Balança comercial atinge superávit de R$ 1,2 bilhão na 3ª semana de junho

25/06/2013 Agronegócio POR: Donnini Mancini - cruzeirodosul
Em meados da década de 70, aproveitando-se da extrema dependência da porção ocidental do planeta, os países árabes imputaram preços superiores ao petróleo, o que motivou grandes importadores, como o Brasil era nessa época, a tomar algumas decisões para evitar mandar cada vez mais dinheiro para o exterior. O governo brasileiro de então decidiu apostar em duas frentes: investiu num novo combustível, o etanol, e vitaminou com pesados investimentos uma empresa de exploração de petróleo relativamente modesta para os padrões mundiais, chamada Petrobrás.
Olhando pelo retrovisor nesses cerca de 40 anos é possível verificar que as apostas valeram. Atualmente o etanol é motivo de orgulho nacional, assim como a Petrobrás, hoje uma das maiores empresas do mundo.
Lógico que não foi fácil, nem sempre foram flores no caminho. Parte da estratosférica dívida externa brasileira, fantasma até o início dos anos 90, foi alimentada graças à importação de petróleo e derivados enquanto as apostas não surtiam efeito. É verdade que algumas decisões podem ter sido inapropriadas em algum momento, de modo que é possível pensar que a história poderia ser de um sucesso ainda maior ou mais rápido. Mas não é o caso desse tipo de discussão nesse texto. A ideia deste é mostrar que aquele ditado popular "a ocasião faz o ladrão" pode se aplicar nesse caso, pois graças à necessidade o país inovou e hoje exporta não só etanol e petróleo, mas também tecnologia em várias etapas da produção de ambos.
A primeira lição que se tira disso foi que as apostas necessitaram de investimento. Não tem milagre nesse sentido, sem uma decisão que envolva aporte de recursos não é possível inovar em área nenhuma. Outra lição foi a aposta no mercado interno. O Brasil precisava de combustível e a alta nos preços não mudava essa necessidade. No ano de 1973, quando se iniciou a crise do petróleo, o país consumia o equivalente a 720 mil barris de óleo por dia, produzindo internamente só 170 mil, ou seja, cerca de 25% desse total. Em 2012 a Petrobrás fechou com uma produção de cerca de 2 milhões de barris por dia, próximo de atender todas as necessidades nacionais. Ou seja, nesses 40 anos a produção interna aumentou mais de 10 vezes, enquanto o consumo foi multiplicado por quase 3. Dessa maneira, a Petrobrás aumentou paulatinamente sua participação num mercado crescente, o que fez com que as importações caíssem até 2006, quando foi anunciada a sonhada autossuficiência. Um parêntesis é importante: atualmente o Brasil não é autossuficiente em petróleo, pois o consumo de derivados vem aumentando em maior proporção que o aumento da produção deles por aqui.
Ajudou na tarefa da Petrobrás o fato de que a produção crescente de etanol diminuiu proporcionalmente - a necessidade de gasolina, um dos derivados de petróleo mais importantes. Em meados da década de 2000, outra cadeia produtiva foi aberta visando diminuir a necessidade de outro derivado, no caso o diesel. Hoje o país produz biodiesel ainda em proporções pequenas em relação ao diesel do petróleo (cerca de 5%), mas o suficiente para já ser um dos maiores produtores mundiais do combustível renovável (2,7 bilhões de litros em 2011).
Resumindo, aos trancos e barrancos o processo de inovação na área de combustíveis funcionou, e boa parte desse sucesso se deu graças ao talento que pesquisadores que trabalham no Brasil possuem para entender o que se passa fora daqui bem como para criar coisas novas. Outros setores podem se beneficiar desse talento, alavancando tecnologias nos mais variados setores.
Para isso, é necessário se investir mais e aproveitar o que se tem. Quanto a aproveitar o que se tem, as universidades e centros de pesquisa possuem pesquisadores que, por profissão, passam o dia entendendo o está sendo feito mundo afora e buscando novas contribuições ou adaptações à nossa realidade. Uma conversa franca do setor produtivo e empreendedores de uma forma geral com esses centros/universidades, juntamente com governos que pensem realmente de forma estratégica, pode trazer uma série de recompensas para todos. Caso contrário, cada um fica no seu canto, fazendo a sua parte. Mas juntos certamente podem fazer muito mais.
Com a velocidade com que as coisas mudam atualmente, é bem provável que não tenhamos mais 40 anos para aproveitar novas oportunidades. O resultado será o aprofundamento da enorme e histórica dependência tecnológica do país. A exceção de alguns setores.
Sandro Donnini Mancini (<IC>www.sorocaba.unesp.br/professor/mancini<XC>; <IC>mancini@sorocaba.unesp.br<XC>) é professor da Unesp de Sorocaba (<IC>www.sorocaba.unesp.br<XC>) para os cursos de graduação em Engenharia Ambiental, Mestrado e Doutorado em Ciência e Tecnologia de Materiais e Mestrado em Engenharia Civil e Ambiental. Escreve a cada duas semanas, às terças-feiras, neste espaço.
