Avança o manejo biológico do gorgulho-da-cana

02/09/2016 Cana-de-Açúcar POR: Assessoria de Imprensa
O Brasil é referência mundial no manejo biológico de pragas da parte aérea da cana-de-açúcar e começa a utilizar fungos e nematóides benéficos para o controle das pragas de solo, como o gorgulho-da-cana
O gorgulho-da-cana ou bicudo-da-cana (Sphenophorus levis) é uma das principais pragas regionais da cana-de-açúcar. Foi constatado pela primeira vez no Brasil na década de 1970 e, hoje, causa prejuízos em 53 municípios do Estado de São Paulo, além de regiões dos Estados do Paraná, Minas Gerais e
Santa Catarina. Esse aumento na distribuição da praga se deve, principalmente, ao descuido no transporte de mudas infestadas de uma região para outra, pois o inseto tem uma baixa taxa de dispersão (até 300m em toda sua vida).
 
Os danos na cultura são causados pelas larvas que se alimentam na base das plantas, devido à construção de galerias à medida que se desenvolvem, causando a morte das touceiras. Em alguns locais do Estado de São Paulo chegam a atingir 50% a 60% de perfilhos, ocasionando perdas de 20 a 30 toneladas de cana-de-açúcar por hectare.
As larvas do gorgulho-da-cana podem ser confundidas com outros insetos, especialmente com as do gorgulho-rajado (Metamasius hemipterus), que não tem importância econômica para a cultura.
O gorgulho-da-cana tem preferência por solos claros, argilosos e com boa umidade. Parece que a aplicação excessiva de vinhaça aumenta a ocorrência dessa praga, tal como acontece com a broca-da-cana (Diatraea saccharalis). O clima influencia na população do gorgulho, sendo que em todas as fases eles são mais ativos durante os meses quentes e úmidos e diminuem a sua atividade nos meses frios e secos.
Ocorrem dois picos da praga durante o ano. Os picos de larvas ocorrem entre os meses de maio e julho e entre novembro e dezembro. Os picos de adultos, entre os meses de outubro e novembro e entre fevereiro e março, sendo esse último o maior deles.
O ciclo do gorgulho-da-cana pode variar entre 58 e 307 dias, com média de 173,3 dias (27ºC). Os adultos quase sempre são encontrados abaixo do nível do solo, têm hábito noturno, são pouco ágeis e quando se sentem ameaçados fingem de mortos. As fêmeas põem os seus ovos na base das brotações, podendo ser abaixo ou ao nível do solo.
O método de controle mais utilizado no manejo de S. levis é a destruição mecânica das soqueiras no período de plantio (momento da reforma do canavial), procurando-se expor ao máximo as larvas aos seus predadores e ao secamento dos rizomas.
Existem alguns inseticidas registrados para o controle do gorgulho-da-cana, sendo eles lambdacialotrina + tiametoxam, imidacloprido, alfacipermetrina + fipronil e bifentrina + carbosulfano. Assim como na destruição das soqueiras, esta técnica é utilizada no plantio, procurando-se evitar o ataque da praga na cana-planta.
Todos os inseticidas registrados para o gorgulho são bastante tóxicos e pouco seletivos para inimigos naturais, especialmente para formigas predadoras – as mais importantes reguladoras naturais de populações da broca-da-cana e de cigarrinhas. Portanto, o uso destes produtos em cana-soca compromete o equilíbrio do agroecossistema canavieiro e tem causado o aumento das áreas-problema com a broca-da-cana, exigindo maiores cuidados.
Outro produto registrado é o nematoide entomopatogênico Steinernema puertoricense, com resultados muito bons para o controle do gorgulho e de outras pragas, mas a disponibilidade deste no mercado ainda é bastante limitada. A eficácia do nematóide no controle de larvas do gorgulho é superior a 80%, mas no controle de adultos muitas vezes precisa da associação de inseticidas. Pode ser aplicado junto com tiametoxam.
Algumas usinas, junto com o G.bio (Grupo de Pesquisa e Extensão em Controle Biológico, sediado no Centro Universitário Moura Lacerda, em Ribeirão Preto-SP), têm trabalhado, desde 2011, com fungos entomopatogênicos no controle do gorgulho.
O fungo Beauveria bassiana sempre foi o mais indicado para o controle do gorgulho-da-cana. A recomendação era a aplicação na forma de pasta do fungo (água + conídios) em iscas de tolete de cana partido ao meio, 150-200 iscas por hectare, com eficácia superior a 90% de controle de adultos, sendo uma prática bastante trabalhosa.
Para o controle de adultos que iniciarão a revoada, o uso de B. bassiana aplicado na forma líquida ou granulada (500g conídios por hectare) é bastante eficaz, com controle superior a 80% já após 30 dias da aplicação. Entretanto, para o controle de larvas, o fungo B. bassiana tem mostrado eficácia inferior a 80% até 100 dias após a aplicação, na forma líquida ou granulada (450g por hectare).
Por outro lado, o fungo Metarhizium anisopliae, comumente utilizado para o controle de cigarrinhas na cana-de-açúcar, tem mostrado excelentes resultados no controle de larvas de S. levis, quando aplicado com cortador de soqueiras na forma líquida (250g por hectare) ou na forma granulada (450g por hectare).
O gorgulho-da-cana, após ser infectado por algum dos fungos, fica inquieto, perde seus movimentos e para de se alimentar, chegando à morte. Quando os insetos são colonizados pelo fungo Manisopliae, os mesmos ficam duros e uma massa pulverulenta de conídios recobre o seu corpo e ganha uma coloração que varia entre a verde-clara e escura, acinzentada ou esbranquiçada com pontos verdes. No caso de B. bassiana, os insetos ficam cobertos por uma massa esbranquiçada.
A escolha dos isolados dos fungos para o controle eficaz do gorgulho-da-cana é bastante importante, visto que cada um é mais adequado para cada região de ocorrência da praga.
O manejo de pragas da parte aérea na cultura da cana-de-açúcar é realizado, predominantemente, com produtos biológicos, sendo referência mundial.
O mesmo não acontece com as pragas de solo, onde o controle químico é quase exclusivo. Com o avanço das pesquisas com resultados semelhantes aos destacados nesse texto, em pouco tempo será possível manejar todas as pragas de solo de forma biológica, com a aplicação ocasional de inseticidas seletivos aos inimigos naturais constantes nesse agroecossistema.
*Engenheiro agrônomo e doutor em Entomologia, tem mais de 300 trabalhos científicos, 15 livros e 30 capítulos no Brasil e no exterior. Ministra mais de 100 palestras por ano pelo mundo. Ganhador de vários prêmios de inovação tecnológica no mundo e consultor no manejo de pragas de várias usinas no Brasil e na Colômbia. Atualmente, é professor do Centro Universitário Moura Lacerda, diretor de P&D e sócio da Bug Agentes Biológicos e diretor e sócio da Occasio.
O Brasil é referência mundial no manejo biológico de pragas da parte aérea da cana-de-açúcar e começa a utilizar fungos e nematóides benéficos para o controle das pragas de solo, como o gorgulho-da-cana.

