As dificuldades de se prever algo em 2015

06/03/2015 Colunista POR: Revista Canavieiros - ed. 104
Como está o nosso agro?
O Brasil vive um cenário de grandes incertezas econômicas e políticas. A inflação de janeiro foi de 1,24% (a maior desde fevereiro de 2003), as taxas de juros também estão mais altas, o que aumenta o endividamento e torna mais difícil o acesso a crédito. As melhores previsões para o PIB preveem um crescimento em 2015 de apenas 0,5% e ainda soma-se a isso uma enorme crise hídrica. No momento em que escrevo esta coluna, o dólar beira a R$ 3,00.
Nessa realidade, o ano de 2015 não começou com um bom desempenho das exportações do agronegócio. No mês de janeiro, o setor foi responsável por US$ 5,64 bilhões em exportações. O valor é baixo quando comparado com US$ 5,87 bilhões no mesmo período de 2014 e ao desempenho em janeiro de 2013 (US$ 6,58 bilhões). Isso pode ser explicado em partes pela redução nos preços médios dos produtos exportados pelo País, como é o caso do açúcar, que sofreu redução dos preços no período.
O setor sucroalcooleiro foi o segundo maior responsável por esse número, exportando US$ 926 milhões. Desse montante, o açúcar foi responsável por 90,4% do exportado e, apesar das reduções no preço, a quantidade exportada aumentou 9% em relação a janeiro de 2014, o que é uma boa notícia.
O saldo da balança comercial do agronegócio foi, mais uma vez, positivo. No mês, as exportações superaram as importações em 4,4 bilhões de dólares enquanto que a balança comercial geral do Brasil novamente foi negativa: US$ 3,17 bilhões.
Como está nossa cana? 
Após um janeiro que judiou dos nossos canaviais com um calor intenso e pouca chuva, fevereiro parece cuidar melhor da cana. Tem chovido bem mais, e a cana deve aproveitar. As estimativas continuam prevendo uma safra de 15/16 relativamente igual a 14/15. Vem cana, que estamos precisando. Chove chuva, chove sem parar!
Como está nosso açúcar? 
Segundo a Archer, as vendas futuras de açúcar (27,3% do total a ser exportado) estão menores do que o que ocorreu no ano passado no período (40,88%), mesmo com os preços médios do travamento estando equivalentes (17,34 cents). Essa situação é reflexo do comportamento das tradings que estão mais cautelosas com relação ao setor, mesmo com a taxa do dólar tendo auxiliado no preço do açúcar e da expectativa de melhora de preços, que vai depender muito da safra brasileira e da alocação de cana para etanol, em que todos ganhariam.
A OIA (Organização Internacional Agropecuária) também apresentou, no início de fevereiro, relatório em que aponta para provável estabilidade em seus números e em cotações. Os últimos números indicam para produção mundial de 182,9 milhões de toneladas, e consumo de 182,4 mi ton, com algo próximo a 500 mil toneladas de superavit.
A Rússia soltou estimativa de importação ao redor de 550 mil toneladas, um pouco acima do ciclo anterior. Com a crise que vem passando a Rússia, é uma boa notícia. 
Como está nosso etanol? 
Com o retorno da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Público) e do PIS-Cofins (R$ 0,22 por litro de gasolina), o etanol hidratado também sofreu aumento em 25 estados brasileiros. Em alguns estados inclusive, o aumento médio no preço do litro foi de R$ 0,10 para o etanol e R$ 0,17 para a gasolina. Por isso algumas regiões ainda passarão por aumentos em fevereiro. 
Foi finalmente aprovada a mistura para 27%. Mais cana que se consome na forma de “gasolina” contribuindo com o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Brasil.
Agora em março entra em vigor em Minas Gerais a redução do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias) sobre o etanol hidratado de 19 para 14 por cento, o que pode dar um vigor para a produção do estado que pela falta de chuvas teve a moagem encerrada mais cedo na safra.
No Brasil hoje temos uma frota de 34 milhões de veículos e 22 milhões desses são carros com tecnologia flex. Estudo recente do IAG/USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) revelou que a concentração de um poluente emitido por veículos utilizando etanol na atmosfera se reduziu nos últimos 30 anos devido principalmente aos avanços na tecnologia dos motores e na utilização de catalisadores nos escapamentos. Mais uma evidência de que o etanol é uma ótima opção para o meio ambiente.
