da USP), que foi fundada em 1.901. Seu pai estudou lá, ele estudou lá ao lado de seis irmãos, tem uma quantidade relativa de primos que também estudaram lá, a mãe de seus filhos estudou lá, tem dois filhos que estudaram lá e hoje dois netos estudam lá.
O fato de membros da mesma família exercerem a mesma profissão também faz parte do clã de Nelson. Seu pai, Mário Rodrigues, foi um dos mais respeitados jornalistas do começo do século no Rio de Janeiro, seu irmão Roberto era um dos grandes ilustradores do jornal da família, porém foi assassinato em plena redação. O membro da família com fama próxima a de Nelson foi seu irmão Mário Filho, um dos primeiros jornalistas a se dedicar totalmente à crônica esportiva, o inventor da expressão “Fla-Flu”, organizador do primeiro desfile das escolas de samba e o maior entusiasta pela construção do Maracanã, estádio que leva o seu nome.
Outro ponto que as duas mentes brilhantes se assemelham é na capacidade de exercerem várias funções com absoluta excelência. Ao longo de sua carreira, Roberto foi agricultor, professor universitário, líder cooperativista e estadista. Nelson foi jornalista, cronista e dramaturgo.
Se Nelson estivesse vivo até hoje e estivesse escrevendo esse texto no meu lugar, com certeza o apelidaria como o Gravatinha da agricultura, um fantasma camarada que fazia o Fluminense vencer toda vez que aparecia no estádio. A seguir, o porquê do apelido.
O trem da vida
Roberto ainda frequentava o campus da Esalq quando começou a se questionar sobre o sentido da vida, sobre qual o motivo de sua existência no Planeta Terra. Depois de matutar um pouco ele encontrou a resposta, mas ela vinha dentro de uma lógica religiosa, embora cristão, para dar sentido mais prático à questão, ele mudou a ordem e passou a se perguntar: Como eu dou sentido à minha vida?
Com essa questão atormentando sua cabeça e ainda com a preocupação em não ser um peso morto, ele foi estudar e conversar sobre o tema com outras pessoas, até que chegou a seguinte conclusão: para dar sentido à vida era necessário trabalhar para construir um mundo melhor em relação aquele que havia recebido. Porém, de maneira instantânea veio outra questão, qual trabalho deveria realizar? Foi quando definiu que era necessário compartilhar o seu conhecimento para o maior número de pessoas.
“Se eu pegar um copo de água, der metade para você e ficar com a metade, eu dividi meu patrimônio, agora se eu te ensinar tudo o que eu sei e você me ensinar tudo que sabe, nós dois crescemos e ficamos do mesmo tamanho e assim o mundo fica melhor. Então cheguei à conclusão de que deveria dar aulas, esse era o objetivo doutrinário da minha vida”, refletiu Rodrigues.
Se tornou engenheiro agrônomo em 1965, quando voltou para Guariba e iniciou o trabalho na fazenda ao lado do pai. Em 1967 foi procurado pelo professor José Marden dos Santos, que o convidou para dar aula de agricultura geral na recém-criada Faculdade de Agronomia de Jaboticabal (Unesp). Como a instituição era muito nova e a verba muito pequena, a proposta era em caráter voluntário. Já com sua doutrina de vida definida, foi a oportunidade que Roberto teve para colocá-la em prática, e lá ficou por dois anos, quando a universidade conseguiu recursos para a contratação de professores.
Pouco tempo depois, o jovem agrônomo assumiria a presidência da Cooperativa de Guariba (Coplana), um outro diretor da Unesp, Ricardo Pereira Lima Carvalho, o procurou lhe ofertando a possibilidade de ser criada a disciplina de cooperativismo, aquela que viria a ser a primeira sobre a doutrina em uma Faculdade de Ciências Agrárias no Estado de São Paulo. E ele aceitou, só que não sabia que precisaria passar por um concurso.
“No dia do concurso eu confirmei a minha suspeita de que seria o único candidato, pois naquele tempo cooperativismo era uma coisa muito pouco conhecida. Na banca havia um professor meu da Esalq, o professor Molina, que inclusive era o presidente. Então ele me disse que os membros da banca estavam meio embaraçados, pois seria a primeira vez em suas carreiras que eles iriam avaliar alguém sobre um assunto que não dominavam, por isso não tinham condições de fazer um exame teórico, sendo assim pediram para eu falar o que sabia sobre o tema. Foi uma maravilha, pois pude relatar o que era na prática, teoria conhecia alguma coisa, a doutrina, mas o que eu dominava mesmo era a prática, então dei uma aula. Deu tudo certo e fui contratado como professor de cooperativismo da Unesp-Jaboticabal”, contou Roberto.
