A 16ª edição do Seminário Perspectivas para o Agribusiness em 2017 e 2018, realizada pela B3 (resultado da união da BM&FBOVESPA e Cetip), em parceria com o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), no dia 1º de junho, na Capital paulista, traçou as tendências das principais cadeias produtivas do país e os reflexos das macroeconomias sobre o setor agropecuário. A abertura do evento contou com palestra de Neri Geller, secretário de Política Agrícola do MAPA, participação de Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, e de Gilson Finkelsztain, diretor presidente da B3.
“A crise começa a dar sinais de inclinação muito alicerçada na produção agrícola”, afirmou Geller, que também ressaltou os avanços da agricultura nos últimos 25 anos, com crescimento de 239% diante de uma expansão de área de apenas 57%. “A previsão de safra de 232 milhões de toneladas deve se concretizar e isso representa, em termos de movimentação para a economia do Brasil, o incremento de 25% na produção”, afirmou, ressaltando o apoio do Governo para o desenvolvimento do setor, inclusive no caso do Plano Safra. “Tivemos bom senso junto à equipe econômica para fazer o redirecionamento de recursos, entre eles de vários programas”, disse.
Jardim reforçou o potencial do setor agropecuário para retomada do crescimento econômico do Brasil graças a sua capacidade de inovar e trazer tecnologias, capazes de aumentar a produtividade e gerar renda ao produtor rural. Já Finkelsztain esclareceu que o agronegócio contribui para minimizar a queda do PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos anos, “mas precisa de financiamento para manter uma agenda de continuidade e de crescimento”, disse, completando “nos dedicamos para ampliar a liquidez do setor que ainda não reflete a relevância do agronegócio brasileiro”, afirmou.
“O Brasil está construindo o caminho para um novo ciclo de crescimento, oferecendo diversas oportunidades de investimentos”, afirmou Fábio Kanczuk, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, ao falar sobre as perspectivas para a economia brasileira. O executivo disse que, após dois anos de recessão, o PIB do primeiro trimestre de 2017 foi positivo. O índice de 1,0% de aumento mostra que a economia dá sinais de melhoria apesar da crise política que atravessa o país. “A agricultura foi o grande destaque. O crescimento expressivo é em função da concentração sazonal de colheita de importantes culturas no 1º trimestre do ano”, explicou. Kanczuk também citou os impactos positivos que as reformas propostas pelo Governo devem trazer para o Brasil.
“O impacto do setor agropecuário na economia foi um negócio colossal, eu acho que sem o segmento a gente não conseguiria o crescimento no PIB no primeiro trimestre”, afirmou Alexandre Schwartsman, sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica e ex-diretor do Banco Central ao apresentar a palestra “O cenário econômico e seus impactos na agricultura brasileira”. Para o economista, o quadro de incertezas políticas ainda será uma dificuldade para a economia, mas a recuperação da demanda interna resultará em mais crescimento para o país.
Jodie M. Gunzberg, diretora de Produtos da S&P Dow Jones Indices, explanou em seguida e mostrou os cenários para o mercado de commodities, dando uma visão global e os desafios do petróleo. “As oportunidades de comércio de energia irão persistir e continuar atrativas devido à enorme volatilidade no petróleo e no gás”, afirmou.
Safra de grãos recorde
O primeiro painel do seminário tratou dos cenários para o mercado de commodities do Brasil e contou com apresentação de Amaryllis Romano, sócia da Tendências Consultoria, que destacou, na ocasião, as perspectivas para o café. Segundo ela, o mercado externo tem maior relevância na formação da receita do setor. “O consumo nacional cresce a uma taxa de 1% ao ano e o externo a 1,2%, mas há necessidade de buscar novos mercados”, disse.
