Leonardo Lopes ampliou sua atuação na região do Prata implementando um modelo de integração lavoura-pecuária
A pressão pelo aproveitamento cada vez maior das áreas agricultáveis em todo território brasileiro (em decorrência de diversos fatores como o aumento no custo de produção, queda na oferta de insumos, valor da terra e exigências mercadológicas), faz parte da rotina do produtor que precisa estar em constante evolução para tirar mais alimentos do mesmo hectare, com o desafio de manter a fertilidade do solo para, na temporada seguinte, produzir mais.
Perante esse contexto, o que se observa é uma verdadeira mudança de cenários no ambiente rural, principalmente em áreas de pastagem mais tradicional, caracterizadas pela baixa densidade de animais, pouco cultivo e alta competição com plantas invasoras, que vem dando espaço para estruturas de lavouras modernas baseadas em métodos de sistematização, sucessão, rotação e consorciação de culturas.
Na região do Prata, no centro do Triângulo Mineiro, basta girar alguns quilômetros pelos carreadores para encontrar campos de soja, cana e até mesmo laranjais desenhados a partir dos mais modernos conceitos envolvendo a agricultura de precisão contrastando com pastos com baixa ou rara intervenção produtiva.
Um dos agentes dessa transformação é o empreendedor agropecuário Leonardo Lopes, que há mais de dez anos assumiu uma área de mil hectares e implementou um produtivo canavial capaz de entregar, mesmo em anos com o clima rígido como da safra 21/22, mais de cem toneladas de cana por hectare.
No entanto, ciente do potencial de exploração de sua vizinhança, ele fechou uma sociedade com o proprietário da Fazenda da Moenda, Ivan Toledo, local com cerca de dois mil hectares, para implementar um sistema de integração lavoura-pecuária.
Ao iniciar o caminho pela propriedade fica evidente o gigantismo do seu potencial produtivo (principalmente observando a questão de relevo e água). De igual tamanho, há o desafio de limpar uma grande área, parte ocupada por uma pastagem deteriorada pelo tempo e outra com a presença de um número significativo de árvores de eucalipto rebrotadas, o que além do trabalho de destocagem, também exige uma recomposição nutricional intensiva do solo.
O desenho do sistema é bem simples, no plantio da safra de verão (outubro e novembro) é instalada a lavoura de soja que será colhida em fevereiro; imediatamente após, é feita a semeadura da brachiaria que vai se desenvolver até maio, quando entra o gado, que fica até setembro para dar lugar ao preparo de solo que receberá a nova temporada graneleira.
Implemento desenvolvido pela Embrapa que faz a semeadura das sementes de brachiaria
O plantio da forrageira é feito logo após a colheita da soja
“Minha experiência com o sistema vem do Mato Grosso, onde presto consultoria agronômica. Lá implementamos um projeto bem-sucedido e conhecemos o potencial de rentabilidade do gado de inverno, o qual chegou a ser superior que o resultado da soja e o milho”, disse Leonardo Lopes.
Lembrando que tradicionalmente na região, depois da colheita da soja, a terra é mantida em pousio e a adoção da lavoura-pecuária criou a oportunidade de uma segunda safra, por isso o termo Boi Safrinha que já vem sendo bastante comentado nas redondezas.
Dentre os detalhes da operação, se destaca o implemento que faz a semeadura da forrageira. Desenvolvido pela Embrapa, ele é acoplado na frente do trator e tem a amplitude de lançamento das sementes regulável. Para finalizar o processo, é feita a incorporação com o uso ou de uma grade niveladora ou de um triângulo no mesmo veículo.
Outro ponto que chama a atenção é quanto à escolha da espécie da brachiaria, como explica Lopes: “Na maior parte da área semeamos a ruzizienses pensando no seu crescimento rápido, custo baixo e a palhada que deixa para o plantio direto da soja. Caso tenha uma área que apresente problemas de compactação do solo, eu entro com a BRS Piatã, que tem seu sistema radicular bastante profundo”.
Manejo da boiada
Nos pastos de 2022 será colocado gado de recria e também de cria com o objetivo de fazer o desmame de forma natural, prática que evita a perda de peso dos bezerros quando deixam de consumir o leite e passam a se alimentar com pasto e/ou ração.
Porém, o plano é poder realizar o ciclo completo da criação e, para isso, estão sendo instalados piquetes de confinamento, o que possibilita executar a fase de engorda.
Leonardo Lopes com o veterinário Gustavo Lopes ao lado dos colaboradores da Brangus da Moenda
“Na região que estamos há diversos frigoríficos, desde os credenciados para a exportação, inclusive o boi-china (mais precoce) até os que atendem ao mercado interno, o que nos dá segurança para a adoção de um modelo completo de pecuária”, comenta Lopes.
Assim, quando as primeiras chuvas da primavera chegar, a fazenda terá a opção de escolha, conforme o comportamento do mercado, de vender ou confinar o gado.
Brangus da Moenda
Em paralelo, mas também integrado (os insumos e a fabricação serão produzidos na propriedade), foi implementada a operação de desenvolvimento genético de gados PO da raça Brangus (mistura do indiano Brahma com o europeu Angus).
O modelo de negócio consiste na inseminação do sêmen de touros puro sangue em vacas nascidas da mistura de Brangus com Nelore (denominadas F1) e a posterior comercialização para criadores dos tourinhos conhecidos como “cara preta” (a cor escura da pele caracteriza a raça, garante a qualidade da carne e com isso agrega valor de venda), além disso, o plantel também está disponível para o serviço de transferência genética através da monta natural.
Touros da Brangus da Moenda