Agora o clima é a variável de maior impacto

22/04/2021 Marcos Fava Neves POR: * MARCOS FAVA NEVES ** VÍTOR NARDINI MARQUES *** VINÍCIUS CAMBAÚVA

* Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com e veja os vídeos no canal do Youtube (Marcos Fava Neves). Seguem os agradecimentos ao apoio de Vitor Nardini Marques e Vinícius Cambaúva.

** Vítor Nardini Marques é analista da Markestrat

*** Vinícius Cambaúva é consultor da Markestrat

Marcos Fava Neves

Reflexões dos fatos e números do agro em março e o que acompanhar em abril

Na economia mundial e brasileira

  • Na economia brasileira, o relatório Focus (Bacen) de 05 de abril, traz expectativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 2021, em 4,86% e, para 2022, em 3,61%. O PIB (Produto Interno Bruto) deve fechar este ano com crescimento de 3,17% e 2,33% em 2022. Já para a taxa Selic são esperados 5% e 6%, respectivamente, e no câmbio, R$ 5,35 no final de 2021 e R$ 5,25 no final de 2022. Março foi um mês de seguidas deteriorações nestes indicadores.

No agro mundial e brasileiro

  • No cenário internacional, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) projetou a safra mundial de soja do ciclo 2020/21 em 361,82 milhões de toneladas. Para o Brasil, é esperada uma produção de 134 milhões de toneladas da oleaginosa, enquanto os EUA e a Argentina devem produzir, respectivamente, 112,55 e 47,5 milhões de toneladas. Com isso, os estoques finais globais do grão devem ser de 83,74 milhões de toneladas. No milho, a estimativa é de uma produção de 1,14 bilhão de toneladas, com estoques finais de 286,67 milhões. A projeção do órgão americano é que os EUA produzam 360,25 milhões de toneladas (31,6%); Brasil, 109 milhões (9,6%); e a Argentina, 47,5 milhões (4,2%). Os estoques estão ficando menores, refletindo nos preços firmes dos grãos.
  • Mas neste mês de abril, o USDA agitou os mercados ao vir com estimativas de plantio sensivelmente menores que as esperadas pelo mercado. No caso do algodão, na safra 20/21 plantaram 4,9 milhões de hectares, enquanto o mercado esperava 4,85 milhões e a estimativa foi de 4,87 milhões. Para a soja, a área na safra 20/21 foi de 33,63 milhões de hectares, o mercado esperava 36,42 milhões e a estimativa foi 35,45 milhões. Finalmente, no milho, na safra 20/21 a área foi de 36,75 milhões de hectares, o mercado esperava 37,72 milhões e a estimativa veio em 36,87 milhões. Em resumo, tanto a área de soja quanto a de milho ficaram cerca de 1 milhão de hectares menor que a esperada pelo mercado.
  • O boletim Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) do mês de março estima safra recorde de grãos para o ciclo 2020/21 com produção de 272,3 milhões de toneladas, 6% superior em relação ao ciclo passado; enquanto a área plantada deve totalizar 68,3 milhões de hectares (+3,6%). Na soja, são esperadas 135,1 milhões de toneladas (+8,2%) em uma área de 38,5 milhões de hectares (+4,1%). No milho primeira safra, a produção deve totalizar 23,5 milhões de toneladas (-8,6%), com área de 4,28 milhões de hectares (+1,1%), e o volume total das três safras deve chegar a 108,1 milhões de toneladas, um crescimento de 5,4%. O algodão, por sua vez, deve produzir 2,51 milhões de toneladas de pluma (-16,4%), com queda acentuada devido à redução na área de plantio, estimada em 1,42 milhão de hectares (-14,5%). Por fim, no trigo, as estimativas apontam 6,43 milhões de toneladas (+3,3%) em uma área plantada de 2,39 milhões de hectares (+3,6%).
