Agronegócio é pauta de seminário da Bovespa

31/10/2016 Agronegócio POR: Andréia Vital – Revista Canavieiros – Edição 124
ABM&FBovespa e o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) realizaram, recentemente, em São Paulo, o Seminário Perspectiva para o Agribusiness em 2016 e 2017. Em sua 15ª edição, o encontro reuniu em grandes debates, nomes que são referência para a agricultura, pecuária, economia e o mercado financeiro. 
O diretor presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, deu as boas-vindas aos participantes reforçando o compromisso da bolsa em proporcionar conhecimento ao mercado e destacou a relevância do agronegócio para o Brasil. "O agronegócio tem sido o porto seguro em tempos de crise. Não fosse o agronegócio, estaríamos em situação econômica mais difícil”, disse, afirmando que o país poderia estar em outro patamar se a infraestrutura estivesse acompanhando o desenvolvimento do agronegócio.
A abertura contou também com participação de Charles Carey, membro do Conselho de Administração do CME Group. Ele disse que, apesar do cenário desafiador, vê um futuro promissor para o agronegócio brasileiro e de Arnaldo   
Jardim. “Inovação abre caminho à produtividade. É importante reduzir a distância entre pesquisa e produção”, lembrou o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. 
Duas palestras iniciaram o encontro. Neri Geller, secretário de Política Agrícola do MAPA, apresentou “Plano Agrícola e Pecuário 2016/2017” e defendeu ajustes no Plano Safra. Já Roberto Rodrigues, coordenador do GV Agro (Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas) e ex-ministro da Agricultura, explanou sobre a reconstrução do agronegócio no Brasil. Rodrigues pontuou as dificuldades e prioridades que o Brasil deverá ter para atender à demanda mundial de alimentos até 2020, já que se espera que a produção brasileira cresça 40% até esta data. 
O ex-ministro ressaltou a importância da tecnologia no agronegócio. “É uma mudança de paradigma. Nos últimos 25 anos, a área plantada com grãos no Brasil cresceu 53%, enquanto a produção expandiu em um ritmo muito mais acelerado, chegando a 260% e isso é tecnologia que foi incorporada pelo produtor brasileiro, gerada por pesquisa pública, privada, federal, estadual, ou de qualquer natureza”, afirmou.
O executivo disse ainda que o Brasil poderia ter sido o líder mundial de fornecimento de energia, mas perdeu a oportunidade e que o principal gargalo do país é a infraestrutura; destacou a importância do associativismo e cooperativismo para o avanço da agricultura e finalizou argumentando que é preciso mudar a imagem do produtor rural, que ainda é visto como um jeca tatu. "O agro representa muito, temos que mostrar todo dia nossa importância", alertou ele, concluindo, emocionado, que seu sonho é ver o Brasil ser campeão mundial da alimentação e da paz.
Impactos do câmbio 
A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, foi a moderadora do painel Impactos do câmbio sobre a economia e o agronegócio brasileiro, que contou com a participação do ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o economista e sócio da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, e do pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, Samuel Pessoa.
“O agronegócio sofre com restrição de crédito e é afetado por agentes alavancados” disse Barros, afirmando que o crescimento do agronegócio no momento atual de restrição de recursos financeiros depende de disciplina financeira, evolução do mercado de capitais e seguro agrícola. O economista prevê que o PIB do agro seja de 3,8% em 2017, puxando o PIB do país estimado em 2% e que o investimento em infraestrutura é chave para o aumento da produtividade. "A retomada das exportações, desempenho da agricultura e expectativa de queda dos juros têm nos deixado mais otimistas com a recuperação da atividade econômica", diz.
Desafios e oportunidades para o agronegócio brasileiro
Coordenado pelo ex-secretário de Política Agrícola do MAPA e diretor da Wedekin Consultores, Ivan Wedekin, o segundo painel do evento tratou dos desafios e oportunidades para o agronegócio brasileiro, com o diretor presidente da Cosan, Marcos Marinho Lutz; o presidente do Conselho de Administração da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, Luiz Lourenço e Welles Pascoal, presidente da Dow AgroSciences.
