Arnaldo Jardim:"A Agrishow é a maior vitrine do agronegócio paulista"

28/04/2015 Agronegócio POR: Enfim Texto extraído do Portal BrasilAgro 25/04/15
Natural de Altinópolis mas tendo passado parte da sua infância e juventude em Ituverava e Ribeirão Preto, o secretário estadual da Agricultura (e deputado federal licenciado) Arnaldo Jardim iniciou sua vida política como líder estudantil, na Escola Politécnica da USP, onde formou-se em engenharia civil, sendo diretor do o DCE da USP e da União Estadual dos Estudantes num período efervescente da luta contra o regime militar e pela democracia. Participou de movimentos de bairro na cidade de São Paulo e, em 1982, trabalhou ativamente na campanha que elegeu Franco Montoro para Governador de São Paulo, indo para o governo do Estado trabalhar com o então Secretário do Interior, Chopin Tavares de Lima, na condição de Chefe de Gabinete. Em 1986 foi eleito, pela primeira vez , deputado estadual e no segundo mandato, em 1991, foi Líder do Governo e do PMDB na Assembleia Legislativa, tendo sido relator do anteprojeto de Constituição Estadual e autor da lei que instituiu a carteira de prevenção ao câncer ginecológico e mamário.Em 1992 assumiu a Secretaria de Habitação do Estado de São Paulo, onde ficou até 1993. Foram 75 mil unidades habitacionais construídas, 45 mil deixadas em processo de construção e mais 45 mil com os devidos editais de licitação. Tudo isso realizado de forma dinâmica, mais barata e aprimorada pelo Projeto Vida Melhor; em 94 disputou eleições majoritárias como candidato a Vice-Governador pelo PMDB e, há 19 anos,trocou o PMDB pelo PPS pelo qual, em 2007, conquistou o primeiro dos seus atuais três mandatos na Câmara Federal.
Nesta entrevista, Jardim faz um balanço da sua vida publica, explica porque trocou o PMDB pelo PPS, conta como será a participação da SAA na Agrishow, opina sobre as manifestações anti-Dilma, explica a criação do Museu da Agricultura em Ribeirão Preto, relata o trabalho da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Sucroenergético e se dispõe a apoiar o Projeto de Governança Corporativa da Cadeia Produtiva Sucroenergética recentemente lançado em Sertãozinho.
Enfim - O senhor começou na vida pública como chefe de gabinete do ex-deputado Chopin Tavares de Lima, na secretaria do Interior e dele recebeu o estímulo para disputar e conquistar o seu primeiro mandato de deputado estadual. Que lições o senhor acredita ter recebido desse mestre da política?
Arnaldo Jardim - Em 1982, trabalhei ativamente na campanha que elegeu Franco Montoro para Governador de São Paulo. Fui para o governo trabalhar com o então Secretário do Interior, Chopin Tavares de Lima, na condição de Chefe de Gabinete. Nesse período, desenvolvi trabalhos importantes como o da descentralização administrativa e de programas de desenvolvimento comunitário no interior (vacas mecânicas, padarias, piscicultura, cozinha piloto, interior na praia, redescobrindo o interior, movimento de jovens, etc). Fui eleito deputado estadual, encorajado pelo Doutor Chopin, pela primeira vez em 1986 e no segundo mandato, em 1991, fui Líder do Governo e do PMDB na Assembléia Legislativa, tendo sido relator do anteprojeto de Constituição Estadual e autor da lei que instituiu a carteira de prevenção ao câncer ginecológico e mamário.
Dr. Chopin teve idealismo sempre na política. Foi apaixonado por construir convergências e o sempre prestigiou quem era inovador. Acabou sendo um criador de lideranças ao apostar na juventude sempre. Estes foram ensinamentos marcantes do Dr. Chopin e que acho que devem inspirar não só a mim, mas a todos que querem uma política com mais dignidade e mais proximidade da população.
Enfim - Dá para o senhor fazer um pequeno balanço desses seus praticamente 30 anos de vida pública?
AJ - Seria uma pretensão fazer um pequeno balanço de meus 30 anos de atividade, mas posso dizer que coisas muito intensas foram realizadas e das quais posso me orgulhar. Uma delas é o fato de ter mantido coerência na minha atividade pública ao longo do tempo, de ter buscado fazer com que meus os valores de formação, da época da juventude, e até familiares, persistissem assim como a minha animação em fazer as coisas. Tive o aspecto da minha vida pública, como militante estudantil e continuei mantendo isso, militando em associações de classe, em movimentos que defendem bandeiras e um exemplo disso são as campanhas de diretas já, campanhas pela anistia na época da redemocratização.