  • Em fevereiro, as exportações do agro atingiram US$ 6,47 bilhões, aumento de 2,8% frente ao mesmo mês do ano anterior, de acordo com o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). O segmento de maior destaque no mês (26,1% do total) foi o complexo soja com vendas em torno de US$ 1,13 bilhão, ainda que o valor represente queda de 33,1% nas receitas, quando comparadas ao ano anterior, em virtude dos atrasos na colheita. Na segunda colocação, o segmento de carnes (19,8%) vendeu US$ 1,28 bilhão (-1,2%); na carne bovina foram US$ 551,1 milhões, uma redução de 1,5%; no frango, as vendas foram de US$ 510,9 milhões (-6,7%); e a carne suína, por sua vez, foi a única que apresentou crescimento e ainda bateu recordes nas exportações do mês, fechando em US$ 184,3 milhões. O terceiro segmento que mais exportou foi o de produtos florestais (13,1%), fechando o mês com receita em torno de US$ 846,3 milhões (+3,0%). Na sequência está o setor sucroalcooleiro (10,5%), com a maior expansão mensal entre todos os segmentos, atingindo US$ 681,0 milhões (+44%). Por fim, na quinta colocação, ficou o café (7,0%), com US$ 453,7 milhões exportados (+7,7%). As importações do agro foram de US$ 1,22 bilhão (+14,9%) para o mês, o que resultou um saldo mensal na balança comercial de US$ 5,24 bilhões (-16,6%).
  • Os atrasos da colheita de soja em virtude das condições climáticas impactaram a exportação do grão para o mercado chinês. De acordo com dados da Administração Geral de Alfândegas, a China importou 1,03 milhão de toneladas da oleaginosa do Brasil entre janeiro e fevereiro deste ano, enquanto no ano passado os volumes alcançavam a marca de 5,14 milhões de toneladas. Com a menor oferta brasileira, o país asiático recorreu aos EUA para aquisições de soja em volume de 11,9 milhões de toneladas, quase o dobro do que foi adquirido no mesmo período de 2020. Em março, no entanto, as exportações de soja e açúcar foram em ritmo acelerado. Relatórios apontam que 8,82 milhões de toneladas de soja estavam previstas para embarcar em Santos e Paranaguá em março, 27% a mais que o mesmo mês de 2020. Para o açúcar, o percentual é ainda maior; são 71% a mais que 2020, com 1,27 milhão de toneladas.
  • A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil) estimou o VBP (Valor Bruto da Produção) Agropecuária no Brasil, para 2021, em R$ 1,142 trilhão; aumento de 15,8% em relação ao ano passado. No total, as cadeias da agricultura devem registrar R$ 759,25 bilhões (+19%) e as da pecuária R$ 383,45 bilhões (+9,8%). Preços favoráveis e boa previsão de safra são os fatores que impulsionam esse resultado.
  • Em 2020, a agropecuária manteve sua posição de propulsionadora da economia brasileira. O PIB do segmento avançou 2% em relação a 2019, enquanto os demais setores (indústria e serviços) tiveram resultados negativos, de acordo com dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Dessa forma, a participação da agropecuária no PIB brasileiro avançou de 5,1%, em 2019, para 6,8% em 2020. Olhando para o horizonte de 2021, a CNA estima um incremento de 2,5% no PIB agropecuário.
  • A população ocupada no agronegócio brasileiro totalizou 17,3 milhões de trabalhadores no ano de 2020, uma queda de 5,2% em comparação a 2019, segundo levantamento divulgado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). No entanto, o número de pessoas ocupadas no Brasil como um todo reduziu 7,9% em 2020, fazendo a participação do agronegócio aumentar de 19,5% para 20,1% no total da população ocupada.
  • De acordo com estudo realizado pela Embrapa, o agronegócio brasileiro é responsável por alimentar quase 800 milhões de pessoas no mundo todo. Além da própria população nacional, o alimento aqui produzido é fonte de energia para outras 560 milhões de pessoas em outras nações.
  • No mercado futuro de milho, os preços na Bolsa de Chicago atingiram grandes altas, e no fechamento desta coluna estava em US$ 5,6/bushel. O aumento na demanda global pelo grão e a retomada na produção de etanol nos EUA devem impulsionar ainda mais a demanda pelo grão, e o cenário de preços elevados pode se renovar. Segundo a Goldman Sachs, os preços futuros devem voltar aos US$ 5,79 por bushel nos próximos 12 meses.
