ATR e exportações de açúcar em alta

28/07/2021 Marcos Fava Neves POR: * MARCOS FAVA NEVES ** VÍTOR NARDINI MARQUES *** VINÍCIUS CAMBAÚVA

* Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com e veja os vídeos no canal do Youtube (Marcos Fava Neves). Seguem os agradecimentos ao apoio de Vitor Nardini Marques e Vinícius Cambaúva.

** Vítor Nardini Marques é analista da Markestrat

*** Vinícius Cambaúva é consultor da Markestrat

Marcos Fava Neves

Na economia mundial e brasileira

  • A economia brasileira respondeu positivamente ao primeiro trimestre de 2021, crescendo 1,2% em comparação ao trimestre anterior, e foi puxada pela agropecuária, que apresentou incremento de 5,7%. Em consequência desse resultado, algumas instituições têm reavaliado as suas projeções do PIB brasileiro de 2021, apontando para um aumento superior a 5%, o que é uma excelente notícia.
  • A ANA (Agência Nacional de Águas) declarou como crítica a situação dos recursos hídricos na bacia do Paraná, que detém os principais reservatórios hidrelétricos brasileiros. Assim, poderão ser definidas regras transitórias de uso da água para assegurar os seus diferentes usos. Apesar disso, o MME (Ministério de Minas e Energia) não vê o risco de racionamento de energia. É uma das nossas principais preocupações neste momento.

  • De acordo com o MME, o Brasil deve receber investimentos na ordem de R$ 400 bilhões em sua matriz energética nos próximos 10 anos. Apenas nos últimos dois anos foram aportados US$ 30 bilhões provenientes de 17 países distintos no setor de energia e mineração, o que alimenta a expectativa para a próxima década.

  • No mês passado, a Air France realizou o primeiro voo utilizando uma mistura de 16% de SAF (Sustainable Aviation Fuel), um bioquerosene produzido por meio de resíduos e reciclagem de óleo de cozinha. Segundo a empresa, a mistura proporcionou a redução de 20 toneladas de emissões de CO2, considerando a rota de Paris (França) a Montreal (Canadá). O Grean Deal, acordo de empresas europeias para reduzir as emissões da aviação, prevê a mistura de 2% de SAF no combustível de aviação até 2025, e de 5% até 2030. De acordo com um estudo da Roundtable on Sustainable Biomaterials (RSB), o Brasil possui capacidade de produzir até 9 bilhões de litros de biocombustíveis de aviação por ano. O relatório indica que produtos como o bagaço e a palha da cana, óleos de cozinha, sebo de bovinos e até gases da indústria siderúrgica poderiam ser destinados a essa finalidade. Esta ação poderá representar uma oportunidade ao agronegócio.

No agro mundial e brasileiro

  • O Índice de Preços de Alimentos da FAO cresceu 4,8% em maio, atingindo média de 127,1 pontos, estando 36,1 pontos superior ao constatado no mesmo período de 2020. Esse aumento mês a mês é o maior desde outubro de 2010 e evidencia 12 meses consecutivos de incremento. Os preços dos óleos, açúcar, cereais, carnes e laticínios foram os grandes responsáveis pelo crescimento.

  • Um levantamento da Embrapa apontou que o Brasil é o quarto maior produtor de grãos (arroz, cevada, soja, milho e trigo) do mundo, ficando atrás apenas da China, Estados Unidos e Índia. Com volume produzido de 239 milhões de t 2020, o país foi o responsável por 7,8% de toda a produção global de grãos. Já nas exportações, o Brasil ocupa a segunda posição no ranking, com embarques de 123 milhões de t 2020, representando 19% do comércio mundial. O estudo revela ainda que, nos últimos 20 anos, a exportação brasileira atingiu 1,1 bilhão de t, o que representa 12,6% do volume exportado mundialmente.