Como parlamentar, quer seja como deputado federal ou estadual, acho que posso dizer que fui um parlamentar bastante ativo. Com uma participação intensa, liderando bancadas, sendo líder do governo, sendo presidente do meu partido mais de uma vez, podendo enfim manter uma atividade legislativa e sempre de presença nos municípios. No executivo, fui secretário da habitação, assumi a secretaria do interior em alguns momentos, na época do governo Montoro, e também agora como Secretário da Agricultura e Abastecimento, acredito que a minha formação como engenheiro ajuda muito nesse sentido.
Enfim - O que o levou - após ter sido secretário de Estado e até candidato a vice-governador pela legenda - a trocar o PMDB pelo PPS?
AJ - Militei no PMDB durante 19 anos, aliás originalmente no velho MDB, o velho "Manda Brasa". Lá militei com todo o espírito da juventude, lutando por transformações e mudei de partido. Estou agora completando outros 19 anos praticamente, dentro do PPS. Ficaria constrangido se tivesse saído de um partido que está na oposição para aderir ao governo, mas não foi o que aconteceu. Ao contrário: saí de um partido que estava no governo para ir para a oposição. Teria algum constrangimento de sair de um partido pequeno para ir para um partido grande. Poderia também parecer oportunismo, mas não: saí de um partido grande e fui para um partido pequeno. Portanto eu saí do PMDB, porque o PMDB havia saído de mim. O PMDB que eu acreditei e me filiei originalmente não era o PMDB que eu sentia naquela época. Tenho respeito pelo partido, nunca fui de criticá-lo, mas me senti muito bem no PPS.
Enfim - O convite do governador Geraldo Alckmin para assumir a secretaria da Agricultura surpreendeu-o?
AJ - Fiquei muito honrado com o desafio de conduzir a secretaria de agricultura e abastecimento de são Paulo. Registro minha satisfação de integrar o governo Alckmin, marcado pela ética no trato do espaço público e pela visão empreendedora, conceitos especialmente valiosos neste momento da conjuntura nacional.
Enfim - Natural de Altinópolis, qual a sua vinculação com Ribeirão Preto?
AJ - Sou natural de Altinópolis, depois me mudei para Ituverava, sempre no entorno de Ribeirão Preto. Em Ribeirão Preto, meu pai reside desde 1970. Eu me formei no Otoniel Mota. O município é a minha origem junto com Altinópolis e Ituverava.
Enfim - Qual vai ser a participação da secretaria estadual da Agricultura na Agrishow? Sua ideia é nela dar expediente todos os dias?
AJ - Vamos transferir o Gabinete da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo para a Agrishow. Isso significa que, além da presença do Secretário e de suas assessorias, todas as coordenadorias e órgãos vinculados também estarão representados para atender o público. Levaremos todos os programas e projetos de sucesso do Governo do Estado para a agricultura paulista. Novidades no FEAP (Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista) serão anunciadas, além de outros lançamentos da Secretaria de Agricultura.
Enfim - Qual a sua expectativa em torno da Agrishow 2015?
AJ - A Agrishow é a maior vitrine do agronegócio paulista, um dos mais importantes setores da economia do estado e do País. A feira é um sucesso, por reunir as tecnologias de ponta e mais recentes novidades, que impulsionam o setor e geram sempre as mais altas expectativas.
Enfim - Como o senhor viu a indicação de Fábio Meirelles para a presidência do evento?
AJ - Vejo com bons olhos, Fábio Meirelles é um dos mais representativos líderes do setor agropecuário brasileiro. E sua atuação no desenvolvimento da agricultura do País representa um marco pela valorização da atividade rural e pelo foco persistente na integração nacional.
Meirelles tem defendido a permanente união do setor e das entidades representativas da atividade rural para sensibilizar os governos quanto à necessidade de implantar no País uma política agrícola abrangente e de longo prazo.
Enfim - A implementação do Museu da Agricultura poderá ser um marco da sua presença na secretaria da Agricultura. Já há um cronograma de trabalho que possa ser explicitado?
AJ - O Museu será construído em área do Centro de Cana de Ribeirão Preto, símbolo da ação do governo do Estado no desenvolvimento da agricultura da Alta Mogiana desde os anos 30, quando da implantação da Estação Experimental do IAC (Instituto Agronômico) para estudos e fomento tecnológico da cultura do café. Os anos passaram, a agricultura na região se diversificou até chegar ao domínio da cana-de-açúcar. Mas tudo isso num processo que evoluiu graças à tecnologia, conhecimento, máquinas, mão de obra especializada e espírito inovador. O conjunto fez de Ribeirão Preto a Capital Brasileira do Agronegócio. Nada mais justo que ao se pensar em um Museu de Agricultura no Estado de São Paulo, que ele fosse implantado em Ribeirão Preto, em solo que gerou e continua gerando conhecimento e tecnologia para o agronegócio paulista e brasileiro. Em solo que abriga há 20 anos a maior feira de tecnologia agrícola da América Latina, a Agrishow.
