O diretor do Centro de Cana IAC (Instituto Agronômico), Marcos Landell, falou sobre o assunto durante importante evento sobre variedades de cana, em Ribeirão Preto-SP, onde concedeu entrevista à Revista Canavieiros. Confira!
Revista Canavieiros: Em sua palestra no 9º Encontro de Variedades de Cana, você afirmou que "não adianta produzir novas variedades e adotar as mesmas estratégias passadas". Fale um pouco sobre essa sua afirmação.
Landell: Temos um exemplo bem recente nessa expansão da canavicultura. Por falta de planejamento, as coisas foram muito focadas na operacionalização do sistema. O pessoal se dedicava a fazer um plantio que muitas vezes não era de boa qualidade e não tinha mudas. Usavam o canavial comercial que às vezes estava em seu quarto corte e multiplicavam problemas. Por outro lado, perdemos praticamente décadas multiplicando variedades antigas. Coincidentemente nesse período de expansão, a mecanização assumiu 100% nas áreas de cana-de-açúcar.
Antigamente, no final da década de 90, uma boa parte de produtores cortava cana manual, o plantio era todo manual e, de repente, tínhamos outro cenário. Toda colheita sendo feita mecânica e inclusive o plantio começou a ser de uma hora para a outra também mecânico. Houve uma troca de procedimentos no cenário de mecanização e não houve uma adoção de variedades mais modernas adaptadas a isso, o que gerou uma série de problemas. Um deles são canaviais com essas variedades mais antigas pouco adaptadas a pisoteio e plantio mecânico, canaviais com muitas falhas, com baixa população, o que gera, como consequência, a baixa produtividade.
As variedades hoje são melhores que as de 20 anos atrás, não é normal alguém adotar variedades antigas
Estamos cometendo dois erros: usando variedades antigas, desprezando aquilo que de novo foi gerado por programas de melhoramentos sérios e, segundo, a gente está utilizando as mesmas estratégias de produção do passado, quando temos hoje modelos de produção totalmente diferentes. O modelo da matriz, por exemplo, o terceiro eixo da matriz, antecipação dos primeiros ciclos para gerar populações maiores, fazer gestão de população no canavial para estabilizar a produtividade em altos níveis.
Tem uma série de estratégias novas e o pessoal está usando isso com as mesmas estratégias antigas. Apesar de uma boa parte do setor estar adotando coisas novas, ainda tem um pessoal vivendo do passado e isso faz permanecermos ainda em produtividades muito baixas.
Revista Canavieiros: O que você atribui a pouca adoção de novas variedades?
Landell: Um dos problemas que retardou e que retarda a adoção de novasvariedades é o plantio mecânico. Ele derrubou a taxa de multiplicação que antes, por exemplo, uma pessoa que tinha uma nova variedade e queria crescer rapidamente, plantava manual essa cana e chegava a fazer relações de 1 hectare para 20. Hoje, com o plantio mecânico, não tem muito o que fazer. As máquinas têm os seus limites, as operações têm seus limites, a pessoa consegue taxas médias de multiplicação de 1 para 3,5 e, se fizer muito bem feito, de 1 para 5 ou 6, mas é o máximo que se consegue. A operação de plantio mecânico, além de gastar mais mudas e ficar mais cara, prejudica a velocidade de adoção de uma nova variedade. Uma das coisas que nos fez pensar no MPB (Mudas Pré-Brotadas) como uma solução para alcançar taxas de crescimento bastante grandes foi porque com o MPB é possível a fazer 1 para 100. Se pegar todas as mudas dentro de um hectare teremos muda suficiente para plantar 100 hectares, dois meses depois.
Então, pode ser que o MPB nos livre dessas amarras que impedem ou que reduzem a velocidade de adoção de novas variedades e incorporação dos ganhos dessas novas variedades para o bolso do produtor
Revista Canavieiros: Como você tem visto o sistema de multiplicação que as empresas vêm adotando por meio de MPB?
Landell: É muito curioso, é um processo em desenvolvimento e temos aprendido muito, todo mundo junto. Temos visitado e recebido visitas de muitas pessoas que estão fazendo de maneira artesanal o seu MPB, praticamente todos ficam encantados com a técnica porque percebem benefícios e potencialidade.
