A americana Ceres, que se dedica ao desenvolvimento de híbridos de sorgo para a produção de etanol e energia, planeja uma guinada em direção à cana-de-açúcar no Brasil. Contemplada com R$ 85 milhões em recursos do PAISS Agrícola, programa de fomento à inovação no segmento sucroenergético, a companhia concentrará atenções no desenvolvimento de uma cana transgênica, que pode ser lançada dentro de cinco a sete anos.
"O PAISS nos dá a chance de alavancar nosso programa de pesquisa em sorgo, mas principalmente nos abre a oportunidade de trazer ao Brasil o nosso desenvolvimento de cana transgênica", disse ao Valor André Luiz Junqueira Franco, gerente geral da Ceres no Brasil. O plano, acrescenta ele, é que a empresa se integre à cadeia por meio do sorgo, como complemento à cana no período de entressafra. "Depois, provavelmente a partir de 2020, começaremos a considerar a possibilidade de lançamento de variedades de cana transgênica".
A Ceres está em fase pré-operacional desde que foi fundada, em 1996, na Califórnia. Mas é no Brasil, onde chegou em 2009, que a empresa pretende estabelecer sua primeira operação comercial ainda este ano - a safra 2014/15 de sorgo começa em novembro, na entressafra da cana.
Inicialmente focada na produção de sorgo sacarino, matéria-prima alternativa à produção de etanol, a Ceres lançou no ano passado seu primeiro sorgo de alta biomassa no país, voltado à produção de energia como complemento ao bagaço da cana em operações de cogeração. Este ano, planeja lançar um sorgo silageiro destinado à alimentação animal, e com o impulso do PAISS Agrícola, dar partida à pesquisa com cana transgênica, que a companhia vinha desenvolvendo há três anos nos EUA e em países da América Latina.
"Grandes empresas estão investindo nisso, mas afora uma variedade aprovada na Ásia, que nem está sendo comercializada ainda, não há outras canas transgênicas disponíveis no mundo", afirmou Franco, ao justificar o interesse nesse mercado. Segundo o executivo, dos R$ 85 milhões obtidos por meio do PAISS, R$ 10 milhões serão concedidos a fundo perdido - subvenção dada a apenas cinco dos 35 projetos eleitos para o programa, fruto de uma iniciativa conjunta de BNDES e Finep.
A Ceres trabalha com três "traits" (eventos) prioritários para a cana transgênica: aumento de biomassa, tolerância a estresse e elevação da produção de sacarose (açúcar). Testes iniciais feitos pela companhia indicaram 50% de aumento de sacarose e de biomassa na cana. "Nosso objetivo é elevar a produtividade média de cana dos atuais 70 toneladas a 75 toneladas por hectare para 100 toneladas", afirmou. Conforme Franco, as pesquisas da Ceres são favorecidas por um segredo industrial, relacionado à eficiência da expressão do gene desejado na cana.
Nessa frente, as pesquisas com sorgo transgênico estão mais avançadas. No momento, a Ceres busca aprovação da CTNBio para iniciar os testes de campo, e a expectativa da empresa é ter o primeiro plantio até o fim de 2014 ou início do próximo ano. "Algumas etapas ainda devem ser cumpridas, como a norma de isolamento para o sorgo, mas estamos confiantes", disse Franco. O sorgo cruza com plantas silvestres, por isso há uma preocupação de não se criarem "superplantas daninhas", explicou. "Por isso não consideramos trabalhar com tolerância a herbicida em sorgo. Mas se fizermos sorgo sacarino com mais teor de açúcar, isso não tende a trazer vantagem competitiva para uma erva daninha".
A Ceres também está mais segura depois de ter superado problemas de produtividade com o sorgo sacarino. Estudos demonstram que um rendimento acima de 2,5 mil litros de etanol por hectare torna a cultura economicamente viável, conforme Franco. Os resultados da empresa, porém, variavam muito - de 1 mil a 3,6 mil litros. Mas depois do "grande volume de informações" gerado a partir de testes em importantes regiões produtoras do país, é possível assegurar algo entre 2,7 mil e 3 mil litros por hectare, disse ele.
Para atrair clientes, a Ceres adotou uma estratégia ousada: caso o rendimento das lavouras de seus clientes fique abaixo desse nível, a empresa pagará a diferença. "Queremos dar tranquilidade às usinas que começarem esse processo conosco, de que elas não terão prejuízo", disse. Há uma iniciativa semelhante com sorgo de alta biomassa.
Atualmente, a companhia mantém conversas com usinas para a safra 2014/15. "Temos alguns negócios pequenos já fechados", disse Franco, sem detalhar números. Em 2013, mais de 40 usinas fizeram testes com materiais da Ceres, e o objetivo da empresa é arrebanhar "poucos clientes" este ano, para assegurar resultados e provar a credibilidade da cultura. "Muitas empresas vieram com sorgo sacarino como alternativa, mas ainda com volume de testes pequeno no Brasil, o que frustrou as usinas. Mas o pipeline que temos é muito entusiasmador", concluiu.
A Ceres, que está listada na Nasdaq, teve um prejuízo líquido de US$ 23,16 milhões no acumulado do ano fiscal de 2014 até o terceiro trimestre (encerrado em 31 de maio) e uma receita líquida de US$ 2,1 milhões no mesmo período.