Depois de certo tempo conciliando as funções na fazenda, cooperativa e academia, o ex-ministro iniciou sua carreira de líder cooperativista, sendo presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) de 1985 a 1991, da Organização Internacional de Cooperativas Agrícolas de 1992 a 1997 e da ACI (Aliança Cooperativa Internacional, órgão centenário que congrega mais de 900 milhões de pessoas em todo o mundo) de 1997 a 2001, período no qual se afastou das salas de aula, pois não conseguiria acumular todas as atividades. Ao terminar o seu mandato recebeu o terceiro convite da instituição de ensino de Jaboticabal, para dessa vez ser professor convidado, onde permaneceu até a aposentadoria compulsória aos 70 anos.
Para a maioria dos espíritos normais, a sua meta de vida, ensinar os outros para construir um mundo melhor, estaria mais que concluída, afinal de contas foram mais de 30 anos de “campus”. No entanto, o espírito do líder cooperativista é inquieto e ao longo de sua carreira ele inseriu uma variável em seu propósito, se o tamanho de sua sabedoria seria suficiente grande para ensinar os outros e assim construir um mundo melhor. Com essa dúvida ele não tinha outra alternativa, a não ser estudar muito e também adquirir muito conhecimento com os seus alunos, para só assim ter conhecimento suficiente para transmitir e assim conseguir cumprir sua função de fazer um mundo melhor.
“Com essa variável na cabeça tive que aprender muito para dar aula, e dando aula aprendi muito com os alunos, então com isso eu fechei o círculo virtuoso da vida para mim: O que estamos fazendo aqui? Nós estamos aqui para construir um mundo melhor. Como? Ensinando. Ensinando o quê? O que se aprende. Então estamos aqui para aprender, para depois ensinar, a construir um mundo melhor.
Dar aula sempre esteve diretamente ligado a isso, tanto que depois da aposentadoria, eu aceitei o convite de montar a GVAgro para continuar no mesmo processo de ensinar e aprender”, filosofou Rodrigues.
Resolvida a charada do que ele precisava fazer para construir um mundo melhor, aflorou um segundo questionamento que o perseguia desde a época de Piracicaba. O caminho para a felicidade.
Para encontrar a melhor resposta ao tema, ele utilizou a mesma metodologia que o ajudou a responder aos seus anseios existenciais, leu e conversou muito. Enumerou diversos caminhos e chegou a uma bifurcação, a do amor e a justiça, onde para ele não é possível encontrar a paz interior sem essas duas virtudes, porém, em determinado momento da vida elas podem ser antagônicas e uma eliminar a outra, como por exemplo: se alguma pessoa amada faça um delito grave, se optar pelo amor e protegê-lo estará cometendo uma injustiça. Sendo assim, ele definiu que o seu caminho para a felicidade seria um trilho formado por amor e justiça, um de cada lado, onde corre o trem da vida, empurrado por um combustível chamado esperança e o longo da viagem é preciso construir um mundo melhor utilizando tudo aquilo que aprendeu.
O corajoso angustiado e o corajoso apaixonado
Em sua crônica, o ex-covarde, Nelson Rodrigues argumenta com um colega de redação o porquê, depois de completar determinar idade, passou a escrever sobre política, tendo em vista que no seu início de carreira nunca havia escrito uma linha sequer. O jornalista então passa a descrever todas as tragédias que atingiram membros de sua família, concluir que não tinha mais motivos para ser covarde, e então ser livre para manifestar suas opiniões polêmicas.
É totalmente plausível que a angústia desperta o sentimento de coragem no ser humano, entretanto, no relato abaixo, Roberto Rodrigues também mostra que existe um outro tipo de coragem, a dos apaixonados.
“Em 1974 eu fundei uma cooperativa de crédito em Guariba, a CredCoplana. Naquele tempo o IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool) passava recursos para as cooperativas agrícolas e eu era presidente da Coplana. Porém, tinha receio de pegar esse dinheiro e colocar dentro da cooperativa, pois não havia controle suficientemente rigoroso para o recurso. Foi quando eu tive a ideia de criar a cooperativa de crédito, porque nela eu sabia que teria um controle realizado pelo Banco Central.
