Estamos perdendo feio o jogo para os EUA na produção de etanol. Em 2000, as usinas norte-americanas fabricavam apenas 57% do volume das usinas brasileiras. Até aí, estávamos ganhando. A partir de 2011, a produção de etanol nos EUA representou mais que o dobro da brasileira, ou seja, 230% (EUA 52 bilhões x Brasil 22 bilhões). Naquele ano, o Brasil importou dos EUA 1,1 bilhões de litros e, até setembro de 2012, importou 2,4 bilhões de litros. Vejam o paradoxo: o Brasil, com o setor sucroenergético estagnado desde 2008, com fechamento de usinas, importando etanol de milho dos Estados Unidos.
Com este baixo crescimento da produção, o Brasil foi ultrapassado pelos EUA. E qual é a razão disso? É a “previsibilidade”, o que nós não temos, enquanto os norte-americanos fixaram em lei que, até 2022, o governo se comprometeu a comprar 136 bilhões de litros de etanol, a US$ 1,07, reajustado anualmente. Aqui, após a descoberta do Pré-Sal, o governo fez uma clara opção pelo combustível fóssil.
Enquanto o consumo de gasolina cresceu 62,3%, de 2007 até o final de 2012, o de etanol chegou, apenas, a 5,2%. E o mais absurdo é que, na mesma época, houve aumento da frota de veículos flexfuel, que representou mais de 90% das vendas de automóveis leves. Outro absurdo é o fato da gasolina ter ficado isenta da CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico. Só com isso, o governo deixou de arrecadar 22 bilhões de Reais, desde 2008, provocando perda de competitividade e redução de investimento no setor.
Para retomarmos a liderança do mercado de biocombustíveis, precisamos de políticas públicas capazes de garantir a previsibilidade, e não de políticas inibidoras de investimentos e do crescimento da produtividade. O que tem sido feito, até o momento, no setor sucroenergético é a política da “montanha-russa”, ou seja, o sobe e desce do mercado, fato gerador de custos para a indústria, a qual deixa de investir em tecnologia.
Assim, se quisermos virar este jogo, sugiro ao governo a implementação do trabalho elaborado por quatro especialistas do BNDES, da área de Biocombustíveis, intitulado “Bens de Capital para o Setor Sucroenergético - A indústria está preparada para atender adequadamente ao novo ciclo de investimentos em usinas de cana-de-açúcar”, no qual é indicada a necessidade da construção de 134 novas unidades produtoras de etanol e açúcar, com capacidade de quatro milhões de toneladas de cana-de-açúcar cada, para atender à demanda projetada para os próximos anos e evitar o risco da falta de açúcar e etanol em 2020/2021.
Finalizando, transcrevo um item deste trabalho:
“Retomada planejada e sustentada dos investimentos em novas usinas – A atual situação de estagnação das encomendas de bens de capital sucroenergético tem gerado uma situação econômica adversa para boa parte de seus tradicionais fornecedores, que, se mantida por mais tempo, agravará ainda mais a percepção de risco de oferta identificada nesta pesquisa.
Assim, somente a retomada de forma planejada e sustentada dos investimentos em novas usinas permitirá a recuperação da capacidade de fornecimento dessa indústria, tanto pela maior utilização da crescente ociosidade industrial, quanto pela ampliação de ativos fabris dedicados à produção de equipamentos sucroenergéticos.
Entre as medidas que poderiam contribuir para essa retomada dos investimentos em novas usinas sucroenergéticas, podem ser destacadas: (i) maiores incentivos tributários ao etanol, como aumento da Cide sobre a gasolina e maior alinhamento do ICMS sobre o etanol em nível nacional à alíquota de São Paulo; (ii) criação de um ambiente de contratação de longo prazo para fornecimento de etanol; (iii) execução de leilões regionais de energia elétrica; e (iv) incentivos tributários à utilização da palha e do bagaço da cana-de-açúcar para geração elétrica.
A necessidade de um cenário mais previsível de encomendas por bens de capital sucroenergéticos decorre do fato de que a experiência cíclica dos investimentos recentes em novas usinas não tem gerado horizonte de demanda confiável e, com isso, aumenta o risco e a incerteza relativos à imobilização de capital em nova capacidade industrial de equipamentos.
Adicionalmente, esse cenário de demanda mais previsível também permitiria melhor planejamento do crescimento das usinas sucroenergéticas, o que ajudaria a reduzir o comportamento cíclico dos investimentos, evitando, assim, a combinação de períodos de excesso e de escassez de demanda por equipamentos sucroenergéticos.
Assim, como consequência de um horizonte de demanda mais bem definido e menos cíclico, os fabricantes de equipamentos sucroenergéticos terão melhores condições de se preparar para atender adequadamente aos investimentos em novas usinas.”
Esta aí a solução! Com a implementação deste trabalho, o Brasil terá condições de atender a todo seu mercado interno de etanol e açúcar e parte das necessidades norte-americanas, gerando emprego para a nossa gente a renda ao nosso País.
