O grupo Virgolino de Oliveira SA, produtor de açúcar e etanol, está atravessando um caminho bem conhecido por muitas outras empresas de mercados emergentes que ampliaram sua capacidade para suprir a alta demanda da China apenas para vê-la desmoronar.
A empresa, localizada na região açucareira do Estado de São Paulo, não conseguiu renegociar os termos de sua dívida com os credores depois de não pagar títulos que venceram em fevereiro, segundo a agência de classificação Fitch Ratings. A empresa provavelmente entrará com pedido de recuperação judicial, unindo-se a várias usinas de açúcar e etanol do Brasil — cerca de 20% do total — que já estão tentando reestruturar suas dívidas, diz Claudio Mori, analista da Fitch Ratings no país.
“[A Virgolino de Oliveira] parou de pagar os produtores de cana-de-açúcar”, diz Miori. “Eles pararam de pagar os bancos. Eles estão a um passo de uma moratória.”
Os executivos da Virgolino de Oliveira não puderam ser encontrados para comentar.
Os problemas do setor de cana-de-açúcar brasileiro oferecem um exemplo duro das dificuldades enfrentadas pelos mercados emergentes. A combinação da desaceleração do crescimento na China e o excesso de capacidade de produção de muitas commodities derrubou os preços das matérias-primas nos últimos anos.
Isso provocou a desvalorização das moedas de países que dependem de exportação de commodities. Agora, as empresas estão tendo dificuldade para honrar os títulos de dívida que emitiram para ampliar a capacidade no período de vacas gordas.
A Virgolino de Oliveira emitiu US$ 300 milhões em dívida em dólar em 2012 para expandir suas operações, prevendo que os preços do açúcar naquele período — de US$ 0,25 por libra-peso — permaneceriam naquele nível. Outros executivos do setor no Brasil, o maior produtor mundial de açúcar, fizeram a mesma aposta: que uma crescente classe média em todo o mundo manteria os preços dos alimentos, principalmente o açúcar, elevados.
Eles estavam errados. Os preços do açúcar atingiram uma mínima de sete anos em agosto e agora estão em torno de US$ 0,12 por libra-peso.
“Não foi apenas a corrida do açúcar no Brasil”, diz Rashique Rahman, diretor de dívida de mercados emergentes da Invesco Ltd., que administra um portfolio de US$ 776,4 bilhões. “Foi uma corrida ampla na direção dos mercados emergentes. Você tinha juros baixos, a China estava comprando tudo à vista. Foram dias felizes. Acreditamos que esse ciclo agora se encerrou.”
Desde o início de 2010, investidores injetaram mais de US$ 1 trilhão em títulos de dívida nos mercados emergentes, segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IFI). Dez por cento desse total foi para o Brasil.
Mas o fluxo de recursos em direção a títulos de dívida dos mercados emergentes caiu de forma expressiva este ano, para US$ 53,8 bilhões líquidos nos primeiros oito meses do ano, segundo o IFI, 49% menos que um ano antes.
À medida que a ansiedade sobre o crescimento de mercados emergentes aumentava, os investidores começaram a retirar dinheiro do mercado de títulos brasileiro em junho, com US$ 5,9 bilhões deixando esses ativos no trimestre encerrado em agosto.
A expectativa de juros mais altos nos Estados Unidos este ano, sinalizada pela presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, na semana passada, reduziu ainda mais a atratividade dos títulos de dívida de risco e com alta rentabilidade dos mercados emergentes. No Brasil, a turbulência política tem elevado a pressão sobre os títulos do governo e de empresas, assim como sobre o real. No início de setembro, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s Ratings Services foi a primeira a rebaixar o Brasil para a categoria de “alto risco”.
O real já se desvalorizou 33% ante o dólar este ano, ficando entre as moedas com pior desempenho dos mercados emergentes.
O epicentro do massacre está na região Centro-sul do Brasil, que processa 90% da cana-de-açúcar do país. Desde que o boom das commodities do início dos anos 2000 começou a desinflar, 80 das 300 usinas da região já fecharam, segundo a Unica, a associação do setor de açúcar e etanol do país. Outras dez devem encerrar a produção este ano, segundo a Unica.
