Amendoim, quem não tiver qualidade não terá preço

16/11/2017 Agricultura POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra

A maior regra para qualquer mercado é a relação de oferta e demanda, ou seja, quando há muito produto os preços reduzem, quando a procura é maior, eles elevam. Para conseguir melhores preços de venda em um cenário de alta oferta, é preciso pensar em qualidade. Foi com essa visão que a Copercana reuniu os cerca de 40 produtores de amendoim que trabalham em conjunto, no auditório da Canaoeste, em Sertãozinho, para discutir diversos assuntos ligados ao cultivo e manejo da leguminosa na qual iniciou o seu período de plantio no mês de outubro.

Na abertura do evento, que aconteceu no dia 27 de setembro, o presidente da Copercana, Antonio Eduardo Tonielo, deu o tom do que deve ser a única preocupação do produtor nesse ciclo, a qualidade. “O mercado do amendoim está cada vez mais caprichoso, dificilmente o produtor que quiser negociar sua safra sozinho vai conseguir bons preços, quem está no campo precisa focar na qualidade e deixar que a Copercana, com toda a sua estrutura e conhecimento de mercado, comercialize a safra”.

Como o foco para os produtores da cultura é a qualidade, a organização do evento convidou o Prof. Dr. Carlos Alexandre Costa Crusciol, da FCA/Unesp (Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp de Botucatu) para apresentar os resultados de sua pesquisa que o fez chegar a um novo modelo nutricional focado em três cultivares diferentes (IAC Runner 886, IAC 505 e IAC OL3).

“O objetivo do meu estudo foi selecionar essas variedades e ver qual o potencial em resposta à adubação. A primeira proposta foi fazer um trabalho com resposta a fósforo e potássio, e em cima desses resultados, que contaram com grande parceria da Copercana para acontecer, foi remodelada a tabela de recomendação de adubação”, disse Crusciol.

Adubar o amendoim?


Um agricultor que cultivou amendoim nos anos 70 e nunca mais teve contato algum com a cultura vai achar um absurdo profissionais com a experiência e capacitação dos envolvidos com o “Projeto Amendoim da Copercana” promover uma palestra para falar sobre adubação na leguminosa.

De certo ponto de vista ele estará certo, pois a origem da cultura vem da bacia amazônica e se estende até o Gran Chaco (região geográfica que abrange territórios do Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia), ou seja, a planta evoluiu naturalmente, em solos ácidos e pobres, o que a fez desenvolver características rústicas (musculatura para buscar nutrientes e alta resistência à pragas e doenças).

No entanto, o antigo agricultor não acompanhou a sua evolução, na qual todo o esforço de laboratório foi focado no ganho de produtividade, até porque não havia lógica trabalhar sua resistência, já que ela é forte por natureza. Com o passar dos anos, ele foi ganhando maior performance produtiva no campo, porém perdeu parte daquela resistência, o que obriga a todos os seus produtores a se preocuparem, e muito, com a sua adubação.

Segundo o pesquisador da Unesp, é preciso planejar e calcular bem antes de começar o plantio, entender as características do solo que vai usar, qual variedade escolher, concluir com exatidão quais micros e macronutrientes aplicar, agendar o período e a maneira que fará o manejo. Isso para chegar ao final da safra e ter alta produtividade com grãos de valor diferenciado no mercado.

Potássio


O grande problema para quem cultiva o amendoim em relação ao potássio é no plantio em áreas de renovação de cultura com a cana-de-açúcar onde foi feita aplicação de vinhaça, o que acarreta na sobrecarga do macronutriente, levando a problemas com a sua produtividade.

A excessiva quantidade de potássio no solo vai deixar o peso do grão mais leve. Para entender melhor esse processo, imagine a folha como uma fábrica, que produz fotoassimilados (compostos resultantes da fotossíntese e que vai levar energia para toda a planta), para escoar a produção são necessárias rodovias (que são os floremas). Com foco na produtividade, é necessário enxergar apenas as rodovias que vão levar a “mercadoria” até a vagem, para ela se desenvolver e dar o resultado planejado.

O potássio pode ser definido como a transportadora responsável pelo fornecimento do combustível que a vagem precisa no momento de enchimento dos seus grãos. Em solos com excesso do nutriente haverá muitos caminhões para serem carregados, porém a expedição (que é o magnésio) estará defasada, causando desorganização e problemas no momento da saída da carga.

Para resolver esse problema é preciso contratar mais magnésio, e de que maneira? Segundo Crusciol, aplicando de modo foliar na fase de enchimento dos grãos, ou seja, esse nutriente não é para trabalhar na fase em que a planta está destinando maior energia para formar o seu caule, por exemplo. O trabalho dele tem que ser pontual, a hora que a vagem vai precisar de agilidade para a energia ser transportada com eficiência entre a folha e ela.

