Agronegócio: uma mola propulsora

26/05/2020 Agronegócio POR: Fernanda Clariano

Tereza Cristina: “Vivemos um momento muito difícil, não só no Brasil, mas no mundo. Isso fez com que nós mudássemos a maneira de trabalhar”

Em tempos de distanciamento social causado pela Covid-19, videoconferência reúne representantes do agronegócio para discutirem os impactos da crise no setor

Mesmo em meio aos impactos causados pela crise do coronavírus, os produtores rurais continuam lutando para garantir o abastecimento de alimentos para o Brasil e para o mundo. “Os impactos da crise na agropecuária brasileira” foi o mote da videoconferência transmitida na internet com a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, no início de abril.

Intermediada pelo agrônomo Xico Graziano, professor de MBA da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e pelo jornalista Edson Giusti, o webinar contou também com a participação de representantes do setor do agronegócio como o agrônomo Jones Yasuda, CEO da CCAB (Companhia das Cooperativas Agrícolas do Brasil), o produtor rural mato-grossense Alexandre Pedro Schenkel, presidente do IPA (Instituto Pensar Agropecuária), o presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Evandro Gussi e o ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi.

Antecipação do Plano Safra

Durante a videoconferência, a ministra da Agricultura afirmou que o governo poderá antecipar o Plano Safra neste ano para dar um norte aos agricultores brasileiros que precisam de recursos. No entanto, Tereza Cristina ponderou que o programa governamental de financiamento aos agricultores brasileiros familiares e empresariais não é suficiente para atender às necessidades do setor e que iria se reunir com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para discutir a situação.

“Estamos tentando antecipar o Plano Safra para que o produtor que precisa possa obter esse recurso. Sabemos que o Plano garante apenas 40% dos recursos para financiamento da safra, e esse é o assunto número 1 das minhas preocupações e da minha gestão”, ressaltou Tereza Cristina.

O Plano Safra, maior política de crédito governamental para financiamento do agronegócio, trata dos recursos de subsídio federal para serem utilizados no próximo ciclo agrícola de 1º de julho do ano vigente a 30 de junho do próximo ano e é divulgado no fim de maio e início de junho.

Questionada pelo CEO da CCAB sobre qual seria o papel dos empresários neste momento de crise para poder se sair mais fortalecidos ao final dela, a ministra ponderou que “o momento é de aproximar o setor agropecuário da sociedade e mostrar que, na hora em que a sociedade precisou, o agro estava lá, cumprindo o seu papel, não deixando que faltassem alimentos nas gôndolas dos supermercados para os brasileiros. E continuou a produzir, já pensando na próxima safra, porém também é necessário acompanhar as demandas e entender o que o mundo quer, pois mudanças significativas irão acontecer e o agro tem seu papel fundamental”.

Exportações

A ministra apresentou os dados do primeiro trimestre das exportações brasileiras. De acordo com ela, as exportações tiveram quedas expressivas para a América do Norte (-15,4%), América do Sul (-13,5%), América Central e Caribe (-64,2%) e Oriente Médio (-27,8%). Porém cresceram nos embarques para a Ásia (+10,7%), Europa (+1,3%), África (+1%) e China (+4,7%).

Yasuda: “Temos um grande desafio pela frente”

Como o agro pode se sair pós-crise

Em sua participação na videoconferência, o presidente do IPA mencionou que “após todas as crises, principalmente essa, pudemos aprender algo," e questionou na sequência a ministra sobre como será o legado, o grande aprendizado pós-Covid. Em resposta, Tereza Cristina afirmou: “Não tenho dúvida que o agro pode ser a grande mola propulsora dessa retomada. Temos terras, clima, água, produtores eficientes e mercado. O agro brasileiro pode sair fortalecido no pós-crise para ser o grande supridor confiável de alimentos do mundo. Por isso é que temos feito um esforço muito grande de abastecer internamente nosso povo, o nosso país, e também de não deixar de sermos parceiros confiáveis daqueles que mantêm um relacionamento comercial de muitos anos com o Brasil. Talvez o legado seja aproximar o setor agropecuário da sociedade”. 

Gussi: “A cana não tem como esperar para ser colhida nem para ser moída e, assim como outros setores, têm necessidade de processos emergenciais”

 Setor sucroenergético

Evandro Gussi, por sua vez, lembrou que estamos no início da safra que oficialmente começou no dia primeiro de abril e a cana não tem como aguardar para ser colhida, não pode esperar para ser moída. Ele quis saber da ministra como ela tem visto os setores da cana e outros que têm necessidade de processos emergenciais e ao mesmo tempo têm sofrido com determinadas ações extremamente hostis.

“Reconheço que o setor sucroenergético está passando realmente por um momento muito difícil. A cana não aguenta muito tempo, ela precisa ser colhida, os reflexos futuros serão enormes se isso não acontecer. Esse é um setor importantíssimo que emprega muito. Infelizmente, com o comércio parado, muitas empresas não irão aguentar, o governo está adotando medidas e esse setor é também um daqueles que precisam ser ajudados. Todos nós temos que olhar de uma maneira pontual e também o reflexo no futuro. Eu tenho conversado com várias pessoas desse setor para que medidas sejam tomadas urgentemente para resguardar o emprego desse segmento que é tão importante. Não podemos perder tudo que ganhamos até agora”.

Maggi afirmou, durante a videoconferência, que observa uma dificuldade em ter os volumes de recursos necessários para que no ano que vem o país possa ter uma supersafra. Segundo ele, ninguém tem dinheiro suficiente para investir, e os bancos têm receio de emprestar para produtores.

Em resposta, Tereza Cristina disse que o Ministério da Agricultura está conversando com o Banco Central sobre a oferta de crédito e a garantia da normalidade das operações das instituições financeiras privadas e acrescentou: “O financiamento da safra 2020/21 será fundamental, pois o país terá oportunidade de entrar na rota de fornecimento de alimentos para vários países, já que outros importantes produtores devem ter dificuldade de produção em função da crise. Espero que esse temor que os bancos têm hoje pela insegurança do momento que vivemos possa ser superado e que realmente possamos ter crédito para irrigar essa cadeia do agronegócio”.

Embrapa

Ao falar sobre o papel da Embrapa neste importante momento, a ministra informou que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, junto com o Mapa e a Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), irá disponibilizar seus laboratórios para produzir os testes de Proteína C Reativa (PCR) para a Covid-19.

“Temos potencial para produzir mais de 70 mil testes diariamente, podendo chegar a um número maior. Isso é uma grande conquista e vamos trabalhar nessa missão importantíssima. Os médicos têm a missão que é curar, e nós temos que alimentar as pessoas para que elas não fiquem doentes".  

Schenkel: “Assim como os produtores, a sociedade carece mais do que nunca de informações precisas”

Maggi: “Precisamos botar a bola no chão e recomeçar esse jogo”