Se as projeções do Banco Central estiverem certas, a inflação vai cair abaixo da meta, de 4,5%, em meados deste ano, algo que não ocorre desde 2009. Será uma oscilação temporária do índice de preços e absolutamente normal nos regimes de metas de inflação, mas suficiente para alimentar as acusações de que houve exageros na condução da política monetária. Segundo projeções apresentadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC no seu Relatório de Inflação de dezembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá chegar a 4,1% no período de 12 meses até setembro. No fim do ano, a inflação subirá para 4,7%. Se o BC refizesse hoje as suas contas, provavelmente encontraria um percentual ainda menor, com algumas chances de cair abaixo de 4%. Isso porque o relatório foi fechado antes de o BC tomar conhecimento dos dados preliminares sobre a inflação de dezembro, melhores que o esperado. É possível que a inflação caia abaixo de 4,5% já no segundo trimestre. Todas essas projeções do BC já levam em conta cortes de juros esperados pelo mercado em dezembro, que levariam a Selic a 10,5% no fim do ano. A inflação deve ficar mais baixa justamente no período em que o Conselho Monetário Nacional (CMN) deverá confirmar a meta de 4,5% para 2018 e definir a de 2019. Esse poderá ser um argumento a mais para quem defende reduzir a meta para menos de 4,5%. Os analistas do mercado também preveem queda temporária abaixo da meta. Pelas projeções de mais de cem economistas privados coletadas e consolidadas pelo BC no boletim Focus, o IPCA acumulado em 12 meses deverá atingir o seu menor valor em agosto, quando chegaria a 4,05%. Nos meses seguintes, voltaria a subir, encerrando o ano de 2017 em 4,87%. A inflação deve cair temporariamente abaixo da meta em meados de 2017 exclusivamente devido às surpresas positivas no índice de preços ao consumidor no último trimestre em 2016. A inflação terminou o ano passado mais baixa do que o esperado porque os preços dos alimentos tiveram uma evolução atípica. Subiram muito no terceiro trimestre, quando costumam ter uma evolução mais favorável, e devolveram essa alta mais para o fim do ano, quando os preços costumam subir um pouco mais. A queda temporária da inflação em meados do ano não significa descumprimento do regime de metas. Primeiro, porque a meta de 4,5% vale para o ano calendário. Segundo, porque o regime prevê um intervalo de tolerância justamente para acomodar surpresas como essas. Ainda assim, a julgar pela história, o fato deverá reforçar argumentos de quem acha que o Copom exagerou na dose do aperto monetário. Na última vez em que a inflação caiu abaixo de 4,5%, em 2009, o BC foi acusado de demorar no corte de juros em resposta à crise financeira desencadeada pela quebra do Lehman Brothers. Há dez anos, a inflação também caiu abaixo de 4,5%, fechando o ano de 2006 em 3,14%. O índice de preços foi baixo, em grande medida, devido à forte queda de preços de alimentos e à valorização da taxa de câmbio causada pela melhora no cenário internacional. Alguns críticos, porém, dizem que esse seria um desdobramento do excesso de conservadorismo de equipe do então presidente do BC Henrique Meirelles, integrada pelo economista Afonso Bevilaqua. Apesar das críticas, no regime de metas de inflação é comum o índice de preços oscilar tanto acima como abaixo da meta. A razão mais comum são os chamados choques de oferta, como baixas de preços de alimentos causadas por boas safras agrícolas. No Brasil, porém, o que mais tem acontecido é a inflação ficar acima do centro da meta, sobretudo na gestão de Alexandre Tombini, que levou muitos a dizerem que o centro da meta é o piso. A inflação menor do que a meta pode dar a sensação de que o Brasil está preparado para adotar objetivos mais ambiciosos, mas não basta apenas isso. Se a inflação oscilar em torno de 4,5%, na verdade o Copom estará resgatando o centro da meta, de 4,5%. Para baixar ainda mais, seria necessário um esforço adicional de política monetária. Ainda assim, um IPCA temporariamente abaixo de 4,5% poderá dar uma ajuda ao Banco Central, já que as expectativas no Brasil são fortemente influenciadas pela inflação corrente.