Para se ter noção da importância que o potássio representa em relação ao que será colhido, nos estudos realizados pelo pesquisador, as três variedades selecionadas tiveram mais de 70% do nutriente que a planta extraiu do solo, exportado para o grão.

Fósforo


Para quem procura produtividade é preciso ter constante atenção com o fósforo, esse macronutriente, responsável por ativar o crescimento do amendoim é encontrado em pouca quantidade nos solos, sendo o mais exportado, proporcionalmente, da planta para a vagem.

A sede da vagem por ele é tamanha que no estudo realizado pelo professor Crusciol, dos 21 quilos por hectare absorvidos pela variedade IAC Runner 886, 18 foram para a vagem. Já a IAC 505, que precisou de 36 quilos por hectare para se desenvolver, exportou 30, enquanto que a vagem da IAC OL 3 deixou apenas 1 quilo por hectare na planta, engolindo 20 kg.

Com toda essa fome e pouco recurso no solo, o produtor não tem para onde fugir senão investir na adubação fosfatada, que deve ser iniciada por volta dos 30 dias de vida da planta e perdurar até o estágio de maturação (próximo dos 100 dias), em algumas variedades, como a IAC 505, passa dos 120 dias.

No ensaio realizado entre o palestrante e a equipe do “Projeto Amendoim”, foram aplicados 400 quilos por hectare do “superfosfato simples” e a produtividade, em relação a uma área que não foi adubada, foi monstruosa (6,5 toneladas por hectare na área alimentada pelo fósforo, contra 4,9 toneladas por hectare na área de controle).

Essa corrida para não perder produtividade em sua plantação faz algumas vezes o produtor errar a mão e exagerar na quantidade do nutriente, podendo até prejudicar a qualidade de sua safra, fazendo com que seu grão perca mercado em decorrência de eventuais resíduos.

Para evitar esses problemas, o gerente da Unigrãos (Unidade de Grãos da Copercana), Augusto César Strini Paixão, dá uma dica muito simples aos produtores. “Antes de tomar qualquer atitude, procurem a ajuda dos engenheiros agrônomos do Projeto Amendoim, eles são contratados para prestar toda a assessoria técnica necessária”, disse Paixão.

Outros macronutrientes


Outros elementos químicos que fazem parte do grande grupo de nutrientes exigidos pela cultura do amendoim são: magnésio, nitrogênio, enxofre e cálcio.
O magnésio, como já dito anteriormente, é responsável pela “expedição” da alimentação da vagem na folha no momento que é necessário o potássio para fazer o seu transporte. Prova da sua atuação focada nas folhas, nos cultivares que fizeram parte do estudo, a média de acúmulo por hectare foi de 62 kg, sendo que somente 16 kg foram embora junto com o grão.

No caso do nitrogênio, as atenções se voltam não somente com o que a planta vai utilizar, mas também com que ela vai deixar no solo, em caso de rotação de cultura, para o canavial que vai ocupar aquela área. No experimento realizado pelo palestrante, a variedade IAC Runner 886 é a mais eficiente, deixando na terra 140 kg de nitrogênio por hectare (absorve 378 kg e exporta 238 kg para a vagem).

O cálcio tem duas funções muito importantes, a primeira é visual, deixar bonito o produto que será colhido. A segunda é a segurança para vagem, ele é o responsável por deixar sua parede cascuda e com isso criar uma barreira quase que intransponível para os insetos. As cultivares estudadas absorveram uma média de 135 kg por hectare, deixando no solo cerca de 90%.

Um dos motivos que fez o amendoim ganhar mercado é ter atingido em cheio o público fitness e o causador da leguminosa ter caído nas graças desse público é o seu alto teor de proteína e aminoácidos. O enxofre é um dos principais responsáveis por essas características. Esse elemento químico é muito encontrado nas áreas de rotação com cana, isso devido ao alto grau de utilização do gesso que a cultura pede, porém ele é encontrado em partes mais profundas do solo, daí a importância em se executar um bom preparo a fim de facilitar o trabalho da raiz em atingir o nutriente, como explica o professor: “Se você pegar uma amostra de solo onde foram retirados de 0 a 20 cm de profundidade vai enxergar muito pouco enxofre, agora se fizer os testes com uma amostra de 20 a 40 cm mais fundo, vai encontrar o material em abundância”.

Micronutrientes


Dentre os cinco principais micronutrientes que a cultura necessita (ferro, manganês, zinco, boro e cobre), o professor alerta pela grande deficiência de zinco e boro em solos, onde o cultivo será em rotação com a cana. A falta desses dois elementos não vai derrubar a produtividade, porém investir em sua aplicação pode implicar em uma produção maior.

O ferro, elemento de grande importância para a planta, é fácil identificar se está presente ou não, basta observar a cor da terra, se estiver vermelha, tem o micronutriente em abundância, já em solos arenosos, onde a terra é mais clara, o produtor terá que executar aplicações.

