Abertura de Safra 2021/22: lideranças discutem desafios no setor

13/04/2021 Cana-de-Açúcar POR: Eddie Nascimento

Autoridades durante a cerimônia da "Abertura de Safra Cana, Açúcar e Etanol 2021/22”

 

Foi realizado neste mês de março mais uma edição do "Santander Datagro Abertura de Safra Cana, Açúcar e Etanol 2021/22". O evento, que é tradicional, apresenta os principais desafios a serem enfrentados pelo setor na safra vindoura e as metas atingidas pelo setor.

De acordo com a organização do evento, cerca de 2 mil pessoas acompanharam a cerimônia realizada de forma virtual por conta da pandemia da Covid-19.

Entre os convidados, estiveram Ricardo Salles, ministro de Meio Ambiente; Joaquim Álvaro Pereira Leite, secretário da SAS - Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais; Arnaldo Jardim, deputado federal e presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Sucroenergético na Câmara dos Deputados; Antonio Duarte Nogueira, prefeito da cidade de Ribeirão Preto; André Rocha, presidente do FNS - Fórum Nacional Sucroenergético; Evandro Gussi, presidente da Unica - União da Indústria de Cana-De-Açúcar; Alexandre Andrade, presidente da Feplana - Federação dos Plantadores de Cana do Brasil; Denis Arroyo Alves, diretor-executivo da Orplana - Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil; Luís Carlos Junior Jorge, presidente do Ceise Br - Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis; Mario Roberto Ópice Leão, vice-presidente executivo do Banco Santander; e, Plinio Nastari, presidente da consultoria agrícola Datagro.

O ministro do MME - Ministério de Minas e Energia, Bento Albuquerque fez uma participação gravada, enquanto Tereza Cristina, ministra do MAPA - Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, confirmada anteriormente pela organização, não pode comparecer devido a um compromisso de última hora.

Principais assuntos discutidos

O debate de ideias se resumiu principalmente em relação à competitividade do etanol frente à gasolina, além de destacarem a importância de se valorizar o produto no mercado brasileiro. Foi discutida a união com outros setores, como, por exemplo, o automobilístico, além de uma melhor comunicação do produto ao nível internacional.

Em sua fala de abertura, Plínio Nastari relatou as questões da safra em meio à pandemia do novo coronavírus e destacou que o setor conseguiu superar todos os desafios.

“Concluímos uma safra bastante desafiadora. Digo desafiadora por várias circunstâncias, a pandemia, o clima, a volatilidade do mercado com o petróleo indo a menos 43 dólares o barril, no dia 20 de abril do ano passado; da gasolina, no mercado americano caindo para 40 centavos de dólar por galão, agora recuperada para 2,05 dólares o galão; do câmbio muito volátil, mas o setor sucroenergético, que agora não é só cana, é também milho, superou todos esses desafios com galhardia”, explicou Plinio Nastari, que completa citando outras barreiras como o isolamento social e as normas da Organização Mundial do Trabalho.

“Mesmo diante disso tudo, o setor entregou uma safra recorde tanto e açúcar quanto em etanol e cumpriu esse objetivo, principalmente de implementação do primeiro ano do RenovaBio”, relata.

Renovabio e CBIOs

Durante a cerimônia de abertura outro assunto muito discutido foi a nova Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio).

Instituído pela Lei n.º 13.576/2017, o RenovaBio tem como objetivo estimular o mercado de bicombustíveis e reduzir a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa. Em contrapartida, o produtor tem que medir e qualificar todas as suas emissões de modo a obter uma nota de eficiência energética para a emissão dos créditos de debêntures para a comercialização em bolsa, os chamados (CBIOs). Para o presidente da Unica, Evandro Gussi, 2020 foi um teste de fogo para que o programa pudesse ganhar força. “Todos os sacolejos que o RenovaBio podia passar, pelo menos os mais importantes aconteceram no ano passado e penso que ele respondeu à altura a todos eles. Então, nos temos agora um programa acima de qualquer questionamento que, com previsibilidade, vai agregar mais ‘players’ e que não traz ‘squeeze’ a ninguém”, comentou Evandro Gussi.

Já o deputado federal e presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Sucroenergético na Câmara dos Deputados, Arnaldo Jardim, aproveitou para lembrar outros desafios a serem enfrentados, entre eles, o aumento no preço dos combustíveis e a carga tributária.