As mesmas usinas que produzem açúcar também produzem etanol. E, no mesmo período em que os preços do açúcar começaram a cair, a demanda por etanol no mercado interno brasileiro também recuou porque os preços da gasolina, então controlados pelo governo, tornaram o biocombustível menos competitivo. Segundo o relatório “O Futuro do Etanol”, do Rabobank, como muitas usinas investiram no aumento de capacidade de produção de etanol na expectativa de um crescimento do mercado com os carros flex, a retração provocada pela perda de competitividade do etanol aprofundou a crise de endividamento.
No momento, as usinas inadimplentes estão tentando vender todo o açúcar possível para fazer caixa, dizem operadores e produtores, o que aumenta ainda mais a oferta que está derrubando os preços mundiais. Os estoques de açúcar estão em seu nível mais elevado em 35 anos em meio a essa corrida para elevar a produção, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês).
A produção brasileira de açúcar atingiu um recorde de 38,4 milhões de toneladas em 2010, o dobro do volume de dez anos antes. A estimativa é que a próxima safra tenha uma produção de 36 milhões de toneladas, segundo o USDA.
Por outro lado, há sinais de que a demanda está caindo. A China reduziu em 25% suas importações de açúcar em agosto ante o mesmo mês de 2014, segundo o Price Futures Group.
“O Brasil depende demais das commodities”, diz Michael Mcdougall, diretor da mesa de commodities do Société Générale em Nova York. “Agora temos os efeitos colaterais.”
Algumas usinas brasileiras estão prosperando, apesar do aumento da inflação e dos juros dentro do país.
“Este é um setor muito grande”, diz Andy Duff, diretor do departamento de pesquisa de alimentos e de agronegócio do Rabobank Brazil. “Há uma tremenda diversidade em termos de modelos de negócios, em termos de condições financeiras.”
As usinas que estão se saindo melhor tendem a ser mais diversificadas, têm matrizes maiores para mantê-las à tona e estão mais próximas dos portos, afirma a Fitch.
Ainda assim, o cenário para o setor é duro. Na média, as usinas estão com um volume de dívida em moeda local 27% maior este ano que em 2014 por tonelada de açúcar, segundo o Rabobank.
E a desvalorização do real em relação ao dólar desde o começo do ano não tornou a exportação brasileira substancialmente mais competitiva, afirmou a Fitch.
O grupo Virgolino de Oliveira SA, produtor de açúcar e etanol, está atravessando um caminho bem conhecido por muitas outras empresas de mercados emergentes que ampliaram sua capacidade para suprir a alta demanda da China apenas para vê-la desmoronar.
A empresa, localizada na região açucareira do Estado de São Paulo, não conseguiu renegociar os termos de sua dívida com os credores depois de não pagar títulos que venceram em fevereiro, segundo a agência de classificação Fitch Ratings. A empresa provavelmente entrará com pedido de recuperação judicial, unindo-se a várias usinas de açúcar e etanol do Brasil — cerca de 20% do total — que já estão tentando reestruturar suas dívidas, diz Claudio Mori, analista da Fitch Ratings no país.
“[A Virgolino de Oliveira] parou de pagar os produtores de cana-de-açúcar”, diz Miori. “Eles pararam de pagar os bancos. Eles estão a um passo de uma moratória.”
Os executivos da Virgolino de Oliveira não puderam ser encontrados para comentar.
Os problemas do setor de cana-de-açúcar brasileiro oferecem um exemplo duro das dificuldades enfrentadas pelos mercados emergentes. A combinação da desaceleração do crescimento na China e o excesso de capacidade de produção de muitas commodities derrubou os preços das matérias-primas nos últimos anos.
Isso provocou a desvalorização das moedas de países que dependem de exportação de commodities. Agora, as empresas estão tendo dificuldade para honrar os títulos de dívida que emitiram para ampliar a capacidade no período de vacas gordas.
A Virgolino de Oliveira emitiu US$ 300 milhões em dívida em dólar em 2012 para expandir suas operações, prevendo que os preços do açúcar naquele período — de US$ 0,25 por libra-peso — permaneceriam naquele nível. Outros executivos do setor no Brasil, o maior produtor mundial de açúcar, fizeram a mesma aposta: que uma crescente classe média em todo o mundo manteria os preços dos alimentos, principalmente o açúcar, elevados.
Eles estavam errados. Os preços do açúcar atingiram uma mínima de sete anos em agosto e agora estão em torno de US$ 0,12 por libra-peso.