No caso do cobre é preciso fazer uma análise do solo, pois algumas regiões do estado vêm apresentando falta. O micronutriente que o produtor, que vai trabalhar no estado de São Paulo, precisa menos se preocupar é o manganês, já que tem bastante em terras paulistas.

Calagem e gessagem


Sobre a correção do pH do solo, Crusciol acredita na sua importância utilizando como argumento a evolução genética da planta. “Conforme eu aumento o pH do solo eu também subo a eficiência na absorção de macronutrientes. Apesar do amendoim ter características rústicas, que se desenvolveram ao longo de séculos em solos ácidos, o melhor para aproveitar todo o potencial produtivo das novas variedades é trabalhar com um pH em torno 6 e 6,5, daí a importância em fazer a calagem”.

Inoculação de sementes


Em áreas onde será plantado o amendoim para rotação com a cana, ou até mesmo com outra cultura, não é preciso se preocupar com a inoculação de sementes. Essa técnica precisa ser levada em consideração caso o plantio seja realizado em terras sem histórico de lavoura ou em rotação com pastagens.

Stress


O início do ciclo do amendoim gera grande expectativa nos produtores para trabalharem da melhor maneira possível, além de se preocuparem diariamente com fatores externos como, por exemplo, o climático. Essa tensão pode causar problemas de saúde relacionados ao stress vivido no período, criando ainda mais obstáculos a serem superados.

Foi pensando nisso que a equipe do “Projeto Amendoim” convidou o fisioterapeuta e osteopata, dr. Alberto Georges Buttros, para realizar uma palestra na qual foram desenhados dois cenários de stress: o bom e o ruim.

As atenções e tensões que temos que ter ao longo do dia de trabalho são considerados momentos de stress bom, ou seja, tudo que envolve os processos de cultivo do amendoim, desde a preparação do solo até a sua venda fará com que o corpo humano se desgaste para resolver os problemas que surgem de maneira natural dentro daquela atividade, que quando chegar ao fim, com o dever cumprido, produzirá saúde devido a sensação de satisfação.

O grande problema, ou stress ruim, começa quando os problemas não começam a ser solucionados ou o grau de notícias ruins (não necessariamente referentes a roça) consegue subir ao ponto que a cabeça não consegue mais administrar. Como resposta o corpo reage causando alguns incômodos (dores estomacais, de cabeça ou musculares; falta de sono, humor ou apetite), que dependendo do grau de intensidade do que vai se acumulando, podem se tornar doenças irreversíveis como diabetes ou desgastes na coluna.

Como antídoto a esse grande mal dos tempos modernos, o dr. Alberto dá uma importante dica de como conduzir o dia a dia. Segundo o osteopata, é preciso em primeiro lugar a pessoa estar bem, isso do ponto de vista mental, físico e psicológico, com ela mesma. Partindo desse princípio ela precisa estar bem resolvida com as pessoas que a cercam de maneira mais íntima (na maioria dos casos da família) para deixar em terceiro plano os problemas relacionados ao trabalho.

Resumindo, a pessoa só terá condições de encarar os problemas cascudos que aparecem na família e no trabalho se ela estiver bem com ela mesma.

Parceiras


Representantes da Arysta e da Syngenta mostraram onde, dentro do portfólio de produtos das duas empresas, podem ajudar o produtor no ciclo que se iniciou no mês de outubro. É digno de nota o empenho demonstrado pelas duas empresas no desenvolvimento de programas que vão desde a orientação na segurança para aplicação dos agroquímicos até a destinação correta das embalagens.

O engenheiro agrônomo Ricardo Fonseca Lindenberg, representante da Arysta, apresentou aos produtores o programa denominado “Pronutiva”, que visa, através da utilização de uma configuração de produtos, conseguir conquistar vigor, rendimento, qualidade, controle, menor impacto ambiental e maior ganho ao longo de toda a safra. O profissional ainda apresentou soluções referentes ao tratamento de sementes e também à utilização de fungicidas.

O representante da Syngenta, Mateus Clapis, apresentou um trabalho de campo que mostra os resultados positivos, em termos de produtividade, onde 13 produtores tiveram ganho de 22 sacas por hectare em média, depois de utilizar o protocolo de fungicida recomendado pela empresa.

Mercado e Compra de Produtos


No encerramento do evento, Augusto Paixão, atualizou os produtores sobre os números da safra passada, os esforços da cooperativa em conseguir sempre vender com o melhor preço, sempre utilizando de toda a sua estrutura de estocagem e mantimento da qualidade do produto como trunfos para conseguir valores melhores.

A perspectiva para a próxima safra foi o tema derradeiro, onde foi enfatizado que o produtor não poderá adquirir produtos que não sejam registrados e aprovados pelo departamento técnico da Copercana, isso porque a utilização desses já causaram enormes problemas de resíduos impedindo a aceitação de clientes que exigem qualidade maior e, exatamente por isso, pagam mais.