Águas de janeiro Boas chuvas trarão bons resultados, mas esses não cairão do céu!

07/03/2023 Noticias POR: MARINO GUERRA e Eddie Nascimento

Depois de dois verões secos, enfim a La Nina deu uma folga para os agricultores trazendo um bom volume de chuvas na última virada de ano (entre os meses de dezembro e janeiro) com lugares registrando mais de 900 mm. E como diz a canção, as águas, não importa de qual mês, é sempreuma promessa de vida, pro coração e para a plantação. Contudo, como a mesma música fala, nas águas vêm muitas coisas boas e também muitos  problemas. Na cana, amendoim ou soja, o que se viu é que o nível de bonança ou problema está relacionado na estrutura, planejamento e principalmente, nas ações preventivas adotadas em cada fazenda. Aliás, o que se percebe, é que muitas histórias mostram uma característica que os produtores de elite já vêm tendo há algum tempo, estarem preparados e assim produzir bem no seco ou nas águas. Mas lógico que se for a segunda opção, a produtividade, e consequentemente, a rentabilidade, serão maiores.

Como controlar o mato?

Para quem não se preveniu, ainda dá tempo de limpar

Uma verdadeira enciclopédia de matologia, folhas pequenas e largas. Com certeza as plantas invasoras é o principal problema que veio junto com as águas de Dezembro/Janeiro para quem não se preocupou com medidas preventivas em seu canavial. Falando em prevenção, pode-se usar o manejo do produtor de Ibitiúva, distrito de Pitangueiras-SP, Marcelo Lucente, como exemplo do desenvolvimento de uma rotina sem estar totalmente dependente do pluviômetro: “Logo em seguida da passagem das colhedoras, as quais eu limpo em cada área, já entro desenleirando a palha. Ao finalizar a operação, eu já faço a bordadura do talhão com o autopropelido, isso para segurar, até a volta das chuvas, o alto banco de sementes que existe nessa área. No início das águas, entro com barra total e quando começa a sair um matinho, estou preparado para fazer a boca de rua. Na minha opinião é preciso evitar que a planta daninha gere sementes, pois se isso acontecer, o controle se torna muito mais complexo”.
Na opinião do professor e vice-diretor da FCA/Unesp (Campus Botucatu), Caio Carbonari, a alta incidência das plantas daninhas é explicada por dois motivos: “A disponibilidade hídrica favorece a germinação, estabelecimento e rápido crescimento das plantas com rápido acúmulo de biomassa que vão imobilizar nutrientes e, as espécies que têm capacidade, competir por luz nos canaviais que a cana esteja nos estádios iniciais de desenvolvimento (final de safra). Outro ponto é que o excesso de chuvas impacta na ação dos herbicidas através da perda por lixiviação, que é sua movimentação no perfil do solo carregado pela água, perdendo a eficiência, principalmente considerando o residual, planejada”. A visão teórica do professor foi retratada na prática com o produtor de Serrana, André Junqueira, que em decorrência dos diversos dias nublados de dezembro e janeiro, que geraram baixa luminosidade, o canavial colhido no final de safra ficou amarrado, fazendo com que houvesse um atraso no fechamento de linha e com isso a incidência maior de plantas daninhas.

Com volume de chuva que não se via na propriedade desde 2009 ele também relatou que em razão dos dias de invernada muitos manejos foram se acumulando o que o obrigou a rever sua estratégia e, no caso dos herbicidas, entrar com a segunda aplicação, e em cerca de 40% da área, até uma terceira, visando não perder o controle. Outro especialista no assunto, o ex-professor e consultor, Pedro Christoffoleti, em evento promovido pela Syngenta ao corpo de RTVs (Representantes Técnicos de Venda) da Copercana, falou sobre como proceder de março para frente. “Minha recomendação é o uso de herbicidas pré e pós emergentes de maneira associada, dentre os pós-emergentes mais utilizados e que trazem bons resultados temos a ametrina, atrazine, diuron, hexazinona, são produtos que complementam a ação do pré-emergente controlando o mato em seu estádio em pós precoce e inicial”.

Dentre as ferramentas que podem ser utilizadas no manejo proposto por Christoffoleti, o gerente de marketing de cana-de-açúcar da Syngenta, Renato Pirola, falou sobre as duas soluções disponibilizadas pela empresa: “Hoje temos o Grover que é um graminicida com uma formulação exclusiva, uma suspoemulsão, conferindo o controle das gramíneas, mas auxiliando no controle das folhas largas de semente pequena, com destaque para sua seletividade, não só para a cana, como para culturas vizinhas ou de rotação em caso de último corte. Adicionalmente foi apresentado o Calipen que é um pós-emergente versátil, o que significa que ele pode ser utilizado tanto na pós-inicial, sejam elas folhas estreitas ou largas, como na pós-tardia e pré-colheita, inclusive com registro para aplicação aérea”.