“Embora tenhamos ganhado no diálogo com o governo, a questão da tributação não está suficientemente equacionada”, aponta Jardim. “Uma questão que me preocupa muito com a franqueza que esse momento exige é a do preço dos combustíveis. Temos que enfrentar essa questão e ter propostas em relação a isso. Não podemos permitir saídas que produzem resultado, mas que sabemos que em médio prazo serão muito complicadas” ressalta.

Outro ponto destacado por Arnaldo Jardim é em relação à importação de etanol, algo que tem deixado o produtor nacional apreensivo. “Alguns setores vieram conversar comigo sobre a importação de etanol. Abrir para a importação poderia ser um choque de preços. Enfrentamos essa discussão no ano passado e queremos que o etanol se consolide como uma commoditie internacional. O que vem de sinal do governo americano é aumentar a mistura do etanol lá, ai sim é um bom caminho que nos permitirá investimentos no setor”, frisa.

Ministro Ricardo Salles apoia setor:

“O trabalho que é desenvolvido pelo setor é um exemplo para o mundo de sustentabilidade”, Ricardo Salles, ministro de Meio Ambiente.

Presente na cerimônia, o ministro de Meio Ambiente Ricardo Salles mostrou seu apoio ao setor. Em sua fala, Salles destacou a oportunidade que o Brasil tem com a nova política do presidente dos Estados Unidos Joe Biden em relação ao estímulo de produção de biocombustíveis. Para isso ele prega união de todos os setores.

“Todos têm acompanhado a todo o momento, não só no Brasil, mas fora também a sustentabilidade dos nossos carros movidos a etanol. Nosso carro flex é mais sustentável, até mais do que o elétrico, considerando toda a conta global, como, por exemplo, seu gasto com a energia de produção e bateria. Isso tem que ser dito sempre até para que a nossa indústria automotiva continue apostando nesse nosso produto que é o etanol, nos veículos motivos a etanol e no modelo híbrido”, destacou o ministro.

“Nenhum outro pais do mundo tem essa questão climática, de redução de carbono, de neutralidade de carbono, de combustíveis renováveis, de biocombustíveis, de biomassa, de energia limpa. Nenhum país tem uma situação tão privilegiada quanto a nossa. O que precisamos saber é colocar preço. Precisamos saber tangibilizar essa nossa vantagem competitiva para que todos os setores, em especial o nosso sucroenergético tenham esses benefícios”, frisa.

Queda na safra de cana e na produção de açúcar e etanol do Centro-Sul

Após a cerimônia de abertura foram apontadas as projeções da Datagro para a Safra 2021/22 nas regiões Norte-Nordeste e Centro-Sul. O painel foi apresentado pelo economista sênior da Datagro Bruno Freitas.

De acordo com os dados, a estimativa é que a produção de açúcar na região do Centro-Sul chegue a 36,7 milhões de toneladas, número menor do que a safra 20/21 que foi de 38,52 milhões de toneladas. A queda, segundo o levantamento, se deve a problemas climáticos, resultado das chuvas abaixo do normal na região após um período longo de estiagem.

Em números, a Safra 2021/22 na região Centro-Sul também deve recuar 3,5%, resultando em 586 milhões de toneladas; 21,09 milhões de toneladas a menos do que na Safra 2020/21 (607,09 milhões) e da Safra 2019/20 (590,3 milhões).

A estimativa de ATR (Açúcares Totais Recuperáveis) da nova safra é estimada em 141,20 kg por tonelada, frente a 144,69 kg/t de 2020/21 ( -2,4%). O levantamento aponta uma safra mais açucareira do que a última, com um mix de 46,5% de açúcar – uma produção de 36,70 milhões de toneladas (queda de 4,7%). A produção de etanol, segundo a estimativa é de 29,40 bilhões de litros (recuo de 4,1% em relação  2020/21).

Resumo da estimativa DATAGRO da Safra 2020/21 na região Centro-Sul

 

Com preços favoráveis, influenciados principalmente pela taxa de câmbio o açúcar deve ser destaque. O motivo aponta, o relatório é que os preços do produto no mercado interno superaram 2 mil reais por tonelada, um crescimento de 50% comparado à safra anterior.

Já o etanol apresenta bons preços, por conta do câmbio e valores da gasolina no mercado interno. Segundo Freitas, os preços do etanol anidro (que é misturado à gasolina) já estão oferecendo às usinas uma remuneração maior do que o açúcar no mercado interno, equivalente a 15,73 centavos de dólar.

“Ainda assim, não há muitas dúvidas de como deverão se comportar as usinas com relação ao mix de produção”, finalizou o analista.