Foi então que eu tive um grande lance de sorte. Para um projeto dar certo na vida é preciso ter três condições: A primeira é ter pessoas envolvidas que realmente gostam de fazer aquilo, pois uma peça que esteja trabalhando de maneira forçada pode destruir a mais perfeita das engrenagens. Segundo, é necessário conhecimento para executar as tarefas, se não souber, não se meta, que vai dar errado. E em terceiro, a sorte, porém tem que ajudar a sorte, um exemplo: o trem vai passar, você não sabe a hora, mas tem que ir à estação, se você não for à estação o trem passa e você não pega ele, tem que ajudar a sorte. Voltando ao projeto de Guariba, a minha sorte foi que quando eu fundei a cooperativa de crédito havia acabado de fechar uma agência do Banco Itaú na cidade, que não era rentável para eles. Como o gerente era amigo meu, colega de grupo escolar, eu conversei com ele, passei todas as maneiras de trabalho e ele topou. Com isso eu peguei uma agência bancária estruturada e montei a cooperativa de crédito nos mesmos parâmetros, ou seja, uma máquina de serviços bancários perfeita.
Quando a agência decolou chamou a atenção de várias lideranças do meio, inclusive do presidente da Ocesp (Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo) Américo Utumi. Ele nos fez uma visita e ficou encantado. Em pouco tempo já havia montado uma comissão, na qual eu fui presidente, para replicar aquele modelo para o Estado inteiro. Em três anos fundamos 12 cooperativas de crédito em São Paulo, com o sistema integrado em uma central, e foi um sucesso, porque tudo foi baseado no modelo de Guariba, e essa foi a semente que originou o Sicoob.
Quando o sistema paulista estava em desenvolvimento, o então presidente da OCB, José Pereira Campos, também se interessou, conheceu o processo e decidiu implantar um sistema parecido no Brasil inteiro. Mais uma comissão foi formada, na qual eu também era o presidente, mas o grande mentor desse projeto foi o gaúcho Mário Kruel Guimarães, que foi o fundador do sistema Sicredi na região Sul.
Isso me deu bastante projeção e então eu virei presidente da OCB, em 1985. Uma das atitudes que tomei foi filiar a OCB à Aliança Cooperativa Internacional no segundo ano que estava lá, mesmo período de formação do texto da Constituinte, que foi aprovada em 1988. Montamos uma frente parlamentar no Congresso Nacional com mais de 200 deputados, um trabalho muito bem feito com todos os Estados e conseguimos colocar nela um artigo dando às cooperativas de crédito isonomia no sistema financeiro, fazendo com que o Banco Central, que até então proibia as cooperativas de fornecer cheques, abrir contas, prestar serviços bancários, tratassem de maneira igual as cooperativas de crédito e os bancos. Ele foi obrigado a abrir e cuidar das cooperativas de crédito, sendo hoje um grande aliado, aliás, o maior aliado em todo o Brasil.
O crescimento que houve daquele tempo até os dias de hoje nem precisa ser dito, prova disso que há 15 dias o Sicredi, que no ano passado abriu uma agência na Avenida Paulista em São Paulo, uma filial da matriz que fica em Curitiba, chegou ao sócio de 1 milhão e entrou em contato comigo pedindo para eu ser esse sócio. Então, em Guariba eu sou o sócio número 1 e, agora, 45 anos depois, eu sou o cooperado 1 milhão do Sicredi. Isso significa que eu plantei um negócio lá atrás e estou colhendo uma verdadeira revolução de um setor que faz tão bem ao país todo.
Outro exemplo de que o trabalho foi muito bem realizado foi que, no ano passado, eu recebi do WOCCU (Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito), cuja a sede fica em Denver, no Colorado (EUA), eu recebi uma premiação equivalente ao Nobel do cooperativismo de crédito.
Contei esta história para mostrar que nada aconteceu por acaso, tudo foi um processo longo e demorado, no qual exigiu muito trabalho e, principalmente, coerência o tempo inteiro, não me referindo à mudança de ideias, mas em ser coerente com os princípios e valores. Isso me fez chegar ao topo do mundo dentro do cooperativismo e em troca da minha dedicação ele me proporcionou conhecimentos culturais, pois viajei o mundo inteiro, e também um aprendizado histórico valiosíssimo, pois conheci o mundo bipolar dos tempos da guerra fria, toda a sua transição e o planeta liberal, pós-queda do Muro de Berlim e União Soviética do presente”.