 

Nem tudo são rosas

O clima bom favorece o florescimento do canavial, e isso não tem nada de romântico

Atenção produtores que têm em seus canaviais variedades com potencial de florescimento, o risco de perca de produtividade em razão desse processo pode chegar a até 40%, pois ele potencializa um processo já natural da cana que é a isoporização. Em 2023, devido às condições climáticas e o desenvolvimento do canavial, as chances de emissão de florada está acima de 80% na maior parte das regiões canavieiras do país e o pior é que o trem da oportunidade já passou. O alerta foi dado pelo desenvolvimento de mercado cana da Bayer, Ivandro Manteufel, ao revelar que a empresa faz um mapeamento de previsibilidade de florescimento junto a consultorias especializadas e a maioria das regiões do Centro-Sul canavieiro estão pintadas de vermelho. “Hoje a cana está em pleno processo de desenvolvimento vegetativo (entrevista dada no início de fevereiro) e considerando que as previsões climáticas apontam para a continuidade de boas chuvas e, com o passar do tempo, o registro de temperaturas mais amenas, devemos ter o ambiente propício para a planta receber o estímulo necessário para iniciar o processo de florescimento”, explicou o agrônomo. O processo é indesejado na cultura da cana porque ela para de emitir entrenós que iriam acumular açúcar, iniciando a formação e desenvolvimento da estrutura floral, que além de não ter valor econômico, drena parte dos açúcares já acumulados no colmo e posteriormente potencializa o processo de isoporização dos mesmos quando entrar no período seco da safra. Como solução, Manteufel citou o Ethrel, regulador de crescimento da Bayer: “Ele é um produto à base de etileno, que é um hormônio que a própria planta produz sendo responsável por regular seu crescimento em condições de stress.

 

Quando aplicado na cana antes do período indutivo, ele promove um equilíbrio entre hormônios de crescimento combinados com o etileno que regula o crescimento, forçando a cana a não realizar esse processo de transformação da gema apical em gema florífera, além de startar diversos mecanismos fisiológicos e morfológicos, que irão prepará-la para enfrentar melhor a restrição hídrica que irá ocorrer pela frente. Dessa forma a planta consegue extrair mais água e nutrientes do ambiente, além de ter menos perdas de umidade para o mesmo, reduzindo drasticamente o processo de isoporização. Esse processo todo faz com que a mesma tenha uma melhor produtividade e qualidade para posteriormente ser processada”.

 

 

 

Ele ainda cita que seu uso é para os canaviais previstos para a colheita após o dia 15 de junho, pois a partir daí os índices de dano econômico começam a ser maiores em razão do aumento do stress hídrico e lembra que as variedades que têm tendência baixa de florescimento, mas alta de isoporização, também devem passar pelo procedimento. “A aplicação deve ser feita sempre antes do período indutivo (para a região de Ribeirão Preto foi dia 25 de fevereiro), isso para ter a certeza de que se ela tiver as condições de florescimento, o processo não será iniciado, porque depois que começa, é irreversível. Caso tenha perdido a data com o uso do Ethrel dá até para segurar a estrutura dentro do cartucho e reduzir parte das perdas, porém o resultado quando aplicado no período correto é maior”, disse o especialista que falou sobre como deve ser o manejo conforme a característica de cada variedade. “Nas variedades com uma tendência maior para o florescimento, geralmente as de ciclo mais precoce, a recomendação é aplicar a partir de dez dias antes do início do período indutivo até no máximo quatro dias depois dessa fase ter iniciado; e as variedades mais tardias, que a tendência de florescimento é um pouco menor, porque ela precisa de mais dias indutivos (10 a 12 dentro do período), a aplicação pode ser alongada até oito dias contando a partir do início do período indutivo de cada região, e por fim, variedades que não têm tendência de florescimento e que isoporizam, as aplicações podem ser feitas dentro do mês de março, respeitando sempre que haja um período de forte crescimento vegetativo em função do clima por no mínimo mais 20 a 30 dias a partir da data de aplicação, porém sempre recomendamos o uso no melhor período, e em canas que já superaram o período juvenil, ou seja, que tenha pelo menos dois a três entrenós formados”.