  • O boletim de junho do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) apontou para uma produção global de soja no ciclo 2020/21 de 385,52 milhões de t, consolidando os estoques globais na ordem de 92,55 milhões de t. Nesse cenário, o Brasil deve produzir 144 milhões de t da oleaginosa, enquanto que os EUA e a Argentina devem produzir, respectivamente, 119,88 e 52 milhões de toneladas. Por sua vez, a produção global de milho deve alcançar 1,89 trilhão de t, com os EUA liderando a produção com 380,77 milhões de t, enquanto os países sul-americanos, Brasil e Argentina, devem produzir 118 e 51 milhões de toneladas. Assim, os estoques finais do cereal deverão se aproximar a 290 milhões de toneladas.

  • Segundo a estimativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para o mês de junho, a produção brasileira de grãos do ciclo 2020/21 deve totalizar 263,13 milhões de t, incremento de 2% em comparação ao ciclo passado. No entanto, esse volume é 3,7% inferior àquele estimado em maio, com redução de quase 10 milhões de toneladas. Essa queda é reflexo da situação crítica das lavouras de milho, sendo que a safrinha está avaliada agora em 69,96 milhões de t, 12,3% menor que o valor de maio. Assim, a produção total de milho no ciclo passou para 96,4 milhões de t, queda de 6% frente a 2019/20. O USDA também revisou para 98,5 milhões de t a produção brasileira. Nas demais culturas, poucas surpresas. A colheita de soja deve somar 135,86 milhões de t (+8,8%) em uma área plantada de 38,5 milhões de ha (+4,2%). O USDA revisou a produção brasileira para 137 milhões de t, em área de 38,6 milhões de ha (5% ou 1,7 milhão de hectares a mais) e produtividade de 3.550 kg/ha.

  • Enquanto isso, no algodão, o volume de pluma está estimado em 2,34 milhões de t (-22%), com área cultivada de 1,34 milhão de ha (-17,9%). Finalmente, a produção de trigo deve ser de 6,94 milhões de t (+11,3%) em uma área de 2,53 milhões de ha (+8,1%).

  • Em maio, o agro exportou incríveis US$ 13,9 bilhões, simplesmente 33,7% a mais que maio de 2020. Fruto de bons preços e bons volumes, é o recorde do mês. Com isso, o agro exportou 51,7% do total do Brasil. As compras internacionais aumentaram bastante também, e chegaram a US$ 1,2 bilhão. Assim, o saldo fica em US$ 12,7 bilhões. No acumulado desde o início do ano, em cinco meses exportamos US$ 50,2 bilhões, quase 22% acima do mesmo período do ano passado. As importações aumentaram 15%, atingindo US$ 6,2 bilhões, e o saldo é 23% maior, com US$ 44 bilhões.

  • A soja é o puxador principal, crescendo 30% e chegando a US$ 23,8 bilhões. Apenas em maio foram exportadas 16,4 milhões de toneladas (16% a mais), porém a renda foi de US$ 7,3 bilhões (56,3% a mais). Carnes vêm na sequência com crescimento de 5,7%, trazendo US$ 7,3 bilhões, seguida dos produtos florestais com US$ 5,2 bilhões (10,6% maiores) e crescimento de 23% em maio (US$ 1,6 bilhão), açúcar e etanol com US$ 3.6 bilhões (33% maior) e crescimento de 16% em maio (US$ 900 milhões) e fecha a quina o café com US$ 2,5 bilhões (14,4% maior), apesar de ter caído 8,5% em maio, para US$ 474 milhões. São incríveis os números, apenas esperava que as carnes crescessem um pouco mais, mas digno de comemoração. A carne bovina caiu 7%, US$ 724, 3 milhões, puxada pela queda para a China, de 16%, explicando a queda, pois o frango cresceu 20% (US$ 642 milhões) e suínos 11%, para US$ 251 milhões. Quase 40% do que o agro vendeu para a China.