  • A alta dos preços dos grãos tem ocasionado aumentos significativos no custo de produção de aves e suínos. De acordo com dados da Embrapa, os avicultores tiveram alta de 6,89% no seu custo de produção em fevereiro, enquanto suinocultores observaram incremento de 3,74% em comparação a janeiro. Nos últimos 12 meses, o ICPFrango (índice que mede o custo da produção) já acumula alta de 48,30%, e o ICPSuíno de 48,74%, chegando a valores recordes (nominais).
  • O agronegócio deverá ganhar competitividade pela criação do FIAgro (Fundos de Investimento do Setor Agropecuário), medida possibilitada pelo novo projeto de lei aprovado pelo Senado. A proposta visa criar um instrumento, nos mesmos moldes de fundos imobiliários, para financiar a atividade agropecuária no país, permitindo que pessoas físicas e instituições adquiram cotas de fundos, democratizando os investimentos no setor. Alguns vetos colocados restringem o alcance do projeto, e poderiam ser derrubados.
  • Ainda na agenda política do setor, o Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária) decidiu pela prorrogação do Convênio 100, que reduz a base de cálculo de ICMS sobre defensivos, sementes e outros insumos agrícolas comercializados entre estados. No entanto, os fertilizantes não escaparam do aumento de impostos e terão uma alíquota progressiva, iniciando no próximo ano (2022) em 1%, subindo gradualmente outro 1% ao ano até 2025. Estimativas da AmaBrasil (Associação dos Misturadores de Adubo do Brasil) projetam que, com a medida, haverá um repasse de custos na ordem de R$ 4 bilhões/ano para o agricultor.
  • Em relação aos fertilizantes, de acordo com previsões da StoneX, as entregas desses insumos devem totalizar o volume de 41,8 milhões de toneladas em 2021, crescendo 6% frente ao ano anterior. Os volumes são reforçados pela perspectiva de safra recorde em 2020/21 e elevados preços das commodities. Atualmente, 43% dos compromissos envolvendo os fertilizantes já foram negociados. As importações de fertilizantes no Brasil em janeiro e fevereiro foram 50% superiores as de 2020.
  • A Frísia, cooperativa mais antiga do Paraná, obteve faturamento recorde de R$ 3,7 bilhões em 2020, crescimento de 27,6% frente ao valor de 2019.
  • Os investimentos da Nutrien no Brasil devem alcançar US$ 1 bilhão até 2024. Grande parte desse montante será destinada para a ampliação de suas lojas que, hoje, somam 24 unidades mas devem atingir 100 até 2022 com a abertura de novos pontos. A operação no Brasil faturou R$ 1,8 bilhão em 2020, evidenciando crescimento de 300% em dois anos.
  • A JBS anunciou um plano para neutralizar suas emissões líquidas de carbono até 2040, tornando-se pioneira em definir compromissos dessa magnitude no setor frigorifico. A empresa pretende investir US$ 1 bilhão até 2030 em projetos que reduzam e/ou compensem suas emissões, podendo usar os créditos de carbono para atingir tais objetivos.
  • Uma parceria entre Orbia e Bunge viabilizou a comercialização de mais de 75 mil toneladas de soja de forma 100% digital em apenas três meses de operação. Por meio da parceria, o agricultor pode optar por vender seus grãos disponíveis ou até mesmo realizar operação de barter, tudo de forma eletrônica. Um passo importante rumo à transformação digital.
  • Uma plataforma de comércio on-line de hortifrútis da China alcançou a marca de 788,4 milhões de compradores ativos em 2020, superando até mesmo o gigante Alibaba. Trata-se da chinesa Pinduoduo, empresa que cresceu 97% no último ano e atingiu faturamento de US$ 9 bilhões. Apesar dos bons resultados, a companhia ainda não atingiu o break-even, somando prejuízo de US$ 1 bilhão em 2020.
  • No fechamento desta coluna, a soja, para entrega em cooperativa de São Paulo, estava em R$ 165/saca para abril de 2021 e R$ 152/saca para abril de 2022. Há um ano estava em R$ 85/saca. No caso do milho, atualmente está em R$ 92/saca; R$ 71/saca para entregas em agosto de 2021, e R$ 66/saca para agosto de 2022. Há um ano, o milho estava em R$ 50/saca. O algodão está em R$ 151/arroba, contra R$ 92 do ano passado. No boi, a arroba era negociada em mais de R$ 320. Foi mais um mês de aumento de preços.