Como tudo no amendoim, muitas chuvas também geram desafios

Sequência de precipitação demandou atenção para manejar no tempo certo a aplicação de fungicidas e a colheita

Dificilmente, ainda mais depois de dois anos de forte stress hídrico, algum produtor rural perde o seu humor devido ao excesso de chuvas, até porque, tirando grandes tempestades que estragam a lavoura, um verão molhado significa ganhos de produtividade, ainda mais em culturas de ciclo curto, como é o caso do amendoim. Por outro lado, nem tudo são folhas verdes, ainda mais em roça tão complexa como do amendoim, onde as precipitações consecutivas dos meses de dezembro e janeiro atrapalharam a rotina de aplicação de fungicida, cujo primeiro objetivo é evitar a entrada e proliferação das manchas, sendo a preta a inimiga número um. Problema evitado pelo produtor da região de Ibitiúva (distrito de Pitangueiras-SP), Marcelo Lucente, que investiu num autopropelido visando não somente agilidade, mas precisão no manejo de aplicação. “Penso que em dois anos eu pago o investimento realizado no autopropelido, com ele eu consigo aplicar 180 hectares de amendoim por dia, calculando também os serviços na cana, de forma precisa, pois ele vem embarcado com tecnologias como o GPS e o Corte de Seção”, disse Lucente, que destacou o uso da nova ferramenta da Syngenta, Miravis Duo, como uma boa surpresa dessa temporada: “Eu tenho um talhão, em área de repetição com 140 dias do plantio (data da entrevista), onde eu fiz o uso da nova ferramenta da Syngenta, e está com muitas folhas em relação a outra área com 130 dias que não apliquei, e foi assim em todos os locais. Ano que vem vou utilizá-la em 100% da minha lavoura”.

Resultado conferido pelo engenheiro agrônomo da Copercana, Edgard Matrângolo Júnior, que alertou para o uso correto do fungicida, pois em caso de doses superiores, há chances dos fungos criarem resistência e tornar obsoleta uma importante arma de defesa, que vai além de trabalhar pela sanidade da planta, pois como mantém uma quantidade considerável de folhas, no arranquio ela forma um colchão impedindo o contato direto das vagens com o solo, o que agiliza no processo de secagem em campo (antes da colheita) e, principalmente em anos que as chuvas regulares se fazem presentes na safra, diminui a quantidade de impurezas que acabam gerando transporte desnecessário e descontos não planejados quando as vagens chegam nas unidades de beneficiamento. Porém, o defensivo não faz todo trabalho sozinho, para ser um dos melhores fornecedores do Projeto Amendoim em termos de qualidade, além de ter as porteiras abertas para a tecnologia (lógico que tudo muito bem calculado e testado), Lucente mantém um rigoroso planejamento de safra baseado no grau de maturação para arrancar e na umidade para entrar colhendo: “Só viramos perante o aceite da Copercana quanto à maturação e só colhemos com 13 de umidade para baixo e para ter a certeza, investimos num equipamento que faz a medição no campo, porque colher molhado, além das impurezas, arrebenta com o maquinário e com todo trabalho de preparo de solo”.

E para poder esperar o momento ideal, além do investimento em bons equipamentos, o produtor tem uma importante rotina de manutenção do maquinário na entressafra, a qual consiste na limpeza, pintura e troca de peças desgastadas o que lhe dá a segurança de conseguir colher, num dia bom, algo em torno de oito mil sacos, o que pode variar, dependendo da produtividade, entre 40 e 50 hectares. E a dúvida sobre o melhor momento de virar e bater se generalizou pelos campos de amendoim, tanto na região de Herculândia-SP e Rancharia-SP (Sul do estado), como na área da Usina Nardini (Vista Alegre do Alto-SP), o que se viu até a primeira quinzena de fevereiro foi a indecisão entre trabalhar de maneira mais intensa no arranquio e a hora certa para iniciar a colheita. “O produtor precisa trabalhar ao lado da Copercana nesse momento de tomada de decisão, pois se virar muita área e o tempo não firmar, ou demorar muito para colher, ele poderá ter perdas significativas numa produção excelente”, disse Ruan Betiol, engenheiro agrônomo da Copercana.

 

 

 

 

 

O que o experiente produtor de Rancharia, Flávio Pavão, já contabiliza, mas mesmo assim ele espera produzir pelo menos cem sacos por alqueire a mais em relação a 2022: “Ano passado colhemos algo em torno de 400 sacos por alqueire, aqui na região ao Sul do Rio de Peixe recebe a influência do La Nina da Região Sul, ou seja, a seca é muito mais rigorosa no verão, por isso viemos de dois anos bem complexos. Para se ter uma ideia, tem uma área minha em Tupã que eu arrendo e lá foram produzidas 600 sacas por alqueire no ano passado. Contudo este ano as chuvas vieram e com certeza vamos ter um ganho importante na produção”.

