Agricultura de Precisão como ela pode ser

12/05/2021 Agricultura POR: MARINO GUERRA

Especialistas desmistificam alguns conceitos sobre a prática

 

O SolloAgro, programa de educação continuada do Departamento de Ciência do Solo da Esalq/USP, promoveu um encontro virtual com especialistas em diversos segmentos da Agricultura de Precisão, que em suas apresentações contribuíram com suas visões, bastante realistas, relacionadas a diversos manejos.

O painel de maior destaque foi conduzido pelo coordenador do Laboratório de Agricultura de Precisão da Esalq, prof. dr. José Paulo Molin, que através do tema “A gestão da variabilidade de fertilizantes e corretivos” se esforçou para elucidar conceitos hoje distorcidos com os quais se depara nas mais variadas regiões e culturas da agricultura brasileira.

Como, o uso apenas da análise química do solo, e ainda por cima, feita muitas vezes de modo insuficiente, penando no conjunto de dados necessários para a criação de um mapa de aplicação variável.

Na visão do especialista, para conseguir encontrar a exatidão na definição das doses, é preciso repensar a metodologia de coleta das amostras de solo e incorporar outras variáveis como fatores físicos (compactação por exemplo) e biológicos (pragas e banco de sementes).

Referente à coleta de dados, ele aponta que saber o valor de nutrientes exportados no ciclo anterior é uma informação fundamental para a prática, o que somente é possível calcular através da montagem de um mapa de colheita confiável.

Todas essas informações relacionadas resultarão num mapa do talhão com números bastante antagônicos, que identificarão as regiões de maior e menor potencial produtivo.

Assim, Molin fala sobre a quebra de mais um paradigma comum nos campos: o esforço de adubação nas áreas mais complexas pensando em correção e ganhos expressivos de produtividade, o que, na opinião do professor, é um trabalho inútil.

Em sua tese, o produtor tem que ser agressivo na adubação das regiões “nobres”, pois essas conseguirão responder com produtividade, enquanto que nas mais fracas é preciso adotar uma estratégia de reposição do básico para obter uma produção padrão.

Por fim, mostrou rapidamente o case de estudo sob o título em inglês “Variable rate fertilization in citrus: a long term study” que traduzido fica, “Efeito da fertilização em doses variadas na citricultura: Um estudo de longo prazo”.

Seu conteúdo relata, através de anos de experimentos e observações, duas conclusões relevantes no sentido de trazer o manejo de precisão próximo da realidade, o primeiro é a confirmação da tese apresentada no início do painel, de que não é possível conseguir uniformização da fertilidade, e o segundo é o de que não existe lugar para adubos formulados ao adotar taxa variável.

Outra quebra de conceitos da noite foi quanto ao menosprezo que muitos profissionais do agro têm quanto ao uso de drones tripulados com sensores RGB, aqueles mais simples que fazem a leitura apenas do que é visível ao olho humano nas imagens que captura.

O assunto foi abordado pelo professor Peterson Ricardo Fiorio, que mostrou ser possível fazer trabalhos importantes com o instrumento. Dentre eles, citou: estudo de falhas em canaviais, análise de diferença varietal e de crescimento, estimativa da área de dissecação da soja, identificação de problemas em pivôs, dentre outras funcionalidades.

Lógico que se trata de um trabalho desenvolvido por profissionais capacitados, mas considerando o valor do equipamento e também a menor complexidade da formação dos mapas, o custo acaba sendo menor, o que torna viável a tecnologia a uma gama significativa de médios agricultores.

Por fim, o dr. Luís Henrique Bassoi, da Embrapa Instrumentação, mostrou um estudo de caso de como a Agricultura de Precisão é adotada na vitivinicultura paulista, chamando bastante a atenção na forma com que é executado o mapa de colheita no parreiral, através da contagem do número de cachos.

O que pode ser um estímulo para levar o setor canavieiro a uma reflexão para a solução de um dos seus maiores problemas no tema, conseguir medir a variação da produtividade ao longo do processo de colheita, onde às vezes a corrida por encontrar soluções de alta tecnologia pode mascarar a adoção de uma prática mais simples, porém eficaz.

Professor José Paulo Molin em ação ao longo da Jornada de Agricultura de Precisão de 2020 que a reportagem da Revista Canavieiros teve a honra de participar