  • Dados do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) indicam que, em 2021, o Brasil deverá registrar o maior VBP (Valor Bruto da Produção) agropecuária em 32 anos. No total, as cadeias do agro serão responsáveis por cerca de R$ 1,11 trilhão em arrecadações, crescimento de 11,8% em comparação ao ano passado. As cadeias da agricultura participarão com R$ 765,3 bilhões (68,8%) e as da pecuária com R$ 345,7 bilhões (31,2%). O ótimo desempenho do agro é resultado do aumento de arrecadação nas cadeias do trigo (35,1%), soja (31,9%), milho (20,3%) e arroz (5,7%).

  • A Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) reduziu as expectativas de esmagamento de soja no Brasil, em 2021, para 46,8 milhões de toneladas (-0,4%) em detrimento da redução temporária da mistura do biodiesel ao diesel no país. A instituição deve, no entanto, reforçar as ações para que a mistura volte aos níveis de 13% (atualmente em 10%) ainda este ano.

  • A largada foi dada para a colheita do milho safrinha no estado do Paraná. A estimativa do Departamento de Economia Rural da Secretaria do Estado é de uma quebra de produção de 13,4% em comparação ao ciclo passado, chegando a 10,3 milhões de toneladas. A estiagem prolongada e as chuvas irregulares têm castigado as áreas do cereal, sendo que apenas 22% delas estão em boas condições, enquanto 46% e 32% se encontram em condições medianas e ruins, respectivamente.

  • O boom dos preços das commodities tem puxado também o mercado de insumos. As vendas de fertilizantes totalizaram 40,5 milhões de t em 2020, apresentando crescimento de 12% frente ao ano passado e valor recorde até então, de acordo com dados da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos). O setor segue otimista para este ano, com expectativa de comercialização de mais de 44 milhões de toneladas, sendo que as vendas antecipadas já registram 65% da demanda e com uma das relações de troca mais favorável aos agricultores.

  • A pauta de ampliação de recursos para o armazenamento de grãos tem se tornado prioritária no setor produtivo. Com uma capacidade estática de 172 milhões de t (60% da expectativa de colheita deste ciclo) e com menos de 15% dessa infraestrutura instalada no nível fazenda, entidades pedem juros menores e mais recursos no Plano Safra para o financiamento de silos e armazéns. Vamos acompanhar os desdobramentos dessas reinvindicações. Seria muito importante aumentar a nossa capacidade de armazenagem.

  • Ainda com relação ao Plano Safra, o governo está avaliando a criação de um programa de opções públicas de venda de milho para a temporada 2021/22, visando estimular o plantio em primeira safra e, dessa forma, reequilibrar a oferta e os preços. Na prática, os agricultores que aderirem ao contrato de opção poderão exercê-lo recebendo um preço garantido pelo governo, mas também poderão optar por não exercer o contrato e comercializar o cereal no mercado.

  • LDC, Amaggi, Cargill e ADM estão com maior compartilhamento e ações conjuntas na área de fretes. Criaram uma empresa independente, com participações iguais a partir de uma plataforma que possuíam. Com isso são 100 mil motoristas, pagos de forma digital, e a empresa cuidará da gestão da movimentação e digitalização.

  • Na conclusão desta coluna, os preços do agro fechavam nos seguintes valores: a soja, para entrega em cooperativa de São Paulo, estava em R$ 166,10/saca para junho de 2021 e R$ 152,70/saca para junho de 2022 - há um ano o valor era de R$ 97,60. No milho, a cotação atual está em R$ 93,00/saca e a entrega em maio de 2022 fechou em R$ 85,50 (B3) - em junho de 2020, o preço estava em R$ 44,00. O algodão fechou em R$ 166,75/arroba, contra R$ 89,37 do ano anterior; e o boi gordo em R$ 315,35/arroba.