Em seguida, Andy Duff, gerente de Pesquisa em Agroeconomia do Rabobank Brasil, explanou sobre o mercado de açúcar e pontuou que apesar da queda do preço da commodity nos últimos tempos, deverá haver uma alta na cotação até o final de 2017, com a movimentação dos fundos de investimentos. O executivo afirmou também que há previsão de mudança de deficit para um leve excedente no próximo ciclo mundial, que vai de outubro de 2017 até setembro de 2018 e que o Brasil deverá produzir menos açúcar nesta safra do que o planeta espera. “Pelas previsões sobre a produção no Brasil, o mercado de etanol será muito apertado, isso levará a priorizar o etanol e fazer menos o açúcar do que se esperam”, alertou.
Moderador do painel, o fundador e sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, destacou o mercado de soja e milho e afirmou que o Brasil colherá a mãe de todas as safras em termos de produtividade, chegando a mais de 115 milhões de toneladas de soja e cerca de 100 milhões de toneladas de milho, na temporada 2016/17. “Além da produtividade alta, a safra deste ano foi marcada por uma repetição de um quadro favorável de custos; a relação de troca foi extremamente favorável, uma safra com custo relativamente tranquilo”, disse ele, afirmando que, na avaliação da consultoria, o país deverá exportar grande quantidade de soja e milho. “A taxa de câmbio mais alta, acima de R$ 3,20, vai acelerar a comercialização”, comentou.
A política comercial externa no novo cenário global e seus impactos no agronegócio brasileiro foram temas do segundo painel do evento e contou com moderação de Gustavo Diniz Junqueira, sócio da Brasilpar, explanação de Christopher Garman, analista-chefe para o Brasil do Eurasia Group, e de José Roberto Mendonça de Barros, membro do Conselho Consultivo da Febraban e sócio da MB Associados. Junqueira lembrou que o assunto é importante visto que vivemos um momento de grandes transformações no mundo e o Brasil ainda está sentindo as “dores para se adaptar às mudanças; está aprendendo e ainda tem usado regras ultrapassadas relacionadas ao comércio internacional”.
Garman deu um panorama sobre o ambiente geopolítico global e os seus impactos na política comercial, como no caso dos reflexos das ações do novo presidente americano, com as reviravoltas em relação às promessas de campanha, como quebra de acordos e tensões comerciais com outros países como México e China e conflito militar com a Coreia do Norte. Já Mendonça de Barros indicou quatro pontos de atenção para uma melhor política comercial e desempenho internacional: o desenvolvimento da inteligência de mercados; qualidade na governança pública e privada; foco no cliente e geração de novas tecnologias.
Logística e transporte: gargalo caro
“Logística é um problema tão sério para nós, produtores, que muitas vezes é mais danoso do que as pragas que a gente tem na lavoura”, desabafou Arlindo Moura, diretor-presidente da Terra Santa Agro e atual presidente da Abrapa (Associação Brasileira de Produtores de Algodão) ao palestrar no terceiro painel do seminário da B3. De acordo com ele, atualmente, 25% da receita da soja e 60% da receita do milho “morrem no transporte, um dos mais caros do mundo”, dando como exemplo, o gasto com o transporte da soja. “No Brasil se gasta US$ 145 para levar a soja de Sorriso/MT para a China via Porto de Santos-SP, enquanto que nos EUA o valor é de US$ 70, saindo de Nova Orleans para o país asiático”, afirmou. Segundo Moura, o Brasil escolheu a opção errada de modal para o escoamento de seus produtos.
“Apenas 14% dos nossos grãos são transportados por hidrovias, ao contrário da China e EUA, que utilizam 64% e 43%, respectivamente, as hidrovias, o modal mais barato que existe”, comparou ele, ressaltando ainda que 61% das cargas são transportadas por rodovias, sendo que 78% delas foram consideradas em péssimas condições e sem pavimentação e apenas 12% estavam pavimentadas e em condições razoáveis de tráfego, conforme estudo feito pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), em 2016. Outro fator problemático neste setor indicado pelo executivo é a estrutura de armazenamento, que deve piorar com o crescimento das safras, caso nada seja feito.
