Antes da Porteira: O frango da oportunidade

05/02/2019 Agronegócio POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra


A história como o agricultor André Ferrante se transformou em um produtor de aves mostra a importância em estar com o horizonte aberto e preparado para diversificar suas atividades quando alguma oportunidade de bom negócio aparecer, pois na roça, se deixar ela ir embora, dificilmente poderá voltar.

Em 2003 surgiu a chance de adquirir um sítio, no município de Sales Oliveira, na estrada que liga o distrito de Cândia à rodovia Anhanguera, que tinha uma estrutura com dois galpões, e  capacidade para criar cerca de 18 mil aves.

O negócio era interessante sem mesmo olhar o preço por dois motivos: a distância do frigorífico, instalado em Nuporanga (cerca de 20 km da propriedade), que até hoje carrega a bandeira da Seara, porém atualmente é administrado pela JBS e também pela propriedade ter espaço suficiente para o aumento de sua capacidade instalada.

Em 2008, Ferrante aproveitou mais uma oportunidade devido às características já citadas aliada à produção de excelência - que o frigorífico sempre exigiu em decorrência de grande parte de sua produção ser destinada ao mercado exterior -, e recebeu uma proposta de incentivo de R$ 0,10 por ave para ampliar sua capacidade.
Diante disso construiu mais um galpão com lotação de 27 mil aves, aumentando seu poder de entrega para 45 mil animais por ciclo.

Para entender melhor como funciona a parceria entre produtor e indústria, o dono do sítio entra com toda a estrutura, os custos dela (água, energia, entre outros) e a mão-de-obra especializada para fazer o manejo das aves. Já  a indústria fornece os pintinhos, a ração e toda assistência técnica.

No final de cada ciclo, que é de 60 dias, é feito um levantamento da quantidade de carne que foi vendida e, perante isso, uma conversão por aquilo que foi consumido de ração. Nessa diferença é calculada a remuneração.

“Na granja eu preciso pensar em ganho de peso com um consumo de ração balanceado. Para isso minha estrutura precisa ser bem-feita com o objetivo de controlar temperatura, qualidade da água e seguir as melhores práticas fitossanitárias. Esses são apenas os detalhes principais para construir um rendimento maior”, disse Ferrante.

Para finalizar a questão da remuneração, o produtor destaca que o frigorífico mantém uma equipe técnica com o objetivo de orientá-lo sobre os manejos, ou seja, se seguir corretamente a indicação deles, que compreende desde a análise das aves, sua nutrição e a parte sanitária, as chances de se ter um ciclo bem-sucedido são muito maiores.

A questão de saber aproveitar a oportunidade volta a ficar evidente quando ele fala sobre a perspectiva de aumentar sua produção, isso porque nos últimos dez anos os preços dos insumos subiram muito mais que os do frango, comendo boa parte da margem. Diante disso, investir hoje, mesmo com incentivo da indústria, não vale a pena.

Outra peculiaridade do negócio é que, pelo menos no caso do frigorífico de Nuporanga, eles buscam frango até um raio médio de 100 km, porém é preciso considerar que quanto mais longe, maiores serão os custos, pois o frete de ração e de transporte do pintinho para o campo e do frango para a fábrica aumenta conforme a distância.
 
O manejo já começa na construção de um galpão, onde toda parte de comedouros, bebedouros e climatização tem que ser automatizada. Ainda olhando a estrutura, Ferrante conta que é preciso ter um poço artesiano com água de qualidade e também investir em um gerador, para ele entrar em ação caso caia a energia da rede.
 
Na estrutura em questão, que ocupa cerca de três hectares de área, o produtor tem instalado um equipamento de 80 kVa. Nesse ponto, ele alerta para um custo extra que às vezes pode comer ainda mais sua apertada rentabilidade, o do diesel, pois há casos que chega a ficar até oito dias sem energia da rede, sendo necessário o acionamento do gerador, que consome entre 15 a 20 litros de óleo diesel por hora. Em uma conta de padeiro, brincando, são quase R$ 10 mil que vão para o ralo, ou R$ 0,22 por frango.
 
Os pintinhos chegam com um ou dois dias de vida e depois de alojados dependem muito da temperatura controlada e um manejo que exige cuidados especiais até completarem, pelo menos, 12 dias. “Para se ter ideia, nesse período, quem entra na granja são apenas os dois funcionários e totalmente vestidos com os equipamentos de EPI”, destaca Ferrante.
 
As aves ficam até, no máximo, os 42 dias de vida na granja, quando atingem entre 2,8 a 3 quilos. Para transportar as aves até o frigorífico é preciso velocidade, pois quanto maior o tempo em trânsito, maior a possibilidade de morte.
 
Para completar o ciclo, o ambiente fica em torno de 14 a 15 dias vazio, em um processo de desinfecção, onde entre outras atividades é trocada a cama de frango, base onde a ave fica alojada, importante para manter a temperatura uniforme do piso.
 
Feita de amendoim, a cama também recebe as fezes, que se transformam em um importante adubo. Por ser uma significativa fonte de nitrogênio, há alguns anos muitos produtores de cana, inclusive Ferrante, vem aplicando-a no sulco, fazendo com que as duas atividades se integrem e uma reduza o custo da outra.
 
Quando questionado se ele se arrepende em ter entrado para esse negócio, Ferrante responde com uma importante visão de como ser sustentável, no sentido econômico, na roça: “O agronegócio exige que nós aprendamos com ele a cada dia e, dentro desse aprendizado, a diversificação é uma das principais disciplinas”, finaliza.