Os cinco fatos do agro para acompanhar em julho são:

  1. A colheita do milho segunda safra e a performance produtiva. Grandes perdas estão sendo esperadas;
  2. O comportamento das exportações de grãos do Brasil que estão em ritmo impressionante;
  3. Os desdobramentos da crise hídrica, a forte melhora das perspectivas econômicas e os seus impactos no consumo do mercado interno, e os biocombustíveis. A aceleração da vacinação contra a Covid-19 também está trazendo a confiança de volta;
  4. O bom desempenho da safra nos EUA, aparentemente com menos problemas climáticos, e alguma ameaça no ambiente político de se reduzir a mistura de biocombustíveis, contrariando o que era esperado da atual gestão. Isso poderá representar grande perda ao agro brasileiro;
  5. A inflação de custos na agricultura e os possíveis preços menores de venda dos produtos com a recente valorização cambial e safras maiores no ciclo 2021/22.

 Reflexões dos fatos e números da cana em maio/junho e o que acompanhar em julho

 

Na cana

 Dados divulgados pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) até 1º de junho revelam uma moagem consolidada de 129,65 milhões de t no ciclo 2021/22, valor 10,88% inferior ao constatado no mesmo período da safra passada. A redução é fruto do atraso no início das operações em São Paulo, sendo que o estado já acumula redução de quase 19% na moagem. Em relação ao ATR, a posição acumulada registrou valor de 128,27 kg/t, evolução de 1,24% frente ao mesmo período do ciclo anterior. O mix, por sua vez, está em 45,14% para o açúcar e 54,86% para o etanol, com ligeiro incremento de 0,5% para o biocombustível em relação a 2020/21.

  • Segundo o CTC, com uma amostra próxima a 80 usinas, a produtividade nos canaviais caiu de 87,6 para 79,2 toneladas por hectare (9,63%).

  • Na região Centro-Sul, as estimativas apontam para uma safra de cana-de-açúcar 5% a 6% menor que a do ciclo passado, com uma moagem de 570 milhões de toneladas. A produção do etanol será inferior, em 11,9%, dos 27,8 bilhões de litros da safra 2020/21 para 24,5 bilhões de litros na atual. O açúcar também deve entregar volume menor, 37,5 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 3,4%. Como consequência, as exportações de açúcar devem cair, alcançando 28,2 milhões de toneladas, 4 milhões de toneladas a menos que a safra 2020/21. Vamos acompanhando!

  • O volume de chuvas na região Centro-Sul está 44% abaixo da média histórica, considerando desde o começo do ano até maio, segundo a Czarnikow. Com isso, a trading estima uma moagem de cana entre 548 e 558 milhões de toneladas para o ciclo 2021/22, contra 605 milhões da safra anterior; produção de açúcar entre 34,9 e 35,7 milhões de t; e de etanol entre 23,7 e 24,4 bilhões de litros.

  • De acordo com a publicação da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a cana-de-açúcar é a principal fonte de energia renovável no Brasil, respondendo por 39,5% do segmento e 19,1% da oferta total. O país é referência na utilização de fontes renováveis, que correspondem por 48,4% de sua matriz, enquanto que na média mundial e OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) esses valores são de, respectivamente, apenas 13,8% e 11%.

  • No Brasil, a Copersucar alcançou a marca inédita de 5,2 milhões de CBios escriturados, respondendo por 15,4% do volume total de créditos emitidos pelo RenovaBio desde 2020. As emissões evitadas são equivalentes ao plantio de 36,4 milhões de árvores por 20 anos. Tal resultado é fruto da gestão eficiente dos indicadores ambientais das usinas associadas e o compromisso com a sustentabilidade.

  • Já a Biosev conseguiu reverter o prejuízo de R$ 1,5 bilhão na temporada passada e fechou o ciclo 2020/21 com lucro líquido de R$ 216,4 milhões. O Ebitda do grupo cresceu 40,1%, chegando a R$ 2,5 bilhões e totalizou moagem de 26,5 milhões de toneladas de cana.

  • A Millenium Bioenergia foi a empresa escolhida para a aquisição da Usina São Fernando, em Dourados – MS, após leilão judicial. A holding planeja investimentos da ordem de R$ 1 bilhão na recuperação da usina e instalação de uma unidade anexa para produção do etanol de milho (modelo flex). Com o milho, a unidade terá capacidade para moagem de até 500 mil toneladas do cereal por ano.

