A Usina Coruripe, que está entre os dez maiores produtores de açúcar e etanoldo Brasil, vive uma situação quase que sui generis no país. Ou "sobrevive", como prefere dizer o seu presidente, Jucelino Sousa.
A Coruripe, cuja unidade matriz é maior produtora de etanol e açúcar do Nordeste, contando também com outras quatro usinas no oeste de Minas Gerais, difere de boa parte de seus concorrentes no Brasil, sufocados com preços baixos de seus produtos, custos crescentes e quebras de safra de cana.
Após ampliar por dois seguidos anos a moagem de cana --atingindo recentemente sua capacidade total instalada de 13,5 milhões de toneladas-- e elevar o faturamento em 10 por cento ante o ano anterior, para 1,6 bilhão de reais na última safra, a Coruripe conseguiu em meados de setembro captar 190 milhões de dólares em uma operação sindicalizada de financiamento a exportações coordenada pelo Rabobank.
"Nenhuma empresa do segmento, por mais estruturada financeiramente que esteja, consegue passar incólume por esse cenário que já dura quatro anos de preços deprimidos...", afirmou Sousa, à Reuters.
"Talvez tenhamos um pouco mais de resiliência devido a alguns fatores, que, da mesma forma, são percebidos em alguns poucos grupos que também estão conseguindo sobreviver. Veja bem que digo sobreviver, pois ninguém está crescendo no setor", acrescentou ele, em entrevista por email.
Entre os fatores chave para o desempenho da Coruripe, o executivo destaca a existência de receitas advindas da cogeração de energia, a perseverança quanto aos investimentos na manutenção do canavial, elevando a sua produtividade, a utilização plena da capacidade instalada e uma rígida disciplina orçamentária para controlar custos.
"Obviamente, um histórico irrepreensível de crédito é fundamental", completou Sousa, ressaltando que a empresa conseguiu o refinanciamento de suas necessidades para a safra 2014/15 antes mesmo do início da safra no Nordeste.
Essa condição se sobressai em um setor, que, de 2008 a 2013, registrou o fechamento de mais de 70 usinas no Brasil, segundo a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), tendo como uma de suas principais dificuldades a impossibilidade das companhias de repassar custos de produção ao etanol, com o controle dos valores da gasolina pelo governo, que acaba atuando como um teto para a cotação do biocombustível.
Na esteira da crise global de 2008, segundo a Unica, mais de 60 unidades produtoras entraram em recuperação judicial, considerando as empresas em operação e as inativas, num mercado global com seguidos excedentes de açúcar, que colabora para aprofundar os preços do adoçante.
Segundo Sousa, as unidades da Coruripe --que juntas produzem quase 1 milhão de toneladas de açúcar e pouco menos de meio bilhão de litros de etanol-- não são as mais novas ou mais modernas, mas são eficientes e operam em plena capacidade, um trunfo do grupo, que também coloca como prioridade as operações no campo.
"Sempre buscamos atingir o máximo de produtividade na produção da cana-de-açúcar, seja na cana própria seja com nossos fornecedores, antes de ampliarmos nossas unidades ou pensarmos em greenfields", afirmou o executivo, destacando que isso evitou que a companhia carregasse o ônus de investimentos em capacidade ociosa.
Além disso, disse Sousa, as unidades em Minas Gerais são próximas uma das outras, "ajudando-nos a capturar as sinergias advindas do conceito de cluster".
No caso da matriz, situada no município de Coruripe, em Alagoas, a empresa é beneficiada por investimentos feitos em irrigação ao longo de décadas, o que "ameniza os efeitos do maior flagelo da região, que é a inconstância de chuvas".
Questionado se a situação financeira da Coruripe a credenciaria para ser uma companhia consolidadora, capaz de realizar aquisições, Sousa não descartou essa hipótese, desde que haja oportunidade de sinergias, mas adotou cautela diante da situação do mercado.
"O segmento vai passar inexoravelmente por uma reorganização e nos vemos como parte desse processo e como players que estarão no jogo quando as adversidades forem superadas. Temos enormes oportunidades de crescimento orgânico e será nisso que nos concentraremos assim que as perspectivas do segmento melhorarem...", afirmou.
Entretanto, frisou o presidente da Coruripe, "o momento e as perspectivas atuais indicam que essa é uma realidade que ainda vai demorar um bom tempo".