Ao explanar, Lutz falou da transformação ocorrida na Cosan a partir de 2005, originalmente uma empresa do setor sucroalcooleiro que ampliou o leque desde então. "Vemos hoje como pujantes nossos setores ligados ao agronegócio e os setores ligados ao consumo - no nosso caso, distribuição de combustível, gás e lubrificantes - estão em um momento mais difícil, de geração de caixa e de conservadorismo de investimento", disse, afirmando que diante do cenário de crise é preciso ser realista.
“A consciência da falta de dinheiro foi saudável. Do ponto de vista agrícola, estes cinco anos de crise no setor sucroenergético foram excepcionais para o aumento de eficiência e focamos brutalmente em reduzir custo, reduzir emissão de carbono”, afirmou, citando que investimentos em logísticas também fizeram parte da estratégia da empresa neste período, como no caso, a ferrovia Rumo ALL, um projeto de R$ 10 bilhões em expansão e em escoamento de safra. “Estamos tentando imprimir uma transformação radical na postura dessa estrutura logística perante o produtor, a cooperativa, e em conjunto, projetar a necessidade de infraestrutura nos próximos 20, 30 anos, assegurando assim, o escoamento da safra”, elucidou.
Lutz, porém, pontuou a necessidade de se discutir profundamente os problemas de infraestrutura do país e resolver de fato os gargalos de um setor considerado um problema para o crescimento do Brasil. “Não adianta fazer uma malha ferroviária pelo país inteiro que liga nada a lugar nenhum. Tem que ter carga, tem que ter porto. Precisamos ser pragmáticos, é um país mais pobre hoje e esta pobreza tem que trazer uma disciplina que vai ser sustentável a longo prazo, vai criar mais produtividade a longo prazo”, advertiu.
O executivo ainda afirmou ser essencial ter garantia jurídica e segurança de que as regras não mudarão no meio do caminho, inibindo investimentos, sempre altos no caso de infraestrutura. “A nossa previsão é até 2021 transitar com 30 trens por dia (hoje são 19), com 120 vagões carregando 13 mil toneladas de soja ou de milho, de Rondonópolis-MT para Santos-SP. Cada trem custa R$ 50 milhões, é muito capital, levando em consideração também todo o valor envolvido na atividade, e estamos há dois anos tentando a renovação da concessão da ferrovia”, concluiu.
Ao fazer um balanço da agricultura, Pascoal, da Dow admitiu que o mercado agroquímico tem sofrido com o câmbio, um dos fatores a influenciar a queda do
segmento, que passou de US$ 12,5 bilhões em 2014, para US$ 9,6 bilhões no ano passado. Resultado também impactado pelos produtos ilegais, contrabandeados ou falsificados, que correspondem por cerca de 20% do total das vendas de agroquímicos no Brasil.
O executivo apontou desafios a serem superados para garantir o desenvolvimento do setor, como a inadimplência, seguro rural e crédito. “No ano passado, a inadimplência chegou a alcançar taxas de 15%, são altíssimas e a indústria não consegue conviver com isso”, constatou ele, que também é presidente do Sindicato da Indústria de Agroquímicos. Apesar disso, não dúvida do futuro do agrobrasileiro, tanto que a Dow aposta muito no Brasil.
“No ano passado inauguramos um Centro de Pesquisa Biotecnológica, o primeiro fora dos EUA, que será referência na pesquisa de sementes tropicais com capacidade para atender toda a demanda da América Latina; também investimos em estações experimentais em várias regiões, na Coodetec, para gerar germoplasma de soja, milho e trigo e fazemos este investimento porque vemos que tem futuro aqui no Brasil”, afirmou.
Lourenço, da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, destacou, na ocasião, a importância do cooperativismo no Paraná, em apoio aos pequenos produtores, visto que neste estado, 75% das propriedades têm menos de 50 hectares.
Mercado de Commodities
O terceiro painel mostrou os cenários para o mercado de commodities com explanação de Guilherme Nastari, diretor da DATAGRO; de André Souto Maior Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult e foi moderado também por Wedekin.
