Aparece a Luz da Retomada
04/06/2014
Colunista
POR: Revista Canavieiros - ed. 95
Agro: As exportações de abril (US$ 9,62 bilhões) se comparadas com o mesmo período de 2013 (US$ 9,65 bi), diminuíram 0,3%. O saldo na balança do agro de abril foi de US$ 8,17 bi, uma diminuição de 0,5% em relação a abril de 2013.
O valor exportado acumulado no ano (US$ 29,9 bilhões) por sua vez teve queda de 1,2% quando comparado com o mesmo período de 2013 (US$ 30,2 bilhões), porém, um resultado melhor que o do mês de março. O saldo positivo acumulado no ano foi de US$ 24,1 bilhões (1,5% menor que o mesmo período em 2013).
Os demais produtos brasileiros fora do agro tiveram uma queda de 8,0% nas exportações (US$ 11,0 bi em 2013, para US$ 10,1 bi em 2014), isso ajudou a participação do agronegócio nas exportações brasileiras a ganhar força (em 2013 a participação era de 46,8%), chegando ao incrível patamar de 48,8% em relação as exportações totais do Brasil, ou seja, o agro foi responsável por quase metade de tudo que o Brasil exportou.
O saldo da balança comercial brasileira ficou muito baixo, com um superávit de apenas US$ 506 milhões no mês de abril (uma melhora em relação a março, graças a diminuição das importações de gasolina), porém no acumulado do ano teve um grave déficit de US$ 5,6 bilhões. Se não fosse o agronegócio, a balança comercial brasileira teria um déficit de US$ 29,7 bilhões acumulados no ano, ou seja, mais uma vez o agro evitou um desastre maior na economia brasileira.
O valor da produção agropecuária deve crescer 5,5% neste ano, chegando a R$ 444,8 bilhões, graças principalmente a preços melhores. A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) acredita inclusive em R$ 456 bilhões, 6,3% a mais que 2013. Só a soja deve chegar a quase R$ 96 bilhões. O valor bruto da produção de cana deve cair 1,5%, para R$ 50,6 bilhões.
Cana: Até 1º de maio, a moagem (cerca de 40 milhões) no Centro-Sul estava 3,4% menor que em 2013. Consumo crescente de todos os produtos e produção mais lenta. Uma conta que não fecha.
Ao adquirir o controle da Santa Cruz, a São Martinho deve chegar a 20 milhões de toneladas de cana. Interessante que com esta aquisição são esperados ganhos de sinergia de R$ 40 milhões por ano. Este número mostra como podemos melhorar na eficiência industrial e agrícola na cana.
Desde 2010, 44 usinas deixaram de operar e outras 33 pediram recuperação judicial... O endividamento atingiu R$ 42,42 bilhões na safra de 2013/2014, 8% maior que na safra anterior, de acordo com o Itaú-BBA.
Açúcar: a nova previsão da Datagro estimou o déficit de açúcar na safra 2014/15 em 2,46 milhões de toneladas, contra 1,61 milhões da projeção anterior. A Copersucar acredita em déficit de 3 milhões de toneladas, pois a produção do Centro-Sul será 1 milhão de toneladas menor. Vale dizer que a produção de açúcar das usinas do Centro-Sul até 1º de maio está 13,3% menor que no ano passado. A safra pode ser mais alcooleira que as previsões iniciais.
Outra importante notícia é o crescimento do consumo mundial, agora em 2,25%, puxado principalmente pela Indonésia, que já vai consumir 5,3 milhões de toneladas em 2014. Deve importar 3,7 milhões de toneladas.
Relatório da Archer Consulting constrói uma série de fatores para acreditarmos que o açúcar pode ir a 22 cents/libra peso ainda neste ano. Entre estes destacam-se o déficit crescente entre consumo, que cresce 2% ao ano, e a produção, que está estagnada com a falta de investimentos. Aliado a isto, o crescente risco do El Nino trazer chuvas ao Brasil no momento de colheita da cana (um dia de chuva atrasa a moagem em 2 milhões de toneladas) e o maior consumo de etanol. Com meu otimismo, também acredito nesta possibilidade. Julho está com preços de R$ 912/tonelada FOB.
Com esta incerteza, a Raízen está com uma proporção de açúcar fixado para 2015/16 menor que a usual taxa de fixação.