Cooperativismo não se ensina, se transmite
Parece muito antagônico dizer, em um texto falando de um dos maiores, senão o maior, professor de cooperativismo do Brasil, que ele não se ensina, mas é transmitido. Para esclarecer isso Roberto Rodrigues faz uma simples constatação, porque no país, embora tenhamos um número relativamente grande de cooperativas espalhadas por todas as regiões, não se vê cursos, existe apenas um curso de graduação na Universidade Federal de Viçosa.
Para ele, há essa ambiguidade, pois o cooperativismo é baseado em princípios universais (adesão livre e voluntária; gestão democrática; participação econômica; autonomia e independência; educação, formação e informação; intercooperação e interesse pela comunidade), que desenvolvem valores humanos. Portanto, para alguém ministrar uma aula sobre o tema tem que ter vivido ele na prática, caso contrário a aula será vazia e desinteressante. “É difícil ensinar cooperativismo porque o professor dessa matéria tem que pensar, falar e fazer coisas coerentes à doutrina, não pode ser antagônico, tem que ser transparente, não pode ser desonesto, se for matou a doutrina”, concluiu Rodrigues.
Sindicalismo x Associativismo x Cooperativismo
Para conceitualizar a diferença entre os três tipos de associação, o ex-ministro cita como exemplo o cooperativismo agrícola, onde com o estreitamento das margens para a produção no campo, é necessário ter escala tanto para a compra de insumos, como a venda da safra, quantidade essa que não é factível para os pequenos e até médios produtores. Sendo assim, ele tem duas alternativas para sobreviver, ou depende de subsídios do poder público, como a Europa pratica, ou então se une com outros produtores e forma uma cooperativa, onde através da união conseguirá melhores preços e também adquirirá tecnologias de produção.
Sobre o associativismo e o sindicalismo, Rodrigues teoriza o primeiro como a forma primária de associação, na qual as pessoas se unem para atingirem interesses representativos em comum, o sindicato acaba sendo criado para ser uma representação mais política, pois segundo a Constituição cabem a eles essa função. O problema é que no Brasil, com o imposto sindical, houve uma vulgarização desse tipo de entidade, fazendo com que em alguns setores instituições acabam concorrendo para ganhar associados, com a nova CLT, onde esse imposto deixa de ser obrigatório, a tendência é que aconteça uma diminuição expressiva sobrevivendo apenas os mais representativos. O líder setorial ainda cita o caso das associações setoriais do mundo agro (Abag, Unica, Orplana, Aprosoja), que conquistaram representatividade muito maior que seus respectivos sindicatos até mesmo pelo fato da adesão ser voluntária.
Passado, presente e futuro
O que as retinas de Roberto Rodrigues projetaram para sua mente foram as imagens relacionadas à agricultura e devem formar uma linha do tempo com ricos detalhes, e quando questionado sobre qual a principal evolução no campo dos tempos de seu pai para hoje, ele responde de maneira generalista, porém categórica. “Com toda certeza foram os saltos tecnológicos extraordinários que tivemos ao longo desses 52 anos que estou formado”.
Na visão do produtor rural aposentado, hoje todas as suas propriedades são cuidadas pelos filhos, é claro que a participação das universidades (Esalq, Unesp e Federais) e de órgãos de pesquisa públicos (IAC, IB e Embrapa) em um primeiro momento, e depois a participação da iniciativa privada e também a vinda de inovações do exterior, criou no Brasil uma agricultura tropical extremamente desenvolvida, o que gerou a condição de ser um dos melhores no campo em todo o mundo.
Porém, nem tudo são rosas, e ele aponta o famoso “custo Brasil” como a principal âncora que não permite o campo ser ainda mais eficiente. “Dentro da fazenda, a tecnologia que se encontra é de ponta, mas quando você ultrapassa a porteira, volta para a realidade. A logística é complicada, o transporte é caro, os portos são inadequados, os juros são altos. Você é muito produtivo dentro da fazenda, por causa da tecnologia tropical, e perde competitividade quando você sai, é a hora que o custo Brasil cobra o seu preço.
Se o líder cooperativista tivesse uma bola de cristal, todos os brasileiros envolvidos diretamente com o agronegócio gostariam de receber sua visão quanto ao futuro. Na verdade, ele tem uma bola de cristal, que são os 31 conselhos diferentes que participa, e o que ela mostra é uma sociedade urbana, que não trabalha diretamente com o setor agro, mas está cada vez mais convencida de que esse será o grande setor responsável em colocar o Brasil como uma potência mundial, e dar para toda a população o desenvolvimento de que ela tanto necessita.
E, na sua visão, um dos grandes responsáveis por essa mudança é a mídia, principalmente a especializada, como a Revista Canavieiros, que se profissionalizou, ficou mais lúcida e consegue pautar a grande imprensa da importância de cada área. “Com isso a sociedade urbana já reconhece a importância do agro, não assume como sendo dele, mas reconhece. O conceito de que o Brasil vai mal, mas a agricultura vai bem, já está bem estabelecido em toda a população, então falta o que? Falta eles colocarem a palavra “nossa” agricultura vai bem”.
Ao lado de Luiz de Queiroz
Luiz de Queiroz foi um dos precursores daquilo que mais tarde seria chamado de agronegócio, ele plantava algodão e tinha uma indústria têxtil, sendo também o grande entusiasta da Escola de Agronomia (doando a fazenda onde é o “campus”), que mais tarde estaria entre as 5 mais respeitadas universidades de ciências agrárias do mundo. Não é à toa que tem um busto em sua homenagem logo na entrada do prédio central.
Pois bem, se Roberto Rodrigues conseguir desenvolver o projeto que pretende ao assumir a cátedra “Luiz de Queiroz”, criar uma plano de governo onde todos os setores da sociedade entendam que o grande alavancador da sociedade brasileira é o agronegócio, e que a partir desse sentido todos trabalharão para desenvolver um ambiente que proporcione ao setor elevar ainda mais a sua eficiência e com isso ser reconhecido como a grande fonte de comida do mundo, com certeza terá, no futuro, um busto ao lado do Luiz de Queiroz na entrada da Universidade.
“Eu estou empenhado em um processo muito grande, um projeto de governo para as próximas eleições, que vai transformar o Brasil no campeão mundial da segurança alimentar, mas ele não é focado somente na agricultura, e sim no Brasil como um todo, porque o cidadão que trabalha em uma siderurgia fazendo aço, ajuda o agronegócio, pois o seu aço vai fazer trator, equipamentos, máquinas, trem, vagão, caminhão, navio, tudo isso vai precisar da matéria-prima, então a siderurgia é minha aliada para ter sucesso no agronegócio. Para ser o maior fornecedor de alimento, é preciso do suporte das prestadoras de serviço, como banco, seguradoras, entre outras onde todas são urbanas. O sucesso no campo depende da cidade, assim como a indústria de alimentos é urbana, a indústria de embalagem, supermercado. Na verdade, o sucesso da agricultura brasileira não pode estar atrelado apenas ao agricultor, mas em todos os segmentos da sociedade. Meu empenho se baseia nessa tese, a de criar um plano de governo que transforme o Brasil em um campeão mundial de segurança alimentar, o que garantirá a paz, então meu plano de governo é para assegurar a paz mundial e para isso precisamos de segurança industrial e segurança jurídica”, analisou Roberto.
O plano ainda está em um processo inicial de desenvolvimento, mas o catedrático adiantou que a proposta é desenvolver duas frentes de ataque para a questão do ganho de produtividade: a pública, onde os focos já são velhos conhecidos do setor como segurança jurídica, reformas políticas, melhoria da estrutura logística, políticas que desenvolvam a previsibilidade de renda, entre outras; e o campo, no qual deverá ser criado um grande plano para levar a gestão até as fazendas, onde em um futuro bem próximo, toda propriedade deverá executar o mínimo sobre controle de custos, gestão financeira, controle fiscal, gestão ambiental, entre outros.
Além da melhoria do custo Brasil e também a gestão no campo, que são problemas evidentes para quem acompanha o dia-a-dia do setor, o grande diferencial do programa, que será entregue a todos os candidatos à Presidência da República, é a sua integração com todos os segmentos da sociedade, onde com o auxílio da comunidade acadêmica vão se desenvolver soluções de 17 temas distintos (reformas tributária, fiscal, política e previdenciária; logística, tecnologia da informação, produtividade, pequeno fornecedor, irrigação, entre outros), quando esses projetos forem finalizados, será promovido um seminário onde participarão representantes da indústria e também prestadores de serviços relacionados aos temas além de lideranças setoriais e políticas/parlamentares, com isso todas as partes interessadas participarão de um documento no qual o futuro ocupante do cargo máximo da democracia brasileira não terá muitos argumentos para contestá-lo.