Quando entrar o processo de automação, que é uma questão de tempo, desde a retirada dos minirebolos, minitoletes, até o plantio se transformar em plantio mecânico, quando essas coisas ficarem redondas, com certeza a adoção vai ser maior, àqueles que hoje ainda são relutantes vão se entregar a essa tecnologia.
Provavelmente nesse primeiro momento se pensa em MPB para fazer um viveiro pré-primário ou primário, mas acho que num segundo momento, se tivermos aquilo que estamos percebendo de sucesso em termos de aumento de produtividade, redução de consumo de muda e, principalmente, a oportunidade de estabelecer um canavial com uma gestão espacial, onde é possível saber exatamente o ponto onde está sua unidade biológica, que é a toceira. A partir daí, se usarmos isso a favor do estabelecimento, por exemplo, numa agricultura de precisão, saberemos exatamente onde está a toceira, e podemos tratá-la como um indivíduo, como um elemento único na área de produção. Isso gera uma perspectiva totalmente nova. Eu não sei onde vai dar isso, mas pode ser que reduza o adubo em função de uma utilização mais pontual desse produto naquela unidade biológica que é a toceira. Hoje, com o plantio em colmos, não sabemos onde está a toceira, nem quantas toceiras temos em um metro. Ninguém sabe porque isso é aleatório, o canavial é aleatório, não tem uma distribuição espacial conhecida. Com o MPB, técnicas de plantio de mudas, é possível estabelecer um arranjo espacial conhecido e que vai poder atuar por exemplo com a agricultura de precisão a favor, cuidando de cada indivíduo e proporcionando melhor resposta de produção.
Revista Canavieiros: Nos últimos anos a produtividade da cana-de-açúcar caiu. Apesar disso, muitos pesquisadores, empresas, produtores e usinas têm trabalhado para recuperar o tempo perdido, desenvolvendo tecnologias e novos conceitos que visam retomar o crescimento da produtividade agrícola e atingir a cana dos três dígitos. Qual seria a estratégia para construir a cana de três dígitos?
Landell: Primeiro é o treinamento, o convencimento, as pessoas precisam estar convencidas e, segundo, é como construir essa cana de três dígitos. Você constrói quando planta e, para isso, é necessário pensar antes no preparo do solo, na incorporação de insumos como calcário, gesso e em uma boa adubação.
É importante trabalhar com um material biológico que seja bom para o plantio mecânico. Para isso, temos que trabalhar com uma variedade que nasça bem e que perfilhe bem para não começar o canavial com baixa população. Então duas coisas são essenciais: construir um patrimônio biológico de alta população e manter isso nos cortes que se seguem. Com certeza, quem fizer isso bem feito, com grupo varietal novo, vai chegar aos três dígitos com facilidade, eu não tenho dúvida disso.
Revista Canavieiros: Apesar do cenário que o setor vem atravessando, o que o produtor e as empresas podem esperar do IAC em 2016?
Landell: Vamos ter em 2016 o lançamento de novas variedades. Estamos definindo, depende ainda das colheitas até novembro, e então faremos os nossos ensaios, materiais novos, um pacote mais desenvolvido do MPB. Faremos também uma ação contundente divulgando os conceitos de manejo varietal falando da matriz, do terceiro eixo da matriz, tudo em cima de um modelo que proporcione o aumento das populações dos nossos canaviais não apenas para gerar maiores produtividades nos cortes a cortes, mas principalmente para aumentar longevidade associada a altas produtividades. Esses dois pontos longevidade e produtividade são essenciais para sustentabilidade econômica da canavicultura nacional e, principalmente, de fornecedor que não tem uma indústria para agregar valor, tem só a cana, só a área agrícola e precisa aumentar a longevidade dos seus canaviais e a produtividade.
Se ele fizer essas duas coisas, com certeza fecha as contas mesmo num cenário bastante desfavorável com a falta de política clara do Governo Federal. E eu acredito que ainda temos ferramentas nesse meio biológico que é nossa área de produção, para verticalizar de maneira tal que fiquemos livres das garras da desorganização que existe nesse país em função das políticas de etanol, de energia sustentável, da bioenergia. Apesar de não termos políticas favoráveis e claras para isso, que nos permita pensar nesses próximos 20 anos, eu tenho uma vida que posso me planejar. Se a gente subir, elevar nosso voo para produtividades e longevidades maiores, derrubamos o custo de produção, diluímos bastante e com isso nos sustentamos.