Mesmo com a queda de aproximadamente 30 milhões de toneladas da safra de cana no ano em relação ao esperado, o setor ainda conseguiu bater o recorde de 26 bilhões de litros de etanol produzidos nessa safra de acordo com a indústria.  Isso aconteceu porque, apesar de a quantidade de cana para moagem ter se reduzido com relação à safra passada, a baixa no preço do açúcar mesmo na entressafra fez com que as usinas optassem pela produção de álcool até que os estoques mundiais de açúcar se reduzam. Outro fator que tem contribuído é que os dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo) mostram que o aumento no consumo de etanol suplantou a produção no último ano.
A boa notícia é que a ANP fechou os números de 2014. Mesmo com a derrapagem da nossa economia, o consumo de combustíveis cresceu 5,28% no país, para quase 145 bilhões de litros. Comparado com 2013, o consumo de etanol cresceu 12,33% em 2014, totalizando 24,08 bi de litros. O etanol contribuiu fortemente para que a redução nas importações de gasolina atingiu quase 28%, mesmo assim totalizando quase 2 bilhões de litros, que podem tranquilamente serem substituídos pelo etanol.
Quem é o homenageado do mês? 
A coluna Caipirinha todo mês homenageia uma pessoa. Neste mês a homenagem vai para o Fabio Venturelli, da São Martinho. A empresa apresentou lucro em momento difícil do setor graças à boa gestão e boa estratégia de comercialização, segurando produtos e se aproveitando dos bons momentos. Ao Fabio, extensivo a todo o time da São Martinho. 
Haja Limão: O ministro de Minas e Energia em entrevista ao Canal Livre disse que o uso de termelétricas garante o fornecimento de energia sem a necessidade de racionamento. Isso com tanto potencial do setor na geração de energia limpa! Resta esperar que com o possível apagão e a falta de água finalmente decole neste ano a cogeração pela cana, não por planejamento estratégico de nosso Governo, mas por necessidade. Se é que este Governo vai ficar por aí...
E sobre a Petrobras??? Aqui falamos dela desde o início desta coluna, antes ainda da crise. A gestão da Petrobras conseguiu produzir o maior limoeiro do mundo. Deus amado, que quadrilha. Que destruição do patrimônio de nossos filhos e netos. Indignação é pouco. 
Aliás, parabéns ao setor e a Sertãozinho. A marcha em defesa do setor foi um show!!! Estive lá, na condição de “ativista”...
Marcos Fava Neves é Professor Titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto. Em 2013 foi Professor Visitante Internacional da Purdue University (EUA)
Como está o nosso agro?
O Brasil vive um cenário de grandes incertezas econômicas e políticas. A inflação de janeiro foi de 1,24% (a maior desde fevereiro de 2003), as taxas de juros também estão mais altas, o que aumenta o endividamento e torna mais difícil o acesso a crédito. As melhores previsões para o PIB preveem um crescimento em 2015 de apenas 0,5% e ainda soma-se a isso uma enorme crise hídrica. No momento em que escrevo esta coluna, o dólar beira a R$ 3,00.
Nessa realidade, o ano de 2015 não começou com um bom desempenho das exportações do agronegócio. No mês de janeiro, o setor foi responsável por US$ 5,64 bilhões em exportações. O valor é baixo quando comparado com US$ 5,87 bilhões no mesmo período de 2014 e ao desempenho em janeiro de 2013 (US$ 6,58 bilhões). Isso pode ser explicado em partes pela redução nos preços médios dos produtos exportados pelo País, como é o caso do açúcar, que sofreu redução dos preços no período.
O setor sucroalcooleiro foi o segundo maior responsável por esse número, exportando US$ 926 milhões. Desse montante, o açúcar foi responsável por 90,4% do exportado e, apesar das reduções no preço, a quantidade exportada aumentou 9% em relação a janeiro de 2014, o que é uma boa notícia.
O saldo da balança comercial do agronegócio foi, mais uma vez, positivo. No mês, as exportações superaram as importações em 4,4 bilhões de dólares enquanto que a balança comercial geral do Brasil novamente foi negativa: US$ 3,17 bilhões.

Como está nossa cana? 
Após um janeiro que judiou dos nossos canaviais com um calor intenso e pouca chuva, fevereiro parece cuidar melhor da cana. Tem chovido bem mais, e a cana deve aproveitar. As estimativas continuam prevendo uma safra de 15/16 relativamente igual a 14/15. Vem cana, que estamos precisando. Chove chuva, chove sem parar!

Como está nosso açúcar? 
Segundo a Archer, as vendas futuras de açúcar (27,3% do total a ser exportado) estão menores do que o que ocorreu no ano passado no período (40,88%), mesmo com os preços médios do travamento estando equivalentes (17,34 cents). Essa situação é reflexo do comportamento das tradings que estão mais cautelosas com relação ao setor, mesmo com a taxa do dólar tendo auxiliado no preço do açúcar e da expectativa de melhora de preços, que vai depender muito da safra brasileira e da alocação de cana para etanol, em que todos ganhariam.