Os cinco fatos do agro para acompanhar diariamente em abril são:

 a) A colheita da primeira safra está praticamente encerrada. A preocupação agora é com o clima na segunda safra de milho, já que o plantio atrasou. Estima-se que no Estado de Mato Grosso, 45% foram plantados fora da janela ideal. Com o aperto na oferta mundial de grãos, os preços atuais, e principalmente a necessidade de milho para ração animal e produção de etanol, são pontos sensíveis agora na produção brasileira;

b) Demanda mundial: as importações na Ásia e outros países em carnes, grãos e demais produtos, além de um possível novo surto de peste suína africana na China a ser observado;

c) A gravíssima crise da Covid-19 no Brasil, o andamento do processo de vacinação, os mecanismos de apoio e a garantia de renda, e a performance consequente do mercado consumidor de alimentos e combustíveis;

d) As expectativas de plantios, áreas e produtividades da mega safra norte-americana. Qualquer problema climático será grave aos preços. Aparentemente, o excesso de chuvas pode trazer atraso nos plantios e as estimativas de áreas são menores que o esperado pelo mercado.

e) Para fechar, o Adido do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) estimou que o Brasil terá uma área plantada de soja na safra 2021/22 de 40 milhões de hectares, contra os atuais 38,5 milhões. A produção deve ser de 141 milhões de toneladas (135 milhões nesta safra) das quais 87 milhões serão exportadas. Nas últimas cinco safras, a área cresceu quase 5 milhões de hectares. No caso do milho, a projeção é que a produção cresça para 114 milhões de toneladas em 20 milhões de hectares. Para o algodão, a área voltará a ser de 1,6 milhão de hectares. É realmente um período de forte expansão que teremos pela frente, criando muitas oportunidades às pessoas.

Reflexões dos fatos e números da cana em março e o que acompanhar em abril

Na cana

  • Na primeira quinzena de março, a moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul totalizou apenas 1,67 milhão de toneladas, de acordo com dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). O fim do ciclo 2020/21 se aproxima com uma moagem acumulada de 600,47 milhões de toneladas, 3,02% superior àquela obtida na safra anterior. O mix está em 46,16% para o açúcar e pode alterar apenas algumas casas decimais, visto que faltam os dados dos últimos 15 dias para o fechamento do ciclo. Já o ATR deve consolidar um aumento de 4,3%, já que alcançou 144,97 kg/tonelada contra 138,95 kg/tonelada da safra passada. A Unica estima que, até 15 de abril, 169 usinas devem iniciar sua operação para a próxima safra na região, contra 180 usinas registradas no mesmo período do ano passado.
  • De acordo com a Datagro, o próximo ciclo (2021/22) deve registrar um processamento de 586 milhões de toneladas, 3,5% inferior ao esperado para o atual ciclo (2020/21), com projeção de moagem de 607 milhões de toneladas. A diminuição da produção está relacionada às chuvas irregulares no Centro-Sul e precipitação 20% inferior à média em São Paulo. Com relação ao ATR, a nova safra da região Centro-Sul deve obter 141,20 kg por toneladas de cana, valor 2,4% inferior ao ciclo 2020/21. Finalmente, o mix deve ser levemente mais açucareiro que o atual, com 46,5% voltado para o adoçante.
  • A StoneX aponta uma moagem de 586,1 milhões de toneladas de cana (-2,6%) com ATR de 139,7 kg por tonelada, 3,5% inferior a 2020/21 com mix de 46,3% para o açúcar. A Archer estima 574 milhões de toneladas, 4,3% menor, devido ao clima.
  • Uma análise feita pela Spark Inteligência mostrou que o setor sucroenergético demandou, em 2020, 3,8% a menos em defensivos para a cultura em dólar do que em 2019; foram US$ 1,4 bilhão em produtos. No entanto, os valores em reais apontam um aumento de 7,6% nas vendas, de R$ 5,5 bilhões para R$ 5,9 bilhões. A baixa no resultado em dólar pode ser explicada pela desvalorização da moeda brasileira ao longo de 2020. Entre as categorias de defensivos, os herbicidas representaram 53% do total em 2020; seguido pelos inseticidas, com 39%; dos reguladores de crescimento, com 4%, e dos fungicidas, com 3%.
  • Um estudo feito pela Esalq-USP mostrou que a conversão de áreas de pastagens degradadas em cultivo de cana-de-açúcar pode remover entre 1 e 2 toneladas de carbono por hectare a mais em um ano, além de contribuir para a recuperação do solo. Segundo os pesquisadores, a conversão de 1% da área de pastagens degradadas no Brasil seria suficiente para aumentar a produção de cana em 20%, fora o incentivo à expansão na oferta de biocombustíveis nos mercados interno e externo. Apenas 0,6% do aumento de áreas para cana-de-açúcar se deu em vegetação nativa nas últimas décadas, enquanto mais de 70% foram em áreas de pastagens.
  • Outro estudo feito por pesquisadores da Embrapa Territorial (Evaristo de Miranda e Paulo Martinho), aponta que entre 2009 e 2019, a área cultivada com cana-de-açúcar cresceu 14,3% no país. 43 microrregiões respondem por 75% da produção em 2019, o que antes eram 45 microrregiões. São Paulo continua sendo o principal Estado produtor, mas perdeu participação para os demais, mesmo com aumento na produção: antes era 56,3% e agora 54,8%. Por outro lado, os cinco maiores estados produtores (SP, MG, PA, GO e AL) ampliaram de 81,9% (2009) para 86,6% da produção total nacional. Por fim, a produtividade teve queda de 4,7% no período, passando de 78,2 para 74,5 toneladas por hectare, em função da descapitalização das usinas nos últimos anos frente às crises enfrentadas pelo setor.