Participante do mesmo painel, Luis Barbieri, diretor executivo de Oleaginosas da Louis Dreyfus Company, lembrou que, apesar do caos logísticos constatado nos últimos anos, muito investimento, principalmente privado, foi feito no segmento e os resultados já são significativos. “A capacidade de exportação de granéis sólidos de vegetais do Brasil aumentou nos últimos cinco anos, passando da ordem de 12 milhões de toneladas por mês, em 2012, para perto de 17 milhões de toneladas este ano. São quase 60 milhões de toneladas por ano a mais de capacidade, que originou uma oportunidade e foi capturada em novos investimentos em logística para garantir a competitividade”, assegurou.
Barbieri comentou ainda sobre os aportes feitos nos portos, como também as novas opções de escoamento via acessos do Norte. “Há cinco anos, as filas de navios eram de 40 a 70 dias no Porto de Paranaguá-PR. Hoje, um navio chega e atraca de três a cinco dias. Isso não é obra do divino, teve muito investimento do poder público e dos terminais privados no Porto e isso é fundamental para garantir a competitividade da logística e da cadeia de grãos do Brasil”, assegurou.
Moderado por Annelise Vendramini, coordenadora do Programa de Finanças Sustentáveis do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, o quarto e último painel do dia teve a participação de José Luciano Penido, presidente do Conselho de Administração da Fibria Celulose, e Vladimir Miranda Abreu, sócio do Tozzini Freire Advogados, que debateram sobre o agronegócio e as metas do Acordo de Paris, apontando os principais desafios para os líderes no mercado internacional, como também a repercussão da decisão de Donald Trump, em retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris.
Sérgio Rial, presidente executivo do Santander, encerrou as palestras do evento falando de inovação no agronegócio brasileiro e sobre o papel das startups, seguido pela fala do diretor de Desenvolvimento de Mercados e Clientes da B3, Fabio Dutra.
“Os especialistas mostraram que a economia política está no rumo certo e os resultados começam a aparecer, mas os desafios ainda são enormes, especialmente na área fiscal, por isso, as reformas são necessárias para uma retomada consistente. Apesar do cenário político trazer incertezas, todos aqui podem ter certeza que a B3 está ao lado do agronegócio para que as empresas possam ter os recursos que precisam, assim como mitigar os seus riscos por meio de suas operações. Nossa estratégia é inovar cada vez mais e estar ao lado dos nossos clientes”, concluiu.
Deus se cansou do Brasil
Ao explicar como a situação polí- tica pode interferir no agronegócio, ao palestrar no Seminário Perspectivas para o Agribusiness em 2017 e 2018, Antonio Delfim Netto, professor emérito da FEA, Universidade de São Paulo, foi categórico. É preciso ter uma compreensão da história, nada cai do céu. Deus se cansou do Brasil”, disse o economista ao se referir às manobras para resolver a situação do país, citando a proposta de eleição direta “que é absolutamente impossível devido a Constituição, que estabelece a eleição indireta”, disse, ressaltando que, embora o momento seja de incerteza política diante do futuro do presidente Michel Temer, o Brasil está caminhando e existem indicadores que mostram que está na direção correta, citando o aumento do PIB no primeiro trimestre do ano.
“Não podemos jogar fora tudo o que foi feito até agora. Acho que a solução que produziria os melhores efeitos no Brasil seria o Supremo Tribunal Federal transferir o início do processo do Temer para 1º de janeiro de 2019, assim ele terminaria o mandato e aquilo que está construindo”, afirmou, dando como exemplo, os 52 projetos que estão em pauta no Congresso com alta probabilidade de aprovação e que poderiam ser paralisados. O ex-ministro também defendeu a Lava Jato e a aprovação das reformas. “É um ponto de inflexão na história”, disse, pontuando que o término das relações incestuosas entre Governo e setor privado vai aumentar a produtividade total dos fatores no médio prazo, o que impulsionará o crescimento econômico. Delfim Netto comentou ainda que o PIB deste ano deve ficar entre 0,2% e 0,4% e a taxa Selic deve chegar a 8% em dezembro.
