Agro sem fronteiras
26/07/2019
Agronegócio
POR: Revista Canavieiros
Por: Diana Nascimento
A tecnologia está presente em nosso agronegócio e em suas diversas categorias, ajudando a alcançar recordes de produtividade a cada safra.
Alguns podem até dizer que nossa tecnologia é ultrapassada diante daquela utilizada em outros países, o que é um erro. O que está disponível aqui é o mesmo exposto e comercializado em outras nações.
No entanto, visitas e intercâmbios tecnológicos com outros países são sempre bem-vindos.
Esse é o intuito da Missão AgTech - Imersão em Inovação e Tecnologia no Agro, do programa transformacional "O Agro Não Para", que levará para Israel, em sua primeira etapa, executivos, empresários, produtores rurais, acadêmicos, investidores e demais profissionais da área que desejam ampliar seus conhecimentos, iniciativas e ajudar a transformar o agronegócio brasileiro. De 13 a 21 de setembro, a missão terá o objetivo de proporcionar um ambiente de inovação e tecnologias disruptivas aos participantes.
Com apenas 70 anos, população de 8 milhões de pessoas (0,1% da população mundial), 2 milhões de hectares, 20% de suas terras aráveis e um PIB de cerca de US$ 303 bilhões, Israel surpreende. É um país jovem com uma história milenar, apresenta um dos maiores índices mundiais de educação e satisfação de vida, uma das menores taxas de desemprego do mundo (5%) e faz parte da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
A força produtiva de Israel atrai muitos empresários a fazerem negócios com o país, que se destaca por ser experiente em superar desafios, gerar tecnologias e oportunidades. Da agricultura, passando pela nanotecnologia, pelo tratamento de água, pela cyber segurança e até por equipamentos médicos, Israel possui os mais avançados procedimentos no mundo.
Políticas direcionadas a empreendedores e investimento garantem cerca de 5% de seu PIB em P&D anualmente, o que faz do país um gigante em inovação, abrigando mais de 7.000 startups. Considerado um dos ecossistemas empreendedores mais maduros de todo o mundo, Israel investe 9,2% do seu PIB em educação. A cada dez mil israelenses, 140 são engenheiros, contra 85 nos EUA e 65 no Japão.
"Iremos participar de um curso de imersão na Hebrew University – College of Agriculture (a mais importante de Israel) dedicado ao grupo, visitaremos centros de pesquisas (Volcani, similiar a Embrapa), centros de inovação, empresas, startups e fazendas", explica Marco Ripoli, idealizador da missão e do programa que visa aproximar pessoas, difundir conhecimento, gerar oportunidades e fortalecer o setor. Ele salienta que não serão vistas culturas em específico e sim tecnologias novas e interessantes que estão revolucionando o sistema produtivo e que podem ser utilizadas em larga escala em diversas culturas.
Assim como no Brasil, o agro também é destaque em Israel, líder mundial em pesquisas e desenvolvimentos agrícolas. Isso levou o país a um aumento significativo na quantidade e na qualidade das lavouras do país, pois em seus 532 mil hectares de área agrícola despontam a produção de frutas, hortaliças, leite, peixes e flores, aliado ao uso da água, seus residuais e da mecanização.
A escolha de Israel como o primeiro país a ser visitado dentro do programa tem a ver também com o fato das agri-foods techs serem um segmento crescente do universo de startups e venture capital, voltado à melhoria da indústria global de alimentos e agricultura. "A tecnologia desempenha um papel fundamental na operação do setor agroalimentar, uma indústria de US$ 7,8 trilhões, responsável pela alimentação do planeta e que emprega mais de 40% da população global. O setor agroalimentar industrial de hoje também é, em grande parte, ineficiente em comparação com outras indústrias", pondera Ripoli.
Para ele, a necessidade de inovação tecnológica agroalimentar é maior do que nunca e cria muitas oportunidades "As startups de tecnologia deste segmento têm como objetivo solucionar o desperdício de alimentos, emissões de CO2, resíduos químicos, desabastecimento, seca, escassez de mão de obra, cadeias de suprimentos e distribuição ineficientes, segurança alimentar e rastreabilidade, eficiência e rentabilidade das explorações e produção de carne insustentável", enumera.