Em meados da década de 70, aproveitando-se da extrema dependência da porção ocidental do planeta, os países árabes imputaram preços superiores ao petróleo, o que motivou grandes importadores, como o Brasil era nessa época, a tomar algumas decisões para evitar mandar cada vez mais dinheiro para o exterior. O governo brasileiro de então decidiu apostar em duas frentes: investiu num novo combustível, o etanol, e vitaminou com pesados investimentos uma empresa de exploração de petróleo relativamente modesta para os padrões mundiais, chamada Petrobrás.
Olhando pelo retrovisor nesses cerca de 40 anos é possível verificar que as apostas valeram. Atualmente o etanol é motivo de orgulho nacional, assim como a Petrobrás, hoje uma das maiores empresas do mundo.
Lógico que não foi fácil, nem sempre foram flores no caminho. Parte da estratosférica dívida externa brasileira, fantasma até o início dos anos 90, foi alimentada graças à importação de petróleo e derivados enquanto as apostas não surtiam efeito. É verdade que algumas decisões podem ter sido inapropriadas em algum momento, de modo que é possível pensar que a história poderia ser de um sucesso ainda maior ou mais rápido. Mas não é o caso desse tipo de discussão nesse texto. A ideia deste é mostrar que aquele ditado popular "a ocasião faz o ladrão" pode se aplicar nesse caso, pois graças à necessidade o país inovou e hoje exporta não só etanol e petróleo, mas também tecnologia em várias etapas da produção de ambos.
A primeira lição que se tira disso foi que as apostas necessitaram de investimento. Não tem milagre nesse sentido, sem uma decisão que envolva aporte de recursos não é possível inovar em área nenhuma. Outra lição foi a aposta no mercado interno. O Brasil precisava de combustível e a alta nos preços não mudava essa necessidade. No ano de 1973, quando se iniciou a crise do petróleo, o país consumia o equivalente a 720 mil barris de óleo por dia, produzindo internamente só 170 mil, ou seja, cerca de 25% desse total. Em 2012 a Petrobrás fechou com uma produção de cerca de 2 milhões de barris por dia, próximo de atender todas as necessidades nacionais. Ou seja, nesses 40 anos a produção interna aumentou mais de 10 vezes, enquanto o consumo foi multiplicado por quase 3. Dessa maneira, a Petrobrás aumentou paulatinamente sua participação num mercado crescente, o que fez com que as importações caíssem até 2006, quando foi anunciada a sonhada autossuficiência. Um parêntesis é importante: atualmente o Brasil não é autossuficiente em petróleo, pois o consumo de derivados vem aumentando em maior proporção que o aumento da produção deles por aqui.
Ajudou na tarefa da Petrobrás o fato de que a produção crescente de etanol diminuiu proporcionalmente - a necessidade de gasolina, um dos derivados de petróleo mais importantes. Em meados da década de 2000, outra cadeia produtiva foi aberta visando diminuir a necessidade de outro derivado, no caso o diesel. Hoje o país produz biodiesel ainda em proporções pequenas em relação ao diesel do petróleo (cerca de 5%), mas o suficiente para já ser um dos maiores produtores mundiais do combustível renovável (2,7 bilhões de litros em 2011).
Resumindo, aos trancos e barrancos o processo de inovação na área de combustíveis funcionou, e boa parte desse sucesso se deu graças ao talento que pesquisadores que trabalham no Brasil possuem para entender o que se passa fora daqui bem como para criar coisas novas. Outros setores podem se beneficiar desse talento, alavancando tecnologias nos mais variados setores.
Para isso, é necessário se investir mais e aproveitar o que se tem. Quanto a aproveitar o que se tem, as universidades e centros de pesquisa possuem pesquisadores que, por profissão, passam o dia entendendo o está sendo feito mundo afora e buscando novas contribuições ou adaptações à nossa realidade. Uma conversa franca do setor produtivo e empreendedores de uma forma geral com esses centros/universidades, juntamente com governos que pensem realmente de forma estratégica, pode trazer uma série de recompensas para todos. Caso contrário, cada um fica no seu canto, fazendo a sua parte. Mas juntos certamente podem fazer muito mais.
Com a velocidade com que as coisas mudam atualmente, é bem provável que não tenhamos mais 40 anos para aproveitar novas oportunidades. O resultado será o aprofundamento da enorme e histórica dependência tecnológica do país. A exceção de alguns setores.
Sandro Donnini Mancini (<IC>www.sorocaba.unesp.br/professor/mancini<XC>; <IC>mancini@sorocaba.unesp.br<XC>) é professor da Unesp de Sorocaba (<IC>www.sorocaba.unesp.br<XC>) para os cursos de graduação em Engenharia Ambiental, Mestrado e Doutorado em Ciência e Tecnologia de Materiais e Mestrado em Engenharia Civil e Ambiental. Escreve a cada duas semanas, às terças-feiras, neste espaço.