(Tarcisio Angelo Mascarim é secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e presidente do SIMESPI - Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, de Material Elétrico, Eletrônico, Siderúrgicas e Fundições de Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras)
Tarcísio Angelo Mascarim
Estamos perdendo feio o jogo para os EUA na produção de etanol. Em 2000, as usinas norte-americanas fabricavam apenas 57% do volume das usinas brasileiras. Até aí, estávamos ganhando. A partir de 2011, a produção de etanol nos EUA representou mais que o dobro da brasileira, ou seja, 230% (EUA 52 bilhões x Brasil 22 bilhões). Naquele ano, o Brasil importou dos EUA 1,1 bilhões de litros e, até setembro de 2012, importou 2,4 bilhões de litros. Vejam o paradoxo: o Brasil, com o setor sucroenergético estagnado desde 2008, com fechamento de usinas, importando etanol de milho dos Estados Unidos.
Com este baixo crescimento da produção, o Brasil foi ultrapassado pelos EUA. E qual é a razão disso? É a “previsibilidade”, o que nós não temos, enquanto os norte-americanos fixaram em lei que, até 2022, o governo se comprometeu a comprar 136 bilhões de litros de etanol, a US$ 1,07, reajustado anualmente. Aqui, após a descoberta do Pré-Sal, o governo fez uma clara opção pelo combustível fóssil.
Enquanto o consumo de gasolina cresceu 62,3%, de 2007 até o final de 2012, o de etanol chegou, apenas, a 5,2%. E o mais absurdo é que, na mesma época, houve aumento da frota de veículos flexfuel, que representou mais de 90% das vendas de automóveis leves. Outro absurdo é o fato da gasolina ter ficado isenta da CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico. Só com isso, o governo deixou de arrecadar 22 bilhões de Reais, desde 2008, provocando perda de competitividade e redução de investimento no setor.
Para retomarmos a liderança do mercado de biocombustíveis, precisamos de políticas públicas capazes de garantir a previsibilidade, e não de políticas inibidoras de investimentos e do crescimento da produtividade. O que tem sido feito, até o momento, no setor sucroenergético é a política da “montanha-russa”, ou seja, o sobe e desce do mercado, fato gerador de custos para a indústria, a qual deixa de investir em tecnologia.
Assim, se quisermos virar este jogo, sugiro ao governo a implementação do trabalho elaborado por quatro especialistas do BNDES, da área de Biocombustíveis, intitulado “Bens de Capital para o Setor Sucroenergético - A indústria está preparada para atender adequadamente ao novo ciclo de investimentos em usinas de cana-de-açúcar”, no qual é indicada a necessidade da construção de 134 novas unidades produtoras de etanol e açúcar, com capacidade de quatro milhões de toneladas de cana-de-açúcar cada, para atender à demanda projetada para os próximos anos e evitar o risco da falta de açúcar e etanol em 2020/2021.
Finalizando, transcrevo um item deste trabalho:
“Retomada planejada e sustentada dos investimentos em novas usinas – A atual situação de estagnação das encomendas de bens de capital sucroenergético tem gerado uma situação econômica adversa para boa parte de seus tradicionais fornecedores, que, se mantida por mais tempo, agravará ainda mais a percepção de risco de oferta identificada nesta pesquisa.
Assim, somente a retomada de forma planejada e sustentada dos investimentos em novas usinas permitirá a recuperação da capacidade de fornecimento dessa indústria, tanto pela maior utilização da crescente ociosidade industrial, quanto pela ampliação de ativos fabris dedicados à produção de equipamentos sucroenergéticos.
Entre as medidas que poderiam contribuir para essa retomada dos investimentos em novas usinas sucroenergéticas, podem ser destacadas: (i) maiores incentivos tributários ao etanol, como aumento da Cide sobre a gasolina e maior alinhamento do ICMS sobre o etanol em nível nacional à alíquota de São Paulo; (ii) criação de um ambiente de contratação de longo prazo para fornecimento de etanol; (iii) execução de leilões regionais de energia elétrica; e (iv) incentivos tributários à utilização da palha e do bagaço da cana-de-açúcar para geração elétrica.
A necessidade de um cenário mais previsível de encomendas por bens de capital sucroenergéticos decorre do fato de que a experiência cíclica dos investimentos recentes em novas usinas não tem gerado horizonte de demanda confiável e, com isso, aumenta o risco e a incerteza relativos à imobilização de capital em nova capacidade industrial de equipamentos.
Adicionalmente, esse cenário de demanda mais previsível também permitiria melhor planejamento do crescimento das usinas sucroenergéticas, o que ajudaria a reduzir o comportamento cíclico dos investimentos, evitando, assim, a combinação de períodos de excesso e de escassez de demanda por equipamentos sucroenergéticos.
Assim, como consequência de um horizonte de demanda mais bem definido e menos cíclico, os fabricantes de equipamentos sucroenergéticos terão melhores condições de se preparar para atender adequadamente aos investimentos em novas usinas.”
Esta aí a solução! Com a implementação deste trabalho, o Brasil terá condições de atender a todo seu mercado interno de etanol e açúcar e parte das necessidades norte-americanas, gerando emprego para a nossa gente a renda ao nosso País.
(Tarcisio Angelo Mascarim é secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e presidente do SIMESPI - Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, de Material Elétrico, Eletrônico, Siderúrgicas e Fundições de Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras)