Agronegócio: um setor que faz a diferença

Agronegócio POR: Fernanda Clariano

Autoridades e representantes se reuniram em evento realizado pelo Lide para discutir o setor

Mônika Bergamaschi: “Tivemos uma alavancagem das exportações do agronegócio brasileiro que provou a sua maturidade e resiliência com desempenho excepcional durante a pandemia”

O agronegócio sempre fez com que o Brasil pudesse se destacar no cenário internacional e nesse momento de pandemia a sua importância foi ainda mais enaltecida perante o mundo.

Para discutir temáticas importantes como segurança dos alimentos nos mercados interno e externo, segurança jurídica e reforma tributária, infraestrutura e imagem do agro brasileiro, o Lide - Grupo de Líderes Empresariais realizou o 9º Fórum Lide Agronegócios, reunindo importantes autoridades e representantes do setor.

A presidente do Lide Agronegócio, Mônika Bergamaschi, considera que em um ano tão peculiar, em vista da pandemia da Covid-19, o agro brasileiro surpreendeu mais uma vez. “A existência de protocolos sanitários consolidados, que seguem garantindo a segurança dos alimentos aqui gerados, a seriedade na efetivação dos compromissos e a coragem dos produtores rurais em seguir produzindo, colhendo e comercializando, fizeram com que nenhum contrato deixasse de ser cumprido”.  Segundo ela, o agronegócio é, claramente, o setor que oferece as melhores oportunidades para a retomada do crescimento econômico e, consequentemente, do emprego e da melhoria das condições de vida, afetadas pela quarentena. Mas é preciso atentar para ameaças que podem reduzir a competitividade e a inserção dos produtos do setor em outros mercados e que passam pela insegurança jurídica, pela ameaça de aumento da carga tributária e pela multiplicação da percepção distorcida sobre o agronegócio brasileiro. “O que o nosso setor mais quer é segurança jurídica, regularização da nossa parte ambiental, das nossas propriedades a fim de que sigamos gerando emprego e renda”.

O secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Gustavo Junqueira, destacou que a agenda estratégica do agronegócio, tanto paulista quanto brasileiro, é uma peça chave que deve ser muito bem pensada e planejada nesse momento. “O agro tem sem dúvidas grandes potencialidades e mesmo com tantos desafios não parou. O Brasil do agronegócio sai em 2020 muito mais forte do que entrou, o que é importante neste momento. Temos, portanto, que trabalhar na gestão do nosso sucesso e para isso é necessário construir uma nova dinâmica. Precisamos mostrar para o mundo o que fazemos e como”, disse.

Junqueira: “O agronegócio faz o seu papel de ser o farol de todo o desenvolvimento e inovação que temos visto nos últimos anos”

Segurança dos alimentos no mercado interno e externo

Para o professor sênior de Agronegócio Global do Insper e titular da Cátedra, Luiz de Queiroz, da Esalq-USP, Marcos Jank, é impressionante ver que em pleno ano de pandemia em que o mundo para e diversos setores da economia sofrem, o Brasil tem o melhor ano da exportação do agronegócio da história. “Não houve rompimento das cadeias produtivas pelo mundo afora, teve uma guerra comercial nos Estados Unidos, China, que de fato jogou produtos para o nosso lado. No primeiro semestre desse ano a exportação do Brasil para a China cresceu 27% em relação ao mesmo período do ano passado, é um tremendo número para uma época de pandemia”, comentou. 

De acordo com Jank, a possibilidade que temos de trazer tecnologia para dentro da cadeia produtiva, de controlar a sanidade e o modelo integrado de produção nos deixam muito à frente em relação a outros países. “Na maior parte da Ásia, as pessoas compram produtos frescos não porque preferem, mas porque não têm refrigeração. Andei pela Ásia inteira durante quatro anos visitando principalmente a área de suínos e aves e não vi lugar algum que se parecesse com o Brasil na integração de produtores com agroindústrias, cooperativas, animais estabulados e controle de temperatura de nutrição de assistência técnica. É um fator positivo num momento em que o mundo está fragilizado por zoonoses, já que os nossos controles são muito melhores do que de todos os países que vi”.

Jank destacou ainda o pilar dos “3S” (saúde, sanidade e sustentabilidade) como os maiores desafios do agronegócio brasileiro. “Alguns setores sofreram e tiveram que se adaptar e amargar perdas”.

