Agronegócios em pauta

Agronegócio POR: Fernanda Clariano

Os cenários atuais e as perspectivas do setor foram discutidos por representantes dos setores financeiro, técnico, jurista e rural

Os cenários atuais e as perspectivas do agronegócio bem como as normas públicas que agem no setor sucroenergético foram discutidos durante um bate-papo on-line realizado pela Copercana em parceria com a FMC, marcando a 16ª edição do Agronegócios Copercana.

Os convidados foram o presidente do Conselho de Administração da Copercana, Antonio Eduardo Tonielo; o diretor-executivo da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues; o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani; o advogado, consultor do FMI e ex-subsecretário da Receita Federal, dr. Carlos Occaso, e o advogado e conferencista sobre questões do agronegócio, Juliano Bortoloti, que moderou o bate-papo.

Antonio Eduardo Tonielo - presidente do Conselho de Administração da Copercana

Antes de comentar o cenário do setor, Tonielo destacou a realização da feira on-line como forma de levar produtos, oportunidades e informações aos produtores que há 16 anos prestigiam a feira. “Tendo em vista o momento em que estamos vivendo, optamos por realizar nossa feira de forma virtual, mas o nosso time de agrônomos está à disposição dos cooperados (respeitando as diretrizes dos órgãos de saúde), bem como toda a nossa equipe de colaboradores, os fornecedores e parceiros. As lives que estão acontecendo são uma forma de levarmos conhecimento, esclarecer dúvidas e para isso contamos com vários especialistas do setor”. O executivo falou ainda sobre os preços. “No início da pandemia da Covid-19, o único negócio ruim no agronegócio era o setor sucroenergético porque o preço do etanol e do açúcar foi desastroso. Atualmente, graças à organização do setor, conseguimos reverter os preços tanto do etanol quanto do açúcar, que voltaram ao normal”. 

Antonio de Pádua Rodrigues - diretor-executivo da Unica

O diretor da Unica contextualizou o cenário positivo e animador que o setor sucroenergético tinha em janeiro e fevereiro, com expectativa da safra 2020/21 ser a melhor dos últimos anos, com o açúcar sendo vendido acima de 15 cents de dólar por libra peso, as empresas investindo em renovação de canavial, em compra de máquinas, e implementos, mas viu o mundo desabar com o anúncio da pandemia. De acordo com Pádua, o desespero tomou conta e muitos correram pedindo apoio tanto na questão tributária da Cide e PIS/Cofins, nos financiamentos dos estoques, e de repente tudo mudou. “Hoje estamos basicamente com 30% da safra realizada e o cenário é outro. O preço voltou a se recuperar e o que tínhamos meses atrás, conseguimos ver num cenário mais positivo, com maior tranquilidade. Evidentemente que a pandemia não passou, que as vendas de etanol continuam ainda abaixo do ano passado, mas tudo indica que vamos ter uma safra com equilíbrio. Ou seja, se de um lado há uma redução da demanda do etanol por conta da mobilidade, do outro lado também está havendo uma redução da oferta por ter uma safra mais açucareira, sinalizando que pode existir um equilíbrio de mercado. A oportunidade e a chance de termos um preço médio igual ou até superior ao da safra passada continua forte, a não ser que haja novamente uma mudança muito grande no mercado de petróleo e de combustível”.

Cenário econômico

O agronegócio brasileiro é alavancado pelo setor financeiro, o produtor rural capta dinheiro para custeios e investimentos, porém tem a questão da burocracia para que esse dinheiro chegue até o produtor, envolvendo também garantias e exigências governamentais.

Roberto Padovani - economista-chefe do Banco Votorantim

De acordo com Padovani, a preocupação com caixa ainda é relevante e o acesso aos bancos será um desafio. “A recomendação, olhando o mercado financeiro, é que todos coloquem mais atenção e não relaxem no momento na questão de caixa”.

Segundo ele, o desafio de 2021/22/23 será pagar dívidas. “Fazer dívidas está sendo fácil, mas como pagar? Só tem um jeito que é fazer um ajuste patrimonial, vender patrimônio e, para vender, têm duas saídas, privatizar e fazer concessão e reservas”.

Conforme o economista, o que têm ajudado neste momento são os juros mais baixos.  “Estamos respirando de forma aliviada, mas a crise não passou. Do ponto de vista financeiro, teremos muita volatilidade, insegurança e dificuldade de acesso a crédito, portanto estamos na batalha ainda na questão de caixa. O que nos ajuda em relação às demais crises são os níveis mais baixos de juros”.

Reforma tributária

Os aspectos das reformas tributárias voltadas ao agro e o endividamento do setor produtivo também foram colocados em pauta.

De acordo com Occaso, as empresas precisam ter condições de gerar emprego e renda e o peso de dívidas tributárias acaba travando até a obtenção de créditos, na medida em que o endividamento tributário veda o acesso a créditos públicos para uma empresa que não tenha regularidade tributária. “Em função disso, penso que haverá um amplo programa de regularização de dívidas e, dentro da agenda de reformas que se tornaram urgentes, especialmente no âmbito tributário, temos mantido o diálogo com as entidades representativas empresariais e apoiado tecnicamente projetos junto ao governo e o Congresso. Estamos trabalhando na estruturação de um plano de equacionamento de dívidas e apoiamos o setor. Em relação aos projetos de reforma tributária em discussão na Câmara e no Senado, será muito importante um esforço concentrado para demonstrar os impactos para o agro, porque aprovar o texto constitucional é uma coisa, depois o que vem da legislação ordinária para definir um modelo de tributação dentro de um IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) é diferente. É preciso ter uma atuação bastante consistente e temos conversado com parlamentares da Frente Parlamentar Agropecuária para que possamos levar cálculos para fazer a medição do quanto uma alteração da tributação diferenciada e a redução de incentivos e dos benefícios setoriais e regionais impactam o agronegócio”, afirmou o advogado.

Carlos Occaso - advogado, consultor do FMI e ex-subsecretário da Receita Federal

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