A americana Ceres, que se dedica ao desenvolvimento de híbridos de sorgo para a produção de etanol e energia, planeja uma guinada em direção à cana-de-açúcar no Brasil. Contemplada com R$ 85 milhões em recursos do PAISS Agrícola, programa de fomento à inovação no segmento sucroenergético, a companhia concentrará atenções no desenvolvimento de uma cana transgênica, que pode ser lançada dentro de cinco a sete anos.
"O PAISS nos dá a chance de alavancar nosso programa de pesquisa em sorgo, mas principalmente nos abre a oportunidade de trazer ao Brasil o nosso desenvolvimento de cana transgênica", disse ao Valor André Luiz Junqueira Franco, gerente geral da Ceres no Brasil. O plano, acrescenta ele, é que a empresa se integre à cadeia por meio do sorgo, como complemento à cana no período de entressafra. "Depois, provavelmente a partir de 2020, começaremos a considerar a possibilidade de lançamento de variedades de cana transgênica".
A Ceres está em fase pré-operacional desde que foi fundada, em 1996, na Califórnia. Mas é no Brasil, onde chegou em 2009, que a empresa pretende estabelecer sua primeira operação comercial ainda este ano - a safra 2014/15 de sorgo começa em novembro, na entressafra da cana.
Inicialmente focada na produção de sorgo sacarino, matéria-prima alternativa à produção de etanol, a Ceres lançou no ano passado seu primeiro sorgo de alta biomassa no país, voltado à produção de energia como complemento ao bagaço da cana em operações de cogeração. Este ano, planeja lançar um sorgo silageiro destinado à alimentação animal, e com o impulso do PAISS Agrícola, dar partida à pesquisa com cana transgênica, que a companhia vinha desenvolvendo há três anos nos EUA e em países da América Latina.
"Grandes empresas estão investindo nisso, mas afora uma variedade aprovada na Ásia, que nem está sendo comercializada ainda, não há outras canas transgênicas disponíveis no mundo", afirmou Franco, ao justificar o interesse nesse mercado. Segundo o executivo, dos R$ 85 milhões obtidos por meio do PAISS, R$ 10 milhões serão concedidos a fundo perdido - subvenção dada a apenas cinco dos 35 projetos eleitos para o programa, fruto de uma iniciativa conjunta de BNDES e Finep.
A Ceres trabalha com três "traits" (eventos) prioritários para a cana transgênica: aumento de biomassa, tolerância a estresse e elevação da produção de sacarose (açúcar). Testes iniciais feitos pela companhia indicaram 50% de aumento de sacarose e de biomassa na cana. "Nosso objetivo é elevar a produtividade média de cana dos atuais 70 toneladas a 75 toneladas por hectare para 100 toneladas", afirmou. Conforme Franco, as pesquisas da Ceres são favorecidas por um segredo industrial, relacionado à eficiência da expressão do gene desejado na cana.
Nessa frente, as pesquisas com sorgo transgênico estão mais avançadas. No momento, a Ceres busca aprovação da CTNBio para iniciar os testes de campo, e a expectativa da empresa é ter o primeiro plantio até o fim de 2014 ou início do próximo ano. "Algumas etapas ainda devem ser cumpridas, como a norma de isolamento para o sorgo, mas estamos confiantes", disse Franco. O sorgo cruza com plantas silvestres, por isso há uma preocupação de não se criarem "superplantas daninhas", explicou. "Por isso não consideramos trabalhar com tolerância a herbicida em sorgo. Mas se fizermos sorgo sacarino com mais teor de açúcar, isso não tende a trazer vantagem competitiva para uma erva daninha".
A Ceres também está mais segura depois de ter superado problemas de produtividade com o sorgo sacarino. Estudos demonstram que um rendimento acima de 2,5 mil litros de etanol por hectare torna a cultura economicamente viável, conforme Franco. Os resultados da empresa, porém, variavam muito - de 1 mil a 3,6 mil litros. Mas depois do "grande volume de informações" gerado a partir de testes em importantes regiões produtoras do país, é possível assegurar algo entre 2,7 mil e 3 mil litros por hectare, disse ele.
Para atrair clientes, a Ceres adotou uma estratégia ousada: caso o rendimento das lavouras de seus clientes fique abaixo desse nível, a empresa pagará a diferença. "Queremos dar tranquilidade às usinas que começarem esse processo conosco, de que elas não terão prejuízo", disse. Há uma iniciativa semelhante com sorgo de alta biomassa.
Atualmente, a companhia mantém conversas com usinas para a safra 2014/15. "Temos alguns negócios pequenos já fechados", disse Franco, sem detalhar números. Em 2013, mais de 40 usinas fizeram testes com materiais da Ceres, e o objetivo da empresa é arrebanhar "poucos clientes" este ano, para assegurar resultados e provar a credibilidade da cultura. "Muitas empresas vieram com sorgo sacarino como alternativa, mas ainda com volume de testes pequeno no Brasil, o que frustrou as usinas. Mas o pipeline que temos é muito entusiasmador", concluiu.
A Ceres, que está listada na Nasdaq, teve um prejuízo líquido de US$ 23,16 milhões no acumulado do ano fiscal de 2014 até o terceiro trimestre (encerrado em 31 de maio) e uma receita líquida de US$ 2,1 milhões no mesmo período.