Na avaliação do diretor do Conselho do Comitê de Negociações Comerciais da OMC - Organização Mundial do Comércio, Vitor Du Prado, esse momento de pandemia é dramático porque a questão de segurança alimentar, seja no contexto brasileiro ou internacional, voltou às primeiras páginas dos jornais. “A segurança alimentar é uma imensa preocupação de todos e a pandemia evidentemente levou governos a adotarem medidas, um impacto sobre a produção e comércio de alimentos. A boa notícia é que a agricultura e a produção de alimentos em nível mundial se mostraram resilientes com um desempenho muito melhor do que outros setores. Mas evidentemente nem todas as notícias são boas, a pandemia está longe de acabar e o fato de não haver uma penúria na produção ou uma interrupção importante do comércio de alimentos não significa que todo ser humano tenha o que comer. Portanto, a preocupação da segurança alimentar é muito presente”, afirmou.

Outra consideração importante de acordo com o executivo é o fato dos preços internacionais dos produtos agrícolas continuarem relativamente baixos e para o Brasil o câmbio é favorável à exportação.

Já o economista e sócio-consultor da MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros, destacou que a questão sanitária virou tema central no mundo diante do quadro de pandemia. “Há uma mudança estrutural na China e não acredito que aquele país volte a ser o que era. A China terá um padrão sanitário muito mais elevado e isso vai requerer grãos, vai perturbar o mundo em termos de abastecimento e de comunicação dos mercados agrícolas. Evidentemente o Brasil mostrou uma potência absurda de resposta, tivemos uma competência extraordinária, mas também é preciso reconhecer que os preços atingiram níveis elevados. Batemos uma inflação muito forte e que, portanto, seremos desafiados a dar respostas diante de um quadro de grande produção”.

Infraestrutura para o agronegócio

Com relação ao peso do Estado e da burocracia, o secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo, Marcos Penido, ressaltou a importância da agilidade do processo de licenciamento. “Criamos uma intermediação, um contato direto entre o empresário e a Cetesb para que tenha mais diálogo e não haja burocracia, onde o empreendedor possa discutir com o licenciador qual é o impacto e a forma de chegar na solução. Com isso temos conseguido diminuir de maneira expressiva o tempo para se ter um licenciamento”.

A questão de energia elétrica também foi lembrada pelo secretário. O Estado de São Paulo consome anualmente R$ 600 milhões só de energia. A meta, de acordo com Penido, é que se consuma até o final de 2022 cerca de 30% a menos. Ainda segundo ele, há uma chamada pública para uma usina fotovoltaica flutuante na represa Billings. “Essa primeira é de 30 MWh, mas para terem ideia 10% da área da Billings têm potencial para geração de 1,3 GWh de energia renovável”.

A imagem do agro

Fava Neves: "Boa parte do problema de imagem que temos é gerada aqui no Brasil. Somos nós mesmos que criamos"

O Brasil tem umas das maiores e melhores porções de terras agricultáveis do planeta, o que colocou o país no centro da agenda mundial quando o tema é produção de alimentos. O agro brasileiro movimenta a economia local, é sustentável, gera empregos, tem tecnologia embarcada para outros países e é essencial no dia a dia das pessoas, porém muitas vezes tem sua imagem distorcida.

O professor titular da FEA/USP, Marcos Fava Neves, defende que é preciso ter um pouco mais de autoestima quando há uma crise de imagem, além de criar um plano de comunicação especificando primeiramente um público-alvo para quem pretende mudar alguns comportamentos. Para ele, boa parte do problema de imagem é gerada aqui mesmo no Brasil. “Somos nós mesmos que criamos”, afirma.

Ainda conforme o professor, tem um problema específico ambiental que precisa ser resolvido, que é o desmatamento ilegal. “Na área ambiental somos um país para ensinar o mundo e não podemos deixar plantarem notícias ruins dentro do próprio Brasil”.

No ponto de vista do embaixador da FAO e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, é preciso que haja um trabalho de conscientização sobre a importância do agro desde a infância. “Em qualquer campanha de comunicação que fizermos, se não recuperarmos a infância e juventude, vamos jogar nas mãos deles o desastre que está sendo criado hoje”, finalizou.