O diretor do Centro de Cana IAC (Instituto Agronômico), Marcos Landell, falou sobre o assunto durante importante evento sobre variedades de cana, em Ribeirão Preto-SP, onde concedeu entrevista à Revista Canavieiros. Confira!
Revista Canavieiros: Em sua palestra no 9º Encontro de Variedades de Cana, você afirmou que "não adianta produzir novas variedades e adotar as mesmas estratégias passadas". Fale um pouco sobre essa sua afirmação.
Landell: Temos um exemplo bem recente nessa expansão da canavicultura. Por falta de planejamento, as coisas foram muito focadas na operacionalização do sistema. O pessoal se dedicava a fazer um plantio que muitas vezes não era de boa qualidade e não tinha mudas. Usavam o canavial comercial que às vezes estava em seu quarto corte e multiplicavam problemas. Por outro lado, perdemos praticamente décadas multiplicando variedades antigas. Coincidentemente nesse período de expansão, a mecanização assumiu 100% nas áreas de cana-de-açúcar.
Antigamente, no final da década de 90, uma boa parte de produtores cortava cana manual, o plantio era todo manual e, de repente, tínhamos outro cenário. Toda colheita sendo feita mecânica e inclusive o plantio começou a ser de uma hora para a outra também mecânico. Houve uma troca de procedimentos no cenário de mecanização e não houve uma adoção de variedades mais modernas adaptadas a isso, o que gerou uma série de problemas. Um deles são canaviais com essas variedades mais antigas pouco adaptadas a pisoteio e plantio mecânico, canaviais com muitas falhas, com baixa população, o que gera, como consequência, a baixa produtividade.
As variedades hoje são melhores que as de 20 anos atrás, não é normal alguém adotar variedades antigas
Estamos cometendo dois erros: usando variedades antigas, desprezando aquilo que de novo foi gerado por programas de melhoramentos sérios e, segundo, a gente está utilizando as mesmas estratégias de produção do passado, quando temos hoje modelos de produção totalmente diferentes. O modelo da matriz, por exemplo, o terceiro eixo da matriz, antecipação dos primeiros ciclos para gerar populações maiores, fazer gestão de população no canavial para estabilizar a produtividade em altos níveis.
Tem uma série de estratégias novas e o pessoal está usando isso com as mesmas estratégias antigas. Apesar de uma boa parte do setor estar adotando coisas novas, ainda tem um pessoal vivendo do passado e isso faz permanecermos ainda em produtividades muito baixas.
Revista Canavieiros: O que você atribui a pouca adoção de novas variedades?
Landell: Um dos problemas que retardou e que retarda a adoção de novasvariedades é o plantio mecânico. Ele derrubou a taxa de multiplicação que antes, por exemplo, uma pessoa que tinha uma nova variedade e queria crescer rapidamente, plantava manual essa cana e chegava a fazer relações de 1 hectare para 20. Hoje, com o plantio mecânico, não tem muito o que fazer. As máquinas têm os seus limites, as operações têm seus limites, a pessoa consegue taxas médias de multiplicação de 1 para 3,5 e, se fizer muito bem feito, de 1 para 5 ou 6, mas é o máximo que se consegue. A operação de plantio mecânico, além de gastar mais mudas e ficar mais cara, prejudica a velocidade de adoção de uma nova variedade. Uma das coisas que nos fez pensar no MPB (Mudas Pré-Brotadas) como uma solução para alcançar taxas de crescimento bastante grandes foi porque com o MPB é possível a fazer 1 para 100. Se pegar todas as mudas dentro de um hectare teremos muda suficiente para plantar 100 hectares, dois meses depois.
Então, pode ser que o MPB nos livre dessas amarras que impedem ou que reduzem a velocidade de adoção de novas variedades e incorporação dos ganhos dessas novas variedades para o bolso do produtor.
Revista Canavieiros: Como você tem visto o sistema de multiplicação que as empresas vêm adotando por meio de MPB?
Landell: É muito curioso, é um processo em desenvolvimento e temos aprendido muito, todo mundo junto. Temos visitado e recebido visitas de muitas pessoas que estão fazendo de maneira artesanal o seu MPB, praticamente todos ficam encantados com a técnica porque percebem benefícios e potencialidade.