O edital foi publicado em 9 de abril e prevê a conclusão da obra em 18 meses. A próxima etapa será a construção do prédio, que ocorrerá em paralelo com a formatação do acervo, que consiste na criação das instalações por uma equipe composta por cenógrafos, decoradores e cientistas.
Enfim - Como o senhor pretende dinamizar a secretaria da Agricultura num período de escassez de recursos? Quais, a seu ver, os grandes desafios a serem vencidos?
AJ - Do ponto de vista da agricultura esse desafio também está presente. Além das questões emergenciais que temos tratado, e sabemos que dificilmente escaparemos de algum nível de restrição da oferta de água, há questões estruturais a serem enfrentadas. Afinal de contas, a crise hídrica é um debate mundial e poucas providências foram adotadas para combater as mudanças climáticas.
Quanto aos efeitos da crise hídrica na agricultura, orientado pelo governador Alckmin, tenho dialogado com as entidades e produtores rurais para alertar sobre a necessidade de encontrarmos soluções conjuntas de médio e longo prazo. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento busca novas alternativas e procedimentos para fazer frente à escassez de água e orientar nossos produtores neste sentido.
Enfim - Como o senhor avalia manifestações como as dos últimos dias 15 de março e 12 de abril? A seu ver há elementos para se propor o impeachment da presidente Dilma?
AJ - As manifestações que nós temos visto agora no Brasil são extremamente positivas. Primeiro que sempre que a sociedade se mobiliza, coisas boas acontecem. A sociedade própria aumenta seu grau de consciência, o grau de mobilização leva a uma participação, mas acima de tudo nós temos uma situação em que quem está no poder é obrigado a prestar contas de uma forma mais efetiva de seus atos. Portanto, vejo com entusiasmo as manifestações que tem ocorrido e gosto disso. Acredito que isso ajuda a amadurecer a nossa democracia. Eu, ao invés de discutir se devemos ou não fazer o impeachment, acho que nós devemos gastar toda energia para apurar rigorosamente o que ocorreu. O Ministério Público e a Polícia Federal fazem um importante trabalho, assim como as comissões parlamentares de inquérito. Cabe a cada um de nós acompanhar a apuração do que aconteceu rigorosamente, e caminhar para o impeachment se realmente for necessário e se com isso ficar demonstrado algum envolvimento ilícito diretamente por parte da presidência. Acho que o determinante não é ser a favor ou contra o impeachment, o determinante é fazer a rigorosa apuração para poder depois discutir o que nós faremos.
Enfim - Por que a Frente Parlamentar em Defesa do Setor Sucroenergético, presidida pelo senhor enquanto deputado federal, não conseguiu avançar para resolver os problemas estruturais da cadeia produtiva canavieira?
AJ - Eu considero que a frente em defesa do setor sucroenergético conseguiu avançar bastante. Foi muito importante a sua existência e esse sentimento é unânime entre os parlamentares que a compuseram, aos quais eu agradeço por ter sido indicado para a presidi-la, entre as associações que participam do setor e representam as entidades. Menciono, primeiro: incluir o carro flex entre os carros que são desenvolvidos dentro do programa de inovação tecnológica Inovar-Auto. Segundo: retirada do PIS/COFINS sobre acana. Terceiro: medidas de conexão para aumentar a oferta da cogeração de energia a partir do bagaço da cana. Quarto: recuperação da CIDE. Quinto: aumento da mistura doetanol no combustível de 25% para 27,5%. Fora essas questões, várias questões no cotidiano foram tratadas pela frente. Como a questão dos critérios para carga dos caminhões e formação de mão de obra e recursos humanos para o setor sucroenergético. Eu diria que se não houvesse a frente, a situação de crise no setor seria muito maior. Problemas estruturais começam a ser resolvidos com a restituição da CIDE e outros projetos mais que poderão vir. Mas a Frente teve um papel muito positivo.
Enfim - Os trabalhadores, através da Força Sindical, deixaram de apoiar as ações da Frente Parlamentar reclamando dos usineiros. Afinal, quem é que tinha razão?