“Certamente é um período importante que estamos vivendo de recuperação de preço no mercado de açúcar e álcool, o que faz com que o setor tenha a oportunidade de melhorar os níveis de alavancagem, consequentemente investir de novo nas operações. Esse nível recorde de preços está proporcionando de novo o ambiente para players internacionais olharem para oportunidades de investimento no setor aqui no Brasil”, avaliou Nastari ao apresentar dados sobre o setor sucroenergético. Porém, ressaltou que, apesar dos preços estarem altos, existe um nível recorde de endividamento da indústria e isso cria a necessidade de comercializar os produtos durante a safra e não necessariamente arbitrar as eficiências e os valores observados atualmente.
Já André Pessôa analisou o mercado de soja e milho no Brasil, afirmando que devido a fatores climáticos, principalmente na região do Matopiba, haverá queda na produção de soja, prevendo volume menor do que os 98,8 milhões de toneladas estimados. Quanto ao milho, a previsão é que o mercado se estabilize somente no segundo semestre de 2017, sendo que preços devem continuar altos até lá. Participou ainda do painel, John Kemp, analista de mercado da Reuters.
Mercado de capitais
O diretor Comercial e de Desenvolvimento de Mercado da Bolsa, Fabio Dutra, moderou o último painel do seminário, que discutiu formas de financiar a expansão esperada para o agronegócio brasileiro nas próximas décadas. Dutra mostrou a estrutura da BM&FBOVESPA para dar suporte com operações de mercado de capitais como alternativas de financiamento, contando que investiram em formadores de mercado e programas de incentivos para estimular o uso dos contratos na bolsa.
De acordo com Moacir Teixeira, sócio-fundador do Grupo Ecoagro, todos os títulos para financiamento do agronegócio que deveriam ser propostos já foram. “Nós podemos trabalhar uma melhora no título e derivar em cima, mas criar algo para o mercado que não é atendido hoje na minha visão, não acontece”, afirmou. De acordo com ele, o financiamento público deve ser menor com relação a outras alternativas devido à redução de recursos disponíveis e novas alternativas de financiamento do mercado de capitais. Opinião compartilhada com Tiago Araujo Dias Themudo Lessa, sócio do Pinheiro Neto Advogados. “Concordo, não sei se é o momento de falar de novos instrumentos de financiamento. Eu acho que se deveria usar mais e melhor os que já estão disponíveis, e tem alguns muito bons, como as debêntures incentivadas”, disse.
“O mercado de capitais como alternativa hoje é uma opção muito menos finita do que um capital proveniente de uma linha subsidiada pelo Governo ou de um capital bancário. Nós da Syngenta enxergamos os elos da cadeia como uma ponte entre o nosso setor e o mercado de capitais para trazer estes recursos adicionais, habilitar essa aquisição de tecnologia para a agrícola sustentável e o crescimento esperado da agricultura do nosso país, que teria que ser vertical e não horizontal”, disse Jonatas Couri, gerente nacional de Soluções Financeiras da Syngenta Brasil. O executivo afirmou que as operações com CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) devem ter semelhança em termos de governança com o lançamento de ações no mercado. “Os colaterais na securitização ajudam a ponderar custos e riscos”, concluiu. 
"Agronegócio é o Brasil que dá certo. O setor foi responsável por 51,5% das nossas exportações em maio. Investimos neste país porque ele é o celeiro do mundo", afirmou Abilio Diniz, presidente dos Conselhos de Administração da Península Participações e da BRF, no encerramento do seminário, em palestra que abordou o tema Agronegócio no Brasil: Da produção ao varejo em uma perspectiva global. O empresário afirmou, na ocasião, já perceber sinais de recuperação na economia nacional e que o Brasil volta a ser pauta na agenda dos fundos de investimentos internacionais, que somente aguardam regras claras e estabilidade política para aportarem aqui. O evento contou ainda com palestra de Sérgio Rial e debate com Carlos Aguiar, respectivamente presidente executivo e superintendente executivo de Agronegócio do Santander Brasil.
A BM&FBovespa e o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) realizaram, recentemente, em São Paulo, o Seminário Perspectiva para o Agribusiness em 2016 e 2017. Em sua 15ª edição, o encontro reuniu em grandes debates, nomes que são referência para a agricultura, pecuária, economia e o mercado financeiro. 
 