29/09/14 - Roberto Samora
A Usina Coruripe, que está entre os dez maiores produtores de açúcar e etanol do Brasil, vive uma situação quase que sui generis no país. Ou "sobrevive", como prefere dizer o seu presidente, Jucelino Sousa.
A Coruripe, cuja unidade matriz é maior produtora de etanol e açúcar do Nordeste, contando também com outras quatro usinas no oeste de Minas Gerais, difere de boa parte de seus concorrentes no Brasil, sufocados com preços baixos de seus produtos, custos crescentes e quebras de safra de cana.
Após ampliar por dois seguidos anos a moagem de cana --atingindo recentemente sua capacidade total instalada de 13,5 milhões de toneladas-- e elevar o faturamento em 10 por cento ante o ano anterior, para 1,6 bilhão de reais na última safra, a Coruripe conseguiu em meados de setembro captar 190 milhões de dólares em uma operação sindicalizada de financiamento a exportações coordenada pelo Rabobank.
"Nenhuma empresa do segmento, por mais estruturada financeiramente que esteja, consegue passar incólume por esse cenário que já dura quatro anos de preços deprimidos...", afirmou Sousa, à Reuters.
"Talvez tenhamos um pouco mais de resiliência devido a alguns fatores, que, da mesma forma, são percebidos em alguns poucos grupos que também estão conseguindo sobreviver. Veja bem que digo sobreviver, pois ninguém está crescendo no setor", acrescentou ele, em entrevista por email.
Entre os fatores chave para o desempenho da Coruripe, o executivo destaca a existência de receitas advindas da cogeração de energia, a perseverança quanto aos investimentos na manutenção do canavial, elevando a sua produtividade, a utilização plena da capacidade instalada e uma rígida disciplina orçamentária para controlar custos.
"Obviamente, um histórico irrepreensível de crédito é fundamental", completou Sousa, ressaltando que a empresa conseguiu o refinanciamento de suas necessidades para a safra 2014/15 antes mesmo do início da safra no Nordeste.
Essa condição se sobressai em um setor, que, de 2008 a 2013, registrou o fechamento de mais de 70 usinas no Brasil, segundo a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), tendo como uma de suas principais dificuldades a impossibilidade das companhias de repassar custos de produção ao etanol, com o controle dos valores da gasolina pelo governo, que acaba atuando como um teto para a cotação do biocombustível.
Na esteira da crise global de 2008, segundo a Unica, mais de 60 unidades produtoras entraram em recuperação judicial, considerando as empresas em operação e as inativas, num mercado global com seguidos excedentes de açúcar, que colabora para aprofundar os preços do adoçante.
Segundo Sousa, as unidades da Coruripe --que juntas produzem quase 1 milhão de toneladas de açúcar e pouco menos de meio bilhão de litros de etanol-- não são as mais novas ou mais modernas, mas são eficientes e operam em plena capacidade, um trunfo do grupo, que também coloca como prioridade as operações no campo.
"Sempre buscamos atingir o máximo de produtividade na produção da cana-de-açúcar, seja na cana própria seja com nossos fornecedores, antes de ampliarmos nossas unidades ou pensarmos em greenfields", afirmou o executivo, destacando que isso evitou que a companhia carregasse o ônus de investimentos em capacidade ociosa.
Além disso, disse Sousa, as unidades em Minas Gerais são próximas uma das outras, "ajudando-nos a capturar as sinergias advindas do conceito de cluster".
No caso da matriz, situada no município de Coruripe, em Alagoas, a empresa é beneficiada por investimentos feitos em irrigação ao longo de décadas, o que "ameniza os efeitos do maior flagelo da região, que é a inconstância de chuvas".
Questionado se a situação financeira da Coruripe a credenciaria para ser uma companhia consolidadora, capaz de realizar aquisições, Sousa não descartou essa hipótese, desde que haja oportunidade de sinergias, mas adotou cautela diante da situação do mercado.
"O segmento vai passar inexoravelmente por uma reorganização e nos vemos como parte desse processo e como players que estarão no jogo quando as adversidades forem superadas. Temos enormes oportunidades de crescimento orgânico e será nisso que nos concentraremos assim que as perspectivas do segmento melhorarem...", afirmou.
Entretanto, frisou o presidente da Coruripe, "o momento e as perspectivas atuais indicam que essa é uma realidade que ainda vai demorar um bom tempo".
29/09/14 - Roberto Samora