A 16ª edição do Seminário Perspectivas para o Agribusiness em 2017 e 2018, realizada pela B3 (resultado da união da BM&FBOVESPA e Cetip), em parceria com o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), no dia 1º de junho, na Capital paulista, traçou as tendências das principais cadeias produtivas do país e os reflexos das macroeconomias sobre o setor agropecuário. A abertura do evento contou com palestra de Neri Geller, secretário de Política Agrícola do MAPA, participação de Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, e de Gilson Finkelsztain, diretor presidente da B3.
“A crise começa a dar sinais de inclinação muito alicerçada na produção agrícola”, afirmou Geller, que também ressaltou os avanços da agricultura nos últimos 25 anos, com crescimento de 239% diante de uma expansão de área de apenas 57%. “A previsão de safra de 232 milhões de toneladas deve se concretizar e isso representa, em termos de movimentação para a economia do Brasil, o incremento de 25% na produção”, afirmou, ressaltando o apoio do Governo para o desenvolvimento do setor, inclusive no caso do Plano Safra. “Tivemos bom senso junto à equipe econômica para fazer o redirecionamento de recursos, entre eles de vários programas”, disse.
Jardim reforçou o potencial do setor agropecuário para retomada do crescimento econômico do Brasil graças a sua capacidade de inovar e trazer tecnologias, capazes de aumentar a produtividade e gerar renda ao produtor rural. Já Finkelsztain esclareceu que o agronegócio contribui para minimizar a queda do PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos anos, “mas precisa de financiamento para manter uma agenda de continuidade e de crescimento”, disse, completando “nos dedicamos para ampliar a liquidez do setor que ainda não reflete a relevância do agronegócio brasileiro”, afirmou.
“O Brasil está construindo o caminho para um novo ciclo de crescimento, oferecendo diversas oportunidades de investimentos”, afirmou Fábio Kanczuk, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, ao falar sobre as perspectivas para a economia brasileira. O executivo disse que, após dois anos de recessão, o PIB do primeiro trimestre de 2017 foi positivo. O índice de 1,0% de aumento mostra que a economia dá sinais de melhoria apesar da crise política que atravessa o país. “A agricultura foi o grande destaque. O crescimento expressivo é em função da concentração sazonal de colheita de importantes culturas no 1º trimestre do ano”, explicou. Kanczuk também citou os impactos positivos que as reformas propostas pelo Governo devem trazer para o Brasil.
“O impacto do setor agropecuário na economia foi um negócio colossal, eu acho que sem o segmento a gente não conseguiria o crescimento no PIB no primeiro trimestre”, afirmou Alexandre Schwartsman, sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica e ex-diretor do Banco Central ao apresentar a palestra “O cenário econômico e seus impactos na agricultura brasileira”. Para o economista, o quadro de incertezas políticas ainda será uma dificuldade para a economia, mas a recuperação da demanda interna resultará em mais crescimento para o país.
Jodie M. Gunzberg, diretora de Produtos da S&P Dow Jones Indices, explanou em seguida e mostrou os cenários para o mercado de commodities, dando uma visão global e os desafios do petróleo. “As oportunidades de comércio de energia irão persistir e continuar atrativas devido à enorme volatilidade no petróleo e no gás”, afirmou.
Safra de grãos recorde
O primeiro painel do seminário tratou dos cenários para o mercado de commodities do Brasil e contou com apresentação de Amaryllis Romano, sócia da Tendências Consultoria, que destacou, na ocasião, as perspectivas para o café. Segundo ela, o mercado externo tem maior relevância na formação da receita do setor. “O consumo nacional cresce a uma taxa de 1% ao ano e o externo a 1,2%, mas há necessidade de buscar novos mercados”, disse.