O diretor presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, deu as boas-vindas aos participantes reforçando o compromisso da bolsa em proporcionar conhecimento ao mercado e destacou a relevância do agronegócio para o Brasil. "O agronegócio tem sido o porto seguro em tempos de crise. Não fosse o agronegócio, estaríamos em situação econômica mais difícil”, disse, afirmando que o país poderia estar em outro patamar se a infraestrutura estivesse acompanhando o desenvolvimento do agronegócio.
 
A abertura contou também com participação de Charles Carey, membro do Conselho de Administração do CME Group. Ele disse que, apesar do cenário desafiador, vê um futuro promissor para o agronegócio brasileiro e de Arnaldo Jardim. “Inovação abre caminho à produtividade. É importante reduzir a distância entre pesquisa e produção”, lembrou o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. 
 
Duas palestras iniciaram o encontro. Neri Geller, secretário de Política Agrícola do MAPA, apresentou “Plano Agrícola e Pecuário 2016/2017” e defendeu ajustes no Plano Safra. Já Roberto Rodrigues, coordenador do GV Agro (Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas) e ex-ministro da Agricultura, explanou sobre a reconstrução do agronegócio no Brasil. Rodrigues pontuou as dificuldades e prioridades que o Brasil deverá ter para atender à demanda mundial de alimentos até 2020, já que se espera que a produção brasileira cresça 40% até esta data. 
 
O ex-ministro ressaltou a importância da tecnologia no agronegócio. “É uma mudança de paradigma. Nos últimos 25 anos, a área plantada com grãos no Brasil cresceu 53%, enquanto a produção expandiu em um ritmo muito mais acelerado, chegando a 260% e isso é tecnologia que foi incorporada pelo produtor brasileiro, gerada por pesquisa pública, privada, federal, estadual, ou de qualquer natureza”, afirmou.
 
O executivo disse ainda que o Brasil poderia ter sido o líder mundial de fornecimento de energia, mas perdeu a oportunidade e que o principal gargalo do país é a infraestrutura; destacou a importância do associativismo e cooperativismo para o avanço da agricultura e finalizou argumentando que é preciso mudar a imagem do produtor rural, que ainda é visto como um jeca tatu. "O agro representa muito, temos que mostrar todo dia nossa importância", alertou ele, concluindo, emocionado, que seu sonho é ver o Brasil ser campeão mundial da alimentação e da paz.
 
Impactos do câmbio 
 
A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, foi a moderadora do painel Impactos do câmbio sobre a economia e o agronegócio brasileiro, que contou com a participação do ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o economista e sócio da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, e do pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, Samuel Pessoa.
 
“O agronegócio sofre com restrição de crédito e é afetado por agentes alavancados” disse Barros, afirmando que o crescimento do agronegócio no momento atual de restrição de recursos financeiros depende de disciplina financeira, evolução do mercado de capitais e seguro agrícola. O economista prevê que o PIB do agro seja de 3,8% em 2017, puxando o PIB do país estimado em 2% e que o investimento em infraestrutura é chave para o aumento da produtividade. "A retomada das exportações, desempenho da agricultura e expectativa de queda dos juros têm nos deixado mais otimistas com a recuperação da atividade econômica", diz.
Desafios e oportunidades para o agronegócio brasileiro
 
Coordenado pelo ex-secretário de Política Agrícola do MAPA e diretor da Wedekin Consultores, Ivan Wedekin, o segundo painel do evento tratou dos desafios e oportunidades para o agronegócio brasileiro, com o diretor presidente da Cosan, Marcos Marinho Lutz; o presidente do Conselho de Administração da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, Luiz Lourenço e Welles Pascoal, presidente da Dow AgroSciences.
 