Por Alex Ribeiro
Se as projeções do Banco Central estiverem certas, a inflação vai cair abaixo da meta, de 4,5%, em meados deste ano, algo que não ocorre desde 2009. Será uma oscilação temporária do índice de preços e absolutamente normal nos regimes de metas de inflação, mas suficiente para alimentar as acusações de que houve exageros na condução da política monetária. Segundo projeções apresentadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC no seu Relatório de Inflação de dezembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá chegar a 4,1% no período de 12 meses até setembro. No fim do ano, a inflação subirá para 4,7%. Se o BC refizesse hoje as suas contas, provavelmente encontraria um percentual ainda menor, com algumas chances de cair abaixo de 4%. Isso porque o relatório foi fechado antes de o BC tomar conhecimento dos dados preliminares sobre a inflação de dezembro, melhores que o esperado. É possível que a inflação caia abaixo de 4,5% já no segundo trimestre. Todas essas projeções do BC já levam em conta cortes de juros esperados pelo mercado em dezembro, que levariam a Selic a 10,5% no fim do ano. A inflação deve ficar mais baixa justamente no período em que o Conselho Monetário Nacional (CMN) deverá confirmar a meta de 4,5% para 2018 e definir a de 2019. Esse poderá ser um argumento a mais para quem defende reduzir a meta para menos de 4,5%. Os analistas do mercado também preveem queda temporária abaixo da meta. Pelas projeções de mais de cem economistas privados coletadas e consolidadas pelo BC no boletim Focus, o IPCA acumulado em 12 meses deverá atingir o seu menor valor em agosto, quando chegaria a 4,05%. Nos meses seguintes, voltaria a subir, encerrando o ano de 2017 em 4,87%. A inflação deve cair temporariamente abaixo da meta em meados de 2017 exclusivamente devido às surpresas positivas no índice de preços ao consumidor no último trimestre em 2016. A inflação terminou o ano passado mais baixa do que o esperado porque os preços dos alimentos tiveram uma evolução atípica. Subiram muito no terceiro trimestre, quando costumam ter uma evolução mais favorável, e devolveram essa alta mais para o fim do ano, quando os preços costumam subir um pouco mais. A queda temporária da inflação em meados do ano não significa descumprimento do regime de metas. Primeiro, porque a meta de 4,5% vale para o ano calendário. Segundo, porque o regime prevê um intervalo de tolerância justamente para acomodar surpresas como essas. Ainda assim, a julgar pela história, o fato deverá reforçar argumentos de quem acha que o Copom exagerou na dose do aperto monetário. Na última vez em que a inflação caiu abaixo de 4,5%, em 2009, o BC foi acusado de demorar no corte de juros em resposta à crise financeira desencadeada pela quebra do Lehman Brothers. Há dez anos, a inflação também caiu abaixo de 4,5%, fechando o ano de 2006 em 3,14%. O índice de preços foi baixo, em grande medida, devido à forte queda de preços de alimentos e à valorização da taxa de câmbio causada pela melhora no cenário internacional. Alguns críticos, porém, dizem que esse seria um desdobramento do excesso de conservadorismo de equipe do então presidente do BC Henrique Meirelles, integrada pelo economista Afonso Bevilaqua. Apesar das críticas, no regime de metas de inflação é comum o índice de preços oscilar tanto acima como abaixo da meta. A razão mais comum são os chamados choques de oferta, como baixas de preços de alimentos causadas por boas safras agrícolas. No Brasil, porém, o que mais tem acontecido é a inflação ficar acima do centro da meta, sobretudo na gestão de Alexandre Tombini, que levou muitos a dizerem que o centro da meta é o piso. A inflação menor do que a meta pode dar a sensação de que o Brasil está preparado para adotar objetivos mais ambiciosos, mas não basta apenas isso. Se a inflação oscilar em torno de 4,5%, na verdade o Copom estará resgatando o centro da meta, de 4,5%. Para baixar ainda mais, seria necessário um esforço adicional de política monetária. Ainda assim, um IPCA temporariamente abaixo de 4,5% poderá dar uma ajuda ao Banco Central, já que as expectativas no Brasil são fortemente influenciadas pela inflação corrente.
Por Alex Ribeiro