AJ - Recentemente, nós estivemos em Sertãozinho, para uma grande mobilização e lá estavam presentes a Força Sindical, a CGT, a UGT. A única entidade, pelo que me consta, dos trabalhadores que não participou da mobilização de Sertãozinho em defesa do setor, foi a CUT. As demais frentes estiveram todas lá presentes de uma forma unanime. É natural que dentro de uma cadeia produtiva surjam divergências entre o setor, por exemplo, do trabalhador e o setor empresarial, mas é lógico que os plantadores e os fornecedores têm suas divergências com as usinas. Isso faz parte. É uma cadeia produtiva e cada um deseja ter seu espaço, mas acredito que diante da necessidade do setor, tem prevalecido a união sem que isso ficasse comprometido.
Enfim - Qual a avaliação que o senhor faz da formação da Frente dos Governadores dos Estados Produtores de Cana-de-Açúcar sugerida pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues?
AJ - A minha convicção é de que o Brasil é muito maior que os desacertos momentâneos. No caso específico do Etanol e da produção de Açúcar que foi uma cadeia produtiva construída durante séculos pela dedicação de homens e mulheres do nosso país, seja trabalhando na lavoura ou nas usinas, seja pela percepção de homens públicos em diversos momentos, temos aí um grande patrimônio. Não podemos, nem devemos nos dispersar nós temos o biocombustível mais amigável do mundo ao meio ambiente, combustível renovável e não podemos abrir mão das suas vantagens. O etanol é o nosso grande diferencial num mundo que luta contra a emissão de gases do efeito estufa, que combate as mudanças climáticas e que busca novos parâmetros para uma economia de baixo carbono.
Enfim - Qual a sua opinião a respeito do Projeto de Governança Corporativa da Cadeia Produtiva Sucroenergética unindo novamente, depois de 16 anos, os trabalhadores, fornecedores de cana, indústria de base e os usineiros?
AJ - Eu tenho um conhecimento limitado do que é exatamente esse projeto e não sei os detalhes da proposta de Governança Corporativa, mas todos os projetos que sejam para unificar a cadeia, estabelecer convergências, devem ter o engajamento de todos, inclusive o meu. Saúdo iniciativas como essa.
Enfim - Qual é a agenda de reivindicações do setor sucroenergético na esfera do governo federal, levando-se em conta que a própria Única - União da Indústria da Cana-de-Açúcar não tem muito claro o que é que o setor quer e precisa?
Defendemos em São Paulo os leilões vocacionados para geração de Bioeletricidade, linhas de conexão com custos compartilhados das usinas de geração até as subestações, aumento da mistura de Etanol anidro à gasolina até 30% (atualmente conquistamos o aumento a partir de decisões legislativas para 27%, definição da participação da biomassa na matriz energética, definição do etanol na matriz de combustíveis e produtividade nocanavial com mudas pré brotadas (MPB) - desenvolvidas pela Secretaria de Agricultura de São Paulo, Desempenho da mecanização do plantio e Disponibilização de áreas pós mecanização para reconversão em área produtiva.
A recuperação da Cide; a unificação do ICMS, a continuidade dos esforços na área de pesquisa em busca de novas espécies, o aprofundamento do esforço para a produção doetanol de segunda geração; a contínua busca pela melhoria logística para o escoamento do açúcar e do etanol e a recuperação de nosso espaço no mercado externo destes nossos produtos são pontos norteadores do nosso trabalho.
Enfim - Essas Frentes Parlamentares - a exemplo da criada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo - têm contribuído para o efetivo encaminhamento das demandas do setor sucroenergético?
Em 2015, o compromisso da Frente do Etanol é reforçar a luta pela reversão do atual cenário de dificuldade econômica enfrentada pelo setor sucroenergético, buscando a adoção de uma política de longo prazo consistente que valorize uma matriz energética diversificada e que reconheça as contribuições ambientais do etanol e da bioeletricidade gerada a partir do bagaço e da palha da cana. O Governador Geraldo Alckmin, que já havia diminuído o ICMS do Etanol de 25% para 12%, adotou uma série de medidas importantes para o setor sucroenergético. Essas medidas farão com que a cogeração possa, cada vez mais, se tornar realidade e se beneficiar destas fontes adicionais de recursos que complementarão a renda do setor, assim como o etanol e o açúcar.
De qualquer forma, o futuro do etanol está muito vinculado a uma definição que seja adotada e respeitada pelo Governo no que diz respeito à participação deste recurso na matriz de combustíveis do país. Importante também é nossa participação relativa, a energiagerada pela biomassa (a nossa bioeletricidade) e sua presença na matriz energética nacional. Aqui em São Paulo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, está empenhada na recuperação e fortalecimento do setor sucroenergético, não só com políticas claras de apoio e parceria com empresas, produtores de cana e entidades representativas, mas no incentivo às pesquisas para o etanol de 2ª geração, no desenvolvimento de pesquisas para novas variedades, no apoio as medidas de logística, na viabilização da bioeletricidade e também no apoio político as reivindicações do setor.
Jarbas Cunha
Natural de Altinópolis mas tendo passado parte da sua infância e juventude em Ituverava e Ribeirão Preto, o secretário estadual da Agricultura (e deputado federal licenciado) Arnaldo Jardim iniciou sua vida política como líder estudantil, na Escola Politécnica da USP, onde formou-se em engenharia civil, sendo diretor do o DCE da USP e da União Estadual dos Estudantes num período efervescente da luta contra o regime militar e pela democracia. Participou de movimentos de bairro na cidade de São Paulo e, em 1982, trabalhou ativamente na campanha que elegeu Franco Montoro para Governador de São Paulo, indo para o governo do Estado trabalhar com o então Secretário do Interior, Chopin Tavares de Lima, na condição de Chefe de Gabinete. Em 1986 foi eleito, pela primeira vez , deputado estadual e no segundo mandato, em 1991, foi Líder do Governo e do PMDB na Assembleia Legislativa, tendo sido relator do anteprojeto de Constituição Estadual e autor da lei que instituiu a carteira de prevenção ao câncer ginecológico e mamário.Em 1992 assumiu a Secretaria de Habitação do Estado de São Paulo, onde ficou até 1993. Foram 75 mil unidades habitacionais construídas, 45 mil deixadas em processo de construção e mais 45 mil com os devidos editais de licitação. Tudo isso realizado de forma dinâmica, mais barata e aprimorada pelo Projeto Vida Melhor; em 94 disputou eleições majoritárias como candidato a Vice-Governador pelo PMDB e, há 19 anos,trocou o PMDB pelo PPS pelo qual, em 2007, conquistou o primeiro dos seus atuais três mandatos na Câmara Federal.
Nesta entrevista, Jardim faz um balanço da sua vida publica, explica porque trocou o PMDB pelo PPS, conta como será a participação da SAA na Agrishow, opina sobre as manifestações anti-Dilma, explica a criação do Museu da Agricultura em Ribeirão Preto, relata o trabalho da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Sucroenergético e se dispõe a apoiar o Projeto de Governança Corporativa da Cadeia Produtiva Sucroenergética recentemente lançado em Sertãozinho.
Enfim - O senhor começou na vida pública como chefe de gabinete do ex-deputado Chopin Tavares de Lima, na secretaria do Interior e dele recebeu o estímulo para disputar e conquistar o seu primeiro mandato de deputado estadual. Que lições o senhor acredita ter recebido desse mestre da política?
Arnaldo Jardim - Em 1982, trabalhei ativamente na campanha que elegeu Franco Montoro para Governador de São Paulo. Fui para o governo trabalhar com o então Secretário do Interior, Chopin Tavares de Lima, na condição de Chefe de Gabinete. Nesse período, desenvolvi trabalhos importantes como o da descentralização administrativa e de programas de desenvolvimento comunitário no interior (vacas mecânicas, padarias, piscicultura, cozinha piloto, interior na praia, redescobrindo o interior, movimento de jovens, etc). Fui eleito deputado estadual, encorajado pelo Doutor Chopin, pela primeira vez em 1986 e no segundo mandato, em 1991, fui Líder do Governo e do PMDB na Assembléia Legislativa, tendo sido relator do anteprojeto de Constituição Estadual e autor da lei que instituiu a carteira de prevenção ao câncer ginecológico e mamário.
Dr. Chopin teve idealismo sempre na política. Foi apaixonado por construir convergências e o sempre prestigiou quem era inovador. Acabou sendo um criador de lideranças ao apostar na juventude sempre. Estes foram ensinamentos marcantes do Dr. Chopin e que acho que devem inspirar não só a mim, mas a todos que querem uma política com mais dignidade e mais proximidade da população.
Enfim - Dá para o senhor fazer um pequeno balanço desses seus praticamente 30 anos de vida pública?
AJ - Seria uma pretensão fazer um pequeno balanço de meus 30 anos de atividade, mas posso dizer que coisas muito intensas foram realizadas e das quais posso me orgulhar. Uma delas é o fato de ter mantido coerência na minha atividade pública ao longo do tempo, de ter buscado fazer com que meus os valores de formação, da época da juventude, e até familiares, persistissem assim como a minha animação em fazer as coisas. Tive o aspecto da minha vida pública, como militante estudantil e continuei mantendo isso, militando em associações de classe, em movimentos que defendem bandeiras e um exemplo disso são as campanhas de diretas já, campanhas pela anistia na época da redemocratização.
