Iniciativa faz parte de projeto da USP-Ribeirão em parceria com a associação e com o Museu da Cana e visa oferecer a profissionais da área novos conceitos e técnicas
Bisturi, luva cirúrgica, pinça. Os materiais estão prontos, preparados para mais uma intervenção. Na mesa, pacientes debilitados. Ao redor deles, uma equipe atenta, com sete pessoas. Todas vestem jalecos brancos.
Quem vê a cena poderia garantir que estamos num hospital. Mas o cenário é outro. Alguém apostaria que estamos em uma biblioteca? Isso mesmo. É a saúde dos livros que está em jogo.
Nesse ambiente, as técnicas médicas podem ser misturar com conhecimentos gastronômicos. Os “cirurgiões” também usam colheres e ouvem recomendações que poderiam ser dadas em uma aula de culinária. “É igual cozinhar. Nesse caso, vocês não precisam saber o ponto da massa, da calda? Então, aqui é bem parecido”.
As dicas são de Leila Heck, gerente do Museu da Cana, localizado na Fazenda Vassoural, entre Pontal-SP e Sertãozinho/SP. Foi ela quem ministrou o curso de Conservação de Documentos e Livros, oferecido no dia 27 de setembro na Biblioteca General Álvaro Tavares Carmo, da Canaoeste, em Sertãozinho. A iniciativa, que faz parte de um projeto da USP de Ribeirão Preto em parceria com a Canaoeste e com o museu, contou com seis convidados: dois bolsistas da universidade, dois funcionários públicos municipais, um funcionário do museu e um cliente da biblioteca.
O projeto, chamado de “Sertãozinho: Cultura e História”, trabalha em duas frentes: uma que busca doações de histórias em quadrinhos e outra que fará um repasse de revistas ao museu. A primeira consiste em arrecadar gibis que ajudem a contar a história do Brasil e da região e recuperar os mais antigos e deteriorados, que poderão servir de base para pesquisas. “Este curso já vai ajudar na recuperação e conservação desse material”, afirma o bibliotecário da Canaoeste, Haroldo Luís Beraldo. “Neste ano, por exemplo, faz 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. E temos histórias em quadrinhos sobre isso. É um acervo histórico importante”.
Já a segunda ação vai disponibilizar ao Museu da Cana um conjunto de revistas “Brasil Açucareiro” publicadas entre as décadas de 1950 e 1980. Os exemplares foram cedidos à Biblioteca da Canaoeste pela Orplana (Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul). Agora, passarão por um processo de higienização e ficarão à disposição no Cedoc (Centro de Documentação) do museu para consulta.
Segundo Leila Heck, essas parcerias são fundamentais, considerando que faltam políticas de conservação de acervos bibliográficos no Brasil. “É preciso entender os procedimentos ideais para evitar que se chegue a esse momento, a necessidade de uma intervenção. Desde impedir que os usuários de uma biblioteca entrem com alimentos, líquidos ou que fumem, além de controlar temperatura, umidade, escolher o mobiliário adequado, ter brigadas de incêndio, manusear de forma correta. São atitudes que, ao longo dos anos, trazem bons resultados”.
O curso
Os convidados chegaram à Biblioteca da Canaoeste pela manhã e participaram do curso até o final da tarde. Antes do almoço, assistiram a uma abordagem teórica, em que foram discutidos conceitos e as etapas de recuperação e conservação de documentos impressos em estágios iniciais de deterioração. À tarde, foi o momento da prática. Hora de pôr a mão na massa. Ou melhor, nos livros.
Com todo o cuidado exigido, escolheram títulos com capas e páginas rasgadas, folhas e remendos soltando, e, orientados por Leila Heck, assumiram o desafio de dar uma nova cara a eles. Para isso, tiveram contato com técnicas antes desconhecidas, como a cola de metil celulose, que serve tanto para soltar fitas muito aderidas, usadas em tentativas de recuperação anteriores, quanto para fazer novas colagens. A diferença está no tempo de exposição. Para soltar, é preciso agir rápido. Passar a cola e ir puxando a fita aos poucos. Já para colar, é só aguardar mais uns minutos, até secar. O produto, em pó, é diluído em água. Curiosidade que a funcionária pública municipal Girleide dos Santos, auxiliar de serviços gerais da Biblioteca Dr. Antonio Furlan Júnior, no centro de Sertãozinho, gostou de ver. “Está sendo muito importante para mim. Têm muitas coisas, por exemplo, que eu não sabia, como usar bisturi. Eu usava faca. E também a usar a dobradeira (acessório que ajuda a dobrar folhas recém-coladas)”.
Para o bibliotecário da Canaoeste, além de promover um diálogo institucional, entre entidades públicas e privadas, o curso abre um canal de crescimento profissional. “São trabalhados conhecimentos numa área muita específica. Não existe nada parecido na região”, diz Beraldo. Um sistema eficiente, de qualidade, que visa, além da saúde dos livros, o bem-estar dos leitores.