A OIA (Organização Internacional Agropecuária) também apresentou, no início de fevereiro, relatório em que aponta para provável estabilidade em seus números e em cotações. Os últimos números indicam para produção mundial de 182,9 milhões de toneladas, e consumo de 182,4 mi ton, com algo próximo a 500 mil toneladas de superavit.
A Rússia soltou estimativa de importação ao redor de 550 mil toneladas, um pouco acima do ciclo anterior. Com a crise que vem passando a Rússia, é uma boa notícia. 

Como está nosso etanol? 
Com o retorno da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Público) e do PIS-Cofins (R$ 0,22 por litro de gasolina), o etanol hidratado também sofreu aumento em 25 estados brasileiros. Em alguns estados inclusive, o aumento médio no preço do litro foi de R$ 0,10 para o etanol e R$ 0,17 para a gasolina. Por isso algumas regiões ainda passarão por aumentos em fevereiro. 
Foi finalmente aprovada a mistura para 27%. Mais cana que se consome na forma de “gasolina” contribuindo com o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Brasil.
Agora em março entra em vigor em Minas Gerais a redução do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias) sobre o etanol hidratado de 19 para 14 por cento, o que pode dar um vigor para a produção do estado que pela falta de chuvas teve a moagem encerrada mais cedo na safra.
No Brasil hoje temos uma frota de 34 milhões de veículos e 22 milhões desses são carros com tecnologia flex. Estudo recente do IAG/USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) revelou que a concentração de um poluente emitido por veículos utilizando etanol na atmosfera se reduziu nos últimos 30 anos devido principalmente aos avanços na tecnologia dos motores e na utilização de catalisadores nos escapamentos. Mais uma evidência de que o etanol é uma ótima opção para o meio ambiente.
Mesmo com a queda de aproximadamente 30 milhões de toneladas da safra de cana no ano em relação ao esperado, o setor ainda conseguiu bater o recorde de 26 bilhões de litros de etanol produzidos nessa safra de acordo com a indústria.  Isso aconteceu porque, apesar de a quantidade de cana para moagem ter se reduzido com relação à safra passada, a baixa no preço do açúcar mesmo na entressafra fez com que as usinas optassem pela produção de álcool até que os estoques mundiais de açúcar se reduzam. Outro fator que tem contribuído é que os dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo) mostram que o aumento no consumo de etanol suplantou a produção no último ano.
A boa notícia é que a ANP fechou os números de 2014. Mesmo com a derrapagem da nossa economia, o consumo de combustíveis cresceu 5,28% no país, para quase 145 bilhões de litros. Comparado com 2013, o consumo de etanol cresceu 12,33% em 2014, totalizando 24,08 bi de litros. O etanol contribuiu fortemente para que a redução nas importações de gasolina atingiu quase 28%, mesmo assim totalizando quase 2 bilhões de litros, que podem tranquilamente serem substituídos pelo etanol.
Quem é o homenageado do mês? 
A coluna Caipirinha todo mês homenageia uma pessoa. Neste mês a homenagem vai para o Fabio Venturelli, da São Martinho. A empresa apresentou lucro em momento difícil do setor graças à boa gestão e boa estratégia de comercialização, segurando produtos e se aproveitando dos bons momentos. Ao Fabio, extensivo a todo o time da São Martinho. 
Haja Limão: O ministro de Minas e Energia em entrevista ao Canal Livre disse que o uso de termelétricas garante o fornecimento de energia sem a necessidade de racionamento. Isso com tanto potencial do setor na geração de energia limpa! Resta esperar que com o possível apagão e a falta de água finalmente decole neste ano a cogeração pela cana, não por planejamento estratégico de nosso Governo, mas por necessidade. Se é que este Governo vai ficar por aí...
E sobre a Petrobras??? Aqui falamos dela desde o início desta coluna, antes ainda da crise. A gestão da Petrobras conseguiu produzir o maior limoeiro do mundo. Deus amado, que quadrilha. Que destruição do patrimônio de nossos filhos e netos. Indignação é pouco. 
Aliás, parabéns ao setor e a Sertãozinho. A marcha em defesa do setor foi um show!!! Estive lá, na condição de “ativista”...
Marcos Fava Neves é Professor Titular da FEA/USP, Campus de Ribeirão Preto. Em 2013 foi Professor Visitante Internacional da Purdue University (EUA)