Em seguida, Andy Duff, gerente de Pesquisa em Agroeconomia do Rabobank Brasil, explanou sobre o mercado de açúcar e pontuou que apesar da queda do preço da commodity nos últimos tempos, deverá haver uma alta na cotação até o final de 2017, com a movimentação dos fundos de investimentos. O executivo afirmou também que há previsão de mudança de deficit para um leve excedente no próximo ciclo mundial, que vai de outubro de 2017 até setembro de 2018 e que o Brasil deverá produzir menos açúcar nesta safra do que o planeta espera. “Pelas previsões sobre a produção no Brasil, o mercado de etanol será muito apertado, isso levará a priorizar o etanol e fazer menos o açúcar do que se esperam”, alertou.
Moderador do painel, o fundador e sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, destacou o mercado de soja e milho e afirmou que o Brasil colherá a mãe de todas as safras em termos de produtividade, chegando a mais de 115 milhões de toneladas de soja e cerca de 100 milhões de toneladas de milho, na temporada 2016/17. “Além da produtividade alta, a safra deste ano foi marcada por uma repetição de um quadro favorável de custos; a relação de troca foi extremamente favorável, uma safra com custo relativamente tranquilo”, disse ele, afirmando que, na avaliação da consultoria, o país deverá exportar grande quantidade de soja e milho. “A taxa de câmbio mais alta, acima de R$ 3,20, vai acelerar a comercialização”, comentou.
A política comercial externa no novo cenário global e seus impactos no agronegócio brasileiro foram temas do segundo painel do evento e contou com moderação de Gustavo Diniz Junqueira, sócio da Brasilpar, explanação de Christopher Garman, analista-chefe para o Brasil do Eurasia Group, e de José Roberto Mendonça de Barros, membro do Conselho Consultivo da Febraban e sócio da MB Associados. Junqueira lembrou que o assunto é importante visto que vivemos um momento de grandes transformações no mundo e o Brasil ainda está sentindo as “dores para se adaptar às mudanças; está aprendendo e ainda tem usado regras ultrapassadas relacionadas ao comércio internacional”.
Garman deu um panorama sobre o ambiente geopolítico global e os seus impactos na política comercial, como no caso dos reflexos das ações do novo presidente americano, com as reviravoltas em relação às promessas de campanha, como quebra de acordos e tensões comerciais com outros países como México e China e conflito militar com a Coreia do Norte. Já Mendonça de Barros indicou quatro pontos de atenção para uma melhor política comercial e desempenho internacional: o desenvolvimento da inteligência de mercados; qualidade na governança pública e privada; foco no cliente e geração de novas tecnologias.
Logística e transporte: gargalo caro
“Logística é um problema tão sério para nós, produtores, que muitas vezes é mais danoso do que as pragas que a gente tem na lavoura”, desabafou Arlindo Moura, diretor-presidente da Terra Santa Agro e atual presidente da Abrapa (Associação Brasileira de Produtores de Algodão) ao palestrar no terceiro painel do seminário da B3. De acordo com ele, atualmente, 25% da receita da soja e 60% da receita do milho “morrem no transporte, um dos mais caros do mundo”, dando como exemplo, o gasto com o transporte da soja. “No Brasil se gasta US$ 145 para levar a soja de Sorriso/MT para a China via Porto de Santos-SP, enquanto que nos EUA o valor é de US$ 70, saindo de Nova Orleans para o país asiático”, afirmou. Segundo Moura, o Brasil escolheu a opção errada de modal para o escoamento de seus produtos.
“Apenas 14% dos nossos grãos são transportados por hidrovias, ao contrário da China e EUA, que utilizam 64% e 43%, respectivamente, as hidrovias, o modal mais barato que existe”, comparou ele, ressaltando ainda que 61% das cargas são transportadas por rodovias, sendo que 78% delas foram consideradas em péssimas condições e sem pavimentação e apenas 12% estavam pavimentadas e em condições razoáveis de tráfego, conforme estudo feito pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), em 2016. Outro fator problemático neste setor indicado pelo executivo é a estrutura de armazenamento, que deve piorar com o crescimento das safras, caso nada seja feito.