Como parlamentar, quer seja como deputado federal ou estadual, acho que posso dizer que fui um parlamentar bastante ativo. Com uma participação intensa, liderando bancadas, sendo líder do governo, sendo presidente do meu partido mais de uma vez, podendo enfim manter uma atividade legislativa e sempre de presença nos municípios. No executivo, fui secretário da habitação, assumi a secretaria do interior em alguns momentos, na época do governo Montoro, e também agora como Secretário da Agricultura e Abastecimento, acredito que a minha formação como engenheiro ajuda muito nesse sentido.
Enfim - O que o levou - após ter sido secretário de Estado e até candidato a vice-governador pela legenda - a trocar o PMDB pelo PPS?
AJ - Militei no PMDB durante 19 anos, aliás originalmente no velho MDB, o velho "Manda Brasa". Lá militei com todo o espírito da juventude, lutando por transformações e mudei de partido. Estou agora completando outros 19 anos praticamente, dentro do PPS. Ficaria constrangido se tivesse saído de um partido que está na oposição para aderir ao governo, mas não foi o que aconteceu. Ao contrário: saí de um partido que estava no governo para ir para a oposição. Teria algum constrangimento de sair de um partido pequeno para ir para um partido grande. Poderia também parecer oportunismo, mas não: saí de um partido grande e fui para um partido pequeno. Portanto eu saí do PMDB, porque o PMDB havia saído de mim. O PMDB que eu acreditei e me filiei originalmente não era o PMDB que eu sentia naquela época. Tenho respeito pelo partido, nunca fui de criticá-lo, mas me senti muito bem no PPS.
Enfim - O convite do governador Geraldo Alckmin para assumir a secretaria da Agricultura surpreendeu-o?
AJ - Fiquei muito honrado com o desafio de conduzir a secretaria de agricultura e abastecimento de são Paulo. Registro minha satisfação de integrar o governo Alckmin, marcado pela ética no trato do espaço público e pela visão empreendedora, conceitos especialmente valiosos neste momento da conjuntura nacional.
Enfim - Natural de Altinópolis, qual a sua vinculação com Ribeirão Preto?
AJ - Sou natural de Altinópolis, depois me mudei para Ituverava, sempre no entorno de Ribeirão Preto. Em Ribeirão Preto, meu pai reside desde 1970. Eu me formei no Otoniel Mota. O município é a minha origem junto com Altinópolis e Ituverava.
Enfim - Qual vai ser a participação da secretaria estadual da Agricultura na Agrishow? Sua ideia é nela dar expediente todos os dias?
AJ - Vamos transferir o Gabinete da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo para a Agrishow. Isso significa que, além da presença do Secretário e de suas assessorias, todas as coordenadorias e órgãos vinculados também estarão representados para atender o público. Levaremos todos os programas e projetos de sucesso do Governo do Estado para a agricultura paulista. Novidades no FEAP (Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista) serão anunciadas, além de outros lançamentos da Secretaria de Agricultura.
Enfim - Qual a sua expectativa em torno da Agrishow 2015?
AJ - A Agrishow é a maior vitrine do agronegócio paulista, um dos mais importantes setores da economia do estado e do País. A feira é um sucesso, por reunir as tecnologias de ponta e mais recentes novidades, que impulsionam o setor e geram sempre as mais altas expectativas.
Enfim - Como o senhor viu a indicação de Fábio Meirelles para a presidência do evento?
AJ - Vejo com bons olhos, Fábio Meirelles é um dos mais representativos líderes do setor agropecuário brasileiro. E sua atuação no desenvolvimento da agricultura do País representa um marco pela valorização da atividade rural e pelo foco persistente na integração nacional.
Meirelles tem defendido a permanente união do setor e das entidades representativas da atividade rural para sensibilizar os governos quanto à necessidade de implantar no País uma política agrícola abrangente e de longo prazo.
Enfim - A implementação do Museu da Agricultura poderá ser um marco da sua presença na secretaria da Agricultura. Já há um cronograma de trabalho que possa ser explicitado?
AJ - O Museu será construído em área do Centro de Cana de Ribeirão Preto, símbolo da ação do governo do Estado no desenvolvimento da agricultura da Alta Mogiana desde os anos 30, quando da implantação da Estação Experimental do IAC (Instituto Agronômico) para estudos e fomento tecnológico da cultura do café. Os anos passaram, a agricultura na região se diversificou até chegar ao domínio da cana-de-açúcar. Mas tudo isso num processo que evoluiu graças à tecnologia, conhecimento, máquinas, mão de obra especializada e espírito inovador. O conjunto fez de Ribeirão Preto a Capital Brasileira do Agronegócio. Nada mais justo que ao se pensar em um Museu de Agricultura no Estado de São Paulo, que ele fosse implantado em Ribeirão Preto, em solo que gerou e continua gerando conhecimento e tecnologia para o agronegócio paulista e brasileiro. Em solo que abriga há 20 anos a maior feira de tecnologia agrícola da América Latina, a Agrishow.