E o resultado final da “bola de cristal” de Roberto Rodrigues, é se tudo andar na medida do possível bem, em 15 anos poderemos ser uma das 5 nações mais desenvolvidas do planeta, lógico que para isso existem infinitas variáveis, e a maior delas com certeza é a qualidade dos eleitos na eleição de 2018.
Não é só de comida que vive o homem
O projeto do Roberto Rodrigues é muito interessante, porém quem atua no setor sucroenergético deve estar se perguntando: E eu, onde entro nisso? E esse foi um dos assuntos tratados durante a entrevista, onde ficou claro que o “projeto de futuro” para o setor já está escrito e na cara do gol para entrar em prática, o Renovabio, o qual dará novos horizontes jamais vistos por toda cadeia produtiva de bioenergia.
Atrelado ao Renovabio, o professor falou sobre o porquê a produtividade dos canaviais estão estagnadas há pelo menos 5 anos, onde a culpa foi de uma praga muito mais maléfica para o setor que a cigarrinha, chamada Dilma Rousseff, que simplesmente quebrou todos os seus componentes. “A presidente deixou todos completamente sem renda, e todos sabem que qualquer sistema produtivo agrícola, não importando o tamanho, sem tecnologia é impossível competir, tem que comprar tecnologia, sem renda, ninguém compra tecnologia, se não tiver ninguém comprando, não há produtividade. Nesse raciocínio, ele conclui que quando o dinheiro voltar, já existem diversas tecnologias testadas na prateleira, como Meiose e MPB por exemplo, nas quais o produtor rapidamente vai assimilar e com certeza a produção vai conseguir chegar perto dos tão desejados 3 dígitos de toneladas de cana por hectare.
E quando esse momento de prosperidade chegar é a hora do setor sentar e resolver a questão do Consecana, onde segundo ele, foi uma “mágica”, algo de uma inteligência enorme” ao ser criado nos anos 90, depois da queda do IAA, órgão responsável por regularizar a relação fornecedor e usina, onde ao deixar de existir, deixou o setor órfão, sem um norte, e então veio o Consecana. No entanto, o setor evoluiu, novos produtos apareceram, como a cogeração de energia, e por isso ele precisa de ajustes, porém é preciso acabar o “inverno” deixado pela petista, pois em momentos em que o cobertor está curto para todo mundo, não dá para conseguir um consenso na partilha.
O que dirão por aí
A grande missão do campo é com certeza ganhar o apoio da opinião pública urbana, questões como trabalho escravo, desmatamento da Amazônia, poluição de rios, terras degradadas, ainda insistem e não muito raro acabam se destacando mais nos noticiários que os resultados recordes de safra, a quantidade de emprego que o agronegócio gera, a quantidade de mata nativa que o fazendeiro precisa manter em sua propriedade.
Sob esse cenário, Rodrigues acredita que o plano de governo será de fundamental importância para trazer cada vez mais os jornalistas para o lado do agronegócio produtivo. Segundo ele, ao fechar cada um dos 17 temas, esses serão apresentados para a mídia com explicação de todas as partes envolvidas na sua constituição (academia, indústria e política), com isso eles entenderão que um grande movimento está trabalhando sério para diminuir cada vez mais o número de notícias negativas que envolvem o campo.
Sonho interrompido ou dever cumprido
Com certeza o assunto que gera mais curiosidade sobre a carreira de Roberto Rodrigues é o período que ele foi ministro da Agricultura, no primeiro Governo de Lula, a pluralidade de objetivos era tamanha que até mesmo um gênio da perturbação humana como Nelson Rodrigues teria dificuldades para transcrevê-la.
O que é claro que os três anos e meio que esteve à frente da pasta não foram nada fáceis. “Imagine minha posição, eu agricultor liberal da Califórnia Brasileira, em um Governo do PT onde grande parte dos membros, se tivesse oportunidade, transformaria o Brasil em Cuba. Eu era um passarinho fora do ninho, nunca fui recebido com muita alegria, foi um período muito difícil”, lembrou Rodrigues.
Porém, ele nunca fugiu da briga e acredita que foi até onde era possível ir naquelas condições, dentre os projetos que considera como vitórias no período estão a Lei da Biossegurança, Lei do Seguro Rural, Lei dos Orgânicos e o PAC da Embrapa, o que olhando na importância que essas ações se transformaram hoje, é fácil concluir que o dever foi muito bem cumprido.