Participante do mesmo painel, Luis Barbieri, diretor executivo de Oleaginosas da Louis Dreyfus Company, lembrou que, apesar do caos logísticos constatado nos últimos anos, muito investimento, principalmente privado, foi feito no segmento e os resultados já são significativos. “A capacidade de exportação de granéis sólidos de vegetais do Brasil aumentou nos últimos cinco anos, passando da ordem de 12 milhões de toneladas por mês, em 2012, para perto de 17 milhões de toneladas este ano. São quase 60 milhões de toneladas por ano a mais de capacidade, que originou uma oportunidade e foi capturada em novos investimentos em logística para garantir a competitividade”, assegurou.
Barbieri comentou ainda sobre os aportes feitos nos portos, como também as novas opções de escoamento via acessos do Norte. “Há cinco anos, as filas de navios eram de 40 a 70 dias no Porto de Paranaguá-PR. Hoje, um navio chega e atraca de três a cinco dias. Isso não é obra do divino, teve muito investimento do poder público e dos terminais privados no Porto e isso é fundamental para garantir a competitividade da logística e da cadeia de grãos do Brasil”, disse.
Moderado por Annelise Vendramini, coordenadora do Programa de Finanças Sustentáveis do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, o quarto e último painel do dia teve a participação de José Luciano Penido, presidente do Conselho de Administração da Fibria Celulose, e Vladimir Miranda Abreu, sócio do Tozzini Freire Advogados, que debateram sobre o agronegócio e as metas do Acordo de Paris, apontando os principais desafios para os líderes no mercado internacional, como também a repercussão da decisão de Donald Trump, em retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris.
Sérgio Rial, presidente executivo do Santander, encerrou as palestras do evento falando de inovação no agronegócio brasileiro e sobre o papel das startups, seguido pela fala do diretor de Desenvolvimento de Mercados e Clientes da B3, Fabio Dutra.
“Os especialistas mostraram que a economia política está no rumo certo e os resultados começam a aparecer, mas os desafios ainda são enormes, especialmente na área fiscal, por isso, as reformas são necessárias para uma retomada consistente. Apesar do cenário político trazer incertezas, todos aqui podem ter certeza que a B3 está ao lado do agronegócio para que as empresas possam ter os recursos que precisam, assim como mitigar os seus riscos por meio de suas operações. Nossa estratégia é inovar cada vez mais e estar ao lado dos nossos clientes”, concluiu.
Deus se cansou do Brasil
Ao explicar como a situação polí- tica pode interferir no agronegócio, ao palestrar no Seminário Perspectivas para o Agribusiness em 2017 e 2018, Antonio Delfim Netto, professor emérito da FEA, Universidade de São Paulo, foi categórico. É preciso ter uma compreensão da história, nada cai do céu. Deus se cansou do Brasil”, disse o economista ao se referir às manobras para resolver a situação do país, citando a proposta de eleição direta “que é absolutamente impossível devido a Constituição, que estabelece a eleição indireta”, disse, ressaltando que, embora o momento seja de incerteza política diante do futuro do presidente Michel Temer, o Brasil está caminhando e existem indicadores que mostram que está na direção correta, citando o aumento do PIB no primeiro trimestre do ano.
“Não podemos jogar fora tudo o que foi feito até agora. Acho que a solução que produziria os melhores efeitos no Brasil seria o Supremo Tribunal Federal transferir o início do processo do Temer para 1º de janeiro de 2019, assim ele terminaria o mandato e aquilo que está construindo”, afirmou, dando como exemplo, os 52 projetos que estão em pauta no Congresso com alta probabilidade de aprovação e que poderiam ser paralisados. O ex-ministro também defendeu a Lava Jato e a aprovação das reformas. “É um ponto de inflexão na história”, disse, pontuando que o término das relações incestuosas entre Governo e setor privado vai aumentar a produtividade total dos fatores no médio prazo, o que impulsionará o crescimento econômico. Delfim Netto comentou ainda que o PIB deste ano deve ficar entre 0,2% e 0,4% e a taxa Selic deve chegar a 8% em dezembro.