Bisturi, luva cirúrgica, pinça. Os materiais estão prontos, preparados para mais uma intervenção. Na mesa, pacientes debilitados. Ao redor deles, uma equipe atenta, com sete pessoas. Todas vestem jalecos brancos.
Quem vê a cena poderia garantir que estamos num hospital. Mas o cenário é outro. Alguém apostaria que estamos em uma biblioteca? Isso mesmo. É a saúde dos livros que está em jogo.
Nesse ambiente, as técnicas médicas podem ser misturar com conhecimentos gastronômicos. Os “cirurgiões” também usam colheres e ouvem recomendações que poderiam ser dadas em uma aula de culinária. “É igual cozinhar. Nesse caso, vocês não precisam saber o ponto da massa, da calda? Então, aqui é bem parecido”.
As dicas são de Leila Heck, gerente do Museu da Cana, localizado na Fazenda Vassoural, entre Pontal-SP e Sertãozinho/SP. Foi ela quem ministrou o curso de Conservação de Documentos e Livros, oferecido no dia 27 de setembro na Biblioteca General Álvaro Tavares Carmo, da Canaoeste, em Sertãozinho. A iniciativa, que faz parte de um projeto da USP de Ribeirão Preto em parceria com a Canaoeste e com o museu, contou com seis convidados: dois bolsistas da universidade, dois funcionários públicos municipais, um funcionário do museu e um cliente da biblioteca.
O projeto, chamado de “Sertãozinho: Cultura e História”, trabalha em duas frentes: uma que busca doações de histórias em quadrinhos e outra que fará um repasse de revistas ao museu. A primeira consiste em arrecadar gibis que ajudem a contar a história do Brasil e da região e recuperar os mais antigos e deteriorados, que poderão servir de base para pesquisas. “Este curso já vai ajudar na recuperação e conservação desse material”, afirma o bibliotecário da Canaoeste, Haroldo Luís Beraldo. “Neste ano, por exemplo, faz 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. E temos histórias em quadrinhos sobre isso. É um acervo histórico importante”.
Já a segunda ação vai disponibilizar ao Museu da Cana um conjunto de revistas “Brasil Açucareiro” publicadas entre as décadas de 1950 e 1980. Os exemplares foram cedidos à Biblioteca da Canaoeste pela Orplana (Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul). Agora, passarão por um processo de higienização e ficarão à disposição no Cedoc (Centro de Documentação) do museu para consulta.
Segundo Leila Heck, essas parcerias são fundamentais, considerando que faltam políticas de conservação de acervos bibliográficos no Brasil. “É preciso entender os procedimentos ideais para evitar que se chegue a esse momento, a necessidade de uma intervenção. Desde impedir que os usuários de uma biblioteca entrem com alimentos, líquidos ou que fumem, além de controlar temperatura, umidade, escolher o mobiliário adequado, ter brigadas de incêndio, manusear de forma correta. São atitudes que, ao longo dos anos, trazem bons resultados”.
O curso
Os convidados chegaram à Biblioteca da Canaoeste pela manhã e participaram do curso até o final da tarde. Antes do almoço, assistiram a uma abordagem teórica, em que foram discutidos conceitos e as etapas de recuperação e conservação de documentos impressos em estágios iniciais de deterioração. À tarde, foi o momento da prática. Hora de pôr a mão na massa. Ou melhor, nos livros.
Com todo o cuidado exigido, escolheram títulos com capas e páginas rasgadas, folhas e remendos soltando, e, orientados por Leila Heck, assumiram o desafio de dar uma nova cara a eles. Para isso, tiveram contato com técnicas antes desconhecidas, como a cola de metil celulose, que serve tanto para soltar fitas muito aderidas, usadas em tentativas de recuperação anteriores, quanto para fazer novas colagens. A diferença está no tempo de exposição. Para soltar, é preciso agir rápido. Passar a cola e ir puxando a fita aos poucos. Já para colar, é só aguardar mais uns minutos, até secar. O produto, em pó, é diluído em água. Curiosidade que a funcionária pública municipal Girleide dos Santos, auxiliar de serviços gerais da Biblioteca Dr. Antonio Furlan Júnior, no centro de Sertãozinho, gostou de ver. “Está sendo muito importante para mim. Têm muitas coisas, por exemplo, que eu não sabia, como usar bisturi. Eu usava faca. E também a usar a dobradeira (acessório que ajuda a dobrar folhas recém-coladas)”.
Para o bibliotecário da Canaoeste, além de promover um diálogo institucional, entre entidades públicas e privadas, o curso abre um canal de crescimento profissional. “São trabalhados conhecimentos numa área muita específica. Não existe nada parecido na região”, diz Beraldo. Um sistema eficiente, de qualidade, que visa, além da saúde dos livros, o bem-estar dos leitores.