 

 

 

 

Roça no mato

Um terceiro desafio que veio junto com as chuvas foi o controle de plantas daninhas, especialmente as folhas largas em áreas de reforma de cana: “Passou da hora de termos variedades transgênicas no amendoim resistentes a alguma molécula de herbicida que controle pelo menos as folhas largas, que patinam muito e exigem a adoção da catação manual”, disse Lucente.

 

Sorte e Revés: Chuva é a diferença entre sucesso e fracasso na lavoura de soja

Precipitações de janeiro mudaram o tom dos discursos que em novembro de 2022 no plantio estavam desanimados diante da escassez das águas

A chuva de janeiro transformou a perspectiva dos produtores de soja na região da Copercana. No plantio, realizado em novembro de 2022, eles estavam preocupados com a escassez de água, mas as chuvas de dezembro e janeiro do ano reacenderam a esperança. O produtor Carlos Augusto Borin, de Pontal, revelou que o desenvolvimento de sua lavoura de soja aumentou significativamente desde novembro, graças às chuvas. Embora tenha havido alguns desafios, como a pressão de plantas daninhas e o aumento do custo devido à aplicação de herbicidas, Borin acredita que sua colheita será lucrativa e terá uma produção maior do que a do ano passado. "Com esse tempo ajudando, o desenvolvimento da lavoura foi de vento em popa. A chuva até atrapalhou um pouco, causando atraso no pós-emergente, mas a soja veio desenvolvendo bem, fechou rápido e já começou a engalhar, ficando um padrão muito bom". Borin enfatizou que a chuva de janeiro foi muito benéfica para o desenvolvimento da lavoura, mesmo com as alterações na aplicação de herbicidas. Segundo ele, a expectativa é de uma boa produção, favorecida também por conta da umidade da palha da lavoura, plantio realizado em cima da cana dessecada. Sobre o processo de plantio, manejo e desenvolvimento da lavoura de soja, ele aponta os principais desafios que teve, tendo sempre o acompanhamento do agrônomo da equipe técnica de grãos da Copercana, Caio Silva Barbosa. "A primeira aplicação de pós-emergente costumamos fazer com 35 a 40 dias, mas este ano, devido às chuvas, alguns talhões ultrapassaram esse período, então tivemos que aplicar rapidamente para evitar perder tempo". Quanto à produção, ele afirma: "A expectativa é da produção. Acredito que se nada atrapalhar e o clima ajudar, a soja vai dar um desenvolvimento legal na produção e será até melhor que no passado", aponta Borin.

Já o produtor André Magro Franco também está animado com o desenvolvimento da soja em Sertãozinho e Dumont. De acordo com ele, as folhas da planta apresentam um aspecto saudável e os grãos estão bem formados, o que é um sinal de um bom desenvolvimento. "A chuva foi muito positiva. Acredito que a seca no começo da cultura, nos primeiros 30 ou 40 dias, até estimulou a produção de mais flores, o que foi um estímulo para o desenvolvimento da soja. A planta ficou mais forte devido ao ‘stress’ e agora, com este ano excelente de chuva, ela está se recuperando muito bem", afirmou Franco. André Franco destaca ainda que houve um pequeno atraso no manejo devido às chuvas, mas afirmou que o desenvolvimento da lavoura compensa qualquer atraso por uma produção maior. "Tive alguns problemas com uma aplicação devido às áreas mais molhadas, mas acredito que em breve vamos começar a colheita. Este ano, devido às chuvas, houve uma diferença no desenvolvimento da soja, que alongou mais o ciclo, e a expectativa é de uma boa produção", comentou.

"É possível observar que, no início do 'estresse hídrico', as plantas ficam 'mais travadas', soltando flores mais cedo devido à falta de chuva", afirmou Caio Silva Barbosa, agrônomo da equipe técnica de grãos da Copercana. "Isso faz com que elas demorem um pouco mais para crescer e desenvolver, ficando um pouco mais amareladas. Porém, com a retomada da chuva, a lavoura se transforma e as plantas ficam mais sadias e maiores. Pode-se notar um aumento da formação de vagem e, sem a falta de chuva, ajuda bastante a encher os grãos, o que refletirá na produtividade, com grãos maiores e mais pesados"

De acordo com Barbosa, os produtores estão obtendo resultados positivos devido às escolhas corretas em seus manejos. "Eles sempre seguem um cronograma e, quando o tempo permitiu, aplicaram os insumos. Em períodos longos de chuva, não há muito que fazer, a não ser esperar parar para poder aplicar. Foi isso que eles fizeram, o resultado são lavouras excelentes e muito bonitas", destacou e concluiu: “Tudo tende a ser um ano muito bom para  a maioria dos produtores. De forma geral, as lavouras estão 'excelentes', e se espera uma safra muito boa neste ano".