No açúcar

  • De acordo com a Unica, a produção açucareira da região Centro-Sul alcançou o volume de 38,28 milhões de toneladas, valor que supera o recorde obtido na safra 2017/18 de 35,89 milhões de toneladas, representando ainda um acréscimo de 44,29% em relação ao montante produzido no ciclo passado.
  • Considerando os últimos doze meses (mar 2020 - fev 2021), as exportações do adoçante brasileiro totalizaram 31,6 milhões de toneladas, crescendo 69,2% frente ao mesmo período anterior. O preço médio, por sua vez, esteve 1,3% inferior.
  • As usinas brasileiras já fixaram o preço de 85,75% do açúcar a ser exportado no ciclo 2021/22 (dados até fevereiro), segundo estimativa da Archer Consulting. Por sua vez, a Datagro estima que 80% a 82% das exportações já estejam travadas a um preço médio de R$ 1.480 por tonelada. No mesmo período do ano anterior, o volume fixado era de, aproximadamente, 64,7% da safra 2020/21. Dessa forma, as agroindústrias têm aproveitado os preços e adiantado o travamento.
  • Segundo o Rabobank, a safra 2020/21 deve registrar um déficit de 2,8 milhões de toneladas de açúcar e um superávit de 1,5 milhão de toneladas no ciclo seguinte. Segundo o banco, a Austrália, a Tailândia e a União Europeia devem recuperar suas produções na safra 2021/22. Para o Brasil, a entidade estima uma moagem de 575 milhões de toneladas (-5,0%) e um mix de produção de 47% para o açúcar.
  • Já a Datagro estima produção de açúcar no Brasil de 36,7 milhões de toneladas para a próxima safra (2021/22), queda de 4,7% frente ao ciclo anterior. A produção do adoçante só não será mais afetada porque um volume considerável de açúcar a ser exportado já está com preços fixados. Com isso, o mix deve ficar em 46,5% para açúcar. Já na perspectiva global, a Datagro projeta uma safra 2020/21 deficitária em 1 milhão de toneladas, enquanto que no próximo ciclo é esperado leve superávit de, aproximadamente, 1 milhão de toneladas.
  • A estimativa da Archer é de 35,05 milhões de toneladas de açúcar em 2021/22, praticamente 3,3 milhões de toneladas a menos que a safra 20/21. A StoneX projeta 36,1 milhões de toneladas na safra 2021/22, 5,8% menor que a safra anterior, motivada por chuvas 25% abaixo da normalidade para o período.
  • Um estudo divulgado pela trading inglesa Czarnikow apontou que pode haver um choque de oferta de açúcar no mercado global na safra 2022/23. Segundo a organização, que analisou as próximas cinco safras para o setor, o fato recente da OMC (Organização Mundial do Comércio) contestar os subsídios aplicados pelo governo da Índia, podem levar à redução ou até a extinção da ferramenta. Além disso, o governo indiano tem estimulado a indústria local na instalação de destilarias para produção de etanol, após a aprovação da mistura do biocombustível à gasolina em 10% em 2022 e 20% até 2025.
  • Ainda no mercado internacional, a maior produtora de açúcar da Europa, a Sudzucker, anunciou lucros operacionais na casa dos 230 milhões de euros, quase que o dobro dos 116 milhões do ano anterior. Recentemente, a empresa havia fechado fábricas na Alemanha, França e Polônia como estratégia para reduzir os custos da companhia.
  • A Copersucar anunciou a compra integral da Alvean, joint venture formada entre a cooperativa e a Cargill, que lidera o mercado global de açúcar com 20% de participação total. Após a compra dos outros 50%, que está sob avaliação do Cade, a Alvean deve seguir como uma empresa independente e com gestão autônoma, fortalecendo ainda mais o seu negócio com o adoçante.
  • Em 2020, a Copersucar representou 18% de todos os títulos de CBios comercializados, o que foi suficiente para que 3,1 milhões de toneladas de carbono deixassem de ser emitidas na atmosfera; o mesmo que seria assimilado por 22 milhões de árvores.

