Por: Fernanda Clariano
Responsável por aproximadamente 25% do PIB do Brasil, a cadeia produtiva do agronegócio é estratégica para o crescimento da economia e a participação do país no comércio mundial. No entanto, o setor enfrenta o desafio de unir proteção ao meio ambiente com crescimento da produtividade. Com o objetivo de discutir problemas e encontrar soluções para pontos centrais do agronegócio brasileiro, no dia 13 de novembro, o jornal O Estado de S. Paulo reuniu no hotel Hilton Morumbi, em São Paulo, as principais autoridades de diferentes áreas do agro para a 4ª edição do Summit Agronegócio 2018.
Em meio à crise e às incertezas enfrentadas pelo Brasil nos últimos anos, o agronegócio tem se mostrado um porto seguro e uma ampla discussão das tendências que levarão o país a deslanchar a produtividade, a sustentabilidade, a riqueza e a segurança do setor nas próximas três décadas, o que poderá posicioná-lo como o maior abastecedor de alimentos do mundo.
Ao dar as boas vindas aos participantes, o presidente do grupo O Estado de S. Paulo, Francisco Mesquita Neto, chamou a atenção ao fato de que neste momento de transição no Governo Federal e de planejamento para os próximos quatro anos, é preciso analisar com profundidade e com cautela os acordos comerciais. “É fundamental que as novas diretrizes para a área abram espaços para novos negócios, mas sem colocar em risco as portas já estabelecidas e sem abalar as pontes já construídas”.
Como a estratégia do presidente dos EUA Donald Trump está ajudando o Brasil
De acordo com o presidente da ED&F Man Capital Markets, o americano Michael McDougall, a guerra comercial entre Estados Unidos e China é uma excelente oportunidade para o Brasil ampliar suas exportações para o país asiático, principalmente de soja e carnes. McDougall também destacou que, assim como os EUA utilizam seu Departamento de Agricultura (USDA) para promover os produtos agrícolas do país para o mundo, o novo Governo de Jair Bolsonaro, que toma posse no dia 1º de janeiro, deve fazer o marketing do agronegócio brasileiro para o mercado global. O executivo ainda comentou que o Brasil precisa observar como os EUA têm se relacionado com os parceiros comerciais, para não repetir os mesmos erros. “Estamos vendo, pelos EUA, como não tratar os clientes”.
Desafios para o novo Governo
Um dos destaques do evento foi um painel que discutiu os desafios do presidente eleito Jair Bolsonaro no agronegócio. Os problemas do tabelamento do frete e as relações internacionais com países para os quais o Brasil exporta também foram analisados.
Na ocasião, o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio diretor da MB Associados, apontou os problemas que o agronegócio brasileiro poderá enfrentar caso o novo presidente dê sequência à ideia de transferir a Embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém ou mesmo retire o país do Acordo de Paris. “Mas são questões que ele tem avaliado e recuado”, ponderou.
Outro ponto destacado foram os gargalos enfrentados pelo agronegócio relacionados ao transporte. A atual tabela da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) que fixa valores mínimos para o frete rodoviário de transporte de cargas fere a livre concorrência e prejudica o setor e a economia brasileira, segundo afirmou a assessora técnica da CNA, Elisangela Pereira Lopes. “O tabelamento do frete aumentou os custos e está travando a produção brasileira. Além disso, o Brasil deixou de investir na infraestrutura e precisa retomar esses investimentos”, disse.
Preços X Safras – Tendências no curto, médio e longo prazo
Para contornar os problemas, o setor investiu nos últimos anos em novos equipamentos e técnicas e passou a acompanhar de perto o comportamento e as necessidades dos principais mercados. O investimento fez com que a inovação em tecnologia deixasse de ser associada apenas aos grandes centros urbanos.
O vice-presidente de Agronegócio do Banco do Brasil, Tarcísio Hübner, afirmou que as taxas de juros mais baixas, devido à queda da Selic, têm permitido que bancos desembolsem mais recursos para o setor agropecuário, provenientes de diversas fontes.
“Hoje é extremamente importante que se obtenha ganhos de produtividade, de qualidade e a tecnologia tem ajudado e contribuído para isso. O Banco do Brasil tem contribuído para que o crédito chegue com mais velocidade a todos os cantos do país”, disse Hübner.
Também presente no debate, o diretor de Agronegócio do Itaú BBA, Pedro Fernandes, reforçou que no mercado de crédito a oferta é vasta para produtores de todos os portes, com maior diversificação das fontes para grandes produtores.
Sobre a importância do cooperativismo, Fernandes destacou o relevante papel que as cooperativas têm no sentido do suporte que prestam ao pequeno e médio produtor. “É através das cooperativas que eles conseguem ter acesso à tecnologia de ponta. Temos enorme admiração pelas cooperativas”, afirmou o diretor de Agronegócio do Itaú BBA, que teve a opinião compartilhada com o vice-presidente de Agronegócio do Banco do Brasil. Para Hübner, as cooperativas têm um papel considerável no agronegócio, pois fomentam investimentos em novas tecnologias.
PL dos agrotóxicos no Brasil
Atualmente, o Brasil leva em torno de oito anos para aprovar novos produtos desenvolvidos com mais tecnologia e eficácia, o que afeta diretamente a competitividade do agricultor brasileiro que concorre de forma desigual com seus competidores. Outros países com agricultura similar ao Brasil como, por exemplo, os EUA e a Argentina, contam com processos regulatórios de aprovação que duram em média dois anos.
Além da questão da morosidade no processo regulatório brasileiro, o painel que contou com a participação do presidente do conselho diretor da Andef (Associação Nacional de Defesa Vegetal), Eduardo Leduc; do secretário de defesa agropecuária do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Luís Eduardo Pacifici Rangel; do presidente da Adama, Rodrigo Gutierrez e do jornalista e autor, Nicholas Vital, discutiu outros aspectos do Projeto de Lei 6.299 que trata da modernização dos agrotóxicos no país.
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