O edital foi publicado em 9 de abril e prevê a conclusão da obra em 18 meses. A próxima etapa será a construção do prédio, que ocorrerá em paralelo com a formatação do acervo, que consiste na criação das instalações por uma equipe composta por cenógrafos, decoradores e cientistas.
Enfim - Como o senhor pretende dinamizar a secretaria da Agricultura num período de escassez de recursos? Quais, a seu ver, os grandes desafios a serem vencidos?
AJ - Do ponto de vista da agricultura esse desafio também está presente. Além das questões emergenciais que temos tratado, e sabemos que dificilmente escaparemos de algum nível de restrição da oferta de água, há questões estruturais a serem enfrentadas. Afinal de contas, a crise hídrica é um debate mundial e poucas providências foram adotadas para combater as mudanças climáticas.
Quanto aos efeitos da crise hídrica na agricultura, orientado pelo governador Alckmin, tenho dialogado com as entidades e produtores rurais para alertar sobre a necessidade de encontrarmos soluções conjuntas de médio e longo prazo. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento busca novas alternativas e procedimentos para fazer frente à escassez de água e orientar nossos produtores neste sentido.
Enfim - Como o senhor avalia manifestações como as dos últimos dias 15 de março e 12 de abril? A seu ver há elementos para se propor o impeachment da presidente Dilma?
AJ - As manifestações que nós temos visto agora no Brasil são extremamente positivas. Primeiro que sempre que a sociedade se mobiliza, coisas boas acontecem. A sociedade própria aumenta seu grau de consciência, o grau de mobilização leva a uma participação, mas acima de tudo nós temos uma situação em que quem está no poder é obrigado a prestar contas de uma forma mais efetiva de seus atos. Portanto, vejo com entusiasmo as manifestações que tem ocorrido e gosto disso. Acredito que isso ajuda a amadurecer a nossa democracia. Eu, ao invés de discutir se devemos ou não fazer o impeachment, acho que nós devemos gastar toda energia para apurar rigorosamente o que ocorreu. O Ministério Público e a Polícia Federal fazem um importante trabalho, assim como as comissões parlamentares de inquérito. Cabe a cada um de nós acompanhar a apuração do que aconteceu rigorosamente, e caminhar para o impeachment se realmente for necessário e se com isso ficar demonstrado algum envolvimento ilícito diretamente por parte da presidência. Acho que o determinante não é ser a favor ou contra o impeachment, o determinante é fazer a rigorosa apuração para poder depois discutir o que nós faremos.
Enfim - Por que a Frente Parlamentar em Defesa do Setor Sucroenergético, presidida pelo senhor enquanto deputado federal, não conseguiu avançar para resolver os problemas estruturais da cadeia produtiva canavieira?
AJ - Eu considero que a frente em defesa do setor sucroenergético conseguiu avançar bastante. Foi muito importante a sua existência e esse sentimento é unânime entre os parlamentares que a compuseram, aos quais eu agradeço por ter sido indicado para a presidi-la, entre as associações que participam do setor e representam as entidades. Menciono, primeiro: incluir o carro flex entre os carros que são desenvolvidos dentro do programa de inovação tecnológica Inovar-Auto. Segundo: retirada do PIS/COFINS sobre acana. Terceiro: medidas de conexão para aumentar a oferta da cogeração de energia a partir do bagaço da cana. Quarto: recuperação da CIDE. Quinto: aumento da mistura doetanol no combustível de 25% para 27,5%. Fora essas questões, várias questões no cotidiano foram tratadas pela frente. Como a questão dos critérios para carga dos caminhões e formação de mão de obra e recursos humanos para o setor sucroenergético. Eu diria que se não houvesse a frente, a situação de crise no setor seria muito maior. Problemas estruturais começam a ser resolvidos com a restituição da CIDE e outros projetos mais que poderão vir. Mas a Frente teve um papel muito positivo.
Enfim - Os trabalhadores, através da Força Sindical, deixaram de apoiar as ações da Frente Parlamentar reclamando dos usineiros. Afinal, quem é que tinha razão?
AJ - Recentemente, nós estivemos em Sertãozinho, para uma grande mobilização e lá estavam presentes a Força Sindical, a CGT, a UGT. A única entidade, pelo que me consta, dos trabalhadores que não participou da mobilização de Sertãozinho em defesa do setor, foi a CUT. As demais frentes estiveram todas lá presentes de uma forma unanime. É natural que dentro de uma cadeia produtiva surjam divergências entre o setor, por exemplo, do trabalhador e o setor empresarial, mas é lógico que os plantadores e os fornecedores têm suas divergências com as usinas. Isso faz parte. É uma cadeia produtiva e cada um deseja ter seu espaço, mas acredito que diante da necessidade do setor, tem prevalecido a união sem que isso ficasse comprometido.