  • A BP Bunge Bioenergia está lançando a Allia, plataforma de relacionamento e fidelização de clientes com foco em operações de negócios para fornecedores de cana-de-açúcar. Entre os mecanismos contidos no projeto estão a fixação do valor do ATR, repasses de diesel e acesso a créditos.

  • No aspecto de inovação, a Pangeia Biotech, startup de engenharia genética, em parceria com a Embrapa Agroenergia, pretende lançar, ainda este ano, a primeira variedade de cana tolerante à seca e resistente a herbicidas e insetos. Segundo os idealizadores, essa será a primeira variedade de cana no mundo a contar com essas três características.

  • Outra boa notícia veio dos pesquisadores da Embrapa Instrumentação, que extraíram nanocristais de lignocelulose a partir da palha, gerando materiais verdes de maior valor agregado que poderão ter diversos usos, inclusive em embalagens e filmes.

No açúcar

 

  • A produção acumulada de açúcar até 1º de junho na safra 2021/22 alcançou 7,15 milhões de toneladas, queda de 11,12% em comparação ao ciclo anterior, segundo dados da Unica.

  • Já as exportações somaram US$ 861,8 milhões em maio, valor 20% superior àquele constatado no mesmo mês do ano passado. Em termos de volume, foram embarcados 2,7 milhões de t, 4,4% a mais.

  • O déficit do balanço global de açúcar para o ciclo 2020/21 foi reduzido de 4,78 milhões de t (estimativa de fevereiro) para 3,14 milhões de t, segundo a OIA (Organização Internacional do Açúcar). A produção global foi reestimada em 169 milhões t, contra 169,23 mil t em fevereiro. Por sua vez, o consumo caiu entre as previsões, de 173,82 milhões de t para 172,37 milhões de t. A Czarnikow estima para a safra 21/22 um superávit de 1,5 milhão de t.

  • A redução nas estimativas de produção tem mexido com os preços do açúcar. A média para o mês de maio do indicador CEPEA/ESALQ registrou R$ 115,08 por saca de 50kg, um crescimento de 6,22% em comparação a abril.

  • As estimativas da produção de açúcar pelos países do hemisfério norte estão boas, o que ajudou a derrubar um pouco os preços. No fechamento desta coluna estavam em 17,11 cents/libra peso.

  • De acordo com a Archer Consulting, as vendas antecipadas de açúcar para 2022/23 (vencimentos em abril) atingiram o volume de 4,1 milhões de toneladas. Segundo a consultoria, entre outubro de 2020 e abril de 2021, o preço médio pago pelo açúcar ficou em 13,84 centavos de dólar por libra-peso.

  • Em termos de consumo, houve um crescimento de 0,2% na safra 2020/21, em comparação com os últimos três ciclos, e o aumento na demanda deve se manter. Segundo a Archer, o consumo mundial de açúcar deve saltar dos atuais 173,8 para 184,5 milhões de toneladas até a safra 2026/27, crescimento de 1% ao ano. O consumo per capita em alguns países, o aumento populacional e a substituição no uso do xarope de milho pelo açúcar são alguns fatores que sustentam essas projeções.

  • O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou a compra, pela Copersucar, dos 50% da Cargill na trading Alvean. A empresa, que detém 20% do comércio global de açúcar, passará a ter a Copersucar como única acionista a partir da conclusão do processo.

No etanol

 

  • De acordo com dados consolidados da Unica até 1° de junho, a produção de etanol hidratado totalizou 3,97 bilhões de litros, estando 13,18% abaixo do volume do mesmo período de 2020. Por sua vez, o anidro apresentou crescimento de 11,27% em sua produção, atingindo 1,85 bilhão de litros. Dessa forma, considerando os dois tipos, foram produzidos 5,82 bilhões de litros, 6,66% a menos que em 2020/21. Já as vendas totais tiveram aumento de 14,88%, chegando a 4,62 bilhões de litros. No mercado doméstico foram vendidos 1,48 bilhão de litros de anidro (+35,62%) e 2,93 bilhões de hidratado (+8,17%).