Ao explanar, Lutz falou da transformação ocorrida na Cosan a partir de 2005, originalmente uma empresa do setor sucroalcooleiro que ampliou o leque desde então. "Vemos hoje como pujantes nossos setores ligados ao agronegócio e os setores ligados ao consumo - no nosso caso, distribuição de combustível, gás e lubrificantes - estão em um momento mais difícil, de geração de caixa e de conservadorismo de investimento", disse, afirmando que diante do cenário de crise é preciso ser realista.
 
“A consciência da falta de dinheiro foi saudável. Do ponto de vista agrícola, estes cinco anos de crise no setor sucroenergético foram excepcionais para o aumento de eficiência e focamos brutalmente em reduzir custo, reduzir emissão de carbono”, afirmou, citando que investimentos em logísticas também fizeram parte da estratégia da empresa neste período, como no caso, a ferrovia Rumo ALL, um projeto de R$ 10 bilhões em expansão e em escoamento de safra. “Estamos tentando imprimir uma transformação radical na postura dessa estrutura logística perante o produtor, a cooperativa, e em conjunto, projetar a necessidade de infraestrutura nos próximos 20, 30 anos, assegurando assim, o escoamento da safra”, elucidou.
 
Lutz, porém, pontuou a necessidade de se discutir profundamente os problemas de infraestrutura do país e resolver de fato os gargalos de um setor considerado um problema para o crescimento do Brasil. “Não adianta fazer uma malha ferroviária pelo país inteiro que liga nada a lugar nenhum. Tem que ter carga, tem que ter porto. Precisamos ser pragmáticos, é um país mais pobre hoje e esta pobreza tem que trazer uma disciplina que vai ser sustentável a longo prazo, vai criar mais produtividade a longo prazo”, advertiu.
 
O executivo ainda afirmou ser essencial ter garantia jurídica e segurança de que as regras não mudarão no meio do caminho, inibindo investimentos, sempre altos no caso de infraestrutura. “A nossa previsão é até 2021 transitar com 30 trens por dia (hoje são 19), com 120 vagões carregando 13 mil toneladas de soja ou de milho, de Rondonópolis-MT para Santos-SP. Cada trem custa R$ 50 milhões, é muito capital, levando em consideração também todo o valor envolvido na atividade, e estamos há dois anos tentando a renovação da concessão da ferrovia”, concluiu.
 
Ao fazer um balanço da agricultura, Pascoal, da Dow admitiu que o mercado agroquímico tem sofrido com o câmbio, um dos fatores a influenciar a queda do segmento, que passou de US$ 12,5 bilhões em 2014, para US$ 9,6 bilhões no ano passado. Resultado também impactado pelos produtos ilegais, contrabandeados ou falsificados, que correspondem por cerca de 20% do total das vendas de agroquímicos no Brasil.
 
O executivo apontou desafios a serem superados para garantir o desenvolvimento do setor, como a inadimplência, seguro rural e crédito. “No ano passado, a inadimplência chegou a alcançar taxas de 15%, são altíssimas e a indústria não consegue conviver com isso”, constatou ele, que também é presidente do Sindicato da Indústria de Agroquímicos. Apesar disso, não dúvida do futuro do agrobrasileiro, tanto que a Dow aposta muito no Brasil.
 
“No ano passado inauguramos um Centro de Pesquisa Biotecnológica, o primeiro fora dos EUA, que será referência na pesquisa de sementes tropicais com capacidade para atender toda a demanda da América Latina; também investimos em estações experimentais em várias regiões, na Coodetec, para gerar germoplasma de soja, milho e trigo e fazemos este investimento porque vemos que tem futuro aqui no Brasil”, afirmou.
 
Lourenço, da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, destacou, na ocasião, a importância do cooperativismo no Paraná, em apoio aos pequenos produtores, visto que neste estado, 75% das propriedades têm menos de 50 hectares.
Mercado de Commodities
 
O terceiro painel mostrou os cenários para o mercado de commodities com explanação de Guilherme Nastari, diretor da DATAGRO; de André Souto Maior Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult e foi moderado também por Wedekin.
 