Quando entrar o processo de automação, que é uma questão de tempo, desde a retirada dos minirebolos, minitoletes, até o plantio se transformar em plantio mecânico, quando essas coisas ficarem redondas, com certeza a adoção vai ser maior, àqueles que hoje ainda são relutantes vão se entregar a essa tecnologia.
Provavelmente nesse primeiro momento se pensa em MPB para fazer um viveiro pré-primário ou primário, mas acho que num segundo momento, se tivermos aquilo que estamos percebendo de sucesso em termos de aumento de produtividade, redução de consumo de muda e, principalmente, a oportunidade de estabelecer um canavial com uma gestão espacial, onde é possível saber exatamente o ponto onde está sua unidade biológica, que é a toceira. A partir daí, se usarmos isso a favor do estabelecimento, por exemplo, numa agricultura de precisão, saberemos exatamente onde está a toceira, e podemos tratá-la como um indivíduo, como um elemento único na área de produção. Isso gera uma perspectiva totalmente nova. Eu não sei onde vai dar isso, mas pode ser que reduza o adubo em função de uma utilização mais pontual desse produto naquela unidade biológica que é a toceira. Hoje, com o plantio em colmos, não sabemos onde está a toceira, nem quantas toceiras temos em um metro. Ninguém sabe porque isso é aleatório, o canavial é aleatório, não tem uma distribuição espacial conhecida. Com o MPB, técnicas de plantio de mudas, é possível estabelecer um arranjo espacial conhecido e que vai poder atuar por exemplo com a agricultura de precisão a favor, cuidando de cada indivíduo e proporcionando melhor resposta de produção.
Revista Canavieiros: Nos últimos anos a produtividade da cana-de-açúcar caiu. Apesar disso, muitos pesquisadores, empresas, produtores e usinas têm trabalhado para recuperar o tempo perdido, desenvolvendo tecnologias e novos conceitos que visam retomar o crescimento da produtividade agrícola e atingir a cana dos três dígitos. Qual seria a estratégia para construir a cana de três dígitos?
Landell: Primeiro é o treinamento, o convencimento, as pessoas precisam estar convencidas e, segundo, é como construir essa cana de três dígitos. Você constrói quando planta e, para isso, é necessário pensar antes no preparo do solo, na incorporação de insumos como calcário, gesso e em uma boa adubação.
É importante trabalhar com um material biológico que seja bom para o plantio mecânico. Para isso, temos que trabalhar com uma variedade que nasça bem e que perfilhe bem para não começar o canavial com baixa população. Então duas coisas são essenciais: construir um patrimônio biológico de alta população e manter isso nos cortes que se seguem. Com certeza, quem fizer isso bem feito, com grupo varietal novo, vai chegar aos três dígitos com facilidade, eu não tenho dúvida disso.
Revista Canavieiros: Apesar do cenário que o setor vem atravessando, o que o produtor e as empresas podem esperar do IAC em 2016?
Landell: Vamos ter em 2016 o lançamento de novas variedades. Estamos definindo, depende ainda das colheitas até novembro, e então faremos os nossos ensaios, materiais novos, um pacote mais desenvolvido do MPB. Faremos também uma ação contundente divulgando os conceitos de manejo varietal falando da matriz, do terceiro eixo da matriz, tudo em cima de um modelo que proporcione o aumento das populações dos nossos canaviais não apenas para gerar maiores produtividades nos cortes a cortes, mas principalmente para aumentar longevidade associada a altas produtividades. Esses dois pontos longevidade e produtividade são essenciais para sustentabilidade econômica da canavicultura nacional e, principalmente, de fornecedor que não tem uma indústria para agregar valor, tem só a cana, só a área agrícola e precisa aumentar a longevidade dos seus canaviais e a produtividade.
Se ele fizer essas duas coisas, com certeza fecha as contas mesmo num cenário bastante desfavorável com a falta de política clara do Governo Federal. E eu acredito que ainda temos ferramentas nesse meio biológico que é nossa área de produção, para verticalizar de maneira tal que fiquemos livres das garras da desorganização que existe nesse país em função das políticas de etanol, de energia sustentável, da bioenergia. Apesar de não termos políticas favoráveis e claras para isso, que nos permita pensar nesses próximos 20 anos, eu tenho uma vida que posso me planejar. Se a gente subir, elevar nosso voo para produtividades e longevidades maiores, derrubamos o custo de produção, diluímos bastante e com isso nos sustentamos.