A digitalização é um processo que está acontecendo há um bom tempo e vem revolucionando diversos setores da economia. O que é assustador, segundo Ripoli, é a diferença entre a taxa de crescimento digital dos setores mais desenvolvidos e lucrativos e os demais setores industriais, em especial o agronegócio, o mais atrasado digitalmente.
Ser digital significa não apenas a aquisição de recursos digitais físicos, como computadores, softwares e hardwares, mas também é preciso considerar o grau com que as empresas envolvem clientes e fornecedores digitalmente, e o quanto elas investem em seus colaboradores para que estes apliquem estas tecnologias.
Esses fatores aceleram rapidamente muitos processos, disponibilizam informações e ajudam na tomada de decisões, reduzindo despesas com análises e aproximando pessoas e empresas. "A digitalização veio para revolucionar o modo como muitas coisas eram feitas e para aumentar o retorno financeiro", destaca Ripoli ao dizer que já conhecemos muitas inovações tecnológicas agroalimentares, enquanto outras ainda não foram descobertas.
Para que o patamar de digitalização no agronegócio seja compatível com o de outros setores, os produtores rurais precisam enxergar a tecnologia como uma aliada e não um “bicho de sete cabeças” que tem um alto custo de aquisição. "Com o aumento da adoção e da percepção de valor, os resultados e a redução dos custos de produção advindos da digitalização se sobressaem. Vale destacar, no entanto, que são necessárias mais linhas de crédito dedicadas às tecnologias, com custos mais acessíveis aos produtores", analisa Ripoli.
Fonte de tecnologias
Entre as tecnologias de destaque de Israel estão:
- Cultivo em estufas: As restrições naturais de solo, da água e do clima levaram as tecnologias de estufas, desenvolvidas em Israel, agregarem alto valor aos cultivos produzidos.
- Irrigação por gotejamento: A irrigação por gotejamento surgiu em Israel e conquistou o mundo. 30% deste mercado mundial é dominado por empresas israelenses.
Neste segmento existe uma oportunidade global, pois apenas 12% da irrigação no mundo é por gotejamento. Mais de 80% dos produtos de irrigação produzidos em Israel são exportados.
- Pós-colheita: Com o manejo de pós-colheita bem feito, desde a lavagem e limpeza, aplicação de materiais de desinfecção e desinfestação, triagem por tamanho e qualidade, aplicação de revestimentos de cera e reguladores de crescimento vegetal, quando necessário, o frescor pode ser mantido em viagens longas.
- Pecuária de leite: As tecnologias avançadas desenvolvidas no país revolucionaram o setor. As exportações de Israel também incluem sêmen congelado, embriões para transplante, novilhas, sistemas de ordenha e alimentação avançados.
A produção média de leite aumentou duas vezes e meia, passando de 3.900 litros por ano (1950) para 11 mil litros por animal.
- Avicultura: As raças desenvolvidas em Israel são altamente resistentes a doenças e adaptáveis a condições climáticas extremas, com alta taxa de crescimento, produção elevada de ovos e carne com pouca gordura.
O país exporta equipamentos e sistemas de controle sofisticados que mantêm os níveis de umidade, iluminação, calor, alimentação, ventilação e resfriamento 24 horas por dia.
- Piscicultura: A piscicultura é realizada em mar aberto, usando gaiolas flutuantes, em reservatórios e lagoas artificiais. Devido à falta de água fresca, os piscicultores utilizam sistemas fechados de água para a produção intensiva.
O país é líder mundial em cultivo de microalgas com processos e tecnologias de última geração para maximizar a eficiência da produção e permitir uma linha de produtos de alta qualidade, eliminando riscos de contaminação.
- Sementes: Variedades resistentes a doenças e que permanecem duráveis quando armazenadas, além de serem adaptadas a adversas condições climáticas. Culturas que exigem menos água são outros resultados positivos de pesquisas locais.
- Fertilizantes: A região Sul de Israel, na área do Mar Morto, é rica em minas que fornecem potássio, fósforo e magnésio para as indústrias de fertilizantes agrícolas.