“Certamente é um período importante que estamos vivendo de recuperação de preço no mercado de açúcar e álcool, o que faz com que o setor tenha a oportunidade de melhorar os níveis de alavancagem, consequentemente investir de novo nas operações. Esse nível recorde de preços está proporcionando de novo o ambiente para players internacionais olharem para oportunidades de investimento no setor aqui no Brasil”, avaliou Nastari ao apresentar dados sobre o setor sucroenergético. Porém, ressaltou que, apesar dos preços estarem altos, existe um nível recorde de endividamento da indústria e isso cria a necessidade de comercializar os produtos durante a safra e não necessariamente arbitrar as eficiências e os valores observados atualmente.
 
Já André Pessôa analisou o mercado de soja e milho no Brasil, afirmando que devido a fatores climáticos, principalmente na região do Matopiba, haverá queda na produção de soja, prevendo volume menor do que os 98,8 milhões de toneladas estimados. Quanto ao milho, a previsão é que o mercado se estabilize somente no segundo semestre de 2017, sendo que preços devem continuar altos até lá. Participou ainda do painel, John Kemp, analista de mercado da Reuters.
Mercado de capitais
 
O diretor Comercial e de Desenvolvimento de Mercado da Bolsa, Fabio Dutra, moderou o último painel do seminário, que discutiu formas de financiar a expansão esperada para o agronegócio brasileiro nas próximas décadas. Dutra mostrou a estrutura da BM&FBOVESPA para dar suporte com operações de mercado de capitais como alternativas de financiamento, contando que investiram em formadores de mercado e programas de incentivos para estimular o uso dos contratos na bolsa.
 
De acordo com Moacir Teixeira, sócio-fundador do Grupo Ecoagro, todos os títulos para financiamento do agronegócio que deveriam ser propostos já foram. “Nós podemos trabalhar uma melhora no título e derivar em cima, mas criar algo para o mercado que não é atendido hoje na minha visão, não acontece”, afirmou. De acordo com ele, o financiamento público deve ser menor com relação a outras alternativas devido à redução de recursos disponíveis e novas alternativas de financiamento do mercado de capitais. Opinião compartilhada com Tiago Araujo Dias Themudo Lessa, sócio do Pinheiro Neto Advogados. “Concordo, não sei se é o momento de falar de novos instrumentos de financiamento. Eu acho que se deveria usar mais e melhor os que já estão disponíveis, e tem alguns muito bons, como as debêntures incentivadas”, disse.
 
“O mercado de capitais como alternativa hoje é uma opção muito menos finita do que um capital proveniente de uma linha subsidiada pelo Governo ou de um capital bancário. Nós da Syngenta enxergamos os elos da cadeia como uma ponte entre o nosso setor e o mercado de capitais para trazer estes recursos adicionais, habilitar essa aquisição de tecnologia para a agrícola sustentável e o crescimento esperado da agricultura do nosso país, que teria que ser vertical e não horizontal”, disse Jonatas Couri, gerente nacional de Soluções Financeiras da Syngenta Brasil. O executivo afirmou que as operações com CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) devem ter semelhança em termos de governança com o lançamento de ações no mercado. “Os colaterais na securitização ajudam a ponderar custos e riscos”, concluiu. 
 
"Agronegócio é o Brasil que dá certo. O setor foi responsável por 51,5% das nossas exportações em maio. Investimos neste país porque ele é o celeiro do mundo", afirmou Abilio Diniz, presidente dos Conselhos de Administração da Península Participações e da BRF, no encerramento do seminário, em palestra que abordou o tema Agronegócio no Brasil: Da produção ao varejo em uma perspectiva global. O empresário afirmou, na ocasião, já perceber sinais de recuperação na economia nacional e que o Brasil volta a ser pauta na agenda dos fundos de investimentos internacionais, que somente aguardam regras claras e estabilidade política para aportarem aqui. O evento contou ainda com palestra de Sérgio Rial e debate com Carlos Aguiar, respectivamente presidente executivo e superintendente executivo de Agronegócio do Santander Brasil.