Antes da porteira: Objetivos de vida
27/03/2018
Agronegócio
POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra
Muitos jovens deixam de lado a oportunidade de herdar uma propriedade rural porque sonham com carreiras urbanas na área da saúde, de humanas, ou então o talento está relacionado à área da informática, robótica, entre outras tantas, sendo praticamente impossível desenvolver a carreira na roça.
A recíproca também é verdadeira. Existe uma infinidade de pessoas nas cidades que se dedicam às suas profissões com o objetivo de conseguir comprar um “pedaço” de terra e se transformar em um produtor rural.
Tudo é uma questão de paixão, de amor. Com o passar das gerações está cada vez menor a influência do pai sobre o filho no sentido de seguir a mesma profissão. Se o pai é um grande produtor e o filho se interessa de alguma maneira por aquilo, melhor para o filho que terá exemplo e parte da carreira já percorrida. Agora se o filho sonha em ser médico, advogado, arquiteto, atleta ou qualquer outra profissão, o pai terá que encarar a realidade que não terá um sucessor em seu negócio. Nesse caso, o jeito é planejar o futuro de outra maneira.
Os novos tempos não obrigam um profissional a seguir uma carreira ao longo de toda vida. Se um dentista não suportar mais a rotina de um consultório ou um engenheiro especialista na extração de petróleo decidir trocar a solidão das bases oceânicas pelo sossego do campo e tiver recursos para se capacitar e investir na infraestrutura da nova profissão, qual o problema?
Assim é a história do fornecedor de cana de Cajuru, Ademir Veronezi, que trocou o comando de uma empresa consolidada em Ribeirão Preto pelos canaviais, peixes, carneiros, gado, eucaliptos e até abelhas.
A primeira experiência no meio rural veio com o desenvolvimento de uma simples operação de piscicultura, há mais de 20 anos, através da aquisição de uma pequena propriedade. Com o passar do tempo, o amor pela terra foi crescendo e novas áreas foram adquiridas - uma estratégia que aprendeu em seu negócio urbano que era voltado ao setor comercial -, além da importância em se diversificar a fonte de renda.
Depois da produção canavieira e a piscicultura, Ademir teve uma experiência significativa com ovinos,chegando a participar da fundação de uma cooperativa com mais de 20 criadores. O plantel era formado com a mistura das raças Santa Inês e Dorper e a criação deu certo por um bom tempo. Porém foi se deteriorando, muito em decorrência da burocratização da atividade, o que acabou desestimulando os participantes a permanecerem no negócio.
Diante do ocorrido, o amor do antigo empresário da cidade, e hoje da roça, pelos peixes cresceu.Atualmente sua estrutura de tanques é voltada para a criação do piauçu. Os alevinos são comprados, passam pelo processo de engorda e depois são vendidos. Os maiores compradores são pesque e pagues.
Sobre o porquê da escolha da espécie, o produtor explica: “O piauçu é um peixe mais difícil de criar em relação a tilápia. Leva mais tempo para atingir o peso de um quilo, porém sua pesca é muito mais prazerosa, o que gera um valor agregado maior na hora da venda”.
A pecuária é outra atividade bastante presente no dia-a-dia da fazenda, aproveitando o grande número de leilões de gado que acontece na região próxima à divisa de Minas Gerais. O plantel hoje é formado por cerca de 300 cabeças - a maioria fêmeas -, já que a especialidade é a produção de bezerros que são comercializados nos eventos após o desmame.
Outro produto da fazenda é o cultivo de eucalipto. As mudas são compradas, plantadas e cuidadas. No primeiro ano é necessário aguar e controlar as saúvas (aquela mesma que ou o Brasil acabava com ela, ou ela com o Brasil). A árvore leva de cinco a seis anos para estar pronta para o corte que, na propriedade, é realizada por terceiros. A maioria da madeira extraída é destinada para a produção de lenha para fornos industriais, olarias, padarias e pizzarias, enquanto que uma menor quantidade, após passar por tratamento, é transformada em mourões para cercas.
A quinta atividade comercial da propriedade, e também a mais recente, é a produção de mel através da criação de abelhas africanizadas e da espécie Europa. O produtor conta que entrou na atividade através de um amigo, fazendo um experimento com uma estrutura. Hoje a fazenda possui cerca de 30 colmeias que rendem,aproximadamente,oito latas de 20 litros de mel em cada retirada. São realizadas duas por ano.
Quando questionado sobre o que era mais complicado criar entre peixe, gado ou abelha, o produtor responde de maneira simples: “Se você pensar que é preciso colocar um macacão e entrar no meio de 60 mil abelhas tentando te picar de qualquer maneira, dá para imaginar o que é mais difícil”.
Das cinco atividades desenvolvidas para a geração de renda da propriedade (cana, pecuária, piscicultura, eucalipto e apicultura), a cana é responsável por cerca de metade de todo o faturamento. No entanto, se for contar as atividades desenvolvidas como hobby (destinação de um tanque somente para criação de lambaris que servirão de isca para a pesca do tucunaré, a criação de alguns carneiros destinados a consumo próprio e uma bela horta acompanhada de um vistoso pomar) ou como suporte (em algumas áreas da propriedade é possível encontrar bonitos milharais onde a produção é destinada para a ração do gado), somam mais de dez.
Cada detalhe da propriedade é muito bem cuidado e limpo, o que denota capricho e muito amor dedicado à atividade. Depois de conhecer a história do Seu Ademir fica claro que a paixão é o principal combustível para alcançar o sucesso profissional.