Enfim - Qual a avaliação que o senhor faz da formação da Frente dos Governadores dos Estados Produtores de Cana-de-Açúcar sugerida pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues?
AJ - A minha convicção é de que o Brasil é muito maior que os desacertos momentâneos. No caso específico do Etanol e da produção de Açúcar que foi uma cadeia produtiva construída durante séculos pela dedicação de homens e mulheres do nosso país, seja trabalhando na lavoura ou nas usinas, seja pela percepção de homens públicos em diversos momentos, temos aí um grande patrimônio. Não podemos, nem devemos nos dispersar nós temos o biocombustível mais amigável do mundo ao meio ambiente, combustível renovável e não podemos abrir mão das suas vantagens. O etanol é o nosso grande diferencial num mundo que luta contra a emissão de gases do efeito estufa, que combate as mudanças climáticas e que busca novos parâmetros para uma economia de baixo carbono.
Enfim - Qual a sua opinião a respeito do Projeto de Governança Corporativa da Cadeia Produtiva Sucroenergética unindo novamente, depois de 16 anos, os trabalhadores, fornecedores de cana, indústria de base e os usineiros?
AJ - Eu tenho um conhecimento limitado do que é exatamente esse projeto e não sei os detalhes da proposta de Governança Corporativa, mas todos os projetos que sejam para unificar a cadeia, estabelecer convergências, devem ter o engajamento de todos, inclusive o meu. Saúdo iniciativas como essa.
Enfim - Qual é a agenda de reivindicações do setor sucroenergético na esfera do governo federal, levando-se em conta que a própria Única - União da Indústria da Cana-de-Açúcar não tem muito claro o que é que o setor quer e precisa?
Defendemos em São Paulo os leilões vocacionados para geração de Bioeletricidade, linhas de conexão com custos compartilhados das usinas de geração até as subestações, aumento da mistura de Etanol anidro à gasolina até 30% (atualmente conquistamos o aumento a partir de decisões legislativas para 27%, definição da participação da biomassa na matriz energética, definição do etanol na matriz de combustíveis e produtividade nocanavial com mudas pré brotadas (MPB) - desenvolvidas pela Secretaria de Agricultura de São Paulo, Desempenho da mecanização do plantio e Disponibilização de áreas pós mecanização para reconversão em área produtiva.
A recuperação da Cide; a unificação do ICMS, a continuidade dos esforços na área de pesquisa em busca de novas espécies, o aprofundamento do esforço para a produção doetanol de segunda geração; a contínua busca pela melhoria logística para o escoamento do açúcar e do etanol e a recuperação de nosso espaço no mercado externo destes nossos produtos são pontos norteadores do nosso trabalho.
Enfim - Essas Frentes Parlamentares - a exemplo da criada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo - têm contribuído para o efetivo encaminhamento das demandas do setor sucroenergético?
Em 2015, o compromisso da Frente do Etanol é reforçar a luta pela reversão do atual cenário de dificuldade econômica enfrentada pelo setor sucroenergético, buscando a adoção de uma política de longo prazo consistente que valorize uma matriz energética diversificada e que reconheça as contribuições ambientais do etanol e da bioeletricidade gerada a partir do bagaço e da palha da cana. O Governador Geraldo Alckmin, que já havia diminuído o ICMS do Etanol de 25% para 12%, adotou uma série de medidas importantes para o setor sucroenergético. Essas medidas farão com que a cogeração possa, cada vez mais, se tornar realidade e se beneficiar destas fontes adicionais de recursos que complementarão a renda do setor, assim como o etanol e o açúcar.
De qualquer forma, o futuro do etanol está muito vinculado a uma definição que seja adotada e respeitada pelo Governo no que diz respeito à participação deste recurso na matriz de combustíveis do país. Importante também é nossa participação relativa, a energiagerada pela biomassa (a nossa bioeletricidade) e sua presença na matriz energética nacional. Aqui em São Paulo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, está empenhada na recuperação e fortalecimento do setor sucroenergético, não só com políticas claras de apoio e parceria com empresas, produtores de cana e entidades representativas, mas no incentivo às pesquisas para o etanol de 2ª geração, no desenvolvimento de pesquisas para novas variedades, no apoio as medidas de logística, na viabilização da bioeletricidade e também no apoio político as reivindicações do setor.
Jarbas Cunha