“Não foi apenas a corrida do açúcar no Brasil”, diz Rashique Rahman, diretor de dívida de mercados emergentes da Invesco Ltd., que administra um portfolio de US$ 776,4 bilhões. “Foi uma corrida ampla na direção dos mercados emergentes. Você tinha juros baixos, a China estava comprando tudo à vista. Foram dias felizes. Acreditamos que esse ciclo agora se encerrou.”
Desde o início de 2010, investidores injetaram mais de US$ 1 trilhão em títulos de dívida nos mercados emergentes, segundo o Instituto de Finanças Internacionais (IFI). Dez por cento desse total foi para o Brasil.
Mas o fluxo de recursos em direção a títulos de dívida dos mercados emergentes caiu de forma expressiva este ano, para US$ 53,8 bilhões líquidos nos primeiros oito meses do ano, segundo o IFI, 49% menos que um ano antes.
À medida que a ansiedade sobre o crescimento de mercados emergentes aumentava, os investidores começaram a retirar dinheiro do mercado de títulos brasileiro em junho, com US$ 5,9 bilhões deixando esses ativos no trimestre encerrado em agosto.
A expectativa de juros mais altos nos Estados Unidos este ano, sinalizada pela presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, na semana passada, reduziu ainda mais a atratividade dos títulos de dívida de risco e com alta rentabilidade dos mercados emergentes. No Brasil, a turbulência política tem elevado a pressão sobre os títulos do governo e de empresas, assim como sobre o real. No início de setembro, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s Ratings Services foi a primeira a rebaixar o Brasil para a categoria de “alto risco”.
O real já se desvalorizou 33% ante o dólar este ano, ficando entre as moedas com pior desempenho dos mercados emergentes.
O epicentro do massacre está na região Centro-sul do Brasil, que processa 90% da cana-de-açúcar do país. Desde que o boom das commodities do início dos anos 2000 começou a desinflar, 80 das 300 usinas da região já fecharam, segundo a Unica, a associação do setor de açúcar e etanol do país. Outras dez devem encerrar a produção este ano, segundo a Unica.
As mesmas usinas que produzem açúcar também produzem etanol. E, no mesmo período em que os preços do açúcar começaram a cair, a demanda por etanol no mercado interno brasileiro também recuou porque os preços da gasolina, então controlados pelo governo, tornaram o biocombustível menos competitivo. Segundo o relatório “O Futuro do Etanol”, do Rabobank, como muitas usinas investiram no aumento de capacidade de produção de etanol na expectativa de um crescimento do mercado com os carros flex, a retração provocada pela perda de competitividade do etanol aprofundou a crise de endividamento.
No momento, as usinas inadimplentes estão tentando vender todo o açúcar possível para fazer caixa, dizem operadores e produtores, o que aumenta ainda mais a oferta que está derrubando os preços mundiais. Os estoques de açúcar estão em seu nível mais elevado em 35 anos em meio a essa corrida para elevar a produção, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês).
A produção brasileira de açúcar atingiu um recorde de 38,4 milhões de toneladas em 2010, o dobro do volume de dez anos antes. A estimativa é que a próxima safra tenha uma produção de 36 milhões de toneladas, segundo o USDA.
Por outro lado, há sinais de que a demanda está caindo. A China reduziu em 25% suas importações de açúcar em agosto ante o mesmo mês de 2014, segundo o Price Futures Group.
“O Brasil depende demais das commodities”, diz Michael Mcdougall, diretor da mesa de commodities do Société Générale em Nova York. “Agora temos os efeitos colaterais.”
Algumas usinas brasileiras estão prosperando, apesar do aumento da inflação e dos juros dentro do país.
“Este é um setor muito grande”, diz Andy Duff, diretor do departamento de pesquisa de alimentos e de agronegócio do Rabobank Brazil. “Há uma tremenda diversidade em termos de modelos de negócios, em termos de condições financeiras.”
As usinas que estão se saindo melhor tendem a ser mais diversificadas, têm matrizes maiores para mantê-las à tona e estão mais próximas dos portos, afirma a Fitch.
Ainda assim, o cenário para o setor é duro. Na média, as usinas estão com um volume de dívida em moeda local 27% maior este ano que em 2014 por tonelada de açúcar, segundo o Rabobank.
E a desvalorização do real em relação ao dólar desde o começo do ano não tornou a exportação brasileira substancialmente mais competitiva, afirmou a Fitch.