No etanol

  • Dados consolidados da Unica revelam uma produção de quase 30 bilhões de litros do biocombustível, volume 8,56% inferior ao do ciclo 2019/20. Do volume total produzido, o etanol de milho representou 8,1%, com volume de 2,42 bilhões de litros produzidos a partir do cereal, um aumento de 60,85% em relação ao último ciclo.
  • A comercialização de etanol pelas usinas da região Centro-Sul alcançou 2,45 bilhões de litros no mês de fevereiro, sendo 93% destinado ao mercado doméstico e 7% para exportações. No mercado doméstico, o anidro vendeu 731,61 milhões de litros, caindo 0,57% frente ao mesmo mês de 2020, enquanto foram vendidos 1,54 bilhão de litros (-0,30%) de hidratado.
  • As exportações de etanol dos últimos doze meses (mar 2020 - fev 2021) já somam 2,75 bilhões de litros, com crescimento de 42,4% em relação ao período anterior. No entanto, os preços em dólar estão quase 15% inferiores.
  • Para a safra 2021/22, a Datagro estima produção de etanol em 29,40 bilhões de litros, o que deve evidenciar queda de 4,1% sobre 2020/21. A StoneX projeta a safra 2021/22 em 25,8 bilhões de litros, 7,5% menor que a anterior. Seriam 16,6 bilhões de litros de hidratado, 12% a menos e, no anidro, 9,2 bilhões de litros, 2,1% maior. No total, com o etanol de milho teríamos 29 bilhões de litros.
  • A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) divulgou as metas de comercialização de CBios para 2021, que será de 24,86 milhões de títulos. Desse total, a BR Distribuidora deve comprar 26,3% (6,55 milhões de títulos), seguida pela Ipiranga, com 19% (4,71 milhões de títulos), e da Raízen, com 17,3% do total (4,3 milhões de títulos). Segundo o MME (Ministério de Minas e Energia), na segunda quinzena de março, 11,3 milhões de títulos de CBios já estavam em negociação na B3, o que representam 46% da meta para o ano. O Renovabio deve ganhar ainda mais força nos próximos anos em vista da regulação de precificação do carbono como commodity global, o que deve acontecer durante a COP-26, na Escócia, em novembro deste ano.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em abril na cadeia da cana:

a) Observar o consumo de etanol hidratado com estes novos preços e a política de isolamento, que reduz o consumo de combustíveis. Ao fechar esta coluna, pelos dados da SCA, o litro do hidratado estava em R$ 2,88/l com impostos nas usinas, e o anidro a R$ 2,65/l. Tivemos grande queda nestes últimos 30 dias;

b) O barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 62, ficando praticamente estável no mês. Observar seu comportamento agora em abril para saber os preços da gasolina;

c) O déficit de açúcar: ao fechar a coluna, o açúcar estava em 15,26 cents/libra peso na tela de maio de 2021. O consumo mundial deve aumentar com a vacinação e o crescimento econômico mundial, e a oferta maior deve vir do Brasil mesmo;

d) Os efeitos do clima sobre o canavial 2021/22, que está muito seco, e deve trazer perdas;

e) As exportações de açúcar do Brasil, que estão muito fortes, e os preços para o mercado interno que vêm se mantendo.

Valor ATR

No início da safra tivemos algumas quedas no valor do ATR: abril com R$ 0,70/kg; maio com R$ 0,69/kg; junho em R$ 0,68/kg; e julho em R$ 0,676/kg. No entanto, de agosto para cá, observamos um aumento do indicador: agosto em R$ 0,679/kg; setembro em R$ 0,687/kg; outubro com R$ 0,70/kg; novembro com R$ 0,71/kg e dezembro fechando com R$ 0,729/kg. Em janeiro de 2021 tivemos o ATR valendo R$ 0,86/kg, em fevereiro R$ 0,93/kg e, em março, o valor de R$ 1,03. Com isso, chegamos a um acumulado de quase R$ 0,78/kg.

Homenageado do mês

Em todas as colunas homenageamos alguém de relevância. Desta vez, nossa singela homenagem vai para o empresário Marcelo Wirgues, que montou a Usina Caçu em Vicentinópolis, GO, depois de sair de Paraguaçu Paulista, e foi precocemente levado por esta tragédia humanitária da Covid.