 
O gorgulho-da-cana ou bicudo-da-cana (Sphenophorus levis) é uma das principais pragas regionais da cana-de-açúcar. Foi constatado pela primeira vez no Brasil na década de 1970 e, hoje, causa prejuízos em 53 municípios do Estado de São Paulo, além de regiões dos Estados do Paraná, Minas Gerais e Santa Catarina. Esse aumento na distribuição da praga se deve, principalmente, ao descuido no transporte de mudas infestadas de uma região para outra, pois o inseto tem uma baixa taxa de dispersão (até 300m em toda sua vida).
 
 
Os danos na cultura são causados pelas larvas que se alimentam na base das plantas, devido à construção de galerias à medida que se desenvolvem, causando a morte das touceiras. Em alguns locais do Estado de São Paulo chegam a atingir 50% a 60% de perfilhos, ocasionando perdas de 20 a 30 toneladas de cana-de-açúcar por hectare.

 
As larvas do gorgulho-da-cana podem ser confundidas com outros insetos, especialmente com as do gorgulho-rajado (Metamasius hemipterus), que não tem importância econômica para a cultura.

 
O gorgulho-da-cana tem preferência por solos claros, argilosos e com boa umidade. Parece que a aplicação excessiva de vinhaça aumenta a ocorrência dessa praga, tal como acontece com a broca-da-cana (Diatraea saccharalis). O clima influencia na população do gorgulho, sendo que em todas as fases eles são mais ativos durante os meses quentes e úmidos e diminuem a sua atividade nos meses frios e secos.

 
Ocorrem dois picos da praga durante o ano. Os picos de larvas ocorrem entre os meses de maio e julho e entre novembro e dezembro. Os picos de adultos, entre os meses de outubro e novembro e entre fevereiro e março, sendo esse último o maior deles.

 
O ciclo do gorgulho-da-cana pode variar entre 58 e 307 dias, com média de 173,3 dias (27ºC). Os adultos quase sempre são encontrados abaixo do nível do solo, têm hábito noturno, são pouco ágeis e quando se sentem ameaçados fingem de mortos. As fêmeas põem os seus ovos na base das brotações, podendo ser abaixo ou ao nível do solo.

