Amendoim: preços deverão se manter firmes

25/03/2021 Agricultura POR: MARINO GUERRA

Com demanda internacional forte, até o óleo está valorizado

Ao ouvir do diretor comercial agrícola da Copercana, Augusto Cesar Strini Paixão, que nunca tinha visto em toda a sua vasta carreira (com mais de 40 anos de estrada) os preços do amendoim atingirem tal patamar, se tem a comprovação já percebida no campo de que a cultura está atraindo a atenção de novos produtores e ganhando fronteiras.
Somente na área de plantio do Projeto Amendoim da Copercana, (ação que reúne produtores interessados em buscar a excelência, não só produtiva, mas principalmente de qualidade, sendo uma das maiores referências do amendoim brasileiro para os mercados nacionais e internacionais mais exigentes), é possível constatar expansão nos últimos anos, atingindo como exemplo regiões tradicionais de grãos como o Triângulo Mineiro e Goiás.
Na visão do executivo, essa maré altista do preço se deve à desvalorização do real frente ao dólar, principalmente depois que ela ultrapassou os R$ 5,50 e um ganho significativo na demanda chinesa pelo óleo de amendoim: “até meados do ano passado o valor do óleo era US$ 1,3 mil dólares a tonelada, hoje gira em torno dos US$ 2 mil”.
Assim, o valor da saca de 25 quilos chegou a preços entre R$ 100,00 e R$ 120,00 no final de 2020. “A princípio não achávamos que esses valores iriam se sustentar, mas já estamos em março e eles se mantém e sem perspectivas que devam cair”, completa Strini Paixão.

O produtor Clodoaldo Farias cita a instabilidade climática, com chuvas picadas como o grande desafio da atual safra

Com o mercado de óleo aquecido, o preço pago aos produtores da safra passada pertencentes ao projeto, que foi de R$ 70,00 a saca (tendo uma melhoria de R$ 10,00 perante o previsto), deve chegar na atual temporada entre R$ 95,00 a R$ 100,00.
E a explicação é simples, enquanto a China estiver comprando nesses volumes o óleo, que historicamente vale menos, e está nos patamares dos amendoins de qualidade superior que vão para as fábricas mais tradicionais de chocolate na Europa, essa comoditização pelo preço de teto deverá permanecer.
Colocando o pé na roça e conversando com produtores, é fato que, em relação ao ano passado, a produtividade deverá ser menor, e não teria como ser diferente em decorrência da instabilidade climática que atinge as lavouras desde a época de plantio, contudo a expectativa da Copercana é de receber algo próximo das 2,6 milhões de sacas.

O agricultor Flávio Pavão, com base nos números do primeiro terço de colheita, acredita que a produtividade conseguirá ficar dentro da média dos últimos anos. Na foto ao lado do agrônomo especialista em amendoim da Copercana, Edgar Matrangolo Junior

Para o sucesso em cenário tão desafiador, a eficiência dos produtores participantes do projeto é fundamental. Muitos tendo o amendoim como principal fonte de renda a evolução tecnológica no campo, indo desde a marcha constante da adoção de variedades novas, passando pelos mais variados tipos de insumos e chegando até o maquinário, é claramente perceptível.
Produtores como Clodoaldo Farias e Flávio Pavão, que atuam na região de Rancharia-SP, relataram que como as chuvas foram muito inconstantes e na região as lavouras são muito distantes umas das outras, com cerca de 1/3 da colheita feita, (até a primeira semana de março) estavam com uma média de produtividade em torno de 480 a 500 sacas por alqueire, número, que se permanecer será muito parecido com anos de águas fartas.
Visando driblar o stress hídrico, o agricultor Aparecido Bidoia utiliza o plantio direto em sua lavoura, não desperdiçando assim a umidade preservada pela palhada da cultura anterior ao mexer demais na terra.
“Nessa safra cheguei a ter área que ficou no começo do ano até trinta dias sem chuva, e as folhas começaram a murchar no final dessa fase”, relata Bidoia.

Aparecido Bidoia executa o plantio direto (ver foto ao lado) como forma de conseguir manter a umidade do solo

Um ponto que ele também chama a atenção no início da colheita é o desempenho, de forma surpreendente, da variedade OL-3 (precoce), em 100 alqueires ele colheu uma média de 600 sacos.
Como também cultiva uma área significativa de soja, a reportagem pediu que realizasse um comparativo ente as duas culturas. E o risco maior da soja, por ser uma planta de características menos rústicas, foi o principal ponto apontado por Bidoia.
Nas outras regiões que abrange o Projeto Amendoim Copercana, onde a severidade da estiagem foi maior, até o fechamento dessa edição, a colheita ainda dava seus primeiros passos, assim a Revista Canavieiros trará uma cobertura completa nas próximas edições.

Para Augusto Cesar Strini Paixão, diretor comercial agrícola da Copercana, os preços devem se manter firmes ao longo do ano