Biogás, um caminho sem volta
24/07/2019
Edições
POR: Revista Canavieiros
Por: Marino Guerra
As unidades industriais se preparam para uma nova mudança de cenário. A produção do biogás em seu escopo de atividades mudou seu status de “potencial” para “viável” como projeto fundamental para a empresa ganhar diversas casas dentro dos três pilares da sustentabilidade.
Isso porque do ponto de vista econômico sua produção irá, além de aumentar a receita, derrubar o custo do diesel, principalmente. Pensando no aspecto ambiental, o biogás será mais uma evolução para que a cadeia sucroenergética cumpra todos os requisitos para se tornar a primeira a atender 100% os quesitos de uma indústria circular. E, por fim, há o aspecto social, beneficiado através do investimento demandado para a constituição de refinarias dentro das unidades industriais, o que aquecerá a cadeia e gerará empregos de qualidade às comunidades de seu entorno.
O quadro deste cenário virtuoso começou a ser pintado no segundo semestre de 2018, quando a Raízen inaugurou a pedra fundamental para a construção da primeira planta em sua unidade de Bonfim, localizada em Guariba-SP. Recentemente, surgiram os segundos traços através do projeto da Cocal na sua unidade em Narandiba-SP.
Outros projetos devem pipocar até o final do ano devido à liberação de emissão de debêntures incentivadas pelos grupos que compõe o setor (emissão de títulos de dívida sem a cobrança de imposto de renda aos investidores que os adquirem) e a melhoria no ambiente de negócios com a aprovação da Reforma da Previdência. O encaminhamento da Reforma Tributária incentivará ainda os quase 20 projetos que estão em stand by somente no estado de Minas Gerais, que possuem grandes chances de sair do papel.
Para quem ainda não está por dentro do assunto, a geração do biogás dentro de uma usina vem através da biodigestão da vinhaça e da torta de filtro que, em um primeiro momento, já estão aptas para serem queimadas e com seu vapor gerarem eletricidade, mas também podem passar por um processo de limpeza com o objetivo de atender aos níveis de metano exigidos pela ANP e se tornarem um biocombustível com potencial para substituir o diesel.
A questão de como o gás assumirá esta posição, principalmente nas operações nos campos de cana-de-açúcar, também começa a perder a nebulosidade. Durante o Seminário da Abiogás, que aconteceu em São Paulo, a Scania anunciou que lançará em 2020 a primeira linha de caminhões canavieiros movidos a partir do biocombustível. A New Holland também anunciou, no ano passado, uma linha de tratores que deverá chegar às concessionárias em 2021.
Lógico que esse é o início de um período de transição e muita coisa irá acontecer até que essa perspectiva se torne realidade. Contudo, é impossível deixar de imaginar o dia em que o principal fator de custo do CTT (Corte, Transbordo e Transporte) for irrelevante e nesse exercício muitas dúvidas virão à cabeça como a possibilidade de buscar cana a distâncias consideráveis como, por exemplo, a 200 km da usina. Caso seja possível, o que isto poderá significar em termos de mudança na relação entre fornecedores e produtores? Será que trará também a queda no custo do arrendamento, principalmente observando as regiões com maior concorrência por cana?
Só o tempo trará essas respostas.