  • As vendas de etanol acumuladas deste o início da safra, foram de 1,48 bilhão de litros (+35,62%) no anidro e as de etanol hidratado 2,93 bilhões de litros (+ 8,17%) no hidratado, para o mercado interno.

  • O governo indiano antecipou a meta de misturar 20% de etanol à gasolina para o ano de 2023. A revisão da meta em dois anos (antes para 2025) faz parte da política do país de reduzir as suas dependências de importação de petróleo, que somam um dispêndio anual de US$ 55 bilhões. De acordo com as novas diretrizes, os indianos devem demandar 10 bilhões de litros de etanol para compor a mistura em 2023, favorecendo o mix de cana para o biocombustível. Com mais cana sendo direcionada para o etanol, o país deve abdicar de exportar açúcar para atender a sua demanda interna, deixando ao Brasil a missão de suprir o mercado internacional. Estima-se que em 2021 já sejam misturados 7,5% ou 2,7 bilhões de litros, 56% a mais que em 2020. O USDA acredita que o 10% de mistura será alcançado em 2022.

  • No intervalo de 1975 a 2020, estima-se que, no Brasil, o etanol evitou a emissão de 709 milhões de t de CO2 equivalentes na atmosfera, substituindo 3,3 bilhões de barris de gasolina, a um valor presente de US$ 607,7 bilhões, que deixaram de ser importados. Com o RenovaBio, outros 620 milhões de t de CO2 equivalentes serão evitadas até 2030.

  • Os preços dos combustíveis estão mais pesados para os consumidores finais. De acordo com o Índice de Preços Ticket Log (IPTL), o preço do etanol avançou 50,4% nos últimos 12 meses, chegando a R$ 4,822 o litro, enquanto que na gasolina o crescimento foi de 44,7% alcançando R$ 5,798 o litro.

 

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em julho na cadeia da cana:

  1. Continuar monitorando a seca que assola os canaviais e o impacto na produção de cana, açúcar e etanol;
  2. A retomada do consumo de etanol hidratado, com a recuperação da economia. Ao fechar esta coluna, pelos dados da SCA, o litro do hidratado estava em R$ 3,54/l com impostos nas usinas, e o anidro em R$ 3,59/l. Segundo a Archer, o etanol está com equivalente a 17,25 cents por libra peso.
  3. O barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 74, aumentando 10% no mês. Devemos observar seu comportamento agora em julho, bem como o câmbio para entender os possíveis preços da gasolina;
  4. Os reflexos da redução da produção nos preços de açúcar. Ao fechar esta coluna, o açúcar estava em 17 cents/libra peso na tela de maio de 2021. O consumo mundial deve aumentar com o crescimento econômico mundial, e a oferta maior deve vir do Brasil mesmo;
  5. As exportações de açúcar do Brasil, que estão muito fortes, e os preços para o mercado interno que vêm se mantendo.

Valor do ATR

Com o início da safra 2021/22, os valores do ATR iniciaram muito acima da média do ano passado, como já era esperado, em função da redução da produtividade e da qualidade dos canaviais. Em abril e maio, os valores de ATR para cada um desses meses foram de R$1,014/kg e R$1,056/kg, respectivamente. Com isso, o acumulado ficou em R$1,036/kg. Vale lembrar que entre abril de 2020 e março de 2021, o acumulado era de R$ 0,78/kg, ou seja, o valor atual é 32,8% maior que o do ciclo passado.

Homenageado do mês

Desta vez, a nossa singela homenagem vai para o professor Godofredo Cesar Vitti, da ESALQ. Figura carismática e muito querida pelo setor de cana, a sua contribuição em solos e nutrição de plantas, que impactam na produtividade e rentabilidade, é inestimável.