Etanol: Segundo a IEA (Agência Internacional de Energia) e divulgada nesta semana em um seminário em São Paulo. A produção de biocombustível no Brasil deve crescer mais de 200% - de 1,3 milhão para 4,1 milhões de barris - até 2035. E o uso do etanol no transporte, no mesmo período, subirá dos atuais 3% para 8%.
Foi aprovada por uma comissão no Congresso o aumento da mistura para 27,5%. Falta agora passar em plenário da Câmara e do Senado, mas as chances são boas do setor receber este apoio e com isto melhorarmos a questão ambiental e de preços para a Petrobras.
Em abril as usinas do Centro-Sul venderam 1,81 bilhões de litros, 10,6% a mais que em abril do ano anterior. O consumo é puxado principalmente pelo anidro, crescendo quase 20%. É esperado que o consumo do hidratado cresça agora que os preços estão mais baixos. Surpreenderam também as exportações em abril, com 170 milhões de litros.
Em março e abril outra vez aconteceu um assunto que alerto o setor há mais de seis anos. Os preços do etanol caíram nas usinas e por incrível que pareça, aumentaram ao consumidor final, segundo a ANP (Agência Nacional de Petróleo). Observei por diversas vezes uma diferença que chegou perto de R$1,00 entre o preço na usina e no posto. É uma diferença absurda, que inibe o consumo de etanol e inibe o aumento dos preços do açúcar. Esta diferença de preços entre a usina e o posto, no caso do hidratado, não justifica ser acima de R$0,60. É necessário, e peço mais uma vez, que o setor, via cooperativas, Copersucar ou outras formas, faça investimentos no setor de postos de combustíveis para uma política de preços do etanol que beneficie o produtor de cana e o usineiro.
Energia: segundo a UNICA (União da Indústria de Cana-de Açúcar), em texto de Elizabeth Farina, estima-se que em 2013 a oferta de bioeletricidade de cana chegou aos 15 milhões de MWh, 25% acima do total de 2012 e equivalente à demanda anual de oito milhões de residências brasileiras, ou mais de 12% do consumo residencial do País.
Estima-se que em 2013 a oferta de bioeletricidade de cana chegou aos 15 milhões de MWh, 25% acima do total de 2012 e equivalente à demanda anual de oito milhões de residências brasileiras, ou mais de 12% do consumo residencial do País.
Todas as usinas brasileiras produzem energia a partir do bagaço de cana para seu próprio consumo, mas apenas 40% delas exportam bioeletricidade excedente para a rede de energia elétrica, quase sempre abaixo de sua potencialidade. Ficam de fora mais de 200 usinas que necessitam de investimentos em modernização técnica para se transformarem em termelétricas produtoras de energia excedente e poderem exportar
A EPE (Empresa de Pesquisa Energética) calcula o aproveitamento da biomassa disponível nas usinas pode gerar 22 GW médios até 2022, quase cinco vezes a garantia física da usina de Belo Monte ou de duas Itaipu.
Os preços no mercado livre começam a atrair as usinas. R$ 271,00 de teto para o próximo leilão já cobre os custos de produção de acordo com especialistas. No mercado livre o preço chegou a mais de R$ 800,00 o megawatt/hora.
Mês: recebemos 30 pós graduandos e dois professores da Universidade de Purdue para em uma semana, rodarem nosso agronegócio da região de Ribeirão Preto. Foram embora muito bem impressionados com nosso País. Foram ao Centro Cana do IAC, à usina da Pedra, Cutrale, Cocapec, CRV Lagoa e USP. Muito bem tratados em todas estas visitas. No Centro Cana destaco esta foto onde conhecemos a cana energia. Está com 200 dias, reparem o tamanho desta planta!
Homenagem do mês: este mês a homenagem da coluna vai ao José Luís Coelho, da Colorado/John Deere. Está aí um profissional realmente dedicado ao setor sucroenergético, ex-professor da ESALQ, também um torcedor da cana.
Haja Limão: Nosso ex-presidente vem batendo todos os recordes possíveis em falar bobagens. Vai à Europa e desmoraliza o Judiciário brasileiro, sem que nada lhe aconteça, depois diz que não precisamos de metrô para ir aos estádios de futebol. Como disse o Estadão em editorial, não dá mais para levá-lo a sério.
Marcos Fava Neves é Professor Titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto. Em 2013 foi Professor Visitante Internacional da Purdue University (EUA)