 
O método de controle mais utilizado no manejo de S. levis é a destruição mecânica das soqueiras no período de plantio (momento da reforma do canavial), procurando-se expor ao máximo as larvas aos seus predadores e ao secamento dos rizomas.

 
Existem alguns inseticidas registrados para o controle do gorgulho-da-cana, sendo eles lambdacialotrina + tiametoxam, imidacloprido, alfacipermetrina + fipronil e bifentrina + carbosulfano. Assim como na destruição das soqueiras, esta técnica é utilizada no plantio, procurando-se evitar o ataque da praga na cana-planta.

 
Todos os inseticidas registrados para o gorgulho são bastante tóxicos e pouco seletivos para inimigos naturais, especialmente para formigas predadoras – as mais importantes reguladoras naturais de populações da broca-da-cana e de cigarrinhas. Portanto, o uso destes produtos em cana-soca compromete o equilíbrio do agroecossistema canavieiro e tem causado o aumento das áreas-problema com a broca-da-cana, exigindo maiores cuidados.

 
Outro produto registrado é o nematoide entomopatogênico Steinernema puertoricense, com resultados muito bons para o controle do gorgulho e de outras pragas, mas a disponibilidade deste no mercado ainda é bastante limitada. A eficácia do nematóide no controle de larvas do gorgulho é superior a 80%, mas no controle de adultos muitas vezes precisa da associação de inseticidas. Pode ser aplicado junto com tiametoxam.

 
Algumas usinas, junto com o G.bio (Grupo de Pesquisa e Extensão em Controle Biológico, sediado no Centro Universitário Moura Lacerda, em Ribeirão Preto-SP), têm trabalhado, desde 2011, com fungos entomopatogênicos no controle do gorgulho.

 
O fungo Beauveria bassiana sempre foi o mais indicado para o controle do gorgulho-da-cana. A recomendação era a aplicação na forma de pasta do fungo (água + conídios) em iscas de tolete de cana partido ao meio, 150-200 iscas por hectare, com eficácia superior a 90% de controle de adultos, sendo uma prática bastante trabalhosa.

 
Para o controle de adultos que iniciarão a revoada, o uso de B. bassiana aplicado na forma líquida ou granulada (500g conídios por hectare) é bastante eficaz, com controle superior a 80% já após 30 dias da aplicação. Entretanto, para o controle de larvas, o fungo B. bassiana tem mostrado eficácia inferior a 80% até 100 dias após a aplicação, na forma líquida ou granulada (450g por hectare).

 
Por outro lado, o fungo Metarhizium anisopliae, comumente utilizado para o controle de cigarrinhas na cana-de-açúcar, tem mostrado excelentes resultados no controle de larvas de S. levis, quando aplicado com cortador de soqueiras na forma líquida (250g por hectare) ou na forma granulada (450g por hectare).

 
O gorgulho-da-cana, após ser infectado por algum dos fungos, fica inquieto, perde seus movimentos e para de se alimentar, chegando à morte. Quando os insetos são colonizados pelo fungo Manisopliae, os mesmos ficam duros e uma massa pulverulenta de conídios recobre o seu corpo e ganha uma coloração que varia entre a verde-clara e escura, acinzentada ou esbranquiçada com pontos verdes. No caso de B. bassiana, os insetos ficam cobertos por uma massa esbranquiçada.

 
A escolha dos isolados dos fungos para o controle eficaz do gorgulho-da-cana é bastante importante, visto que cada um é mais adequado para cada região de ocorrência da praga.

 
O manejo de pragas da parte aérea na cultura da cana-de-açúcar é realizado, predominantemente, com produtos biológicos, sendo referência mundial.

 
O mesmo não acontece com as pragas de solo, onde o controle químico é quase exclusivo. Com o avanço das pesquisas com resultados semelhantes aos destacados nesse texto, em pouco tempo será possível manejar todas as pragas de solo de forma biológica, com a aplicação ocasional de inseticidas seletivos aos inimigos naturais constantes nesse agroecossistema.

 
*Engenheiro agrônomo e doutor em Entomologia, tem mais de 300 trabalhos científicos, 15 livros e 30 capítulos no Brasil e no exterior. Ministra mais de 100 palestras por ano pelo mundo. Ganhador de vários prêmios de inovação tecnológica no mundo e consultor no manejo de pragas de várias usinas no Brasil e na Colômbia. Atualmente, é professor do Centro Universitário Moura Lacerda, diretor de P&D e sócio da Bug Agentes Biológicos e diretor e sócio da Occasio.